A hipótese gorgiana: por uma leitura da obra platônica
DOI:
https://doi.org/10.34019/2448-2137.2022.40220Resumo
De maneira reconhecida ou não, a presença de Górgias, e suas teses, no corpus platônico transcende os limites da presença da personagem Górgias nos sete diálogos em que este é mencionado por Platão. Diante de uma influência multifacetada – que abarca desde questões relativas à linguagem, passando pela metafísica, política e estatuto da arte – faz-se necessário um recorte para melhor evidenciar a apropriação e reelaboração platônica do quadro conceitual gorgiano. A pretensão é fazer uma releitura de alguns momentos do texto platônico por meio de um destaque às referências, diretas e indiretas, que nele estão contidas, tanto da sofística de um modo geral, como de Górgias de Leontinos de modo específico. A tese que se pretende defender é a de que as principais hipóteses teóricas apresentadas pelos sofistas, e por Górgias de modo proeminente, devem ser consideradas imprescindíveis para a construção da filosofia platônica – ainda que esta constitua-se como reação ou apropriação seletiva daquelas. Assim, a indústria platônica não se constitui apenas em desqualificar o edifício filosófico gorgiano, a fim de erguer suas teses sobre as ruínas deste, mas também utilizar alguns conceitos da empresa filosófica de Górgias como vigas-mestras da nova perspectiva reflexiva que o discípulo de Sócrates comprometeu-se a desenvolver.
Palavras-chave: Górgias; Platão; Sofística; Platonismo; Discurso.