Consciência, eu, ipiseidade: cadernos de anotações
DOI:
https://doi.org/10.34019/2448-2137.2020.33286Resumo
O presente artigo pretende acompanhar o percurso e a travessia sartreana para construção e formalização teórica e, em alguma medida, prática do problema do “eu” e da “ipseidade”, tal como deságua em “O ser e o nada” na conhecida quinta seção do capítulo “As estruturas imediatas do para-si”, a saber, “O eu e o circuito da ipseidade”. Sem que se pretenda dar uma relevo exagerado ao problema ou dar-lhe tratamento exaustivo, cremos que os impasses em torno da tríade consciência, eu e ipseidade podem oferecer notável instrumento analítico para compreensão não só da filosofia sartreana como também dos impasses e do sentido do debate daquelas “filosofias do concreto”. O retorno de considerável carga e atenção teóricas para problemas em torno do “eu” (e sua constelação de correlatos), bem como a emergência, por assim dizer, de um (ou vários) Descartes redivivo entrando em cena no pós-guerra francês, com as exigências de tantos mais cogitos quanto Descartes, tais movimentos indicam certa centralidade relativa da questão aqui pontuada e são tanto quantos efeitos da virada que dá a Filosofia Francesa em torno dos anos trinta do século passado. Igualmente são modos de mensurar o que apresentamos, por ora, sumariamente, tomados igualmente como efeitos e índices dessa virada. O que nos propomos, porém, aquém de interpretações mais gerais, é acompanhar certo jogo e movimento teórico, desde o texto inaugural, “A Transcendência do Ego” até a solução de “O ser e o nada” em torno do binômio eu/consciência e o sentido da formalização que faz Sartre, já em “O ser e nada”, nos termos de um “circuito da ipseidade”.