Léon Chestov e a Filosofia Existencial de Kierkegaard: um exercício de hermenêutica não sistematizado
DOI:
https://doi.org/10.34019/2448-2137.2019.31112Abstract
O presente artigo visa trazer à baila a interpretação do filósofo existencialista ucraniano Léon Chestov sobre o pensamento de Søren Kierkegaard, materializada na obra Kierkegaard e a Filosofia Existencial (1952). Chestov caracteriza o pensador dinamarquês, à semelhança de Dostoiévski, como vox clamantis in deserto (“voz que clama no deserto”), que consiste no subtítulo da obra, por se posicionar solitariamente na contramão da evolução da Filosofia Ocidental, cujo representante máximo no século XIX foi Hegel, com o seu idealismo herdado de Kant e sua dialética e sistematização do conhecimento. Assim, Chestov aponta a Filosofia Existencial como rota de dissidência, apresentando a Verdade Revelada em contraposição à Verdade Especulativa, que remonta a Sócrates e seus herdeiros ao longo dos séculos. Seguindo uma tradição que se origina nos filósofos/teólogos Tertuliano (155-220), Pedro Damião (1007-1072) e João Duns Escoto (1266-1308), passando por Lutero e Pascal, Chestov classifica o Absurdo “kierkegaardiano” como a ação da transcendência que ultrapassa o poder de compreensão das faculdades racionais. Desse modo, a tradição filosófica reinante no Ocidente se afigura como um elogio à Queda primordial relatada no mito do Gênesis e seus frutos semelhantes aos da Árvore da Ciência (do bem e do mal), que trouxe à criatura o conhecimento das verdades eternas e incriadas, mas o puniu com a morte e a escravidão frente à Necessidade. A Filosofia Existencial, em contrapartida, representa simbolicamente a Árvore da Vida, cujos frutos permitem ao homem o acesso à Liberdade, ultrapassando o vazio das abstrações, das leis e da tirania da ética, comungando com a transcendência como uma extensão do si-mesmo e vivendo o paradoxo da eternidade na existência temporal mediante a ação do devir.
Palavras-chave: Absurdo. Chestov. Filosofia Existencial. Kierkegaard. Liberdade.