Esforços e reforços: composição das respostas nacionais à crise de 2008 nos EUA e Alemanha

Resumo

A despeito da constante e crescente mutabilidade do capitalismo, é nos momentos de crise econômica que podemos observar uma maior instabilidade sistêmica. É nas crises que se expõem as virtudes e, principalmente, as fraquezas dos modelos econômicos empregados até então, bem como dos grupos que sustentam tais modelos. Essa conjuntura permite então que os padrões relativamente estabelecidos sejam questionados, alterados e substituídos, denotando momentos cruciais de plasticidade e criação de novas tendências nas práticas e relações entre os grandes participantes da economia, que exercem pressão sobre os formuladores de políticas públicas, resultando em possíveis mudanças na trajetória destas. Neste sentido, propomos uma análise das posições adotadas pelos governos de dois importantes países frente à atual crise financeira, os Estados Unidos, origem do evento, e a Alemanha, país fortemente afetado na conjuntura. Nosso foco estará nas medidas de salvamento e regulamentação do setor financeiro adotadas por esses países, por ser este o setor originário e mais envolvido na crise, além de permear o interesse de vários atores econômicos, por se tratar de uma peça essencial no capitalismo atual. Acreditamos que a observação dessas medidas nos permitirá identificar quais as tendências de políticas adotadas nesses países, refletindo quais atores tem seus interesses mais representados junto aos governos. Por fim, intentamos dar uma resposta – ainda que incipiente devido ao imediatismo do tema – a nossa pergunta: em que medida as políticas adotadas por esses países refletem esforços de mudança ou reforços da situação. A escolha dos países analisados foi feita por três motivos: a dimensão de suas economias, o nível em que foram afetadas pela crise e as diferenças institucionais entre seus modelos de capitalismo; tomando este último fator da temática das Variedades de Capitalismo, esquema de análise proposto originalmente por Hall e Soskice, que coloca os Estados Unidos e a Alemanha como países paradigmáticos dos modelos de Economia de Mercado Liberal e Economia de Mercado Coordenada, respectivamente.