Sermão 48 – O dia santificado (1445)
DOI:
https://doi.org/10.34019/2448-2137.2021.37211Resumo
O sermão número 48, “O dia santificado” (Sermo XLVIII: Dies Santificatus), proferido em Mainz na data de 6 de Janeiro de 1445, na Festa da Epifania do Senhor, traz alguns temas de interesse na compreensão do desenvolvimento da filosofia cusana no período imediatamente posterior à obra A douta ignorância (De docta ignorantia, 1440) e As conjecturas (1442). Este sermão é citado no opúsculo A busca de Deus (De querendo deum, I, 16, 3), de 1445, como sendo a primeira tentativa cusana de tratar do tema dos “modos de conhecimento” (modi cognoscendi) a partir da perspectiva do tema da “luz e das cores”, caro à tradição de comentadores escolásticos do De anima aristotélico, tentativa essa que viria a ser aprimorada no referido opúsculo. Nele, Cusa busca uma “conjectura” capaz de simbolizar a relação paradoxal de imanência e transcendência entre Deus e a criação, mediante a relação que se estabelece entre a luz sensível e as cores do arco-íris. A luz, embora explicada em suas determinações, isto é, nas cores, ainda permanece transcendente às mesmas, as complicando enquanto luz pura. Do mesmo modo, Cusa evoca o exemplo do “sentido comum” da tradição escolástica, que em sua interpretação neoplatonizante, seria responsável por “complicar” todos os sentidos. Por fim, mediante tais exemplos da luz e dos sentidos, Cusa encaminha sua reflexão à visão do “modo de ser divino”, que, segundo ele, também poderia ser intuído no exemplo do nome divino IHWH. Esse nome inominável que complica todos os nomes, assim como os exemplos tratados, simboliza aquela realidade divina que complica e explica todas as coisas. A reunião desses exemplos é abalizada por uma coleção de citações escriturais, que buscam trazer respaldo às suas interpretações.