EFICÁCIA DE UMA INTERVENÇÃO PREVENTIVA NA REDUÇÃO DE FATORES DE RISCO E NO AUMENTO DE FATORES DE PROTEÇÃO PARA OS TRANSTORNOS ALIMENTARES EM JOVENS ADULTAS

um ensaio clínico controlado randomizado.

Resumo

Os transtornos alimentares (TAs) são considerados patologias psiquiátricas caracterizadas por graves distúrbios nos comportamentos, pensamentos e emoções relacionados à alimentação. Apresentam elevada cronicidade, baixa taxa de remissão e frequente mortalidade, motivo pelo qual programas de prevenção vêm sendo desenvolvidos e testados para reduzir potenciais fatores de risco, bem como aumentar os fatores de proteção para essa psicopatologia. Não obstante, diversos desfechos não foram avaliados em intervenções anteriores, o que incita a análise de eficácia de alguns programas preventivos sob tais desfechos. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia da intervenção preventiva “O Corpo em Questão”, baseada na dissonância cognitiva, na redução de fatores de risco para os TAs (comer transtornado, insatisfação corporal, internalização dos ideais de corpo e afeto negativo) e no aumento de fatores de proteção (apreciação corporal, comer intuitivo e autoestima) em jovens adultas brasileiras. Foi conduzido um ensaio clínico controlado randomizado com 74 mulheres, com idades entre 18 e 30 anos, regularmente matriculadas na Universidade Federal de Juiz de Fora campus Governador Valadares. As participantes foram alocadas em dois grupos: grupo controle (GC; n = 36) e grupo intervenção (GI; n = 38). O GI recebeu a intervenção que consistiu em quatro sessões (60 minutos), ocorridas em um intervalo de uma semana entre elas. O GC foi passivo, não recebeu qualquer intervenção, porém respondeu aos questionários em intervalos similares ao GI. Um questionário sociodemográfico e escalas de autorrelato foram aplicadas em quatro momentos: pré-intervenção, pós-intervenção, em quatro e 24 semanas de follow-up. Para avaliar a eficácia da intervenção foi utilizada uma análise por intenção de tratar, com recurso a análise por modelos misto, utilizando efeito quadrático do tempo, por meio do software SPSS v. 21.0 e nível de significância estipulado em 5%. Os resultados indicaram que o GI obteve reduções significantes em comparação ao GC para as variáveis internalização dos ideais de corpo, insatisfação corporal e comer transtornado pós-intervenção (ps < 0,01; d de Cohen entre os grupos= 0,76-1,04), quatro semanas (ps < 0,001; d = 1,27-1,71) e 24 semanas de follow-up (ps < 0,001; d = 1,04-1,19). Em relação ao afeto negativo, comparado ao GC, o GI apresentou uma redução significante apenas no follow-up de 24 semanas (p < 0,05;
d = 0,60). Além disso, em comparação ao GC, o GI apresentou um aumento significante no comer intuitivo, apreciação corporal e autoestima pós-intervenção (ps < 0,01; d = 0,73-0,98), quatro semanas (ps < 0,001; d = 1,25-1,87) e 24 semanas de follow-up (ps < 0,001; d = 0,82-1,38). Os resultados fornecem evidências substanciais para a eficácia do programa “O Corpo em Questão” na redução dos fatores de risco para TAs e aumento da apreciação corporal, comer intuitivo e autoestima em jovens adultas brasileiras. Sugere-se ampla divulgação dessa intervenção preventiva como uma estratégia de prevenção dos TAs em mulheres jovens brasileiras.