O mito da cidade justa: considerações sobre um uso filosófico da mimese em Platão

Autores

  • Mateus Lima dos Santos

DOI:

https://doi.org/10.34019/2448-2137.2022.40222

Resumo

O ataque de Platão à mimese parece reducionista a ponto de muitas interpretações a conceberem como uma noção essencialmente negativa. Na República (X 595c-608b), o filósofo teria definido as artes representativas através de tal conceito, expulsando os imitadores de sua cidade sob o pretexto de que engendrariam imagens distantes do inteligível (R. X 595c-602b). No entanto, a constituição política elaborada por Platão é apresentada como uma “pintura” (Ti. 19b) “imaginada em palavras” (R. VI 501e), quer dizer, ela possui o mesmo estatuto dos trabalhos miméticos que são criticados na República. O diálogo Timeu-Crítias (29b, 107b) parece dar margem para a dissolução deste aparente paradoxo ao apresentar a mimese como uma propriedade do mundo e da linguagem. Desse modo, o conceito de mimese não poderia ser reduzido a uma concepção unitária, nem tampouco negativa, como as páginas do último livro da República poderiam sugerir. O presente artigo pretende investigar a possibilidade do uso filosófico da mimese examinando sua natureza na filosofia de Platão. Parece haver uma limitação da linguagem que impede um discurso fixo e estável (epistêmico) sobre a cidade justa. Restaria, então, recorrer à mimese.

 

Palavras-chave: Platão; mimese; poesia; política.

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Publicado

2023-02-05

Edição

Seção

Artigos