Planejamento reprodutivo na Atenção Primária à Saúde: um relato de experiência
circunstâncias ou por desespero, é necessário que existam certas condições
que constituam a base dos direitos sexuais e reprodutivos, o que as feministas
denominam “autonomia feminina”. Elas incluem fatores materiais e de
infraestrutura, tais como transporte, creches, subsídios financeiros, bem como
serviços de saúde acessíveis, humanizados e bem equipados (Corrêa;
Petchesky, 1996, p. 159).
Essa análise auxilia inclusive a tecer uma crítica ao próprio conceito de “direito
reprodutivo”, que já em sua concepção - sob a ótica liberal -, situa esse direito no campo da
liberdade privada e das escolhas individuais. Porém, sob a perspectiva crítica, entende-se que a
liberdade enquanto valor ético central depende de condições objetivas para seu exercício,
mediante atendimento das necessidades sociais que são mais amplas do que apenas a regulação
da fecundidade, e perpassam tanto por aspectos gerais da saúde da mulher (morbimortalidade
materno-infantil, violência sexual, IST), quanto pelas condições estruturais que balizam as
decisões sexuais e reprodutivas, tais como pobreza, analfabetismo, não acesso à renda, falta de
estrutura sanitária, dentre outros. Dessa forma, direitos reprodutivos extrapolam o campo das
liberdades individuais, e envolvem também a esfera dos direitos sociais e coletivos e a
responsabilidade do poder público (Corrêa; Petchesky, 1996).
Fernandes et al. (2022) explicam que ações intersetoriais no âmbito do SUS são
estratégias para superar a fragmentação gerada pela setorização administrativa e disciplinar das
políticas sociais, o que propicia enfrentamento de algumas questões de saúde de forma efetiva
e integral, ancorada num pensamento sistêmico e interdependente. Nessa lógica, em 2007 foi
instituído pelo governo federal o Programa Saúde na Escola (PSE), com o objetivo de contribuir
para a formação integral dos alunos da educação básica da rede pública por meio de ações de
prevenção, promoção e atenção à saúde. A articulação entre escola e atenção primária é o pilar
da política, e dentre as ações previstas estão as de promoção da saúde sexual e da saúde
reprodutiva (Brasil, 2025).
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Apesar do início da vida sexual ser predominantemente na adolescência, Bezerra et al.
(2018) explica que a procura pelos serviços de saúde (tanto para orientações quanto para uso
de métodos contraceptivos) ocorre em média 1 ano após o início das relações sexuais. Esses
dados mostram a importância da quebra de tabus e da educação sexual para a juventude.
O último recenseamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 2022, mostra que houve uma queda na taxa de natalidade no grupo de mulheres
abaixo de 20 anos (12,1%) se comparado com o ano de 2000 (21,6%) (Agência IBGE, 2024).
Porém, de acordo com Sousa et al. (2024), ainda que os dados epidemiológicos evidenciem
redução das taxas de gravidez na adolescência, ainda assim é uma questão de saúde pública a
ser enfrentada. Aliás, no que se refere ao exercício da sexualidade na adolescência, não é apenas