Chamada 2020.1 - Dossiê: Religião e gênero (até 30/05)

2019-12-10

Dossiê Religião e Gênero 

Coordenação: Drª Ana Luíza Gouvêa Neto; Mestrando Kaio Lemos.

Refletir sobre as relações existentes entre religião e gênero significa compreender as religiões enquanto instituições produtoras de capital simbólico e, que estariam se valendo de seu lócus de poder para engendrar nes fiéis um habitus capaz de manter a hegemonia de classificação e organização pautada na diferenciação biológico-sexual. Quando analisadas através de um lastro histórico de longa duração, algumas religiões, têm produzido e reproduzido esquemas de classificação a fim de perpetuar a ordem social vigente. Os textos Sagrados – esquema regulatório – que vêm sendo utilizados pelas instituições religiosas enquanto instrumento de legitimação na distribuição desigual de poder entre os sexos – pautados no binarismo sexual, macho/fêmea – é a única fonte de verdade para a salvação. Desse modo, as instituições religiosas através de seus discursos – impressos, audiovisuais, visuais – têm reforçado um padrão conservador e normatizador, consequentemente, excludente nes fiéis.

Desse modo, ao percebermos e ouvirmos que as religiões “adentram no ser” é perceptível e lógico todo um conjunto de práticas religiosas, de padres, freiras, pastores, pastoras, babalorixás, ialorixás e outres, até mesmo de divindades e seres extraterrenos em processos de aceitação dos sujeites criando uma lógica de harmonia nas instâncias religiosas. Mas, e quando isso não acontece? E quando essas práticas e experiências vivenciam conflitos de gênero? Esses processos nos fazem lembrar o que Botelho e Standler (2012) pontuaram em seus escritos sobre ser ou não ser privilégio ou vantagem manifestações de divindades femininas, a presença de mulheres nos territórios religiosos, homens vivenciando transe de divindades e processos de construção e desconstrução no que tange aos aspectos biológicos nas religiões. Figuras femininas e masculinas sendo compreendidas e explicadas em diálogo com o que chamamos de normatividade de gênero e sexualidades interligadas com as práticas ritualísticas e simbólicas da cosmovisão religiosa.

Verifica-se que o sistema de poder, binário, tem sido eficazmente assegurado ao longo do tempo através de instituições detentoras de capital simbólico, tal como a religião (GOUVÊA NETO, 2019). No seio de muitas religiões, a organização institucional passa pelo crivo da diferenciação sexual biológica, o que traz consequências para o reconhecimento das mulheres e da comunidade LGBTQI+ enquanto agentes de poder.

Por que transformar identidades fluidas em identidades fixas e naturais? Quais os propósitos dessa normatização? Quem são os responsáveis por engendrar a naturalização de identidades únicas, universais e a-históricas?  Tais perguntas tornam-se necessárias, a partir do ponto no qual se pretende vislumbrar a construção da categoria de gênero, quais as relações contidas nessa categoria e qual o papel desempenhado pelas instituições detentoras de capital simbólico.

Nesse sentido, esse dossiê tem como objetivo compreender as práticas e experiências de gênero nas instâncias diversas religiosas. Assim, convidamos pesquisadores que tenham interesse em discutir as imbricações entre religião e gênero a compartilharem suas questões neste volume que tem por finalidade trabalhar a necessidade de problematizar a construção de conceitos e sistemas e, descontruir ideais fundamentalistas e conservadores.

Palavras-chave: Religião; Gênero; Sexo; Norma; Sexualidade.

 

Serão submetidos à avaliação dupla cega os artigos de pesquisadores de todas as áreas, desde que estejam em consonância com o tema proposto e com as normas da revista. Há espaço ainda para o recebimento de textos acadêmicos que explorem outros temas para a sessão dedicada de artigos com temática livre, bem como resenhas. Os artigos deverão ser enviados aqui pela plataforma da revista até o dia 30 de Maio de 2020.