Editorial
Comunicação, ciência aberta e resistências
Gustavo Pereira1, João Paulo Malerba2 e Telma S. P. Johnson3
1 Professor substituto da UFJF e editor da Revista Lumina. Vice-coordenador do Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (CNPq/UFJF) e vice-coordenador da Rede de Combate à Desinformação - Apuraí. E-mail: gustavo.pereira@ufjf.br.
2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM)/UFJF e editor da Revista Lumina. E-mail: joaopaulo.malerba@ufjf.br.
3 Professora do PPGCOM/UFJF e editora da Revista Lumina. Líder do grupo de pesquisa Comunicação, Identidade e Cidadania (CNPq/UFJF). E-mail: telma.johnson@ufjf.br.
Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 19, n. 2, p. 1-5, mai./ago. 2025
Em meio a reflexões sobre a contínua desvalorização de práticas da ciência aberta e à crescente complexidade nos processos editoriais dos periódicos de qualidade – por fatores diversos, como a deterioração de recursos públicos e os usos inadequados das ferramentas de inteligências artificiais – apresentamos o número 2/2025, volume 19, da Revista Lumina. Nesta edição, de temática livre, continuamos nosso compromisso, iniciado há 26 anos, de contribuir com o compartilhamento da produção do conhecimento científico crítico e plural para o desenvolvimento do campo da Comunicação e suas interfaces.
Este número reúne um conjunto de 12 textos com temáticas, abordagens teórico-conceituais e metodologias variadas a partir de trabalhos produzidos por pesquisadores que atuam no país e no exterior. Para facilitar a leitura, organizamos os seis primeiros textos dentro do eixo temático jornalismos, liberdade de expressão e resistências. Em seguida, segue-se um outro grupo de cinco textos que tratam de estudos exploratórios audiovisuais, imaginários e disputas discursivas tanto na Academia como nas ambiências digitais. Ao final, apresentamos uma resenha sobre transformações e rupturas socio-históricas na contemporaneidade.
O primeiro eixo abre com o artigo Liberdade de expressão e ética em disputa no debate sobre ameaças ao jornalismo, das pesquisadoras Amanda Souza de Miranda, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Lívia de Souza Vieira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre tensionamentos envolvendo a apropriação do conceito de liberdade de expressão por atores de espectros ideológicos opostos. As autoras, por meio de pesquisa documental, distinguem limites entre a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa e a legitimidade em um cenário marcado por múltiplas narrativas – informativas e desinformativas.
No artigo Leis de proteção ao jornalismo no Brasil e impactos das IAGs nas democracias, Zanei Barcellos, Andreia de Almeida Marques e Eline Sandes, da Universidade de Brasília (UnB), discutem a relação entre o uso de inteligência artificial generativa e de chatbots na construção automatizada de notícias e os aparatos legais que podem resguardar ou não a atividade jornalística. Em Acervo de lutas, acervo de imagens: poética e protesto feminista na fotografia de imprensa, Angie Biondi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Rita Maria Radl-Philipp, da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), refletem sobre os significados e as referências da cultura visual das fotografias de protestos a favor do direito ao aborto em uma visada feminista. Para tal, as autoras trazem como recorte a fotorreportagem “Mulheres protestam pelo direito ao aborto em vários países”, veiculada pela Folha de S. Paulo.
Na sequência, Juliana Leão Borba Lins e Ana Carolina Kalume Maranhão (UnB), em A imagem sátira, das charges aos memes: um estudo das páginas on-line do Estadão e G1, analisam os memes como um formato emergente no ambiente on-line e que ganha força por ter uma linguagem ágil, simples e com alto potencial de viralização. Já em Jornalismo de soluções no Brasil: análise do panorama nos veículos de comunicação, Camila Farias (UFBA) busca investigar a aplicação dessa modalidade de jornalismo como estratégia em meios de comunicação massivos e independentes, utilizando as abordagens analíticas da autodeclaração e do mapeamento desenvolvidas pelo site Solutions Journalism Tracker, vinculado à organização estadunidense Solutions Journalism Network (SJN).
A transdisciplinaridade da obra do escritor, compositor e músico Aldir Blanc (1946-2020) é o tema do artigo Levar caretas a transgredir: a prosa de Aldir Blanc e a cultura popular, de Helcio Herbert Neto, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O autor compara os textos publicados por Blanc no jornal O Globo, na segunda metade de 2020, com o capítulo “Até morrer” do livro Brasil passado a sujo: a trajetória de uma porrada de farsantes, de Aldir Blanc, para explorar a relação entre a cultura popular, a participação política do artista e as implicações para o campo da Comunicação.
O segundo eixo da edição se inicia com o artigo Novela ou série turca? Um estudo exploratório sobre o formato das dizis, da pesquisadora Aline Mendes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que investiga o formato audiovisual das dizis – produções que surgiram na Turquia, contribuindo para a consolidação do país como o terceiro maior exportador de conteúdos televisivos do mundo. No estudo, Aline descreve a expansão da indústria audiovisual em um mercado globalizado e, ao mesmo tempo, discute as ressignificações do formato, características e gêneros das dizis ao serem exploradas em diferentes contextos culturais, inclusive no Brasil.
De autoria de Fernanda Martins Machado e Tarcisio Torres Silva (PUC-Campinas), o artigo Trans de direita? Marcações identitárias e espectro político no TikTok analisa o perfil de Suellen Rayanne, influenciadora digital e mulher trans conservadora, pelo método de análise qualitativa, com o propósito de compreender como sua atuação digital evidencia desafios, oportunidades e complexidades da representatividade LGBTQIAPN+ em um contexto político polarizado no Brasil. Os autores comparam a trajetória de Suellen a outras figuras trans no espectro de esquerda e de direita da política brasileira.
A partir do conceito de smart cities, o artigo Afinal, o que é a Smart City? Hegemonia e representação na promessa de um futuro ‘smart’, de Luana Bulcão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realiza uma análise discursiva em periódicos nacionais e internacionais à luz das dimensões da hegemonia de Laclau (2000). A autora conclui que o discurso é uma aposta neoliberal de controle das urbes pelas corporações tecnológicas, além da transformação das cidades em laboratórios para experiência “smart city”, desconsiderando singularidades e especificidades de cada população.
No artigo Imaginários dos públicos sob a ótica dos ataques cibernéticos: caso das Lojas Renner, Fernanda Shelda de Andrade Melo, doutoranda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), busca desmistificar a figura dos hackers associados a ataques cibernéticos, produzidos por crackers, e discute a questão comunicacional que envolve a temática da segurança digital a partir do caso das Lojas Renner, ocorrido em 2021, que reverberou nas redes sociais digitais da empresa e levantou questionamentos sobre vazamento de dados e possíveis prejuízos a clientes.
Em A construção de espaços de coexistência de diferenças via livros didáticos: análise semiótica de representações visuais com pessoas em livros de Ciências, as pesquisadoras Maria Ogécia Drigo, Luciana Coutinho Pagliarini de Souza e Maria Alzira de Almeida Pimenta, da Universidade de Sorocaba (UNISO), lançam um olhar para obras de Ciências do Ensino Fundamental II com o intuito de analisar como o outro é representado no aspecto visual, bem como observar se as obras revelam pluralismo e diversidade no que concerne à alteridade.
Fechamos a edição com a resenha Preciado e a disforia do mundo: um manifesto pelo desmantelamento das estruturas e a (des)esperança das possibilidades, baseada no livro Dysphoria Mundi (2023), de Paul Preciado. O trabalho de Antonio Hélio da Cunha Filho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), discute dualidades entre as transformações promovidas por questões como a pandemia de Covid-19 e os avanços tecnológicos e das mídias digitais, colocando em relação atritos e conflitos que perpassam a necessidade de reinvenção dos cidadãos e da sociedade em meio a essas rupturas.
Por fim, nossos sinceros agradecimentos às/aos pareceristas que gentilmente colaboraram com o seu tempo, energia e conhecimento nesta edição, em reconhecimento à importância da formação e divulgação da produção de conhecimento aberto. Queremos especialmente demonstrar nossa gratidão a cada uma e cada um da equipe editorial pela dedicação e comprometimento.
Boa leitura!
Expediente
Editores
João Paulo Malerba
Telma S. P. Johnson
Gustavo Teixeira de Faria Pereira
Editores de Área
Eli Borges Júnior
Gabriela Borges
Jhonatan Alves Pereira Mata
Assistentes Editoriais
Assistentes editoriais
Adriana A. Oliveira
Alícia Rufino Soares
Aline Gomes Alvim
Arthur Honorato de Almeida
Estela Loth
Gabrielle Sevidanes
Gustavo Furtuoso
João Filipe C. Pereira Gonçalves
Julia Garcia G. Andrade
Lázaro Scher Araújo Dias
Maria Clara Cabral
Marina Lopes de Souza
Murilo Coelho Macedo
Samara Angela T. de Oliveira
Tainá Moraes de Carvalho
Tatiane Moreira Análio
Tobias Rezende Strogoff de Matos
Revisão
Aline Andrade Pereira
Revisão Geral
Gustavo Teixeira de Faria Pereira
Jhonatan Alves Pereira Mata
João Paulo Malerba
Telma S. P. Johnson
Diagramação
Hsu Ya Ya
Revisão Diagramação
Gustavo Teixeira de Faria Pereira
João Paulo Malerba
Telma S. P. Johnson
Capa
Gabriela Borges
Hsu Ya Ya
Imagem da Capa
Unsplash
Projeto Gráfico
Carlos Eduardo Nunes
Comunicação e Divulgação
João Paulo Malerba
Telma S. P. Johnson
Jhonatan Alves Pereira Mata
Talita Magnolo