Neoliberalismo e mercado místico: o “Despertar” mobiliza o discurso autoempreendedor
DOI:
https://doi.org/10.34019/1981-4070.2023.v17.39174Palavras-chave:
Neoliberalismo, Mercado místico, Orientalismo, Despertar, Sri Prem BabaResumo
Este artigo investiga as aproximações entre o discurso da espiritualidade mística, centrado no significante “despertar”, e o discurso neoliberal, que tece a imagem do “empreendedor de si”. Partindo das críticas ao neoliberalismo de Safatle (2019; 2021), Brown (2019), Dardot e Laval (2016) e Fontenelle (2005; 2017; 2021), e dos estudos de Arjana (2020) sobre o mercado místico, trabalhamos com a hipótese de que o movimento de desenvolvimento pessoal e de investimento em um “capital espiritual” faz parte da racionalidade do “eu empresa” e de sua lógica de autorregulação e autoaperfeiçoamento. Consequência da perda de perspectiva e da insegurança social gerados pelo próprio sistema capitalista, o misticismo moderno, ao buscar uma saída ao sofrimento, acaba por reforçar sua lógica, alimentando o consumo de produtos, de serviços, de um estilo vida e uma identidade espiritualizados. Como metodologia de análise, além da revisão bibliográfica citada, utilizaremos a Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe (2015). Como caso concreto, analisaremos como o “Despertar” aparece no discurso vinculado a Sri Prem Baba, guru brasileiro que ficou conhecido por seu método de autoconhecimento chamado de “o caminho do coração” e que foi alvo, em 2018, de denúncias de assédio sexual, abuso de poder e enriquecimento às custas das doações de praticantes.
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