Entre a cruz e o pentagrama:

Bricolagem simbólica e purismo no Neopaganismo contemporâneo

Resumo

Este artigo investiga as tensões simbólicas entre Neopaganismo e Cristianismo, com foco na maneira como práticas religiosas contemporâneas reconfiguram elementos herdados da tradição cristã. Embora o discurso êmico neopagão afirme uma ruptura com a matriz cristã e reivindique autenticidade, observa-se uma dinâmica mais ambígua, na qual símbolos e estruturas cristãs são frequentemente reaproveitados de modo crítico e criativo. A partir do referencial teórico de Wouter Hanegraaff e Ronald Hutton, argumenta-se que a identidade do Neopaganismo moderno se constrói não por exclusão, mas por recombinação seletiva, reinterpretação simbólica e bricolagem. Como estudo de caso, analisa-se a prática da Quaresma Negra das Bruxas, proposta em ambiente virtual por criadoras de conteúdo digital ligadas à Bruxaria Pagã Moderna, para demonstrar como essa religiosidade opera em zonas intersticiais – nem cristã, nem anticristã, mas híbrida, inventiva e performativa. Ao iluminar essas zonas de fronteira, o artigo contribui para o debate sobre religiosidades alternativas e suas estratégias de legitimação em contextos de pluralidade e desinstitucionalização religiosa.