Etnografia da Busca de Cuidados em Juiz de Fora (MG) por usuários residentes no sul do Rio de Janeiro (RJ)
Palavras-chave:
Etnografia - Sistema de Saúde - Planejamento Regional de Saúde – espaços de cuidado – cuidado culturalResumo
Este artigo apresenta uma compreensão dos processos de natureza sociocultural que orienta a busca de cuidados de saúde em Juiz de Fora (MG) por usuários do SUS residentes na região centro-sul fluminense (RJ). Resulta de uma investigação etnográfica segundo os pressupostos de Geertz (1989), realizada entre julho de 2006 e agosto de 2007, por observação participante, entrevistas abertas em visitas domiciliares a usuários; conselheiros de saúde; motoristas de ambulância e a secretários de saúde de Comendador Levy Gasparian; Três Rios e Paraíba do Sul. No cotidiano de vida dos sujeitos, evidenciou-se um lidar rotineiro destes com Juiz de Fora, dependente de outros setores além do de saúde, como o da educação, do comércio, de serviços de terceiros. O mapa de busca-oferta de cuidados permitiu-nos a imagem de uma “teia”, tecido na forma de “espaço vivido” pelos sujeitos do cuidado (os que o buscam e os que o ofertam). Importantes fios que o tecem são: a proximidade geográfica; o medo, a insegurança, o desgaste físico e emocional de ter que viajar para lugares distantes, sem significação afetiva de lugar, frente ao acolhimento por parentes e profissionais em Juiz de Fora; as experiências prévias positivas no cuidado lá recebido, influenciando o surgimento de uma rede microssociológica de informações e de divulgação na vizinhança. O evidente desvio compartilhado das normas do SUS, por usuários e profissionais, sinaliza-nos o fenômeno de (re) interpretação social das normas, permitindo-nos ressaltar a necessidade da regulação interestadual de procedimentos de saúde, de modo a incluir esses usuários.