A narrativa sobre o Santo Daime e a Ayahuasca nos periódicos da região Norte entre 1980 e 1997:

A memória discursiva no imaginário jornalístico e social

Resumo

Este estudo investiga as narrativas discursivas sobre o Santo Daime, com foco em sua historicidade e nos processos de memória e esquecimento que envolvem a doutrina e o uso da Ayahuasca. A pesquisa foi realizada na Hemeroteca Digital, a partir da análise de periódicos da Região Norte entre 1980 e 1990. A partir dos conceitos de arquivo (Pêcheux, Farge, Barbosa Filho), memória discursiva e esquecimento (Nora, Orlandi, Pêcheux), observa-se como o Daime foi atravessado por disputas de sentido que refletem tensões em torno das práticas xamânicas e vegetalistas amazônicas. Os discursos jornalísticos revelam a estigmatização histórica do Santo Daime, associando-o a imagens de perigo, marginalidade ou exotismo, em detrimento de suas raízes espirituais e indígenas. Tais representações contribuem para um imaginário social que deslegitima as religiosidades amazônicas, ao mesmo tempo em que reforça hierarquias simbólicas e coloniais. Embora, hoje, o Daime e a Ayahuasca venham sendo progressivamente reconhecidos como patrimônio cultural e religioso, as disputas discursivas ainda persistem. Assim, o estudo discute como o Santo Daime constitui um campo simbólico relevante para compreender as relações entre espiritualidade, cultura, história e poder no Brasil contemporâneo, especialmente na construção da memória coletiva sobre as práticas religiosas amazônicas.