Locus: Revista de História _V.30, N.2 (2024)
Dossiê

Relações interétnicas e Transições Territoriais: etno-história dos Afroindígenas na Amazônia maranhense

Fernanda Lopes Viana
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Arkley Marques Bandeira
Universidade Federal do Maranhão

Publicado 2025-02-02

Palavras-chave

  • Ka’apor. Quilombolas. Amazônia Maranhense. Afroindígena. Etno-história.

Como Citar

Lopes Viana, Fernanda, e Arkley Marques Bandeira. 2025. “Relações interétnicas E Transições Territoriais: Etno-história Dos Afroindígenas Na Amazônia Maranhense”. Locus: Revista De História 30 (2):226-49. https://doi.org/10.34019/2594-8296.2024.v30.46249.

Resumo

Este artigo analisa as relações entre o povo Ka'apor e as comunidades quilombolas na microrregião do Gurupi, na Amazônia Maranhense, entre os séculos XIX e XX. O objetivo é compreender como os contatos interculturais influenciaram seus modos de vida, destacando as mudanças culturais resultantes deste processo, ainda hoje evidente. A pesquisa adota uma abordagem etno-histórica, conforme definida por Thiago Cavalcante (2011), além do seu cunho interdisciplinar por meio da pesquisa documental, em registros históricos e antropológicos, de acordo com os postulados de Gil (2002). O estudo fundamenta-se nos conceitos de Afroindígena, de Goldman (2014) e nas contribuições de Agenor Pacheco (2009) sobre identidades Afroindígenas na Amazônia. Conclui-se que esses eventos interculturais em uma perspectiva sincrônica e diacrônica desempenharam um papel crucial na formação das particularidades culturais dos remanescentes Afroindígenas na Amazônia maranhense, afetando não apenas os Ka'apor e os quilombolas, como também, outros povos imersos por essas duradouras interações, para além das expressões culturais que se manifestaram em suas materialidades e imaterialidades.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

  1. Alencastro, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. São Paulo: Companhia das Letras, v. 2, 2000.
  2. Balée, William. Footprints of the forest: Ka'apor ethnobotany-the historical ecology of plant utilization, Amazonian people. Atlanta: Editora ‎Columbia University Press, 1994.
  3. Balée, William. Advances in historical ecology. Atlanta: Editora ‎Columbia University Press, 1998.
  4. Bandeira, Arkley Marques. “Os Tupis na Ilha de São Luís-Maranhão: Fontes Históricas e a Pesquisa Arqueológica”. História Unicap, v. 2, n. 3, p. 79-98, 2015.
  5. Barbosa, Benedito Carlos Costa. “Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão (1707-1750)”. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Pará/UFPA, Belém, 2009.
  6. Barreto, Cristiana. “A construção de um passado pré-colonial: uma breve história da arqueologia no Brasil”. Revista usp, n. 44, p. 32-51, 1999.
  7. Becker, Bertha Koifmann. “Geopolítica da amazônia”. Estudos avançados, v. 19, p. 71-86, 2005.
  8. Brochado, José Joaquim Justiniano Proenza. An ecological model of the spread of pottery and agriculture into Eastern South America. University of Illinois at Urbana-Champaign, 1984.
  9. Cavalcante, Thiago Leandro Vieira. “Etno-história e história indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da pesquisa”. História (São Paulo), v. 30, p. 349-371, 2011.
  10. Chambouleyron, Rafael. “Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII)”. Revista Brasileira de História, v. 26, p. 79-114, 2006.
  11. Corrêa, Ângelo Alves. “Longue durée: história indígena e arqueologia”. Ciência e Cultura, v. 65, n. 2, p. 26-29, 2013.
  12. Corrêa, Ângelo Alves. “Pindorama de mboîa e îakaré: continuidade e mudança na trajetória das populações Tupi”. Tese de Doutorado, Museu de Arqueologia e Etnologia/USP, São Paulo, 2014.
  13. Cunha, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura-FAPESP, 1992.
  14. Custódio, Elivaldo Serrão et al. “As práticas culturais/religiosas Afroindígenas na Amazônia”. Caminhos-Revista de Ciências da Religião, v. 17, p. 80-95, 2019.
  15. Da Cunha, Manuela Carneiro. “Questões suscitadas pelo conhecimento tradicional”. Revista de Antropologia, p. 439-464, 2012.
  16. Da Silveira, Patricia Kauffmann Fidalgo Cardoso. O tráfico de escravos para o Maranhão: súplicas, embaraços e distinções (séculos XVII-XVIII). Curitiba: Editora CRV, 2021.
  17. De Castro, Eduardo Viveiros. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2014.
  18. De Oliveira, Adão Francisco et al. “A Amazónia legal e os contornos da fronteira capitalista no século XXI”. Acta Geográfica, v. 15, n. 37, p. 218-245, 2021.
  19. De Oliveira, Jorge Eremites. “Da pré-história à história indígena:(re) pensando a arqueologia e os povos canoeiros do Pantanal”. Revista de arqueologia, v. 16, n. 1, p. 71-86, 2003.
  20. De Rojas, José Luis. La etnohistoria de América: los indígenas, protagonistas de su historia. Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: Sb editorial, 2015.
  21. Domingues, Petrônio; Gomes, Flávio. “Histórias dos quilombos e memórias dos quilombolas no Brasil: revisitando um diálogo ausente na lei 10.639/031”. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), v. 5, n. 11, p. 05-28, 2013.
  22. Dos Santos Gomes, Flávio. “A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (secs. XVII-XIX)”. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas/Unicamp, Campinas, 1997.
  23. Godoy, Gustavo. “Dos modos de beber e cozinhar cauim: ritos e narrativas dos ka’apores”. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
  24. Goldman, Marcio. "Quinhentos Anos De Contato: Por Uma Teoria Etnográfica Da (Contra) Mestiçagem”. Revista Mana, V. 21, N. 3, P. 641-659, 2015.
  25. Goldman, Marcio. “A relação afroindígena”. Cadernos de Campo (São Paulo-1991), v. 23, n. 23, p. 213-222, 2014.
  26. Gomes, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil (séculos XVII-XIX). São Paulo: Editora Unesp, 2005.
  27. Goulart, Maurício. Escravidão africana no Brasil (Das origens à extinção do tráfico). São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1975.
  28. Hall, Stuart. “The emergence of cultural studies and the crisis of the humanities”. October, v. 53, p. 11-23, 1990.
  29. Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A Editora: Rio de Janeiro, 2006.
  30. Heckenberger, Michael. “Estrutura, história e transformação: a cultura xinguana no longue durée, 1000‑2000 d.C”. In: Franchetto, B.; Heckenberger, M.B. (Eds.). Os povos do Alto Xingu: história e cultura. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, p. 21‑62. 2001.
  31. Heckenberger, Michael; Neves, Eduardo Góes; Petersen, James. “De onde surgem os modelos? As origens e expansões Tupi na Amazônia Central”. Revista de Antropologia, v. 41, p. 69-96, 1998.
  32. Hobsbawm, Eric J. A era dos Impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
  33. Hodder, Ian. Archaeology as long-term history. CUP Archive, 1987. Grã-Bretanha: Press Syndicate of the University of Cambridge, 1987.
  34. Hurley, Jorge. “Rio Gurupy”. Officinas Graphicas do Instituto D. Macedo Costa, 1932.
  35. Lima, José Alves de. A França Equinocial. Belém: Editora Cejup, 1997.
  36. López Palomino, Cristabell. “Sem a floresta os Ka’apor não existem, sem os Ka’apor a floresta não existiria: o pensamento político Ka’apor e a política interétnica”. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
  37. Lovejoy, Paul. A exportação de escravos, 1600-1800. A escravidão na África. Uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, p. 89-109, 2002.
  38. Marquese, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos estudos CEBRAP, v.1 n. 2 p. 107-123, 2006.
  39. Mello, Cecília Campello do Amaral. “Obras de arte e conceitos: cultura e antropologia do ponto de vista de um grupo afro-indígena do sul da Bahia”. Dissertação de Mestrado, Museu Nacional, Rio de Janeiro, 2003.
  40. Métraux, Alfred. A religião dos Tupinambás e suas relações com as demais tribos tupi-guaranis, São Paulo: Editora Nacional/EDUSP, 1979.
  41. Miranda, José da Cruz Bispo. “Resenha do livro: O genocídio ocultado”. Revista Humana Res. v.2 n.3, 2020.
  42. Nascimento, Dorval do. “Relações interétnicas em uma escola pública no sul do Brasil (1951-1964)”. Educar em Revista, p. 241-257, 2010.
  43. Neves, Eduardo Góes. “O velho e o novo na arqueologia amazônica”. Revista Usp, n. 44, p.86-111, 1999.
  44. Pacheco, Agenor Sarraf. “Os estudos culturais em outras margens: identidades afroindígenas em “zonas de contato” amazônicas”. Fênix-Revista de História e Estudos Culturais, v. 9, n. 3, p. 1-19, 2012.
  45. Pacheco, Agenor. “En el corazón de la Amazonia: identidade, saberes e religiosidade no regime das águas”. Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
  46. Palheta, Daniel; Damasceno, Alberto; Santos, Emina. “A diáspora de populações Africanas para Amazônia nos séculos XVII e XVIII: um olhar historiográfico sobre as motivações econômicas do Estado Português”. Brazilian Applied Science Review, v. 2, n. 3, p. 951-969, 2018.
  47. Povos Indígenas no Brasil. 2021. “Povo:Ka’apor”. https://pib.socioambiental.org/pt/
  48. Puntoni, Pedro Luis. “Miséria sorte: a escravidão africana no Brasil holandês e as guerras do tráfico no atlântico sul, 1621-1648”. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
  49. Quijano, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. Edgardo Lander (org). Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: Colección Sur Sur-CLACSO, 2005.
  50. Ribeiro, Darcy. Diários índios: Os Urubus-Kaapor. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1996.
  51. Salles, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Fundação Getúlio Vargas: Rio de Janeiro 1971.
  52. Salles, Vicente. O negro na formação da sociedade paraense: textos reunidos. Editora Paka-Tatu: Belém, 2004.
  53. Souza, Sueny Diana. “Militares, Mocambos e o viver ao modo indígena na fronteira entre Pará e Maranhão (1790-1830)”. Caravelle. Cahiers du monde hispanique et luso-brésilien, n. 107, p. 57-73, 2016.
  54. Trigger, Bruce G. “Ethnohistory: problems and prospects”. Ethnohistory, p. 1-19, 1982.
  55. Viana, Fernanda Lopes et al. “O contexto da cultura surda entre os Ka’apor”. Revista Caribeña de Ciencias Sociales, v. 12, n. 5, p. 2218-2238, 2023.
  56. Wanderley, Maria de Nazareth Baudel. “O campesinato brasileiro: uma história de resistência”. Revista de economia e sociologia rural, v. 52, p. 25-44, 2014.
  57. Wehling, Arno; Wehling, Maria José C. de M. O poder na colônia. Formação do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, p. 299-312, 1994.
  58. Williams, Eric. Capitalismo e escravidão. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2012.