DIFERENÇAS E DESIGUALDADES NA AUTOAJUDA BRASILEIRA
Resumo
Tendo em vista algumas das reflexões desenvolvidas ao longo da minha pesquisa de Mestrado, concluída e defendida no final de 2009, abordo as principais estratégias de construção discursiva de imagens de masculinidade e de feminilidade na produção de literatura de autoajuda brasileira, em meados da década de 1990, quando este mercado editorial ganhou significativa popularidade no país. A análise se foca nas figuras encontradas em campo, do homem na idade do lobo e da mulher na idade da loba como significados importantes para caracterização deste período da vida adulta, e na inventividade de autores e editores para a conformatação deste gênero literário. O esforço é pela apreensão das alterações que inflexões de gênero trazem para a configuração da meia-idade neste nicho de produção cultural: tratando do que seria a mesma etapa da vida de pessoas em dado contexto social, os livros acabam reproduzindo criativamente diferenças e, mais do que isso, desigualdades, a respeito das experiências sociais e emocionais de homens e mulheres. A partir do referencial dos campos da antropologia e sociologia das emoções e da vasta produção teórica sobre curso da vida, abordo as diferenças existentes entre as imagens do homem frágil e infantilizado e da mulher poderosa e responsável, que continua a seduzir, a despeito das transformações físicas que marcam o período, presentes nessa produção cultural. Além destas, cabe também destacar os procedimentos de construção das marcas etárias por meio das quais as figuras do lobo e da loba se erigem, entre jovens apresentados como fúteis e inocentes, e velhos sem corpo e perspectivas. A crise da meia-idade surge, portanto, como um possível resultado de uma tendência de prolongamento da vida adulta e positivação da experiência de envelhecimento, que cria desigualdades entre aqueles que podem ou não acessá-la.
Palavras-chave: Autoajuda; gênero; curso da vida;
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