Waisbord e a Comunicação:
impasses epistemológicos e geopolíticos de uma pós-disciplina1
Fabrício Lopes da Silveira2
Resumo
Dedicado à leitura do livro Communication: A post-discipline (2019), do argentino Silvio Waisbord, o artigo sistematiza alguns impasses epistemológicos e geopolíticos da área da Comunicação. A intenção é cotejar as avaliações e o mapeamento de vertentes e problemas teóricos produzidos por Waisbord a certas percepções ou juízos metacientíficos feitos por pesquisadores brasileiros, ao longo dos últimos vinte anos, mais ou menos, a respeito da própria área em que atuam, reconhecendo aquilo que a povoa, suas limitações, sua diversidade incontornável e seus fundamentos disciplinares ou – como aqui se debate, com maior centralidade – “pós-disciplinares”. Publicações recentes de Sodré (2014) e Rüdiger (2022) – dentre outras, às quais se aponta de modo apenas ilustrativo – são tomadas como ponto de inflexão e paralelismos analíticos. Diante de dilemas recorrentes – isso é o que se conclui –, mais do que um ajuste terminológico-conceitual, faz-se necessário investir na produção de mapeamentos críticos transversais, multilocalizados, onde questões de ciência e questões geopolíticas se combinem e se fertilizem. Tal estratégia pode redundar, conforme sustentamos, numa renovação e/ou numa outra forma de abertura de um debate já bastante consolidado entre pesquisadores brasileiros.
Palavras-chave
Epistemologia da Comunicação; Teorias da Comunicação; Pós-disciplinaridade; Campo da Comunicação; Pesquisa em Comunicação.
1 Trabalho apresentado no GP Teorias da Comunicação, evento do 46º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 4 a 8 de setembro de 2023, na PUC Minas, em Belo Horizonte/MG. Uma versão anterior apareceu, realizada apenas oralmente, como parte do Painel 1 – Pesquisa em Comunicação: problemas teóricos contemporâneos no campo, dentro do evento Conexão Pós, organizado pelos discentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da USP, realizado entre 28 e 30 de março de 2023.
2 Jornalista. Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação. Pós-Doutor pela School of Arts and Media (Salford University, UK). Pós-Doutor pelo PPGCom da UFRGS. Professor visitante no PPGCom da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
E-mail: fabriciosilveira@terra.com.br.
Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 17, n. 3, p. 7-20, set./dez. 2023 DOI: 10.34019/1981-4070.2023.v17.42605
Waisbord and the Communication:
epistemology and geopolitics of a post-discipline
Fabrício Lopes da Silveira2
Abstract
Dedicated to analyzing the book Communication: A post-discipline (2019), by the Argentinean Silvio Waisbord, the article systematizes some epistemological and geopolitical deadlocks in the field of Communication. Its intention is to compare the evaluations and mapping of theoretical aspects and problems produced by Waisbord with certain meta-scientific perceptions or judgments made by Brazilian researchers, over about the last twenty years regarding the area in which they work, recognizing what fills it, its limitations, its unavoidable diversity and its disciplinary or – as discussed here, more centrally – “post-disciplinary” foundations. Recent publications by Sodré (2014) and Rüdiger (2022) – among others, which are only illustrative – are taken as an inflection point and a reference to analytical parallels. Faced with recurring dilemmas – this is what we conclude –, more than a terminological-conceptual adjustment, it is necessary to invest in the production of transversal, multi-located critical mappings, where science and geopolitical issues combine and fertilize each other. Such a strategy could result, as we argue, in renewing and/or in another way of opening a debate that is already quite solid among Brazilian researchers.
Keywords
Epistemology of Communication; Theories of Communication; Postdisciplinarity; Field of Communication; Communication research.
2 Jornalista. Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação. Pós-Doutor pela School of Arts and Media (Salford University, UK). Pós-Doutor pelo PPGCom da UFRGS. Professor visitante no PPGCom da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: fabriciosilveira@terra.com.br.
Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 17, n. 3, p. 7-20, set./dez. 2023 DOI: 10.34019/1981-4070.2023.v17.42605
Introdução
Num nível superficial, como a intenção mais visível deste trabalho, pretendemos elaborar uma resenha crítica do livro Communication: A post- discipline, lançado em 2019 pelo pesquisador argentino Silvio Waisbord.
Fora da superfície, num plano secundário, com o qual nos engajaremos mais amplamente, trata-se de cotejar alguns juízos ou diagnósticos formulados pelo professor argentino, quando examina as particularidades epistêmicas fundamentais do campo da Comunicação, com bolsões de problemas e impasses recorrentes observados no debate brasileiro, transcorrido, entre nós, em diversos fóruns – o GP Teorias da Comunicação, dentro da Intercom, e o GT de Epistemologias da Comunicação, dentro da COMPÓS, são apenas alguns dos exemplos – e publicações, há aproximadamente duas décadas [1].
É possível imaginar que nossa abordagem será um tanto quanto comparativa e/ou contrastativa. Mas não é exatamente o que gostaríamos de fazer. Mais do que isso – mais do que mera resenha, é bom que fique bastante claro –, nossa intenção é propor uma reflexão abrangente sobre a natureza de nossa disciplina, elencando algumas de suas caracterizações e debilidades mais comuns, tão somente entrando por uma bibliografia pontual, de quatro anos atrás – Waisbord (2019), no caso –, mas almejando ir além dela, visando sua abertura e/ou sua(s) problematização(ões) teórica(s), sua atualização e o exame de suas insuficiências, bem como dos ganhos eventuais que conseguimos localizar na abordagem do autor citado. Embora lhe dê centralidade, a discussão que nos interessa excede o livro que adotamos como objeto local de estudo. Tal obra é o ponto circunstancial de onde partimos.
Primeiras aproximações
De certa forma, o livro de Waisbord foi bastante celebrado, contando com uma recepção francamente favorável. Seria indicado, portanto, no exercício dialético que aqui realizamos, tentar apreendê-lo em chave crítica, colocá-lo em xeque ou testar essa boa reputação. Para as professoras Elizabeth Saad e Daniela Ramos, ambas do PPGCom da USP, que entrevistaram o autor para a revista Matrizes, na edição n. 15, de janeiro/abril de 2021, Waisbord teria formulado “uma visão crítica e lúcida sobre o cenário recente dos estudos em ciências da comunicação e suas perspectivas futuras” (SAAD; RAMOS, 2021, p. 126). Scolari (2019), um conhecido pesquisador rosarino radicado na Espanha, numa resenha que escreveu em seu blog pessoal, referiu-se ao livro de Waisbord como um “excelente mapa do estado da arte do campo comunicacional, com todas as suas tensões, fragmentações e – por que não (?) – suas frustrações” (SCOLARI, 2019, n.p). É o alcance dessa contribuição tão saudada que colocamos, a título de provocação, sob suspeita.
O livro de Waisbord – um sociólogo licenciado na Universidade de Buenos Aires, radicado há décadas nos EUA –, além disso, ecoa palpitações locais contemporâneas, que poderiam ser usadas, de igual modo, para situá-lo num jogo de correlações, cotejamentos e, como dissemos, com certa imprecisão, contrastes. Referimos-nos aqui à publicação de Epistemologia da Comunicação no Brasil: Ensaios críticos sobre teoria da ciência, livro do professor Francisco Rüdiger, lançado em novembro de 2022, pela editora MilFontes.
Rüdiger (2022) faz uma ampla revisão crítica do estado da arte da epistemologia da Comunicação produzida no Brasil. O autor elege cinco de seus pares mais proeminentes e lhes dedica capítulos específicos: Luiz Cláudio Martino (UnB), José Luiz Braga (Unisinos/RS), Ciro Marcondes Filho (USP), Muniz Sodré (UFRJ) e André Lemos (UFBA). Além disso, há um capítulo dirigido a um grupo mais numeroso, integrado por professores de várias universidades, concentrando esforços em torno de uma teoria geral da midiatização.
Nesse contexto, Rüdiger (2022) constata: 1) uma discussão epistemológica afastada das práticas de pesquisa, como se pudesse ocorrer em abstrato, autonomamente, prescindindo dos fazeres aplicados do cientista social; 2) um cacoete normativo, isto é, uma disposição para legislar sobre as experiências de investigação, permitindo-lhes ser ou não ser alguma coisa, estipulando-se o que elas devem ou não devem ser (o que quer que isto seja); 3) um conjunto de novas metafísicas se insinuando, na medida em que os autores tentam cercar a área, apontando seus procedimentos metodológicos mais frequentes e os objetos empíricos que, a título de hipótese, dela depreendem; e 4) um conjunto de novas escolásticas, o desejo velado de “fazer escola”, enquanto séquito de seguidores.
A severidade de Rüdiger (2022), no entanto, é pouco propositiva. Resguardado num linguajar e num repertório filosóficos, deixa-nos, antes, condenações e desconstruções a granel, muitas vezes bem pouco polidas e pouco compreensivas. Soma-se a isso um certo desencantamento alarmista com o espírito do tempo (com uma nova ciência em gestação, os valores em convulsão, a sociedade hipermidiatizada). É o que o faz optar pelo niilismo e pelo negativismo brutalista (confundidos, às vezes, com verdadeira análise dialética), em detrimento do exame parcimonioso e ponderado, devotado a produzir iluminações, acautelamentos e orientações úteis para trafegarmos num cenário desafiador e muito complexo. O que marca o livro de Francisco Rüdiger é sua espetacularidade apocalíptica.
Noutro ângulo de aproximação possível, vale lembrar, a própria ideia de nossa disciplina como uma “pós-disciplina”, como consta no título da obra do argentino Waisbord, já havia sido formulada, como síntese de nossos fazeres, no livro do professor Muniz Sodré, A Ciência do Comum – Notas para o método comunicacional, de 2014.
Ao modo de uma antropologia filosófica construída em torno da técnica, a empreitada de Sodré (2014) instalou parâmetros consistentes, estabeleceu-se como uma referência segura e respeitada: trata-se de uma das mais bem-sucedidas tentativas de apreensão epistêmica do fenômeno midiático-comunicacional, em sua generalidade, escrita por um autor brasileiro. Para ele, em síntese, uma ciência da comunicação daria conta da razão sensível do comum tal como se vê performatizada nas mídias, sob a égide do mercado e das tecnologias disponíveis. Nessa perspectiva, tecnointeração (ou interação tecnomediada), comum, bios midiático (ou bios virtual) se tornam operadores teóricos dentro de uma rede conceitual bastante coesa, cujo propósito é plasmar um modelo de pensamento “redescritivo”, assim se diz, dotado de certa vocação ou certa transcendência “pós-científica” (estetizante, comunal ou ritualística – há oscilações entre esses registros).
“Pós-disciplina”, a expressão em si, aparece poucas vezes – cinco, para sermos mais precisos –, sem receber, em nenhuma delas, arrazoados explicativos mais aprofundados, mais extensos, focados e pacientes. Numa dessas ocasiões, os “imperativos de comutabilidade dos saberes nos grupos de pesquisa” (SODRÉ, 2014, p. 119) são lembrados. Mas, em realidade, não há muita contundência argumentativa em torno do tópico. Ou seja: Sodré explora o conceito, antes de tudo, performativamente. Mais do que explicá-lo, o autor parece querer incorporá-lo, deixar que se presentifique diante do leitor.
Conforme Rüdiger (2022), o fato de que Sodré (2014) tenha logrado formular uma “estrutura explicativa” ou um “sistema de inteligibilidades” não nos autoriza a entender que tenha alçado a Comunicação a um patamar científico, em termos mais convencionais. Precisamos ter cuidado, além disso, ao distinguir entre uma ciência da Comunicação e uma ciência comunicacional. Um terceiro aspecto discutível é que a razão científica advogada por Sodré (2014), em certos momentos, quer ser (ou se deixa entender como) “pseudo-científica” (de cunho filosófico, mais afim à literatura, aos tradicionais saberes populares) e, noutras vezes, quer ser (ou se deixa entender como) “pós-científica” (ou “pós-disciplinar”).
Apagamentos e platitudes
Como vemos, o livro de Waisbord – e é bom voltarmos a ele, não perdê-lo de vista em momento nenhum – se insere com alguma naturalidade num debate em curso no âmbito das Teorias da Comunicação no Brasil. Parece mesmo reeditar ou dar novo fôlego a uma discussão que tem se arrastado, entre nós, há bastante tempo [2]. Por tudo isso, nos parece apropriado lê-lo e utilizá-lo aqui como um tipo de estopim, um evento deflagrador e, ao mesmo tempo, um espelho imperfeito de nossas discussões locais. A que distância Silvio Waisbord se encontra de nós? Como ele enxerga o campo? O que ele vê se coaduna àquilo que percebemos sobre nós mesmos, em nossas vivências cotidianas de cientistas da Comunicação num país pouco escolarizado, agora em vias de “desbolsonarização”? Que lugar nos cabe no diagnóstico geral oferecido? Identificamos-nos com essa ciência “pós-disciplinar” que Waisbord descreve, tão esperançoso, com tanto afinco? Em que aspectos?
Um assunto a considerar, desde o princípio, é a concordância do autor argentino com certo senso comum acadêmico vigente entre nós. Em linhas gerais, compactuamos com o entendimento de que a Comunicação é definida, acima de tudo, administrativamente. São gestos de organização logística que instituem nossa área. Essa institucionalização não decorre de consensos nem epistêmicos, nem teóricos, nem ontológicos. O que garante legitimidade científica àquilo que fazemos é uma pertinência burocrática, não uma validade intrínseca (associada) à natureza, à qualidade, à especificidade e à relevância dos saberes que produzimos.
Decorre disso outra platitude conhecida e compartilhada (entre nós e ele): de que nossa área seria uma coleção desorganizada e variável de teorias, de que não há suficiente coerência intelectual interna, não há esforços de compartilhamento, nem exercícios continuados de estabelecimento de “pontes” e territórios comuns, capazes de irrigar e instruir nossas diversas subdisciplinas, capazes de fornecer marcos teórico-temático-conceituais minimamente aceitos como balizadores de nossa disciplinaridade científica como um todo. Essa é uma avaliação largamente conhecida no Brasil. Waisbord a referenda expondo dados de sua experiência particular como editor de renomadas revistas científicas nos EUA. E o que mais podemos encontrar, além disso? Não nos caberia refinar esse diagnóstico, tensionando-o, localizando zonas locais de particularização e variação epistêmicas? O que acontece quando nos espelhamos na pós-disciplinaridade aludida por ele? O que aí se revela? E o que aí se faz encobrir?
Digno de nota, ainda – para avançarmos em nossa síntese problematizadora –, é que Waisbord nos provoque à compreensão de que uma epistemologia da comunicação mais confiável não se permitirá afastar de uma compreensão geopolítica da área, que dê atenção às tradições locais, às circunstâncias e vertentes nacionais e continentais, tal como se encarnaram em distintos rincões, uma compreensão que esteja apta a considerar as forças em disputa, local, regional e globalmente. Compor essa camada externa do debate epistêmico – isto é: conectar o debate geopolítico à epistemologia estrita da comunicação – é mapear os fluxos de influência cultural, as “teorias fora de lugar”, as teorias diaspóricas, em trânsito, problemas de paroquialismo, provincianismo, aversão ao estrangeiro, imperialismo e dominação culturais, trocas e preponderâncias linguísticas, dentre outros.
São apenas alguns dos temas que – a partir de um eixo claro, a partir de uma referência bibliográfica bem definida, utilizada como um “equipamento de propulsão”, como fazemos – importaria discutir mais a fundo [3]. O que pode causar espanto, de saída – e essa sensação se mantém ao longo de toda a leitura –, é o duplo apagamento situacional a partir do qual o autor nos fala. Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, Waisbord passa ao largo da institucionalização do campo em seu país de origem. Não há menções à maturação da área na Argentina, bem como não há um olhar mais sensível à América Latina ou à importância que autores como Eliseo Verón, Jesús Martín-Barbero e Aníbal Ford, sem mencionar o antropólogo Néstor Garcia Canclini, adquiriram, entre nós, como pioneiros ou disseminadores de certas perspectivas que ajudaram, aqui, a consolidar o campo. A ausência da própria latino-americanidade surge, em nossa leitura, como um tipo de apagamento situacional.
Outro tipo de apagamento – e por isso nos referimos a um duplo apagamento situacional – diz respeito à condição de editor de periódicos acadêmicos. Esse é o lugar desde o qual Waisbord nos interpela. Tendo atuado por mais de uma década como editor-chefe do Journal of Communication, publicado pela International Communication Association (ICA), e do International Journal of Press/Politics, editado pela Sage Publications, Silvio Waisbord se dirige a nós, antes de tudo, como um tipo de gatekeeper, posicionado numa instância de recomendação ou de chancela da “boa ciência”, oficial e institucionalizada, e menos como um pesquisador em ato, imerso em seus processos investigativos, seus dilemas de campo, no confronto corporal com os problemas e os objetos empíricos que estuda.
É uma importante distinção a considerar. E, sendo assim, a Comunicação, entendida como pós-disciplina, resulta muito formalizada, muito instituída e muito disciplinarizada, apenas mais um (ou tão somente um outro) tipo de conhecimento em circulação nos melhores e mais legítimos circuitos das academias científicas do Norte Global. Pode-se perguntar se essas instâncias de regulação, controle, filtro e avaliação entre pares não inibem qualquer caracterização que escape à disciplinaridade mais estrita e convencional. A pós-disciplinaridade à qual se aponta, portanto – e ficamos, de fato, com este ajuizamento –, talvez seja a pós-disciplinaridade que a disciplinaridade hard core permite existir: a pós-disciplinaridade (contida) à sombra da disciplinaridade.
Faremos agora um aparte provocativo. É aceitável supor que uma pós- disciplinaridade mais nítida – mais empolgante e mais digna do nome – tenderia a ocorrer em espaços menos nobres, menos regulamentados. Mais mestiza e mais impura, menos controlada, uma pós-disciplinaridade mais efetiva, mais hábil em diferenciar-se, tenderia a ocorrer em maior proximidade com a militância política contra-hegemônica ou junto a zonas de experimentação artística mais efervescentes. Essa é uma suposição. Uma provocação, devemos reforçar. É um ponto para o debate. Até mesmo porque, de fato, é difícil localizar tais espaços (de ação estético-política) e saber atravessá-los sem perder o norte dado pela incumbência de forjar uma outra ciência, tenha o nome que tiver, seja com que prefixo for. Do mesmo modo, é um tanto quijotesco e ingrato legitimar-se e adquirir voz – ser aceito como um ator legítimo, num campo minado de vaidades e interesses – recusando-se a pactuar com os periódicos mainstream. O próprio Waisbord reconhece, em algum momento, essas dimensões do problema.
Um efeito secundário do duplo apagamento situacional de Waisbord é a produção de uma imagem muito americanizada da ciência da Comunicação, expressando-se na ênfase dada à psicologia comportamental como matriz fundante da área e ao jornalismo (em especial, ao jornalismo político) como carro-chefe de todo um campo muito diverso de estudos.
A formação de Waisbord como argentino radicado nos Estados Unidos – investido de uma perspectiva anglocentrada e norte-americanizada – expressa muito bem o impasse. Não deixa de ser paradoxal notar, afinal de contas, que o próprio autor alimenta, em algumas linhas, a necessidade política de “des-ocidentalização” dos saberes em geral, incluída aí uma vindoura ciência da Comunicação.
Arquipélago: hiperfragmentação
Há, no entanto, outras particularidades a serem registradas na posição assumida por Waisbord (2019). Quais são elas? 1) a área se assemelharia, para ele, a um arquipélago, um conjunto de ilhotas mais ou menos próximas, cada uma delas correspondendo a uma subespecialização, com topografias e contornos particulares, com uma certa população “autóctone” e uma “cultura epistêmica” muito singularizadas; 2) essencialmente fragmentária e dispersa, a área estaria siderada num processo de acentuada fragmentação, com as subdisciplinas tendendo também a se subdividirem em nichos ainda menores, mais idiossincráticos e autocentrados – a pós-disciplinaridade, como Waisbord a concebe, teria a ver com essa dinâmica de hiperfragmentação progressiva, exponencial e acelerada; mesmo as subáreas mais remotas e mais recentes estariam cindidas, ou em processos de cisão interna, todas elas vetorizadas pela chuva torrencial de informações da última hora (as novas descobertas científicas, as novas mídias digitais) e por tipos exóticos e surpreendentes de multidisciplinaridade; e 3) há razões históricas e institucionais para essa dinâmica de superfragmentação: os ofícios técnicos da formação profissional, uma globalização neoliberal assimétrica, assíncrona e heterogênea, um rol de avanços tecnológicos imparáveis, velozes e demandantes, do ponto de vista dos desafios e das exigências que impõem, a todo momento, aos investigadores, bem como as infindáveis divisões binárias com que a pesquisa comunicacional vem sendo praticada ao longo dos anos (por exemplo: pesquisa qualitativa x pesquisa quantitativa; pesquisa crítica x pesquisa administrativa; pesquisa microssociológica x pesquisa macrossociológica, dentre tantas e tantas outras) [4].
Waisbord (2019) enxerga a área como um conjunto de clusters e plataformas de estudo mais ou menos independentes. Embora reconheça o que chama de uma certa “cacofonia”, uma certa “desagregação constituinte”, não acredita que isso, por si só, seja incompatível com a aquisição da maturidade epistêmica. Quais as virtudes da unificação – ele pergunta –, dado que mesmo disciplinas fortes se vêem hoje dispersadas? A maturidade de uma área pode não coincidir, mecanicamente, com sua coesão doutrinária, com sua univocidade ou totalização epistemológica, ele se empenha em argumentar.
É uma situação delicada: estaria se passando na área da Comunicação algo que se passa, há muito, no campo das Artes. Assim como são os artistas e suas instituições que definem o que é arte, o que pode ser aceito ou não enquanto tal, são os pesquisadores da Comunicação – e suas instituições – que definem o que é Comunicação.
Cético no que toca à possibilidade de um grande arranjo organizativo, descrente quanto à hipótese de uma teorização geral unificadora – esperar uma teoria universal seria como esperar Godot, Waisbord complementa –, o autor não deixa, no entanto, de formular um plano de ações estratégicas. Um plano de minimização de riscos, para dizê-lo numa expressão pré-pronta.
Tais ações, embora não sirvam, sozinhas, para garantir um maior coeficiente de cientificidade, podem afetar nossa cultura epistêmica, podem auxiliar no trato cotidiano com a dispersão e podem induzir, no médio prazo, a uma tomada benéfica de consciência crítica. A primeira delas, talvez a mais ingênua, é a de formulação constante de propostas integrativas, a serem derivadas de toda e qualquer experiência de investigação, estejam no nível formativo em que estiverem, como um capítulo compulsório, a ser exigido em cada monografia, em cada tese ou cada dissertação. A segunda é a atenção detida à escolaridade – scholarship é a expressão inglesa que ele usa –, subentendendo-se aí, como nos pareceu, dentre outras coisas, a exposição antecipada do jovem estudante em formação aos ritos da ciência, à lógica do pensamento científico, com os debates éticos, pragmáticos e filosóficos que suscitam. A terceira é a correlação das preocupações acadêmicas às temáticas de maior engajamento público, apresentando-se a ciência como empresa verdadeiramente útil, conectada visceralmente à resolução de problemas sociais concretos e à melhoria efetiva da vida de todos e de cada um.
Tais movimentos, com certeza, não são exclusivistas nem excludentes. Tampouco são os únicos possíveis. Ao contrário, requerem outras ações concatenadas, todos os ajustes finos que se fizerem necessários, num contexto ou noutro de sua aplicação. Pode-se apostar, contudo, que eles viriam a auxiliar no enfrentamento da dispersão excessiva.
Essa dispersão, vale notar, deve ser creditada a quatro focos de problemas interrelacionados, em sobreposição e convergência: 1) o pluralismo ontológico; 2) o pluralismo teórico-epistêmico; 3) as questões institucionais enquanto força centrípeta (a racionalidade burocrática aí implicada); e 4) as questões institucionais enquanto força centrífuga (em razão da diversidade de postos de trabalho, emergentes no mundo da vida).
São múltiplas frentes de ataque. A dificuldade é enorme. Assim se delineia, na visão de Waisbord, nossa pós-disciplinaridade. Antes de caracterizá-la, porém, duas percepções curiosas, ilustrativas da baixa cultura epistêmica que, desde o ponto de vista das ciências consolidadas, nutrimos. O autor estranha, por um lado, a qualidade do debate público entre os pares, transcorrido nos fóruns de nossa área. Parecem-lhe debates frios, prejudicados pela ausência de lastro, interesses e parâmetros comuns. Não há polêmicas consistentes, ele alega. As altercações se esvaziam, esfriam-se. Muito embora, nos bastidores políticos, como é fácil supor, possam se tornar mais furiosas e aguerridas – tão furiosas e aguerridas quanto mais veladas são. É uma das consequências da hiperfragmentação: o desinteresse como forma de disputa, a descrença quanto à expectativa de servir ao colega, mostrar-se útil e enriquecedor para a subdisciplina ao lado, na vizinhança imediata.
Outra anotação reveladora diz respeito aos pareceres cegos emitidos nas revistas científicas que Waisbord pôde editar: o principal fator de recusa de um paper, a maior fragilidade de um artigo, segundo a comunidade de pareceristas que ele viu trabalhar de perto, seria a ausência de contribuição teórica relevante, a falta de densidade analítico-especulativa, o labor teórico claudicante, raquítico ou intimidado.
Pós-disciplinaridade
São esses alguns traços epistêmicos de nossa pós-disciplinaridade. Mas a que, de fato, essa categoria inusual acena? Um bom modo de compreendê-la, de início, é dissociá-la – sobretudo para fins didáticos – daqueles prefixos mais correntes, tais como pós-modernidade, interdisciplinariedade, multidisciplinaridade ou transdisciplinariedade. Esses são termos dotados de sentidos restritos, com historicidade própria, pertinentes em contextos mais delimitados, muito embora se associem e apareçam, muitas vezes, em correlação.
Em tempos pós-disciplinares, como Waisbord nos assegura, as disciplinas científicas já não são mais localizáveis. Tornaram-se fluidas, impossíveis de serem reconhecidas como práticas mais ou menos nucleadas. É indiferente recorrer a uma ou outra. Os saberes sempre se conectam, se puxam. Fundem-se num amálgama de conhecimentos entrelaçados. O que importa, além do mais, é o resultado alcançado, as respostas obtidas para dado problema. Os problemas, por sinal, são mais determinantes do que as disciplinas às quais se apela.
Pós-disciplinas configuram zonas de troca intelectual e ligam-se a questões sociais urgentes, que excedem as convenções temáticas, os métodos tradicionais e as fronteiras analíticas dadas por conglomerados disciplinares estanques. Ganham preferência, aqui, temáticas complexas e multidimensionais, que solicitam análises multiniveladas e aproximativas. O aquecimento global, por exemplo. O tráfico de drogas.
Sendo assim, uma certa indisciplina soa bem para o espírito da pós- disciplinaridade, que se demonstra hospitaleiro à artesania intelectual e ao convívio entre diversos especialistas dispostos a trabalhar para além de suas especialidades, adentrando os domínios uns dos outros. Ganham acolhida, nesse mesmo cenário, teorizações parciais, de médio alcance, sem pretensão alguma de generalidade e transcendência.
Marcada por sua dimensão policêntrica, a pós-disciplinaridade decorre de uma atitude emergente entre pesquisadores menos comprometidos com seus padrões de referência previamente assimilados do que com o enfrentamento local de problemas específicos, de forte pregnância social. A pós-disciplinaridade, como vemos, não necessitaria integração intelectual para prosperar.
Numa síntese – apesar das imprecisões e dos exageros que possamos ter cometido, apesar de nossos eventuais equívocos –, é assim que Waisbord nos caracteriza enquanto uma ciência pós-disciplinar.
Considerações Finais
Mais do que limpar o terreno, como nos pareceu, esse esforço, sendo louvável e oportuno, sem dúvida, não vai muito além de nos recolocar diante dos velhos mitos fundadores da epistemologia da Comunicação. E quais são esses mitos? A metáfora da encruzilhada, de Schramm (1965) – ao dizer, nos anos 1960, que somos o ponto de encontro de várias outras disciplinas clássicas, que aqui deságuam – e as inflamadas retóricas da pós-modernidade, da interdisciplinaridade e/ou da multidisciplinaridade, que legitimam (e, assim fazendo, reduzem) o saber comunicacional, a posteriori, como antecipação dos jogos de aproximação entre disciplinas desprendidas de sua fundação histórica no marco da Modernidade.
Além disso, antes de concluir, dois outros comentários não podem deixar de ser feitos. Primeiro: é um incômodo nos depararmos com uma ciência que se diz “pós-disciplinar” sem que sua disciplinaridade mais estrita, antes disso, em algum momento, tenha sido localizada, reconhecida consensualmente entre os agentes envolvidos no campo, e tenha assim se estabelecido, resistido ao teste histórico e promovido nucleação, avanços efetivos e ganhos sociais. É como se a busca pela disciplinaridade – a aposta na disciplinaridade, tal como bancavam tantos artigos acadêmicos escritos, entre nós, no início deste século (cf. FAUSTO NETO; PRADO; PORTO, 2001; LOPES, 2003) – estivesse agora substituída pela aceitação mais ou menos constrangida, um pouco cínica, da pós-disciplinaridade como natureza epistêmica enfim revelada (Eureka!) e do “pós-disciplinar” como categoria retórica de acomodação.
Estranha também, em segundo lugar, que saliente-se a pós- disciplinaridade como traço singularizante da comunicação enquanto ciência justamente num contexto histórico em que todas as demais disciplinas científicas “pós-disciplinarizaram-se” (com o perdão do neologismo!), isto é, perderam, por razões diversas, o perfil epistemológico que outrora já tiveram. Salta-se aqui, com intrigante facilidade – e essa é a razão de nosso reparo e de nosso estranhamento –, de um debate sobre epistemologia local, tratando-se de uma ciência muito particularizada e circunscrita, idiossincrática ao extremo, como é a Comunicação, a um debate – por certo, correlativo, muito embora distinto – sobre epistemologia geral, considerando-se as ciências em seus comércios, seus enganches e suas sobreposições – os múltiplos processos de fertilização cruzada que as colocam em movimento. São becos sem saída. Não há dúvida.
Mas Waisbord, isso é evidente, também tem seus méritos. Destacamos, agora sim, para finalizar, apenas outros dois. Um deles é a sistematização das conceitualizações metateóricas mais frequentes em nossa área – isto é, ter realizado uma taxonomia de seis variações conceituais muito visitadas: a) comunicação como conexão; b) comunicação como diálogo; c) como expressão; d) como informação; e) como persuasão; e f) comunicação como interação simbólica.
Outro mérito, um passo à frente, é a identificação da “virada digital” (da “digitalização de tudo”, das Humanidades e da vida em geral, como se diz) e da globalização (dividida, por sua vez, entre globalização intelectual e globalização institucional) como obstáculos a superar, caso queiramos uma disciplina científica centrada, desenhada nos moldes da razão moderna – ou algo próximo disso.
No entanto, ainda assim, Communication: A post-discipline nos dá a sensação de que seguimos andando em círculos, em ritmo de caranguejo, atolados numa discussão labiríntica, escorregadia e – sabe-se lá até quando, não é mesmo? – frustrante.
Uma das saídas viáveis, no entanto, é continuar perseverando. É insistir – na continuidade imediata de nossas investigações [5] – na realização de mapeamentos similares àqueles que apresentamos e discutimos aqui, colocando-os em relação. É fundamental que as dificuldades listadas neste texto sejam enfrentadas. Nossa expectativa, isso se confirmando, é a de que o acúmulo de debates epistemológicos afins, porém mais densos e multifacetados – nos quais os ângulos geopolíticos sejam considerados com destaque e a atualidade do campo seja pensada para além de circunscrições geográficas pré-determinadas – venham iluminar, mais e mais, nossas práticas científicas e nosso terreno de ações, com suas reentrâncias e seus dilemas típicos.
Notas
[1] Tomamos como referência duas coletâneas importantíssimas, dotadas hoje de valor histórico e peso fundacional (FAUSTO NETO; PRADO; PORTO, 2001; LOPES, 2003). Pode-se dizer que são registros “clássicos”, que demarcam um certo momento inaugural do debate epistemológico produzido no Brasil. Antes deles, o pensamento sobre a razoabilidade científica de uma suposta “ciência da Comunicação”, entre nós, obviamente, já existia. Já havia se insinuado. Colocava-se, entretanto, de modo muito mais errático, mais episódico e fragmentário, como exercícios e esforços intelectuais de pesquisadores isolados, movidos por suas inquietações pessoais. É a partir do início deste século, com as coletâneas acima referidas, que tais preocupações passam a configurar uma “nucleação”, ativam (e demandam) um coletivo de atores bem dispostos e coordenados, um programa prioritário de trabalhos, uma carta de compromissos com a necessidade de fazer amadurecer e ampliar o campo de estudos das mídias, na mesma medida em que são conquistados espaços institucionais através da implementação progressiva dos cursos de pós-graduação.
[2] Seria ótimo se pudéssemos realizar uma monografia teórica mais extensa, promovendo uma compreensão mais evidenciada do “quadro brasileiro”. Seria ótimo, não há dúvida, descrevê-lo mais pormenorizadamente. Dadas as usuais limitações de espaço, optamos por sugerir o cenário local através da indicação de duas coletâneas clássicas (FAUSTO NETO; PRADO; PORTO, 2001; LOPES, 2003), um livro autoral, relativamente recente, de perspectiva personalizada e largamente reconhecida entre os pares (SODRÉ, 2014) e, por fim, uma publicação mais atual, de pretensão cartográfica e abrangência avaliativa (RÜDIGER, 2022). A esses dois últimos trabalhos – nos limites exíguos deste texto – procuramos dar maior atenção, como se estivéssemos apostando, metodologicamente, na validade circunstancial de uma sinédoque. A representatividade temporal e qualitativa produzida por essas peças se soma à suposição de que o leitor interessado – bem como o autor deste texto –, em maior ou menor grau, pode se ver atuando (ou ter atuado, de fato) como testemunha dos problemas e dos debates epistêmicos aqui descritos e aludidos. Mesmo assim, há que se admitir: em estudos futuros, implementando outros exercícios assemelhados a este, será fundamental mostrar mais, restringindo a abertura para que autores, a despeito de sua importância eventual, venham a atuar como procuradores de certos interesses e certos problemas. É uma reflexão que nos parece necessária. É bom tê-la em mente.
[3] Poderíamos reabrir a discussão, ampliando seu escopo, através da incorporação do “caldo de cultura” em incubação no âmbito do GT Epistemologias da Comunicação da COMPÓS, por exemplo. O mesmo se aplicaria no caso de GP Teorias da Comunicação da Intercom. Como dissemos, são dois fóruns importantíssimos, de larga contribuição e largo histórico. Teríamos materiais, no mínimo, para dois outros escritos.
[4] Valendo-se, ao fim e ao início, da sociologia da ciência de Bourdieu, Lopes (2006), abordou os conflitos epistêmicos (ou determinações científicas) enquanto conflitos políticos (ou determinações sociais). Em acréscimo, enfrentou, dentre outros, os temas da institucionalização das Ciências Sociais e do estatuto disciplinar da Comunicação em nosso país. Embora recorra à noção de “pós-disciplinaridade” como variação ou sinônimo imperfeito de transdisciplinaridade, trata-se de um ótimo exemplo contrapontístico – seja por suas afinidades, seja por suas divergências, seja pelo mero compartilhamento de “zonas de contato” em relação – à leitura de Waisbord. Lopes (2006) se coloca em diálogo com Octávio Ianni, Immanuel Wallerstein, Giovanni Vattimo e Mario Morcellini, pensando, à época, a transdisciplinaridade como o horizonte desejável da investigação sobre os fenômenos comunicacionais no marco do sistema-mundo (LOPES, 2006). É um estudo emblemático. Enveredar pelo escrutínio interno de casos similares, porém, implicaria perder de vista o eixo de referências bibliográficas, reconhecimentos qualitativos e suposições panoramáticas que priorizamos. Mesmo assim é inegável: acumular contrapontos com autores nomeados pode constituir um vetor de ampliação e aprimoramento futuro de nossa abordagem.
[5] O presente artigo foi produzido no âmbito de um grupo de estudos de Teorias da Comunicação cujos encontros vêm ocorrendo, de forma remota, desde março de 2023. O grupo deriva das atividades presenciais do GP de Teorias da Comunicação da Intercom, desdobrando-as ao longo do ano. Em geral, são encontros abertos, dos quais têm participado, voluntariamente, pesquisadores de vários PPGs do país – vinculados, dentre outras universidades brasileiras, à UnB, UFBA, UFPA, UFPE, UFC, UFOP, USP e UFRGS. Os impasses epistêmicos aqui relatados, em boa medida, foram chancelados por eles. É o que constitui o magma que os atrai, os unifica e os faz trabalhar. Se este trabalho produz (ou supõe ou sugere) um retrato da pesquisa brasileira – contrapondo-o, com cautela, às anotações de Waisbord –, esse retrato só foi possível com a aquiescência desse grupo, com as discussões, as leituras e os debates transcorridos ali dentro. Essa nota expressa um desejo de creditação e agradecimento.
Referências
FAUSTO NETO, A.; PRADO, J. L. A.; PORTO, S. (Orgs). Campo da Comunicação. Caracterização, problematizações e perspectivas. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2001.
LOPES, M. I. V. (Org.). Epistemologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003.
LOPES, M. I. V. O campo da Comunicação: sua constituição, desafios e dilemas. Famecos, n. 30, p. 16-30, 2006. DOI: <https://doi.org/10.15448/1980-3729.2006.30.3372>.
RÜDIGER, F. Epistemologia da Comunicação no Brasil: ensaios críticos sobre teoria da ciência. Vitória: MilFontes, 2022.
SAAD, E.; RAMOS, D. Silvio Waisbord: diversidade e fragmentação – o campo da comunicação como uma pós-disciplina e seus desdobramentos na contemporaneidade. Matrizes, v. 15, n. 1, p. 125-143, 2021. DOI: <https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v15i1p125-143>.
SCOLARI, C. Communication: A post-discipline?, Medium. Ago, 2019. Disponível em: <http://bit.ly/3HbxeHX>. Acesso em: 20 dez. 2023.
SODRÉ, M. A Ciência do Comum - Notas para o método comunicacional. Petrópolis: Vozes, 2014.
WAISBORD, S. Communication: A post-discipline. Cambridge, Polity Press, 2019.