Editorial

Ana Paula Dessupoio1, João Paulo Malerba2 e Telma S. P. Johnson3

1 Professora na Faculdade de Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e editora da Revista Lumina. E-mail: ana.dessupoio@ufjf.br.

2 PProfessor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação PPGCOM/UFJF e editor da Revista Lumina. E-mail: joaopaulo.malerba@ufjf.br.

3 Professora do PPGCOM/UFJF e editora da Revista Lumina. Vice-coordenadora do PPGCOM/UFJF. Líder do grupo de pesquisa Comunicação, Identidade e Cidadania (CNPq/UFJF). E-mail: telma.johnson@ufjf.br.

Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 18, n. 2, p. 1-6, MAI./AGO. 2024

A primeira edição de 2024 da revista Lumina traz artigos que abordam objetos diversos como saúde, religião, fotografia, migrações, publicidade e cinema, porém apresentando atravessamentos comuns que transbordam nosso campo e apontam para questões candentes no debate público, como desinformação, plataformização e disputas discursivas. Os/as leitores/as terão contato com pesquisas que demonstram simultaneamente a interdisciplinaridade e a aplicabilidade dos estudos comunicacionais.

Abrimos nossa edição tendo como objeto as tramas narrativas em torno da justiça social reprodutiva. Vânia Coutinho Quintanilha Borges e Wilson Couto Borges, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, analisaram as manifestações de dois perfis do Instagram em suas posições distintas sobre legalização e descriminalização do aborto. A investigação coloca em evidência representações e símbolos acionados na disputa discursiva sobre o tema, e que se materializam em distintas articulações políticas e posicionamentos sobre cidadania.

Ainda na interface entre comunicação e saúde, particularmente no contexto da midiatização e plataformização, a pesquisadora Maria do Carmo Pasquali Falchi, da Unisinos, se dedica a uma análise sobre estratégias comunicacionais na página do Facebook da ONG Turner Syndrone Global Alliance (TSGA) e produção de sentidos nas postagens feitas por pacientes com Síndrome de Turner e seus familiares. O estudo apresenta evidências de que a ONG negligencia seus propósitos e os sentidos são produzidos pelo compartilhamento e conhecimentos tácitos dos pacientes, para ajudar uns aos outros, o que representa risco de desinformação.

Já o artigo de Leandro Rodrigues Lage, da Universidade Federal do Pará (UFPA), explora deslocamentos estéticos e políticos presentes em uma das principais imagens do ensaio fotográfico em que Leona Vingativa, artista paranaense, encarna a figura mitológica da obra O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. A intenção foi observar a imagem enquanto gesto transgressor, no qual a representação da deusa da beleza é transfigurada a partir de outros modos de ver em contraposição aos imaginários hegemônicos racializados do belo e do desejo.

A configuração da comunicação corporativa como estímulo ao consumo de ativismo na pós-modernidade, suas características e formas de expressão é tema do artigo de Giovanna Masiero Fischer e Marcia Perencin Tondato, da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM). As autoras desenvolveram o estudo tendo como base o perfil no Instagram da Simple Organic, marca de produtos veganos, e analisaram a estratégia discursiva sob a ótica de deslocamentos identitários, buscando entender os padrões narrativos empregados.

O artigo de Luiz Siqueira, da Universidade Federal de Goiás (UFG), faz uma abordagem bibliográfica de como marcas publicitárias se apresentam no romance Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, buscando compreender tais manifestações à luz de perspectivas teóricas em relação ao consumo. Percebe-se que as marcas, percebidas como extradiegéticas, acrescentam informações à narrativa; e os objetos são mais que utilitários, mas também comunicadores.

Os fluxos de circulação e efeitos de processos midiáticos são abordados no estudo do pesquisador Rodrigo Duarte Bueno de Godoi, da Unisinos, à luz da movimentação de sentidos engendrada pelo acontecimento em torno das denúncias de assédio sexual contra Sherry Pie, uma das participantes da 12ª temporada do reality show RuPaul’s Drag Race, em 2020. O autor analisa operações de midiatização de atores sociais, portais jornalísticos e de entretenimento e do próprio programa de televisão, a partir da denúncia de uma vítima (e de outras em seguida) sobre o abuso perpetrado por Sherry Pie e das articulações em rede em torno desse acontecimento.

Até que ponto a utilização do TikTok como ferramenta de combate à desinformação é uma estratégia útil e democratizadora é o foco da investigação das pesquisadoras Cristiane Lindemann e Patrícia Regina Schuster, da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A partir da análise de conteúdo de 24 vídeos da Agência Lupa, reconhecida pelo seu trabalho de checagem e iniciativas em literacia midiática, as pesquisadoras concluem que a chamada “tiktokização” do jornalismo não significa necessariamente democratização da informação, sofrendo o ônus do obscurecimento típico dos fluxos algorítmicos e tendo de se enquadrar nos regimes de visibilidade da plataforma.

Brunno Ewerton de Magalhães Lima, Corina Evelin Demarchi Villalón e Mohameed ElHajji, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), buscam compreender como o conceito de diáspora digital tem sido empregado em trabalhos e artigos acadêmicos relacionados aos fluxos migratórios transnacionais no país. Dessa forma, foi feita a análise de nove artigos que abordam a temática e que revelaram a evolução do conceito mais utilizado pelos estudos: a webdiáspora. Além disso, perceberam os seguintes resultados: o impacto econômico das atividades on-line das comunidades migrantes, especialmente no contexto de empreendimentos comerciais e negócios étnicos; e a influência das plataformas digitais nos projetos migratórios.

Deivison Brito Nogueira, pesquisador da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), analisa criticamente o processo de midiatização da religião no contexto da racionalidade neoliberal e do chamado capitalismo de plataforma. Tendo como objeto o inChurch, aplicativo para gestão operacional e financeira de instituições religiosas, a pesquisa se debruça sobre os discursos de líderes religiosos de cases de sucesso de igrejas-clientes que utilizam a plataforma. Os resultados trazem questionamentos sobre eventuais reflexos do ethos discursivo típico do mundo dos negócios e suas implicações aos valores tradicionais da religião.

A análise das imagens de carros em movimento no filme Aquarius é o ponto de partida para Luís Henrique Marques Ribeiro, pesquisador da Universidade Federal Fluminense, desenvolver a relação entre cidade, cinema e medo. Valendo-se da perspectiva dialógica bakhtiniana, o autor analisa os sentidos para o carro na composição da linguagem cinematográfica, investigando deslocamentos de classe e raça na obra de Kleber Mendonça Filho.

Em seguida, os pesquisadores Mauricio Rebellato, Luciomar de Carvalho e Flavi Lisboa Filho, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trazem à discussão a importância da comunicação para o desenvolvimento com base no reconhecimento e preservação das identidades coletivas. O trabalho contribui com uma clivagem territorial, permeada de processos históricos, culturais e relações de poder, ao tratar da construção de identidade no território do Quarta Colônia Geoparque Mundial da Unesco, integrado por nove municípios, no Rio Grande do Sul.

Por fim, a potencialidade das narrativas audiovisuais infantis em vários suportes midiáticos é analisada por Arthur Fiel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a partir da série Detetives do Prédio Azul, carro-chefe do canal de televisão Gloob. A partir de uma revisão da literatura acerca dos jogos, das brincadeiras e da imaginação infantil, o autor trabalha com o conceito de círculo mágico para examinar a análise da narrativa e apropriações pelo público-alvo em mediações extra-telas a partir de sua bagagem lúdica.

Desejamos às/aos nossas/os leitoras/es boas reflexões e agradecemos às/aos pareceristas e à toda equipe editorial pela dedicação, tempo e empenho na elaboração de mais uma edição da revista Lumina.

Expediente

Conselho Editorial

Ana Paula Dessupoio

Gabriela Borges

Jhonatan Alves Pereira Mata

João Paulo Malerba

Letícia Barbosa Torres Americano

Paulo Roberto Figueira Leal
Telma S. P. Johnson
Wedencley Alves


Assistentes Editoriais

Adriana A. Oliveira

Ana Carolina Oliveira

Eutália Ramos

Gustavo Furtuoso Ribeiro

Larissa Nascimento

Luma Perobeli

Marina Lopes de Souza

Vanessa Coutinho Martins

Revisão

Aline Andrade Pereira

Revisão Geral

Ana Paula Dessupoio

Gabriela Borges

Jhonatan Alves Pereira Mata

João Paulo Malerba

Letícia Barbosa Torres Americano

Telma S. P. Johnson

Wedencley Alves

Diagramação

Hsu Ya Ya

Revisão Diagramação

Ana Paula Dessupoio

Gabriela Borges

João Paulo Malerba

Telma S. P. Johnson

Capa

Hsu Ya Ya

Imagem da Capa

Pexels

Projeto Gráfico

Carlos Eduardo Nunes