Editorial

Ana Paula Dessupoio1, João Paulo Malerba2 e Telma S. P. Johnson3

1 Professora na Faculdade de Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e editora da Revista Lumina. E-mail: ana.dessupoio@ufjf.br.

2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM)/UFJF e editor da Revista Lumina. E-mail: joaopaulo.malerba@ufjf.br.

3 Professora do PPGCOM/UFJF e editora da Revista Lumina. Vice-coordenadora do PPGCOM/UFJF. Líder do grupo de pesquisa Comunicação, Identidade

e Cidadania (CNPq/UFJF). E-mail: telma.johnson@ufjf.br.

No atual cenário de aumento da disseminação de desinformação, dos ataques às instituições e dos discursos de descredibilização da ciência, tem ganhado cada vez mais relevo o debate sobre a importância da popularização do conhecimento científico. Há um esforço conjunto dos/as pesquisadores/as em traduzir suas descobertas em uma linguagem acessível e envolvente, de modo a torná-las compreensíveis para a sociedade e demonstrar sua relevância para o cotidiano da população. A popularização da ciência busca despertar interesse, fomentar o pensamento crítico e criar um diálogo entre cientistas e cidadã/os. Nessa empreitada unem-se cientistas, órgãos de fomento e poder público, a ponto de o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ter criado a Secretaria de Popularização da Ciência e as agências de fomento exigirem ações nesse sentido em todos os seus projetos apoiados.

É nesse contexto que a Revista Lumina tem a alegria de anunciar o canal Lumiah. São podcasts, vídeos e posts com o objetivo de divulgar os artigos publicados na Revista, contando com entrevistas com seus/suas autores/as e eventuais participações de outro/as pesquisadores/as e docentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF. Os produtos da Lumiah dão destaque à relevância social dos estudos em Comunicação, fazendo a ponte entre pesquisa e sociedade. Os produtos comunicacionais da Lumiah contam com o apoio da Fapemig através do Programa de Apoio a Publicações Científicas e Tecnológicas. Os instigantes materiais só têm se tornado realidade a partir da dedicação apaixonada dos/as assistentes editoriais e editores/as da Lumina, a quem parabenizamos e demonstramos nossa gratidão. E é com o mesmo entusiasmo que apresentamos aos/às leitores/as a última edição de 2024 da Lumina.

Abrimos esta edição com o artigo Audiovisualidades e subjetividades: o que os filmes assistidos em isolamento social apontam sobre nós, em que Fernanda Elouise Budag tem como objeto os filmes em streaming (disponíveis na plataforma Netflix) mais assistidos no Brasil em  2020, mais especificamente, durante o isolamento social em função da pandemia de Covid-19. A pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)  realiza as análises fílmicas em busca do que dizem sobre as subjetividades brasileiras pandemicamente fixadas. Os resultados dão indícios, por um lado, de uma identificação coletiva com o luto e problemas de saúde mental e, por outro, de uma projeção de esperança e crença no amor, como bases estáveis em um momento tão incerto.

No artigo Netflix midiatizada: uma análise sociossemiótica da Netflix Brasil no WhatsApp, o pesquisador Claudinei Lopes Junior, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), analisou 150 postagens durante um mês no canal que a plataforma de vídeo mantém no aplicativo mensageiro. A pesquisa conclui que tal ambiência midiatizada configura-se como uma zona de contato regulada, com um circuito comunicacional ativo a partir de protocolos específicos de produção de discurso.

Em A adicção na ficção televisiva contemporânea: Verdades Secretas e Verdades Secretas II, Bernardo José Monteiro Lotti e João Paulo Hergesel, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), têm como objetivo refletir como os aspectos referentes ao vício foram construídos nas (tele)novelas Verdades Secretas (2015) e Verdades Secretas II (2021), ambas escritas por Walcir Carrasco, levando em consideração os componentes pertencentes à poética televisiva, isto é, tema, narrativa e estilo. Os autores indicam, por meio da análise, uma representação da adicção que aborda tanto as possibilidades de reabilitação e crítica social quanto à busca por padrões de perfeição, refletindo as complexidades das subjetividades contemporâneas em um contexto de crise.

O pesquisador Silvio da Costa Pereira, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), realizou a observação e análise de 5.621 fotografias de dois dos principais veículos jornalísticos do país, atento àquelas produzidas pelos usuários. Os resultados estão sintetizados no artigo Quem capta as fotografias que vemos nos jornais? Análise das imagens veiculadas em dois dias por Folha e G1, e apontam que metade delas é obtida sem custos para o veículo, levantando questões como a perda do controle do discurso/narrativa visual veiculado.

Marcela Barbosa Lins, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Sujeição e agência à luz das instituições: o Diário do hospício de Lima Barreto mergulhou na obra em que o autor documenta as adversidades enfrentadas durante sua internação no Hospital Nacional de Alienados. O objeto do artigo é a relação entre sujeição e agência, argumentando que o relato autobiográfico do autor, para além de um testemunho de opressão, questiona e desafia os quadros morais estabelecidos que separam o normal do patológico.

No artigo Territorialidades no jornalismo alternativo brasileiro: construções midiáticas do Lado B do Rio, os pesquisadores Paulo Henrique Semicek e Maria Clara Aquino, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, identificam diálogos entre o jornalismo alternativo, tendo como objeto empírico o podcast  Lado B do Rio, e a dimensão política e socioeconômica de territórios diante dos quais se posiciona. Por meio da Análise do Discurso, o estudo traz à reflexão construções midiáticas sobre a violência nas comunidades, a situação geral de desigualdade e a defesa dos direitos humanos.

Tratando de um dos temas mais urgentes da atualidade, Thiago Henrique de Jesus-Silva, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal do Ceará (UFC), investiga como o modelo de negócios de plataformas digitais como Facebook, YouTube e WhatsApp amplifica a desinformação. O artigo Desinformação e economia política nas plataformas digitais: uma análise sobre fraudes, conspirações e narrativas climáticas conclui que a desinformação faz parte de uma estratégia estrutural que privilegia os interesses econômicos das grandes plataformas, apontando a urgência de regulamentação e de políticas públicas para o setor.

No artigo Análise das estratégias de comunicação digital do SOS Pantanal no Facebook, as pesquisadoras Carla Negrim Fernandes de Paiva, Mariana Alarcon Datrino e Caroline Kraus Luvizotto, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), têm como foco o papel e a efetividade da comunicação digital no ativismo socioambiental. Foram analisadas postagens e interações da página do Instituto SOS Pantanal durante os incêndios de um dos principais biomas brasileiros, em 2020. As autoras apontam que, apesar de ampliarem a visibilidade da causa e aumentarem a mobilização, as estratégias não se traduziram em ações reproduzíveis para além do ambiente das redes.

As pesquisadoras Mônica Panis Kaseker e Adriana Nakamura Gallassi, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), refletem  como os processos de autorrepresentação midiática indígena provocam transformações na forma pela qual os comunicadores não indígenas se relacionam com a temática. O artigo Elementos para uma produção audiovisual intercultural: estudo de caso sobre a série Índio Presente tem como objeto uma série audiovisual que aborda equívocos que permeiam a visão de senso comum sobre os povos originários. Os resultados apontam para promissores deslocamentos e descentramentos nas práticas dos comunicadores não indígenas.

Em Contribuições dos estudos de discurso na análise da comunicação em plataformas digitais, Ruth Reis e Daniela Zanetti, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), apresentam reflexões sobre os desafios de pesquisa no ecossistema comunicacional atual. Para tal, as pesquisadoras partem das contribuições de alguns dos principais teóricos dos estudos de discurso. Em seguida, delineiam alguns dilemas e desafios metodológicos especialmente no que se refere à constituição de corpora de pesquisa e as estratégias de análise na investigação discursiva da comunicação nas redes sociais digitais.

Desde o seu início, em fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia apresenta uma profusão de conteúdo nas plataformas digitais, desde uma intensa cobertura jornalística profissional até a participação ativa de civis, soldados e até mesmo influenciadores. No artigo Já viu o post da Guerra da Ucrânia?  Looping da violência na representação do conflito Rússia e Ucrânia no Instagram, Daniela Osvald Ramos e Natália Xavier Coelho, do Programa de Pós Graduação em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), investigam se o conflito em questão pode ser classificado como um exemplo de looping de violência a partir de publicações no Instagram de alguns dos maiores jornais nacionais e internacionais.

Fechamos esta edição com a resenha do livro Um jornalista online mundializado: sócio-história comparativa, de Florence Le Cam e Fábio Henrique Pereira, realizada por Natália Huf, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lançado em 2022, a obra sintetiza uma pesquisa realizada sobre a identidade transnacional de jornalistas de mídias digitais, a partir de dados coletados em entrevistas com profissionais do Brasil, França, Canadá e da Bélgica.

Por fim, mais uma vez e sempre nossos sinceros agradecimentos às/aos pareceristas por seu trabalho essencial ao nosso periódico. Queremos especialmente demonstrar nossa gratidão a cada um e cada uma da equipe editorial pela dedicação e comprometimento.

Os melhores votos para 2025 e boa leitura!

Expediente

Conselho Editorial

Ana Paula Dessupoio

Eli Borges Júnior

Gabriela Borges

Jhonatan Alves Pereira Mata

João Paulo Malerba

Letícia Barbosa Torres Americano

Paulo Roberto Figueira Leal

Telma S. P. Johnson

Wedencley Alves

Assistentes Editoriais

Adriana A. Oliveira

Alícia Rufino Soares

Ana Resende Quadros

Ana Luísa Schuchter

Arthur Honorato de Almeida

Gabrielle Sevidanes

Gustavo Furtuoso Ribeiro

Isabella Sobral da Silva

Keila Siqueira de Lima

Lázaro Scher

Leony de Paula Silva

Letícia Zampiêr

Lorena Fontainha

Marina Lopes de Souza

Mariana Coelho

Millena Gonçalves dos Santos

Najla dos Passos

Thalita Rocha


Revisão

Aline Andrade Pereira

Revisão Geral

Jhonatan Alves Pereira Mata

João Paulo Malerba

Wedencley Alves

Diagramação

Hsu Ya Ya

Revisão Diagramação

Ana Paula Dessupoio

João Paulo Malerba

Telma S. P. Johnson

Capa

Hsu Ya Ya

Imagem da Capa

Unsplash

Projeto Gráfico

Carlos Eduardo Nunes