O chiste é uma das formações do inconsciente que mais se insere socialmente, porque necessita de, pelo menos, duas pessoas do discurso para sua realização. Dentre as técnicas de produção do chiste, a ironia é a categoria compreendida como uma representação pelo oposto e pelo uso do duplo sentido. Este artigo propõe uma discussão sobre a ironia nos textos freudianos, para indagar seu papel nos processos humorísticos e na produção do laço social. Este trabalho apresenta algumas indicações teóricas que reencontram a ironia como portadora de um potencial para a indução de laço social e discute o papel do humor nos processos sociais e, em última instância, indica a natureza sublimatória presente no humor.
The joke is one of the most socially inserted unconscious formations, because it needs at least two persons of speech for its realization. Among all the joke production techniques, irony is the one created by the representation of its opposite and by the use of double meaning. This paper aims to discuss irony in the Freudian texts in order to question its role in the humoristic processes and in the production of the social bond. This work presents some theoretical notes that highlight the irony as a potential way of creating social bonds and puts into discussion the role of humour in social processes; ultimately, it indicates the very sublimatory nature in humour.
El chiste es una de las formaciones del inconsciente que más se inserta socialmente, porque necesita de al menos dos personas del discurso para su realización. Entre las técnicas de producción del chiste, la ironía es la categoría comprendida como una representación por lo opuesto y por el uso del doble sentido. Este artículo propone una discusión sobre la ironía en los textos freudianos, para indagar su papel en los procesos humorísticos y en la producción del lazo social. Se presentan algunas indicaciones teóricas que consideran a la ironía como potencial para la producción del lazo social; y discuten el papel del humor en los procesos sociales; finalmente, indican la naturaleza sublimatoria presente en el humor.
O universo da questão do humor em Sigmund Freud se estende para além de uma concepção de mecanismo de defesa, algo semelhante à rejeição (
Há trabalhos consolidados na literatura psicanalítica que vislumbram o humor como paradigma para compreensão dos processos de desidealização e sublimação - a exemplo de Daniel Kupermann (
Desde Aristóteles, a ironia se colocava como uma forma de dissimulação e modéstia. Ele distinguia
Antes de abordar Freud, vale retomar os apontamentos de Henri Bergson
“(...) ora se enunciará o que deveria ser fingindo-se acreditar ser precisamente o que é. Nisso consiste a
No dito irônico em que se parabeniza alguém por uma ação deplorável, mais conhecido como
Compreender o sentido deste “deveria ser” enunciado em tal fórmula é crucial, porém o que nos interessa no exemplo de Bergson é que, por esta via, a ironia comporta o risco de diminuir as chances de comunicar o que deseja, mas tendo em vista a repreensão que receberia ao expressar literalmente o que se quer, então, o embuste se torna um elemento estratégico na comunicação intersubjetiva, uma tal eficácia que reencontraremos em Freud no chiste irônico.
Ainda sobre o contraponto ironia
Em
“(...) uma pessoa nos parece cômica, em comparação com nós mesmos, se gasta energia demais em suas funções corporais e energia de menos em suas funções mentais; não se pode negar que em ambos os casos nosso riso exprime uma gratificante sensação de superioridade com relação à pessoa (que achamos cômica)”. (
Freud coloca que uma das características comum aos chistes, ao cômico e ao humor é a extração do prazer, bem como a economia em alguma despesa libidinal. Diferentemente do cômico, os chistes e o humor são produzidos por um ato de fala ou um gesto do sujeito. Freud divide os chistes em três grandes grupos em relação à técnica: as técnicas que procedem por condensação; as que fazem múltiplos usos do mesmo material e as que procedem por duplo sentido, em que se insere a ironia. Estas categorias se diferem no que diz respeito à sua forma de elaboração, contudo atendem a um mesmo princípio: o da economia psíquica. Esta economia será, sobretudo, com mecanismos de defesa. No caso do chiste, ela se dá mais exatamente com a inibição de representações ameaçadoras ao ego. Desse modo, a produção do chiste substitui defesas, poupando o aparelho psíquico de gastos libidinais com o recalque e outras defesas.
A compreensão do chiste na economia psíquica fica mais clara quando Freud coloca em paralelo a elaboração dos chistes e a dos sonhos. Em ambas, está patente uma suspensão ou enfraquecimento da catexia inibitória, que resulta na deformação de algum conteúdo que deveria ser afastado da consciência, de tal modo que este conteúdo ameaçador chegue à consciência sem que o sujeito necessariamente se dê conta. Não obstante, a suspensão do recalque na elaboração dos chistes, a condensação e o deslocamento - também atuantes nos sonhos - parecem estar envolvidos na produção do chiste.
Freud distingue, ainda, pelo menos onze subcategorias de chiste, conforme a técnica utilizada, e, embora não tenha tratado sistematicamente da ironia - seja em seu sentido retórico ou romântico -, caracteriza-a no campo dos chistes como uma técnica de elaboração por duplo sentido e da representação pelo oposto: “A representação pelo oposto serve de vários modos à elaboração do chiste (...). A única técnica que caracteriza a ironia é a representação pelo oposto” (
“Une em si mesmo as características dos maiores entre os homens. Tem o porte da cabeça torto como Alexandre: teve sempre que usar um
Como se quisesse elevar a figura do sujeito ao compará-lo com grandes homens, mas, ao contrário, refere-se apenas a aspectos negativos do personagem. Este recurso estilístico comporta um perspicaz trabalho de deslocamento: ali onde Alexandre, o Grande, deveria representar a figura magnânima que comumente é remetida à sua imagem, somos confrontados com a figura da cabeça torta. E assim prossegue, onde se espera uma qualidade, encontram-se apenas defeitos. É justamente nestes pequenos desvios que se entrevê a derrisão em ação. Imaginemos que tal figura retratada é alguém que não nos agrade. Este recurso permite que, ao invés de repudiar a atitude daquele que zomba, ou sentir culpa pela sua repulsa, possamos rir ao sermos pegos desprevenidos pela artimanha estilística. Em vez de lançar ofensas diretas, por meio dessa técnica, pode-se economizar um montante de energia de investimento inibitório e escoá-la como riso, tal é a fórmula freudiana apresentada em 1905.
A inversão semântica presente na ironia é crucial para compreender o seu efeito de alívio psíquico. O interlocutor pode facilmente repudiar uma atitude de escárnio se sua sentença soar ofensiva “de cara”. Se logo no começo o autor dissesse: “Une em si mesmo as piores características dos homens”, a frase perderia seu efeito libertador e não provocaria o riso, ou, pelo menos, uma parte deste, caso o leitor consiga, ainda, retirar prazer do escárnio
Quanto ao propósito, tem-se os chistes tendenciosos e os não-tendenciosos (ou inocentes). Inocentes são os chistes que possuem um objetivo em si mesmo, pelos quais a fruição estética se dá na contemplação da própria formação do chiste, do jogo de palavras em que consiste o gracejo. Para dar conta deste tipo de fruição estética da formalização do chiste, Freud recorrerá à ideia do
Enquanto o chiste inocente é aquele no qual não há um problema moral na sua decodificação, os chistes tendenciosos são justamente aqueles nos quais existe um propósito que vai além da fruição da astuta criação chistosa, são chistes que possuem “substância e valor” (Freud, 1905/1996, p. 127). Porém para esses chistes, parafraseando Bergson, “é preciso ser da paróquia para rir” (1899/1983, p. 8). Dentre os chistes tendenciosos, encontraremos os hostis e os obscenos, isto é, os que servem a um propósito agressivo, satírico ou defensivo, e os que têm o propósito de desnudamento, ou seja, chistes que possuem teor sexual. O mais importante acerca dos chistes tendenciosos é que esses requerem três pessoas: “Além da que faz o chiste, deve haver uma segunda que é tomada como objeto da agressividade hostil ou sexual e uma terceira na qual se cumpre o objetivo do chiste de produzir prazer” (
Essa tríade é especialmente interessante para abordar a natureza social do processo de formação dos chistes. Primeiramente, porque ela indicará que a terceira pessoa, aquela na qual o chiste cumpre sua finalidade, é a testemunha de que a piada logrou êxito ao conseguir entrever uma verdade que é comum a esta pessoa e ao locutor. Todavia, vale salientar que o testemunho do sucesso do chiste está menos por encontrar sentido na terceira pessoa e mais em ultrapassar a censura e faculdade crítica do ouvinte.
Freud também supõe que a terceira pessoa serve ainda como um suporte imaginário de censor para a primeira pessoa, como se ocupasse o lugar de alguma autoridade perante a qual devesse prestar algum respeito, uma vez que não parece inteligente àquele que conta a piada fazê-lo de outro modo, tal como uma agressão direta ou uma cantada de conotação sexual, visto que a terceira pessoa poderia, com toda a razão, recriminá-lo por sua atitude. Na execução do chiste irônico, a terceira pessoa está desde sempre implicada, já que está presente no próprio processo de elaboração e no horizonte do chiste, como uma figura para a qual se dirige a verdade do enunciado, esta que fica mascarada quando a representação que vai ao público mostra justamente o oposto.
Ainda sobre a relação entre ironia, como um tipo de chiste, e humor, consideremos esta
Um vagabundo que estava sendo levado à execução em uma segunda-feira, comentou: ‘É, a semana está começando otimamente’. Este é efetivamente um chiste, já que o comentário é bem adequado em si mesmo, mas por outro lado está deslocado de maneira absurda, já que para o próprio sujeito não haveria eventos ulteriores naquela semana. Mas o humor está envolvido na
Tal chiste, no qual o “humor está envolvido em sua confecção”, poderá se mostrar bastante elucidativo a fim de compreender a íntima relação que o humor, o chiste e o cômico guardam entre si. Freud sintetizará, em termos econômicos, qual seja a natureza de cada uma destas operações:
O prazer nos chistes pareceu-nos proceder de uma economia na despesa com a inibição, o prazer no cômico de uma economia na despesa com a ideação (catexia) e o prazer no humor de uma economia na despesa com o sentimento. (
Seguindo as indicações de Freud, ao proferir seu chiste (“Bem, a semana está começando otimamente”), o condenado evita ao menos dois tipos de despesas no interlocutor: uma inibitória e outra ideativa. Além dessas, o fato de zombar de sua morte e de seus carrascos nos permite entrever que o sentenciado está recusando algum afeto penoso esperado para tal momento, característica fundamental do humor, o qual, substituindo a liberação de afetos dolorosos, “coloca-se no lugar deles” (
Entretanto, há algo na forma do chiste que parece evocar certa atitude irônica por parte de seu autor: sua semana está longe de começar bem. De fato, compreende-se que a semana do vagabundo está terminando, assim como sua vida. É claro que do ponto de vista da noção de realidade psíquica, pode-se imaginar que para o condenado sua semana está começando, de fato, bem. Com efeito, estando o sujeito dividido entre o temor da morte e a possibilidade de gozar de seus carrascos, bem como da própria vida que teve, então, através do dito humorístico, o ego é poupado de um afeto penoso - afeto que representa o medo da morte que, por sua vez, evoca a figura da castração e o desamparo do sujeito frente à violência da realidade e seus limites. Perante esta concepção invertida do que a realidade da morte própria apresenta de angustiante, o condenado expressa algo da ordem de uma representação pelo oposto, exatamente a característica que demarca o chiste irônico para Freud. Parece justo pensar, então, que se economizamos em relação à inibição, é, sem dúvida, pelo sucesso na elaboração irônica do chiste. Surpreendendo-nos, somos mais facilmente tensionados a rir.
Por esta ótica, há pontos de aproximação e também de afastamento do pensamento de Clément Rosset acerca do humor e da ironia em relação ao de Freud. Se, para Rosset, o humorista não encontra terreno seguro para alojar o sentido, em Freud, o humorista é aquele capaz de se libertar de algum afeto doloroso, ao passo que contesta a figura de autoridade, fazendo jus aqui à afirmação de que o humor não é resignado, mas rebelde (
Ainda que ironia e humor em Rosset sejam categorias distintas, em Freud há espaço para uma aproximação de ambas, já que se admite a presença do humor na confecção do chiste, no que se pode chamar de chiste humorístico (
De qualquer forma, não é possível esgotar a problemática colocada pelo humor que se apoia no trágico, na arbitrariedade e no
É bem sabido que a teoria da sublimação na obra freudiana e na psicanálise, de modo geral, nunca chegou a se constituir como uma teoria sólida e unívoca (
Freud também apresenta outra concepção da sublimação, uma na qual o recalque não tem um papel determinante e que, portanto, não implica uma renúncia pulsional, mas sobretudo promove a “criação de objetos para a satisfação erótica do sujeito, que pudessem ser, ao mesmo tempo, compartilhados culturalmente” (
O que está posto nesta segunda leitura da sublimação em Freud é que não há necessidade do recalque para vincular a libido a um objetivo não-sexual, desfaz-se a oposição entre sexualidade e sublimação (
Quanto à relação entre o humor e a sublimação, notemos que “no humor é possível recuperar algo do que foi primitivamente uma ilusão de onipotência, mediante o resgate da essência desse vínculo primordial em que o indivíduo se supõe amparado e amado por uma instância superior (superego)” (
Retomemos o primeiro modelo freudiano da sublimação (como desvio da meta sexual para uma não-sexual), agora, à luz da ideia da dessexualização como sendo operada pelo trabalho silencioso da pulsão de morte. O problema pode ser abordado na aproximação que Freud realiza do trabalho de sublimação ao trabalho de luto em
A transformação da libido do objeto em libido narcísica, que assim se efetua, obviamente implica um abandono de objetivos sexuais, uma dessexualização - uma espécie de sublimação, portanto. Em verdade, surge a questão, que merece consideração cuidadosa, de saber se este não será o caminho universal à sublimação, se toda sublimação não se efetua através da mediação do ego, que começa por transformar a libido objetal sexual em narcísica e, depois, talvez, passa a fornecer-lhe outro objetivo. (
Em suma, estando a libido objetal desfusionada e convertida em libido egóica, abre-se uma via para sublimação, indo ao encontro do ideal do eu a fim de que o sujeito, uma vez mais, possa brincar de adulto, como colocado por Freud em
No chiste irônico, por sua vez, esta identificação parcial com o pai permitiria que, diante de um afeto penoso, houvesse escoamento da libido antes represada pelo recalque e seu conseguinte extravasamento através da risada. Assim, a característica dos chistes de terem de ser “contados a alguém mais” aponta para a dimensão de sua construção atrelada a um valor social, à maneira de um bem que pode ser partilhado e transmitido culturalmente. Também concorre para a criação desse valor social do chiste um aspecto formal, que devido à dimensão estética presente no humor, não por acaso, o aproxima da arte. Trata-se do agradável sentimento do engraçado, necessário para a descarga de tensão através da risada.
Kupermann (2003) discute a colocação freudiana de que o humor seria a “(...)
Com efeito, uma concepção central em
Não pertence ao escopo do presente artigo desenvolver esta última acepção, mas este trabalho traçou um caminho de leitura em que é possível reencontrar nos chistes a emergência de uma valência política e transformadora, porque estes, além de satisfazer tendências sexuais e agressivas, ainda podem ter como alvo normas, leis ou contratos arbitrários, podendo dar suporte a um modo de gestão do desamparo.
Este trabalho colocou em discussão a natureza sociocultural na construção do chiste e da ironia, destacando uma de suas características fundamentais, qual seja, exprimir-se sem acionar a censura psíquica e, certamente, sem ferir a moral instituída e a censura demasiadamente instalada. Discutiu-se o papel da ironia no processo humorístico e uma possível origem sublimatória para ambos. Parece não ser sem razão que Freud nos fala da necessidade de que “um chiste
A fantasia e o humor derivam da função originária do fantasiar infantil, e, ainda que temporariamente, relativizam qualquer oposição rígida entre princípio do prazer e princípio de realidade, pondo em suspenso a oposição entre o brincar e a realidade. Sendo assim, propomos que duas dimensões sejam levadas em conta para compreender a fruição estética implicada no gesto humorístico/chistoso: uma, de natureza econômica - como discutido, evita-se despesas com a inibição, afeto e ideação - e; a outra, na dimensão do jogo (
Ressaltamos o papel regulador do chiste, que vale também para o humor, na relação entre ego, superego e ideal do ego, exercendo um efeito liberador em relação às instâncias interditoras e que colocam em xeque a própria construção do sentido de realidade. Freud atribui ao ato humorístico um traço que não pode deixar de ser notado em relação ao desamparo e à precariedade da vida humana: “Essa grandeza (do humor); reside claramente no triunfo do narcisismo, na afirmação vitoriosa da invulnerabilidade do ego” (
Esse trabalho vem reforçar a ideia de um parentesco entre o ato criativo contido no humor, nos chistes, e o engendramento de objetos pulsionais, com reordenação na economia afetiva. Algumas das formas de afetação produzida por eles contêm uma valência sociopolítica, como o desamparo, a coragem, o prazer, a dor, entre outros. Tal fenômeno estaria em consonância com a teimosia que Freud atribui à atitude humorística com a qual, por exemplo, o condenado à morte zomba de sua situação ou como o próprio Freud, quando detido pela Gestapo, exigindo-lhe que assinasse um documento atestando que não sofrera maus-tratos, ainda ousa dizer ao final: “posso recomendar altamente a
Ao se produzir uma tal ironia, realiza-se, ao mesmo tempo, uma crítica a alguma vaidade própria ou, então, poderíamos dizer que ali se inicia um processo que vai ao encontro da formação de vínculos menos totalitários, na medida em que se promove uma diferença nas pessoas do discurso. Mas lembremos da característica dos chistes que, tanto Freud quanto Bergson reconheceram, a saber: que nos chistes “é preciso ser da paróquia para rir”, o que denota que não se reconhece a alteridade tão bem assim nestes fenômenos oriundos da comicidade. Antes, ri-se devido a uma identificação já instalada no interlocutor da piada que se faz emergir pelo eco de sua risada.
Mas quanto a esse aspecto haveria um diferencial na ironia e mesmo na sua variante do humor negro: ela opera de modo formal (técnico) e como propósito, via pensamento nos chistes tendenciosos. Diferentemente da piada que conta com uma pré-identificação para que proporcione prazer a um terceiro, o ato de denunciar alguém através da ironia, tal como Sócrates praticava, leva o sujeito a se dar conta das representações estabelecidas como verdadeiras, sem impor diretamente um juízo como o correto ao interlocutor. Ao passo que a ironia incita um deslizamento entre níveis semânticos contrários ou com duplicidade de sentidos, como entre o real e a aparência de realidade, aquilo que se constata e o que deveria ser, explícito e implícito, podendo inverter, duplicar ou indeterminar o sinal da mensagem entre emissor e receptor no campo da linguagem. Talvez a ironia constitua uma via que possa ser indagada como mais alteritária do que o humor na sua acepção geral.
Visando novos trabalhos sobre as articulações entre humor, ironia e o campo social, sugerimos considerar a dimensão sociopolítica dessas duas técnicas de afetação do outro (o humor e a ironia) que, enquanto operações significantes, incorrem em atos de fala e na retomada do prazer que se conjuga com mais alguém na produção do riso. Como se procurou demonstrar neste trabalho, elas são fontes potenciais de subversão de sentidos constituídos, se não engendrando diretamente a transformação da dor ou do mal estar, mas aliviando o peso da realidade e, assim, poder prover condições para alternativas mais criativas. Quem sabe, o humor e a técnica da ironia, em particular, poderiam dinamizar um redimensionamento da experiência de identidades conformadas às estratégias persuasivas de opressão e às injunções normativas disciplinares, que se revelam atuantes no mundo contemporâneo, bem como na sociedade brasileira.