Dossiê História Digital: tecnologia e fazer historiográfico entre teoria e prática
História Digital: tecnologia e fazer historiográfico entre teoria e prática
"A Historiografia como investigação sistemática acerca das condições de emergência dos diferentes discursos sobre o passado, pressupõe, como condição primeira, reconhecer a historicidade do próprio ato de escrita da História, reconhecendo-o como inscrito num tempo e lugar. Em seguida, é necessário reconhecer esta escrita como resultado de disputas entre memórias, de forma a compreendê-la como parte das lutas para dar significado ao mundo."
Manoel Luiz Salgado Guimarães*
A História é um terreno de estudo intrinsecamente ligado ao tempo e ao espaço. A compreensão da historicidade do ato de escrever a História é fundamental para sua abordagem crítica e reflexiva. Refletindo sobre a escrita da história condicionada pelo tempo presente no espaço de produção acadêmica brasileiro, este dossiê tem como propósito explorar a relação entre História e tecnologia, considerando o cruzamento de questões práticas e teóricas que hoje, dada à ubiquidade do componente digital, atravessam o fazer historiográfico.
A proposição deste dossiê parte da constatação de que a chamada Era Digital tem introduzido transformações significativas na prática histórica, exigindo uma reflexão sobre como as novas tecnologias influenciam a maneira como entendemos, produzimos, ensinamos e compartilhamos o conhecimento histórico.
O dossiê se inscreve em um contexto de afirmação da ciência aberta e do trabalho colaborativo, que também demandam reflexões sobre ética do compartilhamento e da livre circulação do conhecimento. Além disso, observamos que superados os primeiros anos de avanços tecnológicos, marcados por monumentais iniciativas de digitalização e disponibilização de acervos inteiros na rede mundial de computadores, tornam-se mais prementes as questões de análise e a busca pelos métodos e críticas adequadas para lidar com este momento de abundância.
Assim, o dossiê especial História Digital: tecnologia e fazer historiográfico entre teoria e prática busca explorar as implicações da era digital na prática histórica, bem como refletir sobre os questionamentos e desafios teóricos suscitados pela História Digital. Além disso, espera-se analisar as diversas abordagens e métodos utilizados nesse campo, considerando diálogos com diferentes comunidades de práticas no âmbito das amplas Humanidades Digitais.
Os tópicos de interesse podem incluir, mas não estão limitados a:
- Digitalização, análise de documentos históricos e disponibilização dos dados;
- A construção de ciber infraestruturas com o envolvimento de equipes multidisciplinares para criação de plataformas, portais e banco de dados interativos;
- Arquivos digitais e preservação do patrimônio cultural digital;
- Visualização de dados e representações gráficas na pesquisa histórica;
- Mapeamento e uso de geotecnologias na análise espacial da história (GIS);
- A construção de narrativas históricas digitais em jogos, documentários e outros formatos alternativos que não o tradicional modelo da monografia impressa;
- Acesso aberto, direitos autorais e ética na História Digital;
- Ensino de História e História Digital
- História Pública Digital
- Desafios teóricos e metodológicos da História Digital;
- História da História Digital: desenvolvimento, avanços e perspectivas futuras.
O diálogo com a literatura não brasileira pode ser incontornável em muitos casos, mas enfatizamos, que a intenção deste dossiê é também reunir as contribuições sobre a História Digital numa perspectiva brasileira e, portanto, a discussão com a produção de pesquisadores/as brasileiros/as é de altíssima relevância para as contribuições que esperamos receber e tornar públicas com a publicação deste dossiê.
Organizadoras:
Anita Lucchesi, Universidade do Luxemburgo
Mônica Ribeiro de Oliveira, Universidade Federal de Juiz de Fora
Prazo para submissão de artigos: até 30 de dezembro de 2023
* GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Usos da história: refletindo sobre identidade e sentido. História em revista, Pelotas, v. 6, p. 21–36, 2000. p. 27