Apresentação

Viera Kačinová1, Egle Spinelli2 e Juan Fernando Muñoz Uribea3

1 Viera Kačinová. Professora associada do Departamento de Educação em Meios da Faculdade de Meios de Comunicação da Universidade de SS. Cirilo e Metodio em Trnava, Eslováquia. Coordenadora da Alfamed Eslováquia. E-mail: viera.kacinova@ucm.sk.

2 Egle Spinelli Professora titular do PPG em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM. Líder do grupo de pesquisa Comunicação, Literacia Digital e Consumo (DIGICOM) e vice-coordenadora da Cátedra Maria Aparecida Baccega. E-mail: egle.spinelli@espm.br.

3 Juan Fernando Muñoz. Professor titular da Universidade Pontificia Bolivariana de Medellín (Colômbia). Coordenador da Alfamed Colômbia.
Ex-presidente da FELAFACS. E-mail: juan.munoz@upb.edu.co.

A forma como nos comunicamos está sendo transformada pela tecnologia e isso traz problemas e riscos no ciberespaço. O rápido avanço do desenvolvimento tecnológico é acompanhado por múltiplos desafios derivados do protagonismo que a tecnologia ocupa na sociedade digital, e tem implicações no impacto do seu funcionamento ou mesmo na vulnerabilidade de diferentes estratos e cenários sociais.

O perigo de ameaças ou ataques cibernéticos e híbridos e vazamentos de dados transformados em ferramentas de influência indesejada nos levam a buscar ferramentas para construir uma sociedade resiliente, bem como promover uma cidadania digital que abraça as práticas de segurança cibernética em espaços digitais. É uma luta contra ameaças cibernéticas em redes sociais e plataformas digitais em que habilidades midiáticas são necessárias numa sociedade cada vez mais digitalizada.

Este dossiê da revista Lumina suscita questionamentos sobre os desafios humanos associados ao desenvolvimento tecnológico do ciberespaço, a construção de uma cultura de cibersegurança nas práticas de consumo midiático, os aspetos socioculturais ligados às ciberameaças nas plataformas tecnológicas e o âmbito da educação midiática que responde aos desafios e perigos no ciberespaço e contribui para a criação de práticas seguras.

Os autores, a partir de diferentes abordagens, perspectivas, análises e pesquisas, puderam nutrir o conteúdo temático desta edição. Por exemplo, Greciely Cristina da Costa, Claudia Nociolini Rebechi, Luis Henrique Nascimento Gonçalves, Gilson Soares Raslan Filho, Alexandre Zago Boava e Vania Cristina Nogueira Valente, com sua contribuição intitulada “A Política de Privacidade da plataforma X em análise” apresentam sua discussão sobre as prescrições da política de privacidade da rede social, que nos permitem distinguir considerações significativas do processo de datificação operado pela referida plataforma e a forma como se relaciona com os seus utilizadores. Para tanto, os autores utilizaram sua análise em relação às implicações técnicas, políticas e sociais da rede social, bem como seu funcionamento discursivo, em um contexto sócio-histórico e político. Em suas pesquisas, eles também apontam a importância da regulamentação das plataformas de comunicação no Brasil. A questão da construção de uma cultura de segurança cibernética está especialmente relacionada à apropriação dessa agenda pelas mídias sociais, em particular, no que diz respeito às políticas de garantia da privacidade dos próprios dados dos usuários.

Em seu artigo “Políticos influencers? análise a partir da atuação de prefeitos no TikTok”, José Agnaldo Montesso Júnior e Carolina Frazon Terra identificaram os perfis de prefeitos com maior popularidade e visibilidade no uso da rede social TikTok para analisar o tipo de conteúdo que transmitem, o grau de apropriação dos recursos digitais e categorias de influência, com base em variáveis analíticas como periodicidade, autenticidade, carisma, autoria e proximidade, entre outros. Trata-se de uma pesquisa que ajuda a caracterizar as condições de uso das redes sociais por conta da atuação pública e política de lideranças que exercem o poder de influência não apenas em e a partir de seus cargos, mas também a partir da apropriação e uso tecnológico de conteúdo nas redes sociais.

Por sua vez, Thaise Marques de Lima, Vanessa Maria Gomes da Silva e Fellipe Sá Brasileiro, em seu artigo intitulado “Algoritmos da branquitude: vieses e representações racistas em sistemas de inteligência artificial” expõem como as empresas de tecnologia responsáveis pela inteligência artificial podem prever respostas resilientes ao problema específico do racismo algorítmico por meio do desenho de estratégias eficazes de aprendizado de máquina apoiadas em bancos de dados decolonial e heterogêneo, bem como em treinamento com feedback humano. Os autores concentram seu esforço de pesquisa em contribuir para a reflexão sobre vieses algorítmicos e racismo e o desafio que as empresas de tecnologia têm de mudar esta interpretação imagética que consideram perpetuada.

Na obra “O cercadinho começa aqui o ódio e a construção mítica de Bolsonaro no Pânico na Band”, Janaine Sibelle Freires Aires, Raissa Sales de Macêdo e Suzy dos Santos pretendem demonstrar a forma como um programa de comédia selecionado na TV brasileira funciona a partir da propaganda política do ex-presidente brasileiro Bolsonaro, com a presença do discurso de ódio identificado na pesquisa, bem como a consolidação da marca mítica, segundo o conceito proposto pelo semiólogo e estruturalista francês Roland Barthes (2001).

Isabela Afonso Portas, em seu estudo “Rede sociotécnica de desinformação: desafios para fortalecer o bem comum na era digital”, apresenta como o modelo de negócios das plataformas de mídias sociais, estruturado em torno da economia da atenção e da maximização do lucro por meio da datificação, visa incentivar a disseminação da desinformação; mas também limitar o potencial democrático das redes digitais. Ao mesmo tempo, chega a uma solução do que é necessário para garantir que os indivíduos possam exercer plenamente o seu papel de cidadãos e promover o bem comum num determinado contexto.

Anna Hurajová em seu artigo “Enhancing Media Literacy And Critical Thinking Skills at a Slovak University: Exploring Student Perceptions” aponta, por meio de uma amostra piloto de estudantes universitários de marketing, a importância e os efeitos de integrar o desenvolvimento do pensamento crítico e da argumentação no contexto da desinformação no currículo universitário a partir das características de um curso específico lecionado na Faculdade de Mass Media Communication  da Universidade de São Cirilo e Methodius em Trnava, Eslováquia.

Por sua vez, os autores do texto “Online Fraud: security challenges and preventive measures for accommodation platform users”, da autoria de Michal Radošinský, Saba Najjar e Łukasz P. Wojciechowski destacam, a partir da sua pesquisa documental e tendo em conta análises de estudos existentes, a forma como o desenvolvimento e o impacto da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) têm estimulado o surgimento de fraudes e manipulações on-line. É dada especial ênfase à importância da literacia midiática e da verificação de fatos: instrumentos fundamentais na luta contra a informação enganosa. O estudo também descreve uma série de recomendações para melhorar a segurança do usuário e pede esforços coordenados entre provedores de plataforma, usuários e desenvolvedores de inteligência artificial, e enfatiza a importância da alfabetização digital, a criação de procedimentos de confiança e o estabelecimento de sistemas de verificação de dados.

Por fim, o artigo “Educação Midiática como matriz epistemológica para cidadania no ciberespaço” analisa a matriz epistemológica como base do conceito de educação midiática e seu autor, Douglas Calixto, estima a legitimidade da inter-relação entre Comunicação e Educação em um contexto em que as tecnologias digitais redimensionaram a condição de ser e as relações sociais na contemporaneidade para configurar a existência do cidadão digital.

As obras aqui contidas apresentam, em síntese, o papel da educação midiática, a importância da criação e estabelecimento de ações de ciber-resiliência, a prioridade na consolidação de uma cultura de cibersegurança e a validade de um protagonismo cidadão responsável, crítico e consciente.

O desenvolvimento tecnológico envolve riscos e revela a vulnerabilidade a que a sociedade está sujeita. Ao mesmo tempo em que a tecnologia traz diversos benefícios para a humanidade, é também um desafio contínuo implementar ações de alfabetização midiática que promovam uma sociedade resiliente para enfrentar a desinformação, a manipulação de dados, as fraudes e informações enganosas, entre outros aspectos. E esta é a contribuição da presente edição da revista Lumina, que traz múltiplas abordagens de pesquisa para debater o tema proposto na chamada editorial: “Desafios da ciber-resiliência: construindo uma cultura de segurança cibernética e cidadã”.

Esperamos que, dessa forma, os contributos de investigação aqui selecionados lhe permitam, caro leitor, ter uma visão mais ampla e, por sua vez, mais consistente sobre as questões relacionadas às implicações das novas práticas comunicacionais, as competências necessárias na era digital para a promoção de hábitos seguros e responsáveis, a necessidade de identificar ameaças e o estabelecimento de mitigações de riscos cibernéticos por meio da educação midiática e da compreensão crítica dos novos fenómenos tecnológicos.

Bem-vindo à leitura!