A ortodoxia do “grande infiel”: ou sobre o uso do ceticismo Humeano por Kierkegaard e Hamann
DOI:
https://doi.org/10.34019/2448-2137.2019.31111Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar a apropriação que Hamann e Kierkegaard fazem de alguns aspectos do ceticismo desenvolvido por Hume. Em 1744, David Hume (1711-1776), até então, autor do Tratado da Natureza Humana (1739) e dos Ensaios Morais e Políticos (1741) é rejeitado para o cargo de professor da cadeira de Ética da Universidade de Edimburgo, sob a alegação de que ele era um “notório infiel”. Desse modo, parece estranho pensar que Hamann que tão energicamente combateu a ilustração, sendo um defensor implacável de um cristianismo baseado somente na fé, tenha algo a ver com o ceticismo de Hume. Do mesmo modo, que não parece crível pensar que o autor de Escola do Cristianismo (1850), Obras do Amor (1847) e Discursos edificantes possa de alguma forma estar relacionado com este “notório infiel”. Entretanto, as afirmações de Hume de que: “[...] a religião cristã não só foi inicialmente acompanhada de milagres, como até hoje não é possível que uma pessoa razoável lhe dê crédito sem milagre [...]”, bem como a afirmativa de Hume, segundo a qual ser um cético filosófico é o primeiro e mais importante passo no sentido de se tornar um cristão verdadeiro, parecem ter provido as armas que Kierkegaard e Hamann tanto necessitavam para combater o racionalismo filosófico e teológico que se imiscuíam na religião e minavam a fé. Desse modo, essa comunicação pretende apontar as consequências do pensamento humeano para a concepção de um cristianismo cético desenvolvido por Hamann e Kierkegaard.
Palavras-chave: Hume. Ceticismo. Hamann. Kierkegaard. Cristianismo.