A militância forjada dos bots: A campanha municipal de 2016 como laboratório eleitoral
DOI:
https://doi.org/10.34019/1981-4070.2021.v15.29086Palavras-chave:
Bots, Opinião Pública, Eleições, Netnografia, TwitterResumo
Os “bots políticos” são perfis automatizados programados para atuar nas redes sociais com o objetivo de influenciar as discussões políticas, endossar ou difamar um candidato, disseminar propaganda de campanha, criar ruído no debate público e interferir na formação da opinião dos usuários. Este artigo investiga como essas contas afetaram a conversação política no Twitter durante o primeiro turno das eleições municipais de 2016 no Rio de Janeiro, contribuindo para a discussão de como os bots podem colocar em risco a comunicação on-line e afetar a campanha e os resultados eleitorais (HOWARD; WOOLLEY; CALO, 2018). A partir da abordagem da teoria fundamentada, utilizamos a netnografia observacional aliada à análise de discurso para estudar o comportamento de um conjunto de bots no Twitter durante o primeiro turno das eleições municipais no Rio de Janeiro. Detectamos 3.101 bots, responsáveis por 19.915 tuítes, e classificamos nossa amostra em três categorias de bots com base no conteúdo dos tuítes: bots gerados por usuário, spambots de mídia e bots políticos. Estes últimos foram divididos em duas subcategorias, em função do tipo de discurso que difundiram na rede: “ativistas” e “agentes provocadores”. Os resultados da pesquisa demonstram que os bots políticos representam um problema social crítico por ocuparem um vácuo de opiniões políticas oferecendo posições partidárias para aqueles que não as possuem. Concluímos que estas contas automatizadas prepararam o terreno para a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018, apoiando o então deputado e fortalecendo sua presença nas redes.
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