Para compreender como as Terapias Cognitivas-Comportamentais (TCCs) têm se tornado parte das práticas psicológicas no Brasil, faz-se necessário conhecer seu percurso histórico. A região Sudeste contribuiu com a difusão da TCC no país. Neste sentido, objetivou-se analisar a história da TCC nesta região. Foi utilizado o método histórico de levantamento de informações. Os resultados demonstraram que o contexto que criou condições para o surgimento e desenvolvimento das TCCs foi diferente em cada estado do Sudeste. Em comum, houve maior investimento em ensino, atendimento clínico e pesquisa. De todo modo, ressalta-se que toda a pesquisa histórica pode ser reformulada mediante novas descobertas e interpretações.
To clarify how Cognitive-Behavioral Therapies (CBTs) have become part of psychological practices in Brazil, it is necessary to understand its historical background. The Southeast region has contributed to the diffusion of CBT in the country. In this respect, we aimed to analyze the historical development of CBT in that region. The historical method of information assessment was used. The results demonstrated that the background which created the foundations for the appearance and development of the CBTs was different in each state of the Southeast region. In community, there was a greater investment in teaching, clinical care, research, and scientific communication. In any case, it is important to note that any historical research can be rethought through new findings and explanations.
Para comprender cómo las Terapias Cognitivo-Conductuales (TCC) han pasado a formar parte de las prácticas psicológicas en Brasil, es necesario conocer su trayectoria histórica. La región sudeste contribuyó a la difusión de la TCC en el país. En este sentido, se propuso analizar el desarrollo histórico de la TCC en esta zona. Se utilizó el método histórico de búsqueda de información. Los resultados demostraron que el contexto que creó las condiciones para el surgimiento y desarrollo de las TCC fueron diferentes en cada estado del sureste. En común, hubo una mayor apuesta en la enseñanza, la atención clínica, la investigación y la difusión científica. En cualquier caso, cabe mencionar que toda investigación histórica puede reformularse mediante nuevos hallazgos e interpretaciones.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) fundamenta-se na prática baseada em evidências e na prevenção de recaídas (
A região Sudeste protagonizou o surgimento da TCC no Brasil, contando inicialmente com representantes dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro (
O objetivo do presente estudo foi realizar um mapeamento histórico para compreender mais adequadamente o desenvolvimento da TCC nos estados da região Sudeste do Brasil. Desta forma, buscou-se informações disponíveis sobre a origem e o desenvolvimento da TCC em cada um deles, considerando profissionais precursores, eventos relevantes, associações relacionadas à TCC e sua história, a influência de grupos de pesquisa e o quanto são influentes no desenvolvimento da TCC atualmente.
O método histórico foi aplicado a esta pesquisa por se tratar de um levantamento com registros passados que permitem a identificação de um escopo, acesso e análise de fontes consultadas, sistematização dos eventos (
Os dados foram levantados por meio de fontes primárias (registros oficiais: periódicos, minutas, registros; arquivos pessoais: artigos, falas, participação em eventos e outros materiais publicados: livros e capítulos e arquivos eletrônicos) e secundárias - outros registros que possam autenticar as fontes primárias, no caso desta pesquisa os dados primários foram validados por meio de entrevistas dirigidas (
O material obtido foi analisado por meio do criticismo externo e perguntas objetivas para avaliar a autenticidade dos dados - quem e qual é a fonte - e o interno - acurácia e certificação - para estabelecer a confiabilidade e validade dos dados encontrados (
O início da integração entre as abordagens comportamental e cognitiva, bem como o surgimento de uma abordagem cognitivo-comportamental no país se deu no estado de São Paulo. Na década de 1970, Raquel Kerbauy e Luiz Otávio de Seixas Queiroz começaram a apontar a necessidade de se estudar os comportamentos encobertos e os aspectos cognitivos como variáveis mediadoras do comportamento. Em 1973, convidaram Michael Mahoney - que estava no país para ministrar um curso sobre delinquência - para realizar um curso sobre “modificação cognitiva do comportamento” (
Durante a década de 1980 foram realizadas diversas ações de terapeutas e professores que culminaram no estabelecimento da TCC no estado (
Enquanto em algumas cidades do estado já existiam serviços estruturados como os mencionados, em outras, a TCC era praticamente desconhecida. Segundo Willians (2017, comunicação pessoal), em São Carlos não se falava a respeito da TCC, apenas em Análise do Comportamento, Behaviorismo Radical ou Terapia Comportamental.
Em 1991 foi fundada, por iniciativa de Bernard Rangé e Hélio Guilhardi, com apoio de Ricardo Gorayeb, a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental ([ABPMC],
O desenvolvimento da abordagem cognitivo-comportamental favoreceu o início do movimento construtivista no país, após um grupo de profissionais participar do
O mesmo grupo participou do
A mesma equipe que criou as atividades do curso de graduação da UNIP, em 1995, criou o curso de pós-graduação
Em 1996, o grupo fundou a primeira associação da área no país, chamada Associação Brasileira de Terapias Cognitivas Construtivistas (ABTCC), além de ter participado da organização do
Em 1998, durante o I Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas, a ABTCC se fundiu com a Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas (SBTC), no momento de fundação desta última, tornando-se uma única sociedade. A SBTC teve sua gestão em São Paulo, com Francisco Lotufo Neto como presidente, de 1999 a 2001, e com Cristiano Nabuco de Abreu, de 2007 a 2009 (
A TCC passou a ser ensinada no curso de graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) como parte dos conteúdos da disciplina Teorias e Técnicas Psicoterápicas e de Aconselhamento Psicológico, e como estágio desenvolvido na Delegacia da Mulher da cidade de São Carlos, em 1998, ambos ministrados pela Professora Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams (Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams, 2017, comunicação pessoal).
Posteriormente, no início da década de 2000, sob influência das docentes Maria Cristina de O. S. Miyazaki e Neide Aparecida Micelli Domingos, foi criado o curso de pós-graduação
Em 2008, em Ribeirão Preto, foi fundado o Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP pela professora Carmem Beatriz Neufeld, a partir do qual passam a ser ministradas disciplinas e estágios em TCC no Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Um estudo realizado com objetivo de mapear o ensino de TCC nos estados de São Paulo e Paraná evidenciou que, em São Paulo, entre os cursos analisados (50% dos cursos existentes no estado), 74% ministravam ao menos uma disciplina de Terapia Comportamental e/ou TCC, 15% ofereciam conteúdos relacionados à TCC e 11% não ministravam quaisquer conteúdos (Neufeld et al., 2010). Desde 2010, o estado conta com um evento específico de TCC: a Jornada de Terapias Cognitivo Comportamentais (JoTCC), que acontece em Ribeirão Preto, organizado pelo LaPICC-USP/RP, cuja frequência é bienal. Em 2020 o evento passou a ser celebrado em conjunto com o Congresso Online Internacional de TCC (COnTCC).
Em relação aos grupos de pesquisa ativos em TCC no estado, pode-se citar os seguintes: de Ribeirão Preto, do LaPICC-USP; de São José do Rio Preto, da professora Maria Cristina Miyazaki; de Campinas, da professora Marilda Lipp; da USP de São Paulo, da Professora Edwiges Silvares e ligado ao HCFM-USP, com Cristiano Nabuco e Mariângela Savoia (Cristina Miyazaki, 2017, comunicação pessoal; Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams, 2017, comunicação pessoal).
A Associação de Terapias Cognitivas do estado de São Paulo (ATC-SP) foi fundada em 2005. A ATC-SP esteve em funcionamento até 2013, quando foi extinta e o estado passou a ser representado na FBTC por delegados estaduais, a saber: Valquíria Tricoli, 2013 a 2015, e Juliano Afonso e Alessandra Marques, 2015 a 2017 (
A prática cognitivo-comportamental no Rio de Janeiro teve sua origem na condutoterapia, por Geraldo da Costa Lana, que juntamente com Otávio Leite, foram os precursores da abordagem comportamental no Rio de Janeiro (
Em 1981, Bernard Rangé convidou Harald W. Lettner para lecionar na PUC-Rio, permitindo a formação dos primeiros mestres em psicologia clínica comportamental. Nesse grupo se destaca Eliane Falcone e Helene Shinohara. Em 1986, Eliane Falcone já formava novos profissionais (Rangé et al., 2007). A primeira disciplina da área, lecionada em graduação, foi a disciplina de terapia comportamental, na PUC-Rio em 1989, ministrada por Bernard Rangé.
Outro marco no Rio de Janeiro foi a fundação do Instituto de Psicoterapia Comportamental (ICP) por Lettner e Carlos Eduardo Brito, em 1983, contribuindo também para a formação de profissionais. Em 1988 aconteceu a publicação do Manual de Terapia Comportamental, organizado por Lettner e Rangé, impulsionando a área e unindo profissionais do Brasil, convidados a escrever capítulos para o livro. Essa aproximação contribuiu para a fundação da ABPMC, em 1991 (Rangé & Guilhardi, 1995).
Em 1995, Bernard Rangé organizou dois livros, a saber, “Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática e aplicações e problemas” e “Psicoterapia comportamental e cognitiva de transtornos psiquiátricos”. Essas obras trouxeram a incorporação do modelo cognitivo, compatível com o movimento no exterior, que passou a difundir pesquisas na área cognitivo-comportamental.
A década de 1990 foi marcada pela expansão de profissionais de TCC que passam a lecionar nas principais universidades do estado (exemplos são: Eliane Falcone, Bernard Rangé, Lucia Novaes), formando terapeutas cognitivo-comportamentais, além de organizar eventos na área. Em 1992 foi realizado o I Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, na UERJ, organizado pela ABPMC. Em 1993 ocorreu o 1º Congresso Internacional de TCC, com promoção conjunta da ABPMC e associações internacionais. Em 1995, Bernard Rangé, em colaboração com Eliane Falcone e Helene Shinohara, trouxe para o Rio o
Em 2003, o grupo do Rio de Janeiro assumiu a presidência da FBTC. Eliane Falcone foi eleita presidente e Maria Cristina Miyazaki vice-presidente. Nesse mesmo ano, Bernard Rangé assumiu a presidência da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas (ALAPCCO). No período que a SBTC foi sediada no Rio de Janeiro, a instituição atuou para o desenvolvimento da TCC com a organização da I Mostra universitária de TCC, em 2003, e do V Congresso da Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas, em 2005. Hoje esse é o maior evento de Terapias Cognitivas do estado do Rio de Janeiro e contribui para o intercâmbio de conhecimento prático e de pesquisa entre alunos de graduação, pós-graduação e profissionais da área (Rangé et al., 2007).
Com o fim da gestão carioca e transferência da FBTC para São Paulo, o grupo propôs a fundação da Associação de Terapias Cognitivas do estado do Rio de Janeiro (ATC-Rio), tendo Helene Shinohara como presidente e criadora do nome desta associação (
Na comemoração dos 10 anos da Mostra de TCC, em 2012, foi lançado o livro “Produções em Terapia Cognitivo-Comportamental”, organizado por Eliane Falcone, Angela Oliva e Cristiane Figueiredo. A obra histórica reúne os principais trabalhos apresentados ao longo dos 10 anos de Mostra (Falcone et al., 2012;
Além da organização de eventos, a criação da Revista Brasileira de Terapias Cognitivas (RBTC) em 2005, por Eliane Falcone em colaboração com Lucia Novaes, Adriana Nunan e Mônica Duchesne, foi uma das contribuições do grupo do Rio de Janeiro para divulgação das TCCs no Brasil (
Os anos 2000 foram muito importantes para o desenvolvimento de pesquisas em TCC em programas de pós-graduação. Em 2001 Bernard Rangé ingressou no Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da UFRJ, na linha de pesquisa Cognição e Subjetividade. Em 2002 Bernard Rangé constituiu o Núcleo de Pesquisas Interdisciplinares em Psicoterapia e Reinserção Social (NEPIPReS), que teve por finalidade contribuir para o processo de validação de tratamentos baseados em evidências e a promover intervenções visando a reinserção social de pacientes.
Em 2004 Lucia Novaes ingressou no PPGP da UFRJ na linha de pesquisa Cognição e Subjetividade, contribuindo com pesquisas no campo do estresse e de doenças crônicas. Também realizou supervisão de estágio na Divisão de Psicologia Aplicada, e participou do Programa de Residência Multiprofissional da Saúde da Mulher. Em 2005, Paula Ventura iniciou uma linha de pesquisa com Transtorno do Estresse Pós-traumático (TEPT), no IPUB da UFRJ. Em 2006 o Laboratório de Pânico e Respiração (LabPR) do IPUB, coordenado por Antonio Egidio Nardi, deu início a pesquisas em TCC com a entrada de Marcele Regine de Carvalho na equipe. Em 2017, no LabPR, foi fundado o Núcleo Integrado de Pesquisa em Psicoterapia nas Abordagens Cognitivo-Comportamentais (NIPPACC), coordenado por Marcele Regine de Carvalho e Rafael Thomaz.
Em 2015, na gestão da ATC-Rio de Aline Sardinha, foram criadas a Comissão Docente, coordenada por Marco Aurélio Mendes, e as Ligas Discentes, coordenadas por Marcele Regine de Carvalho. A Comissão Docente congrega professores de TCC do estado para promover a integração entre os docentes que pesquisam e lecionam, tanto na abordagem cognitivo-comportamental, quanto em disciplinas afins. Já as Ligas Discentes são formadas por discentes universitários, associados à ATC-Rio, com matrícula ativa em curso de Graduação ou Pós-Graduação em Psicologia, e sob a supervisão de docentes vinculados a uma Instituição de Ensino Superior do estado do Rio de Janeiro e integrantes da Comissão Docente da ATC-Rio.
Em 2018 a Jornada de Terapias Cognitivas do estado do Rio teve sua XIV edição e trouxe o Dr. Stefan Hofmann em dois dias de curso intensivo. Esse curso foi pioneiro na apresentação de seu novo modelo de trabalho baseado no livro ‘
Nessa gestão, além da jornada, a Mostra Universitária de TCC, que desde 2017 acontece na PUC-Rio, teve aprovado o edital que regula seu funcionamento, trazendo como nova categoria de apresentação de trabalho a opção ‘palestra à comunidade’. Essa categoria tem por objetivo promover a divulgação do conhecimento científico à população leiga, promovendo uma integração entre academia e comunidade.
A atual gestão da ATC-Rio assumiu em 2019, com Marcele Regine de Carvalho. Em 2020 e 2021, diante dos desafios da pandemia de Covid-19, esta gestão organizou, além de encontros informativos e material de apoio aos terapeutas, o evento CONECTE-ATC-Rio, um evento totalmente online e gratuito que contabilizou 11 mil inscritos nas suas duas edições e trouxe temas inovadores apresentados por profissionais renomados da área, mantendo o compromisso com a divulgação de conhecimento científico. Em 2020 e 2021 a Mostra de TCC, em sua XVIII e XIX edições, foram realizadas
Até o momento, a contribuição mineira no panorama das TCCs no Brasil não foi descrita em uma publicação. Os eventos de maior destaque sobre a origem da TCC estão concentrados na região centro-sul de Minas, entre os anos de 1992 e 2002, nas cidades de Juiz de Fora, Belo Horizonte e São João del-Rei, por meio da matriz curricular de disciplinas optativas e obrigatórias, publicação de resumos em congressos, grupos de estudo e pesquisa. Posteriormente, o ensino da TCC foi implementado nos cursos de graduação em diferentes municípios mineiros.
Um dos primeiros relatos de formação e práticas de TCC começou com a Dra. Isabel Cristina Weiss de Souza, em 1992. Ela contribuiu com a fundação do Programa de Atenção à Dependência Química (PADQ), em Juiz de Fora, e se especializou em TCC na época. Weiss conduziu grupos de estudos em TCC e organizou eventos locais com a presença de Ângelo Campana, Paulo Knapp, Cristiano Nabuco, dentre outros. Ela tem publicado artigos na área desde a segunda metade da década de 1990 (Isabel Weiss, 2019, comunicação pessoal).
Em Belo Horizonte, em 1996, a Dra. Lilian Nassif atuou com Terapias Cognitivas a partir do trabalho com os servidores da UFMG para a prevenção, diagnóstico e tratamento de dependência de álcool e outras drogas. Ela fez a formação em TC em Belo Horizonte, como enfoque Construtivista, numa parceria entre o Núcleo de Terapias Cognitivas de São Paulo, do Dr. Cristiano Nabuco, com o antigo Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional (CEFAP), coordenado por Admar Cardoso Júnior (Lilian Nassif, 2019, comunicação pessoal). Ela, juntamente com Raquel Wanderlei, e os psiquiatras Henrique Alvarenga Silva, Carlos Eduardo Reche e Carlos Eduardo Vidal, escreveu capítulos para o livro, organizado por Cristiano Nabuco e Miréia Roso, intitulado:
O Professor Dr. Leandro Malloy-Diniz motivado pela falta de oportunidade para educação formal na área, interessou-se pelas Terapias Cognitivas em práticas de treinamento de pais e educadores de crianças com transtornos internalizantes. Atuou em pesquisas sobre o desenvolvimento de programas psicoeducativos para o transtorno bipolar, em parceria com os Professores Fernando Neves e Humberto Côrrea, e colaborou com a mestranda Carina Chaubet em estudos de preditores neuropsicológicos da eficácia da TCC para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esteve em contato com os professores José Carlos Cavalheiro da Silveira e Antônio Carlos Côrrea, fundadores do primeiro grupo de TCC do qual ele tem notícia, no Hospital das Clínicas da UFMG, na década de 1990. Este grupo deu origem a uma especialização, coordenada por José Carlos, na própria UFMG, e ofertada até cerca de 9 anos atrás (Leandro Malloy-Diniz, 2019, comunicação pessoal).
O Professor Maycoln Leôni Martins Teodoro iniciou seus estudos em TCC por volta do ano de 2000, na UFMG, como alternativa à Análise Comportamental. Em 2010, ocupou a vaga para o concurso de Terapia Cognitivo-Comportamental, na UFMG, e passou a integrar o Laboratório de Processos Cognitivos (LabCog). Leciona a disciplina de mesmo nome e supervisiona estágios na área desde então (Maycoln Lêoni Martins Teodoro, 2019, comunicação pessoal). Teodoro tem conduzido e orientado projetos de extensão e pesquisas na graduação, mestrado e doutorado relacionadas à TCC.
No ano de 2000, Karl Christoph Käppler, o professor visitante na UFMG, criou, coordenou e supervisionou um grupo de estudos e intervenção em Terapia Cognitiva por não haver disciplinas e práticas na matriz curricular do curso de Psicologia da UFMG. Esse grupo, posteriormente, apresentou os casos atendidos em comunicações orais nas XXXI e XXXII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia - SBP (
Em 1995, o Ms. Geraldo Luiz Oliveira de Resende, professor na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), desenvolveu trabalhos de intervenção em grupos de dependentes químicos e seus familiares nas abordagens cognitiva e comportamental. Lecionou disciplinas sobre esses conteúdos desde 1997. Disciplinas de TCC e Terapia do Esquema integram o currículo do curso de Psicologia desde então (UFSJ,
Em 2001, o Professor Dr. Lélio Moura Lourenço ofereceu pela primeira vez, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), estágio supervisionado em Psicologia Cognitiva e uma disciplina relacionada às Terapias Cognitivas chamada Tópicos especiais em Clínica III. Atualmente o curso segue, desde 2011, com disciplinas obrigatórias na graduação, além de estágios supervisionados oferecidos semestralmente.
Entre os anos de 2001 e 2002, a Professora Dra. Carmen E. Flores-Mendoza supervisionou os primeiros estágios de avaliação e intervenção cognitivo-comportamental para o atendimento de crianças e adolescentes. Em 2002, ela e Marco Antônio Silva Alvarenga conduziram a disciplina optativa
Em 2004, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) das cidades de Arcos e Poços de Caldas passaram a oferecer a disciplina obrigatória Psicoterapia Cognitiva e Comportamental. Em Poços de Caldas a disciplina passou a ter o nome de Psicologia Cognitiva. A União de Ensino Superior de Viçosa (UNIVIÇOSA) incluiu a disciplina Terapia Cognitiva-Comportamental na matriz curricular como oferta obrigatória também em 2004. Em Belo Horizonte, a Universidade FUMEC, apresentou a ementa da disciplina Psicologia Cognitiva, em seu plano pedagógico em 2006, com as primeiras turmas a cursá-la em 2009 (Leandro Malloy-Diniz, 2019, comunicação pessoal). O Centro Universitário de Caratinga (UNEC) ofereceu a disciplina pela primeira vez em 2009 (Paula Vieira Pires Cruz, 2019, comunicação pessoal) e a Faculdade Pitágoras, em Ipatinga, a partir de 2010 (Cleide Márcia Ferreira, 2019, comunicação pessoal). Em 2013, a Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), em Governador Valadares, passou a ofertar a Terapia Cognitiva e Comportamental e estágios supervisionados. Por fim, a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) passou a oferecer a disciplina Técnicas Psicoterápicas III cuja ementa aborda as TCCs, em 2011.
A Associação Mineira de Terapias Cognitivas (ATC-Minas) foi criada no VII Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas, em abril de 2011, (
A ATC-Minas promoveu cinco eventos oficiais. O primeiro deles foi
Cursos de pós-graduação começaram a acontecer na capital mineira a partir de 2014 e no interior do estado a partir de 2016 (Marco Antônio Silva Alvarenga, 2020, comunicação pessoal). Diferentes eventos têm sido organizados no estado, entre congressos locais, palestras e cursos. No período da pandemia, eventos remotos e semipresenciais foram realizados em redes sociais e centros de formação, entre
Não se obteve retorno de dados das fontes consultadas no estado do Espírito Santo e não foi possível o acesso a documentos que pudessem auxiliar a compreensão da história da TCC neste estado. No entanto, cursos de pós-graduação em TCC foram implementados neste estado a partir do ano de 2016 (Marco Antônio Silva Alvarenga, 2020, comunicação pessoal).
Sabe-se que a TCC não é a abordagem clínica mais difundida no Brasil, porém tem demonstrado considerável desenvolvimento e expansão ao longo de sua história (
O desenvolvimento histórico da TCC na região Sudeste, representado neste artigo pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foi marcado por contribuições importantes e atentas ao panorama global atual da abordagem. Houve considerável aumento da oferta da TCC em cursos de graduação, formação, pós-graduação, e o investimento em treinamento e supervisão em clínicas-escola. A produção, o fortalecimento de grupos de pesquisa e o grande número de eventos científicos de qualidade, conforme observado por
Cabe ressaltar que a maior visibilidade da área implica na demanda por esta abordagem psicoterapêutica, o que faz aumentar a responsabilidade dos profissionais na prestação de um trabalho qualificado e ético, além de atualizado e baseado em evidências (
Embora a TCC tenha potencial para se disseminar e oferecer atendimento de qualidade, não poderá produzir os resultados desejados se for implementada de maneira deficiente. O cuidado para garantir a implementação efetiva e de qualidade exige uma compreensão aprofundada sobre facilitadores e barreiras deste objetivo (
Esta pesquisa teve como objetivo apresentar o desenvolvimento histórico da TCC na região Sudeste. O levantamento realizado por meio dos métodos de análise historiográfica demonstrou como os estados de São Paulo e Rio de Janeiro anteciparam-se ao ensino, práticas e pesquisas da TCC nesta região. A TCC em Minas Gerais começou com a necessidade de uma mudança em práticas clínicas com suporte empírico, em função da ausência de formação profissional durante a graduação. Os primeiros cursos vieram em parcerias de instituições mineiras com as de outras localidades do Brasil, especialmente São Paulo, até que disciplinas foram implementadas nos cursos de graduação de universidades mineiras e as pesquisas nessa área começaram a ser desenvolvidas.
Hoje tem-se um cenário particularmente amplo e difundido com o aumento da oferta de disciplinas de TCC no ensino, sua presença nas pesquisas e também em práticas. Ademais, esse interesse pode ser percebido pelo aumento do número de cursos de pós-graduação e participantes dos eventos de TCC.
No entanto, o levantamento histórico apresenta limitações. Como aponta
Sugere-se que pesquisas sobre a implementação e disseminação da abordagem sejam desenvolvidas, tendo em vista que, de acordo com