O DISCURSO É UM GRANDE SOBERANO: O PODER DA LINGUAGEM E UM ELOGIO AOS SOFISTAS

Autores

  • Ana Paula El-Jaick Universidade Federal de Juiz de Fora

DOI:

https://doi.org/10.34019/2448-2137.2016.17623

Resumo

Os sofistas passaram pela história de nosso pensamento ocidental como mestres da retórica e da oratória que ofereciam suas técnicas aos políticos em troca de pagamento. Contudo, contemporaneamente, vemos florescer certo movimento de reabilitação dos sofistas (cf. Cassin, 2005[1995]; Kerferd, 2003 [1981]; Lopes, 2011; Martins, 2011) buscando mostrar que, antes, há um pensamento sofístico sofisticado – tanto do ponto de vista filosófico quanto no que tange à questão da linguagem (a que mais interessa a este ensaio). Assim, o Elogio aos sofistas que pretendo fazer aqui deve ser no sentido de desconstruir o estereótipo segundo o qual os sofistas eram cidadãos sem escrúpulos, antiéticos. Em vez disso, eles teriam formulado uma resposta que não refletia o paradigma de verdade estabelecido por Sócrates. Afinal, a sofística descarta a existência de uma verdade única, entendendo que ela depende das circunstâncias – ou seja, a verdade pode variar. O que há, então, é um outro paradigma, uma outra forma de lidar com a verdade – e, consequentemente, um outro olhar sobre o discurso, a linguagem, o lógos. Este artigo elegeu como objeto de análise, por entender que ali estava uma de nossas melhores fontes em que podemos investigar o poder da retórica constatado pelos sofistas, o Elogio de Helena, de Górgias. A tese defendida aqui é que, no Elogio..., esse pensamento sofístico se desvela como certa protoimagem de uma perspectiva “radicalmente pragmática da linguagem e do sentido” (MARTINS, 2011, p.449). De fato, a sofística coloca em questão o paradigma referencial da linguagem, pois o logos não diz o real, não diz o mundo – antes, o discurso faz coisas. Sem temer a anacronia, mas desejando mostrar a atualidade e vivacidade do pensamento sofístico, ratifico a hipótese de que o Elogio de Helena seja um exemplo metonímico do embrião de uma concepção de linguagem como ação – pois o discurso tem um poder demiúrgico, pois “o discurso é um grande soberano”.

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Biografia do Autor

Ana Paula El-Jaick, Universidade Federal de Juiz de Fora

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Publicado

2018-08-06