Rumo a uma abordagem sociocultural de tecnologias digitais:

pistas a partir da tecnicidade

Ana Júlia de Freitas Carrijo1 e

Ana Carolina Damboriarena Escosteguy2

Resumo

A proposta retoma os aportes de Jesús Martín-Barbero para pensar as tecnologias de comunicação na contemporaneidade, mais especificamente a tecnicidade como mediação estruturante desta condição. O objetivo geral é identificar premissas teórico-metodológicas que atravessam o programa de investigação do autor, destacando o acionamento desta mediação com vistas à configuração de uma abordagem sociocultural de tecnologias digitais. Via uma combinação de revisão narrativa com reflexão crítica, examinamos especialmente dois estudos que assumiram esta mediação como chave teórico-analítica, possibilitando a análise das tecnologias em relação com seus respectivos modos de uso e processos de apropriação. Ao final, tensionamos potências e limites deste enfoque para pesquisas interessadas nas especificidades de tecnologias algorítmicas contemporâneas e seus respectivos processos de uso e apropriação. Consideramos que a tecnicidade: a) é uma mediação que não pretende dar conta da totalidade dos fenômenos contemporâneos, porém as premissas epistemológicas que a sustentam têm potencialidade para balizar um debate; b) é um operador teórico-metodológico profícuo para a construção de uma abordagem sociocultural de tecnologias digitais na contemporaneidade, desde que inclua na discussão dimensões materiais, econômicas e políticas específicas dos atuais sistemas técnicos, fortemente mediados por algoritmos de recomendação.

Palavras-chave

Tecnicidade; Apropriação; Tecnologias de comunicação; Tecnologias digitais; Algoritmos de recomendação.

1 Doutoranda em Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: anajucarrijo@gmail.com.

2 Doutora em Comunicação. Professora visitante no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora CNPq. E-mail: carolad2017@gmail.com.

Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 17, n. 3, p. 21-37, set./dez. 2023 DOI: 10.34019/1981-4070.2023.v17.41094  

Towards a sociocultural approach to study digital technologies:

clues from technicity

Ana Júlia de Freitas Carrijo1 and

Ana Carolina Damboriarena Escosteguy2

Abstract

This proposal revisits to Jesús Martín-Barbero's contributions in order to think about communication technologies in contemporaneity, more specifically technicity as a structuring mediation of this condition. The objective of this paper is to identify theoretical-methodological premises that cross the author’s research program, highlighting the activation of this mediation and the configuration of a sociocultural approach to digital technologies. In this way it retrieves two studies, through narrative review, that assume this mediation as a theoretical-analytical key, making it possible to analyze technologies in relation to their respective modes of use and appropriation. Finally, we discuss the potentialities and limits of this approach for other studies interested in the specificities of contemporary algorithmic technologies and their respective processes of use and appropriation. We consider that technicity: a) is a mediation that does not account for the totality of contemporary phenomena, but the epistemological premises that support it have the potential to guide a debate; b) it is a fruitful theoretical-methodological operator for the construction of a sociocultural approach to digital technologies in contemporary times, as long as it includes in the discussion specific material, economic and political dimensions of current technical systems, strongly mediated by recommendation algorithms.

Keywords

Technicity; Appropriation; Communication technologies; Digital technologies; Recommendation algorithms.

1 Doutoranda em Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: anajucarrijo@gmail.com.

2 Doutora em Comunicação. Professora visitante no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora CNPq. E-mail: carolad2017@gmail.com.

Juiz de Fora, PPGCOM – UFJF, v. 17, n. 3, p. 21-37, set./dez. 2023 DOI: 10.34019/1981-4070.2023.v17.41094

Introdução

Nossa proposta revisita contribuições de Martín-Barbero para pensar as tecnologias de comunicação na contemporaneidade, mais especificamente a tecnicidade (MARTÍN-BARBERO; RINCÓN, 2019) como mediação estruturante dessa condição. Para tanto, recuperamos diferentes estudos relacionados a essa abordagem e estabelecemos uma interlocução especial com duas pesquisas previamente realizadas pela autoria (CARRIJO, 2021; ESCOSTEGUY et  al., 2019), que assumiram a tecnicidade como chave teórico-analítica, possibilitando analisar as tecnologias em relação aos seus respectivos modos de uso e processos de apropriação. Via uma combinação de revisão narrativa (FLOR et al., 2022; MATTOS et al., 2015) com reflexão crítica, identificamos premissas teórico-metodológicas que atravessam o programa de pesquisa do autor, destacando o acionamento dessa mediação com vistas à configuração de uma abordagem sociocultural das tecnologias digitais.

Ainda que bastante diferentes devido às realidades investigadas, bem como aos seus questionamentos e respectivos objetivos, as duas investigações empíricas que guiam a análise feita neste artigo convergem no modo de condução: assumem a centralidade do simbólico, situando os processos de produção de sentido no contexto sócio-histórico em que as experiências com as tecnologias acontecem. Assim, elas se voltam para a observação e escuta dos sujeitos, priorizando o agenciamento humano nas apropriações, táticas e saberes advindos de sua participação em circuitos mediados pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs).

Tal deslocamento teórico evidencia a convergência de ambas as pesquisas com o pensamento comunicacional latino-americano. É a partir de meados de 1980 que a pesquisa em comunicação na América Latina dá um giro, deslocando-se de problemáticas associadas aos determinismos tecnológicos (midiacentradas), às análises textuais, desconectadas de seus contextos e, também, às estruturas de propriedade dos meios de comunicação. A nova rota assume a centralidade do protagonismo dos sujeitos e suas práticas com os meios e/ou produtos culturais, incrustadas nas esferas do trabalho, da política, do doméstico, enfim, do cotidiano. Juntamente com tal guinada, a categoria “apropriação” adquire relevância e será acionada, muitas vezes de modos diferenciados, tanto no desenvolvimento dos estudos de recepção como na investigação dos usos de tecnologias de comunicação.

Em grande medida, essa renovação foi deflagrada pelo programa de pesquisa de Martín-Barbero que reivindicou centrar-se nas mediações. Ainda que o autor tenha evitado uma definição precisa para o termo, genericamente, refere-se ao entendimento dos processos comunicacionais dentro de uma moldura cultural, isto é, onde ocorre a produção de sentido. Atrelada a essa abordagem, vincula-se a categoria “apropriação” que, também, assume certas variações nas contribuições deste autor. Por exemplo, apropriação é associada ao debate em torno do popular, mais especificamente, faz referência aos processos identitários dos setores populares que se desenvolvem em associação e negociação com a cultura massiva. Sendo assim, diz respeito aos processos de hibridação e mestiçagem cultural que os setores populares realizam no terreno do simbólico. Outro sentido adotado por Martín-Barbero diz respeito às apropriações de um texto, ou seja, quando os receptores atualizam os sentidos de uma mensagem [1].        

Ao longo de sua obra, a configuração de uma abordagem centrada nas mediações e, por sua vez, nas apropriações, demandou um acompanhamento diacrônico de transformações nos modos de vida das sociedades, já que as práticas de significação dos sujeitos estão articuladas às suas condições contextuais de existência. Destacamos neste texto como as transformações advindas da incorporação de diferentes tecnologias de comunicação foram observadas pelo autor em seus arranjos sociotécnicos, via mediação da tecnicidade. Portanto, é também nesse estágio que a categoria “apropriação” vai referir-se aos usos de dispositivos como meios e tecnologias de comunicação, do ponto de vista material, prático e, obviamente, cultural.

Para atender aos propósitos lançados, assumimos como metodologia a revisão narrativa. Trata-se de uma estratégia de revisão de literatura que, diferentemente de estados da arte e revisões sistemáticas, não utiliza critérios rígidos definidos a priori para selecionar os textos a serem discutidos, mas é construída segundo decisões deliberadamente arbitrárias da autoria, considerando as especificidades de cada empreendimento analítico (FLOR et al., 2022; MATTOS et al., 2015). Assim, a escolha dos trabalhos comentados neste texto decorre de nossa vivência e, principalmente, da participação em grupos de pesquisa, compartilhamentos em congressos, bem como do acompanhamento de publicações em periódicos relevantes da área. Evidentemente, os autores referidos aqui não configuram um conjunto representativo nem exaustivo de todas as discussões relacionadas ao assunto. Contudo, consideramos que suas discussões são relevantes para a construção de uma abordagem sociocultural para as tecnologias de comunicação e balizam a reflexão crítica que empenhamos nos limites deste artigo.

O texto está organizado da seguinte maneira: na primeira seção, apresentamos uma retomada sintética sobre a mediação tecnicidade e também destacamos alguns de seus usos nos estudos brasileiros de Comunicação. Em uma segunda, descrevemos a operacionalização da tecnicidade nas duas pesquisas mencionadas, reconhecendo como as especificidades de seus respectivos objetos demandou acionamentos diferentes e enfatizando suas convergências no interesse pelas apropriações feitas pelos sujeitos. Por fim, discutimos sobre os desafios de comprometer-se com uma abordagem sociocultural partindo dessa mediação para o estudo de tecnologias contemporâneas, em especial, considerando os atuais algoritmos de recomendação das plataformas digitais. Questionamos a potencialidade de tal mediação neste contexto, que, com uma preocupação exagerada com o refinamento tecnológico exponencial vivenciado, tem deslocado para máquinas sentidos propriamente humanos (FÍGARO, 2021). Consideramos que o caráter estruturante de tecnologias digitais desafia os estudos culturais, enquadramento amplamente evidente na obra de Martín-Barbero e de onde nos situamos para tratar sobre o tema. Por isso, os debates sobre tecnicidade são pontos privilegiados de análise neste texto.

A tecnicidade em Martín-Barbero

Martín-Barbero (2004; 2018; 2019) apresenta a tecnicidade como operador teórico-metodológico que se ocupa de dimensões vinculadas à experiência e às habilidades desenvolvidas na prática pelos sujeitos em contato com as tecnologias. Trata-se de uma mediação que engloba as inovações nos modos de apropriação e uso dos meios de comunicação, considerando as “competências de linguagem” (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 235) utilizadas, sobretudo, no que é posto em circulação por esses mesmos meios. Nesse sentido, a tecnicidade extrapola a instrumentalidade da técnica e abrange os caminhos acionados pelos sujeitos para ver e explicar o mundo, construindo narrativas sobre a experiência social com as tecnologias, imersas na conjuntura cotidiana. 

Ela aparece pela primeira vez no Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2018) e permanece nas últimas duas propostas apresentadas pelo autor, adquirindo um caráter cada vez mais estruturante, como indicam as amplas revisões feitas nos últimos anos (PIENIZ; CENCI, 2019; GIRARDI JR, 2018; BRIGNOL, 2018; JACKS; SCHMITZ, 2018). A centralidade que adquire nos mapas nos oferece pistas para acompanhar as transformações sociotécnicas ao longo do tempo, até chegarmos à constituição de um “entorno tecnocomunicativo”, conforme observou Martín-Barbero (MOURA, 2009) sobre os encaminhamentos das práticas de comunicação que viriam a conformar o contexto digital contemporâneo. Seria esse um ecossistema que abrange e medeia a produção simbólica de forma imersiva e que, genericamente, também diz respeito ao modo de funcionamento do capitalismo. Desse modo, os sentidos produzidos em articulação com as tecnologias assumem fundamental importância na organização social contemporânea.

Em nossa revisão qualitativa de trabalhos recentes que incorporam essa discussão e foram realizados no contexto nacional [2], selecionamos quatro pesquisas empíricas, oferecendo uma síntese compreensiva de suas discussões. Brignol (2018) encontra na mediação tecnicidade um operador teórico-metodológico que reconhece a centralidade das tecnologias neste contexto sem deixar-se seduzir por determinismos que veem nelas a imposição vertical de mudanças sociais. Ao contrário, tal mediação possibilita reconhecer o adensamento tecnocomunicativo como fenômeno advindo das práticas dos sujeitos com as tecnologias, isto é, de suas atividades de uso e processos de apropriação. Na pesquisa conduzida pela autora (BRIGNOL, 2018), são analisados diferentes acionamentos de mídias digitais por sujeitos migrantes, cujas experiências de deslocamento geográfico lhes conferem caminhos particulares de relacionamento com as tecnologias. Elas são incorporadas em seus cotidianos, entre outras coisas, para manter relações com os países de nascimento, criar redes de convivência com outros migrantes e, nesse percurso, criar/contar as identidades que surgem na vivência migratória.

Exemplos de práticas como essas ilustram como os caminhos abertos pela tecnicidade permitem pensar as tecnologias fora de um universalismo, comumente centrado nas possibilidades técnicas que os dispositivos detêm. Para além disso, essa abordagem destaca como as condições contextuais de acesso às tecnologias configuram estratégias de uso diversas e como as apropriações dos sujeitos multiplicam concepções sobre o que são, afinal, as tecnologias na realidade vivida. Dessa forma, a abordagem barberiana enfatiza que a relação entre tecnologias, sujeitos e sociedade é fundamentalmente de mão dupla e constituída na dialética entre “técnica” e “apropriação”.

Reconhecendo que os processos de produção de sentido dos sujeitos estão cada vez mais estruturalmente mediados pela tecnologia, conforme adentramos na “fase ciber” da cultura, Knewitz (2010, p. 5) também retoma tal concepção da tecnicidade ao propor aproximações teórico-metodológicas entre os Estudos Culturais e os Estudos Ciberculturais. Trata-se, uma vez mais, da necessidade de articular os formatos e discursos do ambiente digital às relações que os sujeitos estabelecem com eles, investigando as apropriações feitas no cotidiano. Para tanto, a autora aciona o Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2004) pontuando que ele “reserva um lugar especial para a tecnologia (o quadrante das tecnicidades), mas a assimila de forma integrada, isto é, sem aliená-la de todo o sistema intangível de fluxos socioculturais por onde circulam os sentidos” (KNEWITZ, 2010, p. 7).

Assim, sua potência estaria no caráter abrangente e articulador de dimensões microssociais (referentes a práticas de relação e uso imediato das tecnologias) e macrossociais (relacionadas aos desdobramentos simbólicos e políticos que a incorporação das tecnologias no cotidiano promove). Porém, para a autora, sem distinguir o que se originaria propriamente das materialidades das tecnologias.

Com um propósito parecido de combinar questões culturais e tecnológicas, Silva (2018) também aciona a tecnicidade em seu percurso metodológico. O autor utiliza metodologias de análises de redes sociais, que investigam a infraestrutura organizadora de nós e conexões em rede, em um exercício de incorporar dimensões próprias das materialidades das tecnologias analisadas. Essa estratégia possibilita conectar às percepções e experiências sociais, enfatizadas na teorização de Martín-Barbero, inovações advindas do caráter material dos dispositivos. Dessa forma, a tecnicidade articula não só as maneiras pelas quais as tecnologias são utilizadas, mas também suas características formais.

Outro emprego dessa abordagem que se destaca neste sentido é o de Winques e Longhi (2020). As autoras reforçam a potência das mediações de Martín-Barbero, inclusive para analisar objetos empíricos contemporâneos como os algoritmos organizadores de plataformas digitais. Elas propõem uma atualização da discussão com o que nomeiam Mapa do Sistema de Mediações Algorítmicas (WINQUES; LONGHI, 2020), retomando premissas fundamentais como a articulação entre técnica e apropriações, diversidade de práticas dos sujeitos em contextos específicos, regimes de institucionalidade que medeiam processos comunicativos etc. A partir daí, acrescentam ao debate particularidades que emergem do refinamento tecnológico das ferramentas e os respectivos engendramentos políticos e econômicos que as sustentam no contexto contemporâneo, como veremos melhor adiante. Assim, aspectos tecnológicos e comunicacionais precisam ser abordados pela combinação entre análises das próprias plataformas digitais e da escuta dos sujeitos que participam e constroem os respectivos circuitos – o que poderia ser feito considerando as discussões sobre tecnicidade.

Em sua atualização mais recente, a teorização barberiana chancela à tecnicidade um caráter estruturante e ordenador das relações sociais (MARTÍN-BARBERO; RINCÓN, 2019). Ela passa a constituir um dos eixos centrais do último mapa proposto, figurando como “mediação básica da mutação cultural” (PIENIZ; CENCI, 2019, p. 146) (tradução nossa) [3]. Ou seja, é entendida como motor de transformações culturais que reconfiguram os processos de produção de sentido a partir de artefatos tecnológicos, ou mais propriamente, das apropriações que sujeitos fazem deles. Isso reforça a configuração de uma abordagem articuladora entre sujeitos e tecnologias pautada nos processos de apropriação que a chave teórico-analítica da tecnicidade abarca [4]. Importante sinalizar que a categoria apropriação adquire especial relevância nesse contexto, embora não tenha merecido a devida atenção e elucidação teórica do autor.

Apropriações e tecnicidades: uma vinculação necessária

É justamente na noção de apropriação que as duas pesquisas revisitadas aqui convergem. Ambas acionam a tecnicidade como mediação e conduzem a análise a partir dos tensionamentos abertos por ela na fricção com as respectivas realidades empíricas estudadas. Detalhamos neste item a operacionalização de tal mediação em uma pesquisa que trata das relações entre famílias de agricultores e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na Região Sul do país e, em seguida, em outro estudo com adolescentes da Região Centro-Oeste brasileira sobre os usos de plataformas digitais populares na contemporaneidade (especialmente o YouTube).

A primeira pesquisa, de caráter socioantropológico, foi realizada entre 2014 e 2018 junto a sete famílias agricultoras, inseridas na cadeia agroindustrial do tabaco (ESCOSTEGUY et al., 2019). Residentes no Vale do Sol, município da Região Sul do Brasil pertencente ao chamado território do tabaco, portanto, marcado pela produção e beneficiamento de sua folha, essas famílias são proprietárias de pequenas áreas onde cultivam com mão-de-obra familiar o fumo. No total, mantivemos contato com 13 mulheres, sendo sete adultas, quatro idosas e duas jovens; e 17 homens, sendo sete adultos, dois idosos e oito jovens. No momento da pesquisa de campo, essas famílias viviam a chegada e/ou a expansão de tecnologias digitais, como internet, telefone celular e computador de mesa, notebook e tablet com acesso à internet que conviviam com os demais meios pré-existentes – em especial, o rádio, a televisão e os jornais locais e regionais [5].

Embora a rede comunicacional existente no território investigado tenha características próprias - por exemplo, o alto custo do serviço de telefonia móvel e a fraca intensidade do sinal - identificamos a existência de um entorno tecnocomunicativo, conforme Martín-Barbero (MOURA, 2009). Esse entorno é uma característica da sociedade contemporânea em geral, com repercussões distintas na dinâmica rural estudada. Observamos que este tem caráter estrutural e diz respeito à concretização da racionalidade de um modelo global de organização societária. Por essa razão, o estudo incorporou a mediação da institucionalidade, atribuindo peso aos regimes de regulação, vinculados tanto ao papel do Estado, das lógicas comerciais e de outras instituições como, no caso, a escola.

Entendeu-se que a presença da tecnicidade era vital à sustentação do entorno tecnocomunicativo, ainda que se diferenciasse dele, devido à sua intrínseca vinculação com as práticas e competências cotidianas dos sujeitos com os artefatos tecnológicos. Para compreendermos esse “viver com as tecnologias de comunicação”, combinamos à análise das mediações do Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2018) e do Mapa das Mutações Comunicativas e Culturais a abordagem de Silverstone et al. (1996) sobre apropriação, incorporação e objetivação [6] das TICs na vida cotidiana do grupo investigado. Isso forneceu elementos para compreender material e simbolicamente a presença, posse, uso e sentidos das TICs nos lares e junto às famílias pesquisadas.

Resumidamente, o uso das mediações permitiu tratar das condições de facilitação e impedimento na apropriação de TICs, bem como na sua exposição no espaço das propriedades investigadas; da convivência de múltiplos espaços (urbano/rural/escola/casa/lavoura) e tempos (do trabalho, livre, entretenimento, estudo); dos movimentos pendulares de deslocamento, sejam físicos ou virtuais, realizados pelas famílias; dos rituais de incorporação das distintas tecnologias de comunicação no cotidiano; das relações sociais configuradas por esses mesmos artefatos, obviamente, situadas em uma determinada ruralidade.

Em especial, a articulação entre as mediações da espacialidade, temporalidade e tecnicidade no exame de uma realidade local singular revelou a existência de uma certa ruralidade. Isto é, sua localização no território do tabaco da Região Sul estabelece uma determinada relação com o âmbito nacional, que, por sua vez, caracteriza-se por uma relação singular com o global. Ao reconhecermos as particularidades da realidade investigada, constatamos que apesar da tendência à homogeneização movida pela globalização, esta não ocorre igualmente em todos os espaços. Essa condição, associada aos achados mais particulares a respeito dos usos e apropriações das TICs pelo grupo investigado, referendou a existência de uma relação recíproca entre tecnologia e sociedade e, portanto, a fecundidade da articulação da chave-analítica da tecnicidade com outras mediações, com vistas à configuração de uma abordagem sociocultural das tecnologias de comunicação.

O outro estudo, de caráter etnográfico, foi realizado em 2019 com um grupo de doze adolescentes, de quinze a dezessete anos, em uma escola estadual no município de Aparecida de Goiânia, Goiás [7]. Estivemos em diálogo com o grupo, por um semestre letivo, compartilhando experiências de uso de plataformas como YouTube e Instagram e refletindo sobre as práticas de significação cotidianas realizadas por eles a partir desse recorte de consumo midiático. O propósito foi investigar de que modo eram forjadas as relações entre esses sujeitos e os conteúdos acessados nas plataformas digitais. Porém, ao longo da pesquisa, a mediação tecnológica emergiu como tema de interesse dos próprios participantes, isto é, ao conversarmos sobre suas práticas de consumo, não só os conteúdos acessados ou os youtubers e instagrammers acompanhados pautaram nossas conversas. Além deles, os adolescentes assinalaram que as lógicas próprias dos sistemas algorítmicos das plataformas ocupavam espaço nas dinâmicas de apropriação do que eles consumiam.

Nesse sentido, um dos principais resultados da pesquisa foi a constatação de que, mesmo que a grande maioria dos entrevistados não atuasse propriamente como produtores de conteúdo, havia um interesse compartilhado por conhecer e especular sobre processos de produção e circulação dos vídeos consumidos. Ou seja, a experiência desses sujeitos com o YouTube, vinculada, em tese, à instância do consumo, era fortemente mediada por questões de “bastidores” técnicos e incluía temas como desafios enfrentados pelos youtubers na produção de conteúdo, sistemas algorítmicos de ranqueamento de vídeos, políticas de privacidade, diretrizes da plataforma etc. Essas imbricações conformam processos de apropriação que vão além da assistência dos vídeos e das possíveis interações com eles.

Emergiu do campo, por exemplo, a percepção de que a duração e os títulos dos vídeos estavam relacionados aos processos de monetização da plataforma. Eles explicaram que houve uma mudança nas diretrizes do YouTube segundo a qual a monetização dos produtos, que antes acontecia apenas pelo número de visualizações, passou a considerar a porcentagem de tempo que o usuário passa de fato assistindo ao conteúdo. Assim, para que os produtores recebessem dinheiro com suas produções, não bastaria mais convencer o público a clicar em seus vídeos. Tornou-se preciso sustentar a audiência para além do clique. O grupo afirmou que essa mudança diminuiu o uso de capas e títulos sensacionalistas (clickbaits), por vezes descolados da esfera semântica do vídeo, que serviam para atrair mais visualizações “relâmpago”. Além disso, observaram que os vídeos tornaram-se mais curtos para que o público ficasse retido por uma porcentagem de tempo maior no conteúdo e gerasse maior taxa de engajamento efetivo.

O acesso de usuários a questões como essa, em tese relativa à produção e não ao consumo, é facilitado tanto pelos produtores de conteúdo quanto pelas plataformas. Os próprios youtubers fazem publicações compartilhando aspectos dos bastidores da produção com os usuários. Em geral, apresentam um tom de inconformismo com os algoritmos e diretrizes que não contemplam seus esforços. Tal prática conforma os circuitos a partir de uma troca de experiências entre quem produz e quem assiste, em uma dinâmica articulada que se pretende transparente.

Além disso, a própria plataforma contribui para a inserção de pautas como monetização e algoritmos no vocabulário dos usuários quando disponibiliza páginas institucionais com dicas para melhorar o engajamento e aumentar o alcance das publicações autorais [8]. Tais informações contribuem para o aguçamento das percepções dos usuários sobre as lógicas gerais do site, tendo em vista que eles são minimamente colocados em contato com os fluxos de produção que estruturam o YouTube, mesmo sem terem publicado conteúdos autorais.

Esses modos de participação nos circuitos, além de reiterar articulações entre os agentes e os momentos do processo comunicativo, diluindo barreiras entre produção e consumo, como é próprio das redes digitais (LOPES, 2018), revelam também o desenvolvimento de competências de linguagem específicas para lidar com as tecnologias de comunicação que organizam plataformas como o YouTube. São modos de apropriação das tecnologias que acionam operadores de percepção da técnica para acompanhar e participar dos circuitos simbólicos – que, como vimos, extrapolam os limites do vídeo enquanto produto fechado.

Enfim, os dois estudos convergem no entendimento de que o uso da mediação tecnicidade em investigações não pode desprender-se de sua inerente articulação aos modos de usos e processos de apropriação das tecnologias. Contudo, há evidentes diferenças entre as duas pesquisas, observadas nas profundas transformações, estruturadas pelas tecnologias, nas condições comunicacionais de cada tempo e nos respectivos grupos investigados. Na descrição e análise das distintas realidades empíricas, tais mudanças estão manifestas na escalada da posição que a mediação da tecnicidade adquire como condição estruturante da contemporaneidade (PIENIZ; CENCI, 2019), notoriamente, na pesquisa sobre os usos do YouTube.

Tecnicidades e mediações algorítmicas de recomendação

Para pensar uma abordagem sociocultural de tecnologias digitais, valemo-nos especificamente da pesquisa que investigou os usos do YouTube. Nela, a mediação da tecnicidade torna-se estruturante porque desvela a habilidade dos usuários em reconhecer marcas das lógicas de produção e das condições técnicas vigentes nos formatos dos produtos (vídeos) e em sua circulação. Trata-se de uma competência forjada em um contexto comunicacional específico que estimula trânsitos materiais e simbólicos entre produtores e usuários, tendo como pressuposto que eles compartilham o acesso às mesmas tecnologias (JENKINS, 2006). Contudo, discussões sobre governança algorítmica (VAN DIJCK et al., 2018; GILLESPIE, 2018) têm questionado a ideia das plataformas digitais contemporâneas como espaços participativos (JENKINS, 2006), já que a complexificação de suas estruturas empresariais e computacionais modifica as condições de envolvimento de usuários comuns nos circuitos de entretenimento.

Desse modo, as plataformas são instâncias mediadoras que transformam as práticas dos sujeitos segundo regimes institucionais específicos. Tais regimes estão articulados a um discurso capitalista neoliberal que atribui às plataformas o caráter de “um arranjo progressista e igualitário que promete apoiar aqueles que estiverem dentro dele” (GILLESPIE, 2010, p. 4) (tradução nossa) [9]. Porém, por trás dessa narrativa, existe um conglomerado de empresas, as chamadas Big Techs, que organizam os circuitos digitais de acordo com interesses corporativos. As principais são Google, Apple, Amazon, Meta e Microsoft – conjunto de empresas que concentram profundo poder econômico e político na contemporaneidade porque detêm uma imensa quantidade de dados advindos de plataformas populares globalmente (VAN DIJCK; POELL; WALL, 2018).

Nesse sentido, essas discussões, vinculadas ao escopo contemporâneo da economia política da comunicação, emergem como demandas a serem incorporadas por abordagens socioculturais das tecnologias, tendo em vista, especialmente, que os regimes de institucionalidade de tais empresas são opacos e demandam marcos regulatórios mais consistentes (ANANNY; CRAWFORD, 2018). Afinal, sem incorporar essas facetas a abordagem seria primordialmente cultural e não conseguiria abarcar as pressões de regimes corporativos que medeiam os arranjos sociotécnicos contemporâneos.

Ponderamos que, em Martín-Barbero (MOURA, 2009), ainda que se reconheça um adensamento comunicativo na contemporaneidade, a categoria tecnicidade não se ocupa, por exemplo, do reconhecimento de sistemas tecnológicos como elementos que transformam a natureza das interações que ocorrem nos circuitos comunicacionais. Porém, uma observação de sua mediação revela que eles não são apenas facilitadores ou operadores das práticas de comunicação digital, mas que seus aspectos materiais e técnicos promovem uma transformação ontológica nos processos de significação e interação experimentados (VAN DIJCK et al., 2018).

Por isso, a sugestão seria pensar as práticas de uso e processos de apropriação das tecnologias no “entorno tecnocomunicativo” a partir da reconfiguração de suas lógicas diante do intenso potencial de imersividade das tecnologias contemporâneas. Essa espécie de naturalização da vida conectada é sustentada pela chamada ideologia da conexão (COULDRY; MEJIAS, 2019), que defende a inevitabilidade do imbricamento entre tecnologias e cotidiano. Por esse caminho, as relações com as tecnologias não só conformam circuitos microssociais como aqueles apresentados aqui, mas também produzem uma forma de teorização do social na qual as próprias noções de sociedade, relevância e significação são balizadas por acionamentos tecnológicos (GILLESPIE, 2018).

Nesse contexto, questões vinculadas às mediações algorítmicas e à agência (LATOUR, 2012) desses sistemas precisam ser consideradas, especialmente pelo crescente refinamento tecnológico advindo dos processos de aprendizado de máquina e inteligência artificial (ARAÚJO, 2015). Essa aproximação com aspectos próprios da materialidade das tecnologias não conduz automaticamente a uma abordagem determinista, mas insere no debate aberto pela tecnicidade dimensões que se impõem diante da crescente digitalização da vida cotidiana. Como vimos, tal mediação é um operador que não pretende dar conta da totalidade dos fenômenos contemporâneos, porém, as premissas epistemológicas que a sustentam têm validade para balizar o debate.

Logo, o exercício de abertura que sugerimos é coerente com as propostas de Martín-Barbero (2018), que atualiza seus modelos teórico-metodológicos de acordo com questões emergentes na realidade empírica. Por isso, parece possível ampliar o escopo dessa mediação em pesquisas interessadas em investigar especificidades de tecnologias algorítmicas, por exemplo. Destacamos o fenômeno dos algoritmos de recomendação, atual objeto de interesse das autoras, como elementos dos circuitos de comunicação digital que materializam as trocas entre sujeitos e tecnologias, à medida que sua circulação é engendrada no acionamento de uso das plataformas feito pelos sujeitos.

Algoritmos de recomendação são sistemas computacionais que fazem uma espécie de curadoria de conteúdos para os usuários a partir de refinados processos de monitoramento e coleta de rastros deixados por eles na navegação. Esses rastros são processados junto a uma quantidade altíssima de dados de outros usuários (Big Data), mediante parâmetros definidos por agentes humanos – segundo interesses corporativos (GILLESPIE, 2018) –, os quais, resultam em sugestões de conteúdos personalizados de acordo com aquilo que cada usuário costuma consumir. Ou seja, a configuração dos algoritmos de recomendação acontece na circulação acionada entre as práticas dos usuários e as lógicas das plataformas. Desse modo, os processos de apropriação dessas tecnologias englobam não só as competências de consumo de um produto final, mas o engajamento dos sujeitos em complexos sistemas de produção de dados e sentidos.

Por essa via, os regimes de tecnicidades que se atualizam devem considerar as especificidades deste entorno tecnocomunicativo, o que demanda abertura para o diálogo com perspectivas que se dedicam a aspectos próprios dessas tecnologias algorítmicas (materiais, políticos, econômicos). Ao observarmos o modo como tem sido operacionalizada a mediação tecnicidade ao longo do tempo, em exercícios de acompanhar transformações sociotécnicas (PIENIZ; CENCI, 2019), consideramos que pode ser ela um recurso analítico/teórico-metodológico profícuo para acolher as especificidades dos circuitos envolvendo algoritmos de recomendação, tendo em vista que, como vimos, eles são forjados na interação com os sujeitos. Assim, resguardado o princípio de partir das apropriações feitas por eles, condição de existência da tecnicidade, a análise poderá abarcar o protagonismo das tecnologias, sem desapropriar os sujeitos de sua agência.        

Considerações Finais

A mediação tecnicidade, desde o seu primeiro acionamento no Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2004), amplia o debate sobre as tecnologias de comunicação contextualizando seu caráter técnico em sociedades e tempos históricos determinados. Por isso, utilizá-la como operador teórico-metodológico significa assumir a centralidade das práticas dos sujeitos em relação com as tecnologias como instâncias primordiais para a configuração de arranjos sociotécnicos específicos. Não por acaso, apresentamos aqui a noção de apropriações como desdobramento necessário para efetivar tal articulação entre sujeitos e tecnologias, ainda que essa noção reclame maior adensamento teórico devido às variações que encontramos sobre seu emprego. Em pesquisas com preocupações e contextos distintos como as duas que retomamos aqui, essa estratégia de vincular tecnicidades e apropriações foi central para a construção de abordagens socioculturais das tecnologias.

Além disso, consideramos primordial pensar tal mediação de um ponto de vista diacrônico na obra de Martín-Barbero para perceber como ela se adapta às condições particulares da sociedade, muitas vezes transformadas pelo avanço da técnica. A revisão crítica das duas pesquisas nos permitiu enxergar como o estudo das práticas acionadas pelos sujeitos para incorporar as tecnologias em seus cotidianos e produzir sentidos sobre e a partir delas revela pistas sobre a conformação de circuitos comunicativos complexos, seja no cotidiano de famílias no ambiente rural, seja na navegação diária de adolescentes em plataformas como o YouTube. São tecnologias, sujeitos e contextos diferentes, cujas particularidades ampliam os debates sobre o que significa viver em um entorno tecnocomunicativo. Assim, a orientação teórico-metodológica observada a partir da tecnicidade, de dedicar-se a análises situadas em realidades empíricas de uso das tecnologias, chancela a essa mediação um potencial analítico capaz de abarcar diferentes tecnologias em diferentes tempos históricos, de maneira contextual.

Como próximo passo, nos propusemos pensar seu acionamento no estudo de circuitos de comunicação mediados por algoritmos de recomendação em plataformas digitais. Tal qual outra tecnologia, essas apresentam características e lógicas específicas em âmbitos materiais, econômicos e políticos, conforme apresentamos ao longo do texto. Tais especificidades precisam ser consideradas em análises socioculturais. Portanto, a tecnicidade mostra-se uma estratégia profícua para balizar também esta futura análise, porém, dimensões materiais, econômicas e políticas específicas desses sistemas algorítmicos, que aproximam sua mediação de uma agência alinhada a interesses corporativos, demandam uma abertura da teorização barberiana para outros debates contemporâneos (ARAÚJO, 2015; GILLESPIE, 2018; VAN DIJCK et al., 2018; COULDRY; MEJIAS, 2019).

Notas

[1] Sandoval (2019) faz uma distinção entre os diferentes matizes que a categoria “apropriação” adquire na pesquisa em comunicação. Nos termos do autor, a primeira via seria a do entendimento da apropriação como prática identitária e a segunda como “perspectiva hermenêutica”.

[2] Nesta etapa de nossa revisão narrativa, priorizamos a pesquisa brasileira que trata especificamente da mediação tecnicidade. Contudo, vale informar a existência de uma movimentação atual impulsionada pela recuperação mais abrangente do pensamento latino-americano, especialmente de Martín-Barbero, em estudos sobre algoritmos e datificação. Ver, por exemplo, Siles et al. (2022) e Tironi e Valderrama (2021).

[3] [...] mediación básica de la mutación cultural.

[4] Os Estudos Culturais também referendam essa ideia quando investigam processos de incorporação de tecnologias no cotidiano dos sujeitos, como fazem os britânicos Roger Silverstone e David Morley, por exemplo.

[5] De toda forma, foi identificada uma prática de uso da internet, por meio de telefone celular, em locais públicos do rural de Vale do Sol que tinham acesso aberto. Situação usual, mesmo em espaços urbanos brasileiros, sobretudo, entre as classes menos favorecidas economicamente.

[6] Nesse marco conceitual, a apropriação trata da posse/aquisição do artefato tecnológico; a incorporação diz respeito propriamente aos usos e modo como as tecnologias são incorporadas ao cotidiano; e a objetivação é concretizada na exposição e disposição desses mesmos artefatos no espaço doméstico e seus prolongamentos.

[7] Um detalhamento metodológico da pesquisa foi discutido em outro lugar (CARRIJO; SATLER, 2022).

[8] Disponível em: <https://www.youtube.com/creators/>. Acesso em: 5 mai. 2023.

[9] a progressive and egalitarian arrangement, promising to support those who stand upon it.

Referências

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