O sofrimento explícito nas redes:
a convocação global em favor das vítimas palestinas
Juana Ribeiro Diniz1
Resumo
Este artigo disserta sobre a relação entre manifestações a favor das vítimas no conflito Israel-Palestina e os possíveis efeitos de uma experiência estética a partir das imagens de sofrimento explícito dessas vítimas que circularam pelas redes sociais. Partimos da suposição de que tais imagens tenham propiciado uma convocação ética, de caráter global, a partir de uma mudança de enquadramento da cena política, que vem há tempos reiterando uma narrativa islamofóbica e em favor de Israel e dos Estados Unidos, nas guerras contra os povos palestinos. Se as imagens midiáticas que exibem o sofrimento explícito das vítimas em Gaza permitem um distanciamento capaz de dessensibilizar o espectador diante do sofrimento do outro, também permitem que, justamente pela distância, mas tocado por uma espécie de aproximação a uma dor coletiva, seja possível atuar em favor desse outro, sobre o qual a tragédia se abate e retira-lhe condições propícias para a ação. A proposta aqui é fundamentar esse argumento nas teorias de Butler, a fim de explicar, a partir das imagens, a relação entre “enquadramento” (2015) e “convocação ética” (2019) e no conceito de “política e emergência do sujeito” (1996), em Rancière, se contrapondo à impossibilidade de experiência no “Bios Virtual” (2021), tal qual aborda Sodré, no contexto da midiatização.
Palavras-chave
Estética; Ética; Política; Redes sociais; Guerra Israel-Palestina.
1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM (PPGCOM) e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidades Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: juanardiniz@gmail.com.
Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 18, n. 2, p. 157-172, MAI./AGO. 2024 DOI 10.34019/1981-4070.2024.v18.43826
The explicit suffering on social media:
the global call for Palestinian victims
Juana Ribeiro Diniz1
Abstract
This article discusses the relationship between demonstrations in support of victims in the Israel-Palestine conflict and the possible effects of an aesthetic experience derived from the explicit suffering images of these victims circulating on social media. We start from the assumption that such images have facilitated a global ethical call through a change in the framing of the political scene, which has long been reiterating an Islamophobic narrative in favor of Israel and the United States in the wars against the Palestinian people. While media images displaying the explicit suffering of victims in Gaza might allow for a detachment that desensitizes the viewer to the suffering of others, they also allow, precisely due to the distance, but touched by a kind of proximity to collective pain, the possibility of acting in favor of that other, upon whom tragedy has fallen, depriving them of favorable conditions for action. The proposal here is to base this argument on Butler's theories to explain, through the images, the relationship between “framing” (2015) and “ethical call” (2019) and on Rancière’s concept of 'politics and the emergence of the subject' (1996), countering the impossibility of experience in the “Virtual Bios” (2021), as addressed by Sodré, in the context of mediatization.
Keywords
Aesthetics; Ethic; Policy; Social media; Israel-Palestine War.
1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM (PPGCOM) e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidades Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: juanardiniz@gmail.com.
Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 18, n. 2, p. 157-172, MAI./AGO. 2024 DOI 10.34019/1981-4070.2024.v18.43826
Introdução
Durante os dias que sucederam o 7 de outubro de 2023, quando o mundo teve notícia da ofensiva surpresa, proveniente da Faixa de Gaza, por grupos militantes palestinos ao território israelense, seguida do contra-ataque por Israel, também passamos a ser “bombardeados” por notícias do conflito, assim como análises críticas da situação política em questão, além de diversas imagens retratando o cenário da guerra e o estado das vítimas. As imagens das vítimas palestinas impactaram, de forma mais notória, os espectadores ao redor do mundo por incluírem civis e, entre eles, mulheres grávidas e crianças, ou seja, corpos que se encontram entre os considerados mais vulneráveis em situações de risco.
Neste artigo, não iremos nos debruçar sobre pormenores desse conflito, nem tampouco sobre os desdobramentos das análises políticas que ainda estão sendo produzidas e reproduzidas nas mídias tradicionais e virtuais. A proposta aqui, em termos mais gerais, é pensar no âmbito estético de fenômenos midiáticos, nas redes sociais digitais e suas possíveis relações com os campos ético e político, através de nossas experiências em uma configuração virtual. Porém, a proposta específica deste artigo é adentrar nesse geral a partir da reflexão sobre um aspecto de uma experiência estética em particular e pessoal, para exemplificar o que pode ocorrer diante das imagens do sofrimento explícito das vítimas palestinas.
Nossa suposição é que a estética, nesse caso, atua como o próprio meio para uma convocação ética na experiência em redes sociais digitais e, com isso, ativa um possível favorecimento de manifestações políticas em protestos de rua, nos mais diversos países, a favor de um cessar-fogo. Nosso argumento reside na proposição de que o enquadramento do sofrimento explícito, no contexto dos episódios recortados para o presente artigo, permitiu o aparecimento de uma convocação ética de ordenação mais política, no sentido ranciereano do termo, do que suas formas hegemônicas antecessoras. Ou seja, nessas cenas não parece ser a dor do povo palestino, de forma generalizada, que produz um efeito estético, mas a dor das crianças palestinas, das mães palestinas, dos trabalhadores palestinos, em uma apresentação de forma mais singularizada e menos como uma categoria de vidas precarizadas. Essa singularização, supomos, é o que ajuda a capturar a atenção (tão disputada), guiada pela cartografia algorítmica, do espectador virtual. Através dela, outros povos, em situações culturais, sociais, temporais e tecnológicas mais diversas, podem também se reconhecer e serem convocados eticamente a se manifestar.
Neste artigo, usaremos uma metodologia de inspiração ranciereana, com o exemplo de experiências estéticas pessoais diante de duas imagens audiovisuais que circularam nas redes sociais digitais, nos dias que sucederam à resposta militar do estado de Israel ao ataque do Hamas [1]. Nossa proposta é fabular uma relação possível dessas experiências com descrições de fragmentos de manifestações pró-palestinas. As origens e complexidade do conflito Israel-Palestina requerem um histórico extenso e estudos mais aprofundados, assim como também são necessários estudos mais elaborados e numerosos para tecer comentários mais consistentes relacionados à opinião pública diante do conflito. Porém, para atender aos objetivos deste artigo, focalizaremos no imediato período que sucedeu às desproporcionais ofensivas de Israel à Faixa de Gaza, em resposta aos ataques de 7 de outubro. Entendemos esse momento como um daqueles em que uma irrupção que “se opõe ao fluxo da nossa experiência cotidiana [propicia] os momentos da experiência estética [que] se parecem com pequenas crises” (Gumbrecht, 2010, p. 51). Para Gumbrecht:
Quanto às condições da experiência estética, estamos hoje particularmente atentos a uma temporalidade específica que lhe pertence. Os conteúdos da experiência estética se nos apresentam como epifânicos, isto é, eles aparecem repentinamente (“como um relâmpago”) e desaparecem de repente e irreversivelmente, sem permitir-nos permanecer com eles ou de estender sua duração. (2010, p. 55)
Portanto, nos interessa essa especificidade temporal que levou às redes sociais muitas denúncias que atribuíam termos como “genocida” e crimes hediondos de guerra ao estado de Israel, gerando uma agenda permeada por diversos debates no espaço midiático e, entre as redes sociais de usuários ao redor do mundo, o compartilhamento de muitas imagens das vítimas da Faixa de Gaza, com legendas lamentando as vidas perdidas e o sofrimento do povo palestino, assim como imagens de mobilizações nas ruas em favor de um cessar-fogo. De acordo com o Le Monde Diplomatique Brasil, na edição de maio de 2024, “o saldo de mortes na Palestina é de cerca de 30 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, sendo a maioria mulheres e crianças” – outras publicações falam em 27, 28 mil também. O cenário da guerra que está em curso ainda vai sofrer alterações, obviamente, mas a faceta do poder de destruição e da vulnerabilidade humana que se apresenta em relação à eclosão mais recente do conflito Israel-Palestina já está irreversivelmente somada às dores de um pós-pandemia, herdadas de um passado recente. Na outra ponta, temos um futuro ameaçado, inclusive por catástrofe de cunho apocalíptico como as mudanças climáticas, completando a atmosfera do recorte temporal ao qual estamos nos referindo aqui. Nesse cronótopo, de excesso de passado e um futuro inviabilizado, Gumbrecht vai conceber a ideia de vivermos em um “amplo presente” (2015) e nossa aposta é que, nos casos apresentados aqui, a estética do sofrimento explícito não foi banalizada porque ela emergiu nesse contexto. Ela opera um novo enquadramento das imagens do sofrimento das vítimas em Gaza, não porque traz imagens de guerra diferentes das do passado, mas porque emerge em uma ordenação política, tal qual a concebe Rancière (1996), que, neste exato momento, dá a ver uma parte, ou melhor, um sujeito que não estava sendo contado nos enquadramentos de vítimas de guerra em outros contextos.
A experiência estética nas redes sociais
A estética nas redes sociais digitais tem sido um desafio de pesquisa ao qual temos direcionado muitos esforços que parecem encontrar caminhos tortuosos, uma vez que algumas conclusões ou considerações sempre correm o risco de serem revistas sob o aparecimento de um novo fenômeno social e tecnológico. Por esse motivo, temos recorrido atualmente a uma proposta de entender a estética nas redes sociais tal qual apreendemos a partir dos estudos de Gumbrecht e Rancière. A proposta de Gumbrecht de falar em experiência estética no “mundo cotidiano”, como “pequenas crises”, nos é bem-vinda, pois contempla alguns fenômenos inseridos nas redes sociais, por exemplo, que costumam ser preteridos nos estudos culturais, sendo, comumente, não considerados aptos a promover tal experiência. Voltando à Gumbrecht:
O motivo pelo qual considero importante falar sobre as modalidades da experiência estética que ocorrem dentro dos moldes cotidianos e sob condições que caracterizamos como “excepcionais” e como “crises” é a convicção de que os moldes “oficiais” da experiência estética foram de uma estranha inflexibilidade durante, digamos, os últimos dois ou três séculos. (2010, p. 62)
Já a concepção da estética como política – e vice-versa – de Rancière, parece ser distante o suficiente de qualquer proposta mais normativa de estética. A política que emerge, reconfigurando uma ordem previamente estabelecida e promovendo a “partilha do sensível”, possibilita-nos abordar certas experiências, nas redes sociais digitais, como estéticas. Experiências essas que, a princípio, poderiam se confundir com “estetização da política”, pois, muitas vezes, se apresentam em formas tão complexas e, por vezes contraditórias, que quase não conseguimos, sequer, identificar quando estamos realmente diante de uma experiência, como alerta Sodré sobre o desaparecimento da experiência do agir humano imersa no que o autor chama de “bios virtual”.
Mediante a progressiva aceleração tecnorretórica dos processos de registro e recuperação, tudo agora incita a consciência fascinada, emocionada, afetivamente mobilizada, a entrar no jogo da produção e consumo dos efeitos energéticos do real, a imergir no bios virtual, onde se aprofunda o desaparecimento da experiência. […]. A experiência, que se faz visível na vontade do homem de singularizar-se, em suas escolhas e no seu potencial de transformação e passagem, é o espaço ainda aberto às revoltas silenciosas ou ao “querer” ruidoso, senão violento, das massas anônimas. (Sodré, 2021, p. 137-138)
Falar em experiência estética nas redes sociais digitais não é possível sem pensarmos na relação entre o imaginário, constituído a partir dos símbolos midiáticos, e a realidade – cuja experiência, nesse espaço em rede telemática, só pode ser virtual. Sodré explica que, na era da midiatização atual, temos um imaginário constituído por uma espécie de lente de aumento algorítmica sobre o real que, por sua vez, vai “constituir uma nova esfera existencial plenamente afinada com o capital, onde o desejo se imponha preferencialmente como desejo de mercado” (2021, p. 137). A relação entre imaginário e realidade é, portanto, para Sodré, “uma nova ecologia e um novo bios, impulsionados por dispositivos de mercado e de inteligência artificial, em que a realidade da vida ‘nua’ é aumentada por algoritmos e temporalmente acelerada por máquinas” (2021, p. 90).
Bios midiático ou bios virtual são expressões adequadas para o novo tipo de forma de vida caracterizado por uma realidade “imaginarizada”, isto é, feita de fluxos de imagens e dígitos, que reinterpretam continuamente com novos suportes tecnológicos as representações do real. Nesse bios, os velhos fenômenos de sociedade tornam-se objeto de uma saturação conceitual afim a essa imaginariedade virtual. Trata-se geralmente de um imaginário controlado e sistemático, sem potência criativa e metafórica, mas com uma notável capacidade ilocutória (portanto, um imaginário adaptável à produção) que não deixa de evocar a dinâmica dos espelhamentos elementares ou primais (Sodré, 2021, p. 136)
A experiência, para Sodré, portanto, “tende a submergir numa ‘estética telecomandada’”, que não é esvaziada de afetos, porém são afetos mobilizados para atender às demandas mercadológicas, por uma arquitetura algorítmica que amplia a realidade, e para se adequar aos fluxos acelerados do trânsito eletrônico.
Não obstante, acreditamos que a experiência estética ainda persiste na era da midiatização e é capaz de escapar à estetização do mundo, pela ordenação do consumo, a partir de uma concepção de estética que adquiriu uma espécie de “imunidade” ao “telecomando”. Ainda que – importante frisar – não seja a nossa intenção defender uma visão das redes telemáticas como uma tecnologia meramente distributiva, ou que a experiência estética seja, de alguma forma, independente dos modos de sentir contemporâneos (sensórios, percepções, sensibilidades e subjetivações) que estão, por sua vez, atrelados ao “bios virtual”, ao qual se refere Sodré. Nossa proposta, por sua vez, é aprofundar a reflexão sobre a abordagem de uma estética que emerge, em dada situação, de acordo com a singularidade de cada fenômeno, de cada “cena” apresentada. Com fundamento no pensamento de Rancière (1996; 2005), acreditamos que a estética possível nas redes é aquela que escapa à ordem estetizante do consumo e, por essa brecha, muitas vezes a experiência dita estética é justamente a política, que provoca uma oscilação nesse regime vigente do sensível, ordenado pela lógica do consumo. E, para nós, é a emergência dessas experiências nas redes sociais que é capaz de mobilizar eticamente os afetos circulantes no que Sodré (2021) chamou de “bios virtual”.
A estética como política em Rancière
Através de uma noção de estética como política, Rancière nos atenta ao fato de que tanto a política como a estética escapam ao caráter normativo das denominações e conceituações às quais estamos acostumados a atribuí-las. Rancière vai lembrar que a política está no desentendimento, na oscilação de regimes que modulam ordenações que ele chama de policial e política. Ou seja, para Rancière, a política é justamente o que instaura o litígio, reconfigura uma cena e instaura a “partilha do sensível”, dando a ver, ouvir e falar o que antes não estava sendo contado como parte.
Denomino partilha do sensível, o sistema de evidências sensíveis que revela, ao mesmo tempo, a existência de um comum e dos recortes que nele definem lugares e partes respectivas. Uma partilha do sensível fixa portanto, ao mesmo tempo, um comum partilhado e partes exclusivas. Essa repartição das partes e dos lugares se funda numa partilha de espaços, tempos e tipos de atividade que determina propriamente a maneira como um comum se presta à participação e como uns e outros tomam parte nessa partilha. (Rancière, 2005, p. 15)
Portanto, para uma acepção de “política”, como uma forma de organização de uma comunidade em busca de consensos, ou seja, como “o conjunto dos processos pelos quais se operam a agregação e o consentimento das coletividades, a organização dos poderes, a distribuição dos lugares e funções e os sistemas de legitimação dessa distribuição” (Rancière, 1996, p. 41), Rancière propõe o uso de uma outra terminologia: “polícia”.
A polícia é, na sua essência, a lei, geralmente implícita, que define a parte ou a ausência de parte das “partes”. Mas, para definir isso, é preciso antes definir a configuração do sensível na qual se inscrevem umas e outras. A polícia é assim, antes de mais nada, uma ordem dos corpos que define as partilhas entre os modos do fazer, os modos de ser e os modos do dizer, que faz com que tais corpos sejam designados por seu nome para tal lugar e tal tarefa; é uma ordem do visível e do dizível que faz com que essa atividade seja visível e outra não o seja; que essa palavra seja entendida como discurso e outra como ruído. (Rancière, 1996, p. 43)
A política, para Rancière, está no dissenso, no desentendimento, no momento em que o invisível, o sem voz, o “sem parte”, mimetizando a linguagem dominante (inclusive que é a que exerce a ordenação policial), passa a requerer um lugar na “partilha do sensível”. Segundo Rancière, “no conflito primário que põe em litígio a dedução entre a capacidade do ser falante qualquer e a comunidade do justo e do injusto, deve-se então reconhecer duas lógicas do estar-junto humano” (1996, p. 41) e a política é justamente a atividade que “instaura a partilha” entre elas.
Para melhor compreendermos a reconfiguração dessa partilha, Rancière explica que a oscilação entre uma ordenação policial e política reconfigura uma cena, pois permite a emergência estética e dá ao campo do sensível a produção de uma cena de dissenso. E é a política que permite a contagem de uma parte que não estava sendo contada pela ordem policial. A proposta de pensar em estética como política, assumindo que a política reside no conflito que faz aparecer a parte não contada, a parte dos “sem parte”, nos possibilita pensar nessas experiências no “bios virtual” (Sodré, 2021) não de forma genérica, mas na singularidade de cada relação que podemos chamar de experiência estética, ética ou política. Isso porque essas, por vezes, são relações ambivalentes e conflituosas entre sujeitos e objetos, no ambiente complexo, separado por bolhas algorítmicas, plataformizado, virtual e, cada vez mais, permeado por uma lógica mercadológica e uma cultura do consumo, das redes sociais digitais. Como tal, a experiência com conteúdos de sofrimento explícito nas redes também não segue um padrão, nem se conforma em explicações genéricas e, portanto, assim como pode produzir uma espécie de anestesia dos sentidos, como efeito – o que pode favorecer uma espécie de banalização dessas mazelas sociais – pode também, em dada situação, propiciar o surgimento de uma reação fora de uma dada ordenação “policial”.
Uma experiência estética e a emergência política possível: um relato pessoal como método investigativo
Ainda com base no pensamento de Rancière, este artigo recorre a um método do autor para dar início a breves considerações sobre uma possível relação entre a estética e a ética que pretendemos “desvelar”, em um rearranjo da cena que nos é apresentada. No “método da cena” [2], Rancière propõe outra racionalidade para a crítica acostumada a pensar em representações. É na fabulação que o autor vai sugerir novos arranjos e articulações que ajudem a desvelar, e não revelar, camadas que, até então, pareciam não fazer parte da cena posta. Em um artigo que faz uma revisão literária sobre esse método ranciereano, Marques diz:
A representação, segundo Rancière, explica o mundo e evita o trabalho crítico do sujeito que se interessa em conectar singularidades, articulando-as em atrito e em mosaico. É como se uma cena singular pudesse se transformar em “um aparelho através do qual podemos olhar outras cenas e ter uma percepção, um entendimento diferente de outras singularidades, lançando luz ao redor”. [3] (2022, p. 110)
Partindo dessa proposta de fabular rearranjos em uma cena singular, trazemos um exemplo de experiência estética que supomos estar mediando uma atitude ética e, para abordá-la, gostaria de relatar aqui uma situação pessoal: escolha justificada por ser uma experiência estética subjetiva, que ganha consistência justamente em seu caráter singular. Logo após a ofensiva palestina e a resposta israelense, minha timeline do Instagram (única rede social que eu costumo ver diariamente como forma de entretenimento e informação) se encheu de postagens acerca do conflito em questão, mesmo eu não sendo uma espectadora que costuma acessar cenas do tipo. Eu que, até então, não sabia muito sobre as questões que envolviam as guerras Israel-Palestina, me dei conta que estava, de repente, tomada por uma espécie de convocação ética, sem que eu mesma tivesse procurado por aquilo. Segundo Biondi e Marques:
as experiências ganham forma (estética, política e ética) através do gesto de “contar” e do “contar-se”, que nos possibilita entender os devires de nossas identidades. Assim, as experiências narrativizadas (escritas e organizadas sob a forma de um relato de si) exprimem um processo transformador que culmina em uma outra forma de ser – ou em um vir a ser – e, por isso mesmo, elas promovem o confronto entre diferentes quadros de sentido, desencadeiam rupturas nos processos rotinizados, geralmente, inquestionáveis do cotidiano, frustram expectativas e deslocam o que é familiar promovendo dissensos. (2016, p. 166)
Portanto, não estamos assumindo que a experiência de dissenso, que nos leva a determinada conduta, pode ser tomada automaticamente como estética, pois desconfiamos, inclusive, que talvez ela esteja mais próxima de um fenômeno ético. Lembrando, inclusive, que imagens de dor e tragédias, como sabemos, acabaram tornando-se banal ao nosso olhar, à nossa atenção, uma vez que passou a ser um recurso amplamente utilizado no campo midiático para, justamente, “fisgar” o consumidor que, no caso, é o próprio espectador. No entanto, eu ainda suspeitava ter se tratado de uma experiência estética em curso antes mesmo de pensar no estado de comoção que as imagens geraram em mim. Onde estaria essa experiência estética então?
Como esse método de análise se propõe a trazer um relato pessoal, creio ser importante contextualizar que eu havia terminado de ler dois livros que abordam, entre outras questões, os “quadros de guerra” e a “aliança de corpos”, como já indica o próprio título das respectivas obras: “Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?” (Butler, 2015) e “Corpos em Aliança e a Política das Ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia” (Butler, 2019). Foi com essas ideias em movimento que as imagens, as quais eu escolhi refletir sobre o caráter estético, me encontraram. A minha primeira reação diante da possibilidade de ver uma imagem de sofrimento explícito é costumeiramente de repulsa: não aciono nada que possa abrir, atualizar ou desvelar tais imagens para mim. As imagens que eu escolhi aqui me “sequestraram” de formas diferentes. Porém, antes de dar continuidade ao texto, segue uma descrição de tais imagens, de forma resumida para os leitores.
A primeira imagem que será descrita é a da criança palestina que foi encontrada nos escombros, provavelmente de um hospital que havia sido bombardeado, ou, de acordo com outras publicações, resgatada de sua própria casa, que teria sido bombardeada (Vídeo […], 2023; Criança […], 2023). Na cena que surgiu na timeline da rede social que eu acessava, o Instagram, aparecia o vídeo que normalmente não seria assistido por mim. No entanto, a imagem do primeiro frame não evocava a dor do outro distante de mim, do outro que é uma criança, do outro que é o palestino; o que o primeiro frame evocava em mim vinha dos olhos da criança retratada e era uma mistura do familiar e do estranho [4], do perto e do distante. Os olhos da criança evocaram em mim a presença de algo que eu reconhecia e desconhecia, era um olhar que trazia a força do sublime, a natureza de um olho/universo/abismo e seu olhar inexprimível, cheio de sentimentos e de sentidos que escapam à conceituação. Nesse olhar, eu não poderia reconhecer nada além de uma experiência estética. O que eu gostaria de relatar sobre essa experiência é que mais uma vez eu me deparo, em uma observação empírica, com momentos nos quais eu a reconheço, no ambiente das redes sociais, como uma “quase-não-experiência”. A suposição que faço é que a experiência estética, em situações como essa, funciona como uma espécie de interface, uma mediadora de uma (re)ação que pode ser desde física, como clicar para assistir ao vídeo inteiro, comentar etc., até uma reação emocional que nos conduza a uma comoção mesmo.
Já no segundo vídeo, a experiência estética me veio de uma forma completamente diferente. Antes mesmo de acessá-lo, eu fui seduzida previamente pela história contada sobre ele que ouvi do meu marido. Já com uma predisposição interpretativa vinda dessa narrativa, assim que o vídeo apareceu na minha timeline, eu prontamente quis abrir e assistir. Ao assistir o vídeo, as imagens, a fala e a performance das pessoas naquela cena foram arrebatadoras. Novamente a sensação do estranho e do familiar irrompe em uma “pequena crise” no “mundo cotidiano” e eu me senti ali, senti a aflição, senti o desespero, um desespero que eu reconhecia, mas que não era meu. Nesse momento, novamente a experiência fez seu papel de mediadora, não de forma tão sutil, como no primeiro vídeo. Desse modo, fui em busca de mais informações, de mais leitura sobre a situação do conflito Israel-Palestina. Algo que eu nunca havia feito antes, um conflito que eu supunha tão distante e difícil de entender e que, depois desse segundo vídeo, passou a ser um dos meus interesses prioritários do dia, entrando na minha rotina e invadindo a minha agenda de afazeres.
Nos dias subsequentes, começaram a aparecer na minha timeline muitas postagens pró-palestina e pedindo um cessar-fogo. Ainda que a tecnologia distributiva e que a leitura algorítmica tenham, a partir de um único clique, me colocado entre os consumidores de conteúdos afinados com os que eu havia recentemente acessado, o que chama a atenção, agora pensando em uma investigação menos subjetiva e considerando as informações que chegam de tais manifestações, é justamente pensar que algo de diferente em relação a uma abordagem ética parece estar em vigência nas produções de respostas aos quadros de guerra que nos chegam da região de Gaza. Essa diferença dá suas pistas nas manifestações que agora acontecem em diversos países ao redor do mundo e que carregam a mensagem de cessar-fogo em favor das vítimas da Faixa de Gaza. Para Butler, o vínculo que permite esse tipo de requisição ética não parece estar relacionado exclusivamente à proximidade:
[…] parece que alguma coisa diferente está acontecendo quando uma parte do globo, moralmente ultrajada, se insurge contra as ações e os eventos que acontecem em outra parte do globo, uma forma de indignação moral que não depende do compartilhamento de uma língua, ou de uma vida em comum baseada na proximidade física. (2019, p. 112)
Nossa proposta é pensar se no caso do “quadro de guerra” (Butler, 2015) que delimita o conflito Israel-Palestina, podemos falar que a estética da imagem do sofrimento explícito das vítimas civis palestinas, que em outros momentos pode ter contribuído para a banalização da dor do outro, dessa vez rompeu com um enquadramento normativo ou hegemônico dado, propiciando, assim, uma comoção social que se opôs à narrativa moral e política predominante nas mídias tradicionais e eletrônicas, por exemplo.
A convocação de uma ética global e as manifestações em favor das vítimas palestinas
Segundo Butler (2015), em suas duas obras, Sobre Fotografia (2004) e Diante da Dor dos Outros (2003), Susan Sontag mostra uma incredulidade em relação ao poder, da imagem da dor, de comover. Butler diz que para Sontag “o choque havia se tornado uma espécie de clichê, e a fotografia contemporânea tendia a estetizar o sofrimento com o objetivo de satisfazer uma demanda consumidora, função que a tornou desfavorável à capacidade de reação ética e também à interpretação política” (Butler, 2015, p. 106). No entanto, no mesmo capítulo do livro Quadro de guerras, Butler explica que:
Não precisamos de uma legenda ou de uma narrativa para compreendermos que um contexto político está sendo explicitamente formulado e renovado através do e pelo enquadramento, que o enquadramento funciona não apenas como uma fronteira para a imagem, mas também estrutura a imagem em si. Se a imagem, por sua vez, estrutura a maneira pela qual registramos a realidade, então ela está associada à cena interpretativa na qual operamos. A questão da fotografia de guerra, portanto, não concerne apenas ao que ela mostra, mas também como mostra o que mostra. O “como” não apenas organiza a imagem, mas também atua no sentido de organizar nossa percepção e nosso pensamento. (2015, p. 109)
Nossa suposição é que essa estética, característica da midiatização, de explorar imagens do sofrimento explícito, como Butler explica, recorrendo ao pensamento de Sontag, que tende “a estetizar o sofrimento com o objetivo de satisfazer uma demanda consumidora” (2015, p. 106), também é a mesma que “atua no sentido de organizar a nossa percepção e o nosso pensamento” (2015, p. 109). Portanto, admitimos que uma determinada via estética nas redes sociais, que propomos chamar de “estetizante”, pode esgotar uma sensibilidade para “a dor do outro”, para uma visão crítica ou para uma disposição política (priorizando a distribuição de “enquadramentos” que seguem o regime de uma ordem do consumo), por exemplo. A contrapelo, essa mesma via, na priorização daquilo que seduz e captura a atenção do consumidor, acaba possibilitando o surgimento de “quadros” (Butler), ou “cenas” (Rancière), divergentes dos “policiais”, possibilitando, assim, a emergência de uma reivindicação ética, que possa atravessar as questões culturais locais para uma ética global, inclusive com desdobramentos políticos. Segundo Butler:
Dessa maneira, podemos dizer que não apenas recebemos informações da mídia com base nas quais nós como indivíduos decidimos então fazer ou não fazer alguma coisa. Não apenas consumimos, nem ficamos apenas paralisados pelo excesso de imagens. Algumas vezes, não sempre, as imagens que nos são impostas operam como uma solicitação ética. […] Para deixar as coisas claras, quero sugerir, como ponto de partida, que imagens e descrições do sofrimento na guerra são uma forma particular de solicitação ética, que nos leva a negociar questões de proximidade e distância. (2019, p. 112 e 113)
Apesar de nos interessar a questão da estética nas redes como um todo, a nossa proposta neste artigo é pensar na relação entre a estética e a ética em um caso particular nas redes sociais: as imagens de sofrimento explícito de civis palestinos da Faixa de Gaza, que nos parece ter tido uma relação importante com o levante de manifestações espalhadas em diversos países além dos árabes, inclusive de Estados aliados à Israel, a favor da Palestina e pedindo um cessar-fogo imediato. Isso porque acreditamos que o fato de que imagens de vítimas (mães e bebês) terem sido resgatadas em manifestações de rua (Imagem 1) a favor das vidas palestinas, pode se configurar como um indício de que essa relação estética/ética realmente é uma interpretação cabível do fenômeno.
Imagem 1 – Print do Instagram de foto de uma manifestante na 5ª manifestação em defesa da Palestina e pelo cessar fogo em Gaza, na Av. Paulista, dia 12/11/2023.
Fonte: Obaidd (2023).
Para Butler, há um “enquadramento” que é formado por uma capacidade já estabelecida de ler o mundo, mas que também vai estabelecer o mundo como o concebemos. Ela defende que uma reação, uma comoção, vai se dar de acordo com esse enquadramento e os afetos que foram despertados primariamente em nossa comoção adquirem uma interpretação de acordo com os enquadramentos que dispomos.
Desse modo, um determinado ato interpretativo em alguns momentos assume implicitamente o controle da reação afetiva primária. A interpretação não surge como um ato espontâneo de uma mente isolada, mas como uma consequência de certo campo de inteligibilidade que ajuda a formar e a enquadrar nossa reação ao mundo invasivo (um mundo do qual dependemos, mas que também nos invade, exigindo uma reação de formas complexas e, às vezes, ambivalentes). (Butler, 2015, p. 57)
O que gostaríamos de trazer a um debate é a consideração de que o despertar desses afetos está relacionado com alguma experiência estética animando a sensibilidade que também estaria presente nesse “campo”, que “forma e enquadra” nossa resposta ao que nos interpela. Sendo assim, podemos pensar que uma resposta ética, que divergiu do controle da comoção de uma dada ordem policial, deve ter sido convocada por uma sensibilidade também movimentada por uma outra proposta de enquadramento, que escapou a esse controle. Voltando às imagens descritas anteriormente, a experiência estética que foi vivenciada por mim, antes mesmo de uma convocação ética, já tinha disparado uma espécie de movimentação entre o familiar e o estranho, entre o próximo e o distante. Nessa linha de raciocínio, supomos que uma predisposição para uma “reversibilidade da proximidade e da distância” como formadores do próprio vínculo de caráter ético global, já se encontra também na experiência estética e como propõe Butler:
De acordo com a minha tese, as exigências éticas que surgem por meio dos circuitos globais nos tempos atuais dependem dessa reversibilidade limitada, mas necessária, da proximidade e da distância. Na verdade, quero sugerir que alguns vínculos são, na realidade, forjados por essa própria reversibilidade e pelo impasse por meio do qual ela se constitui. (2019, p. 115-116)
No caso da situação dos povos palestinos, o que podemos assistir é um despertar para uma convocação ética, de caráter global, que pode ter sido modificada e que também muda, de forma inédita, um enquadramento perpetrado pelos Estados que se beneficiam, no contexto da guerra, de uma desconsideração sistemática das vidas palestinas.
Hoje o Estado atua no campo da percepção e, de forma mais geral, no campo da representabilidade, a fim de controlar a comoção, antecipando não apenas a maneira pela qual a comoção é estruturada pela interpretação, mas também como ela estrutura a interpretação. O que está em jogo é a regulação das imagens que poderiam galvanizar a oposição política a uma guerra. (2015, p. 112)
Portanto, a comoção pelas vítimas de guerra, por exemplo, dependeria de um enquadramento que, segundo Butler: “Esse enquadramento interpretativo funciona diferenciando tacitamente populações das quais minha vida e minha existência dependem e populações que representam uma ameaça direta à minha vida e à minha existência.” (2015, p. 69). O que podemos inferir dessa colocação é que existiu algum enquadramento interpretativo, na situação do conflito Israel-Palestina, pelo menos da parte dos manifestantes nas ruas que pediam um cessar-fogo, divergente do que visa “controlar a comoção” em favor da guerra e, principalmente, “enquadrando” as vítimas palestinas como “terroristas”, ou vidas que podem ser perdidas por uma “causa maior”, por exemplo. E, como Butler supõe que é justamente a própria dinâmica de proximidade e distância que atua na formação de uma ética que rompe fronteiras nacionais e culturais, nós acreditamos que há, na experiência estética com as imagens em questão, esse mesmo tipo de movimento, na formação de um “enquadramento interpretativo” das imagens do sofrimento explícito, no caso específico das vítimas palestinas.
Considerações Finais
A experiência estética relatada aqui em primeira pessoa foi um método aplicado para que pudéssemos dispor de uma fabulação que explicasse uma possível relação entre a estética e a convocação ética nas imagens do sofrimento explícito, trazidas pelas redes sociais de vítimas da guerra na Faixa de Gaza. Ainda que admitamos, como Sontag, que “somos vulneráveis a fatos perturbadores em forma de imagens fotográficas de um modo que não ocorre diante da realidade” (2004, p. 185) e que “a sensação de estar isento de calamidades estimula o interesse em olhar fotos dolorosas, e olhar para elas sugere e reforça o sentimento de estar a salvo” (2004, p. 184), também acreditamos que imagens perturbadoras, da dor do outro, a depender da sua capacidade de dar-se à experiência estética, são capazes de sugerir que o sentimento da nossa dor é coletivo, que a relação de interdependência dos seres é estruturante, tal qual Butler disserta nos dois livros citados aqui.
Nossa suposição é que quando o olhar do menino aterrorizado, do vídeo citado anteriormente, nos fita, não é apenas uma dor que não é nossa que nos impele a clicar no frame para assistir a mensagem completa, é uma dor que reconhecemos, que nos é familiar e estranha, que nos afeta. Talvez, na experiência estética, o “estranho” nos dê a distância suficiente para querermos “chegar mais perto”, assim como na experiência de comoção e na resposta ética é o afastamento da situação, a de estar sob ameaça iminente de morte, que possibilita que mulheres performem nas ruas o sofrimento das mães palestinas para protestar contra o curso da guerra.
Notas
[1] O Hamas é um grupo extremista de militantes palestinos militarizados que foi responsável pelo ataque à Isarel no dia 7 de outubro de 2023. “O grupo, tal como a maioria das facções e partidos políticos palestinos, insiste que Israel é uma potência colonizadora e que seu objetivo é libertar os territórios palestinos das garras de Israel”. (Ebrahim, 2023).
[2] O “método da cena” de Rancière aqui citado, tem como referência seminários e textos de Ângela Maques, ministrados no PPGCOM da ESPM-SP, no ano de 2023, em especial o ensaio “O método da cena em Jacques Rancière: dissenso, desierarquização e desarranjo”, que se encontra nas referências deste artigo.
[3] A autora cita Rancière (2020, p. 840). “La pensée des bords (entretien avec Fabienne Brugère)”. Critique, n. 881 (2020), p. 828-840.
[4] A ideia de um estranho familiar pode nos remeter ao conceito freudiano “das unheimliche” (1919), também traduzido como “o infamiliar”, que aborda essa sensação de uma familiaridade que é estranha quando dizemos, por exemplo, que temos a impressão de conhecer um completo desconhecido. No entanto, a intenção, no texto deste artigo, não foi a de resgatar tal conceito, que traria nuances mais complexas para a colocação, inclusive. A descrição, por esta autora, de uma impressão “estranha” e “familiar”, ao mesmo tempo, pretende se ater ao seu aspecto de uma experiência particular, de fato, da mera descrição de percepções próprias.
Artigo submetido em 07/03/2024 e aceito em 05/08/2024.
Referências
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