Dossiê: “Patrimônios imateriais afro-indígenas na América Latina: invisibilidades, história, lutas por direitos e novas epistemologias"

2024-07-10

Organizadores: Jeremias Brasileiro (Doutor em História Social. Pesquisador no GTEP/MG/UFJF e na Universidade Federal de Uberlândia); Christine Douxami (Doutora em antropologia pela EHESS, professora em artes cênicas na Université de Franche-Comté. Pesquisadora do IMAF - Institut des Mondes Africains -  atuando na IRD-Brésil, vinculada a UFF e a UFBA).

Data final para submissão de artigos:  20 de setembro de 2024.

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O nosso ponto de partida vem de uma constatação. A ação estruturante do racismo latino-americano pressupõe um não lugar para a história das interações socioculturais afro-indígenas na região. Se o mito das ‘três raças” construiu a ideia do “mestiço” em muitos países latino-americanos, inclusive como uma categoria de censo, as contínuas interações sociais e culturais entre populações de origem indígena e afrodescendente são nela invisibilizadas. As supostas democracias raciais que teriam aparecido depois das independências no século XIX não tinham necessariamente nem a abolição das escravidões africana e indígena como tarefa imediata e muito menos a possibilidade de reconhecimento e valorização das culturas dessas populações como construtoras do presente nacional, que deveria incorporar suas “contribuições” apenas como passado. Este quadro começou a mudar no final do século XX em diversos países da região. Após anos de luta, vários países vêm reconhecendo direitos culturais a povos originários e afrodescendentes, muitas vezes relacionados ao reconhecimento de direitos territoriais. Em geral, prevalece, porém, um certo silêncio sobre o lugar das interações afro-indígenas enquanto experiência histórica e cultural na constituição desses grupos, tanto pelos estados e suas políticas publicas, como por intelectuais e pelas populações em questão que ficam, muitas vezes, frente a difícil situação de ter que escolher entre um ou outro marcador cultural para a afirmação de direitos territoriais. Esse dossiê pretende, a partir do estudo amplo dos patrimônios imateriais afro-indígenas nos diversos países latino-americanos pensar a diversidade das questões culturais, políticas, raciais, identitárias e epistemológicas ligadas a esse tema, com ênfase nos seguintes tópicos.


a) Passados – Presentes: reflexões sobre as dinâmicas de lutas em territórios com manifestações culturais afroindígenas e suas relações com a memória e as narrativas do passado africano e indígena, bem como com as políticas públicas de patrimonialização desenvolvidas nos diversos países

b) Performances rituais que dialoguem com tradições culturais afro-indígenas na América Latina, mostrando a pluralidade e a potência delas;

c) Representações afro-indígenas, diversidades estéticas, religiosas, culturais.

d) Coexistências culturais e religiosas e suas interfaces com manifestações culturais afroindígenas e suas especificidades regionais;

e) Pensar a categoria afro-indígena para além das visões reducionistas que separam o afro do indígena ou a reduzem a mais um marcador de identidade, avançando em novas possibilidades teóricas de análise da pluralidade cultural.

f) Confluências e tensões jurídicas para o reconhecimento e titulação de territórios constituídos por memórias e manifestações culturais afro- indígenas.

g) Narrativas do passado, narrativas do presente: diálogos com os detentores dehistórias, de memórias e de tradições afro-indígenas na América Latina;

h) Epistemologias afro-indígenas e a construção de saberes a partir de novos
olhares na América Latina;

i) Ancestralidades afro-indígenas e a democratização de saberes na América
Latina como pauta da história e das ciências humanas.

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« caboclinho do Boi Brilho de Lucas, Parada de lucas, Rio de Janeiro, 22 de junho de 2024, @christine Douxami”