Editorial

Gabriela Borges1

1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação/UFJF e editora da Revista Lumina. E-mail: gabriela.borges@ufjf.edu.br.

A edição do fim de 2022 da revista Lumina apresenta diversos artigos que abordam o campo de estudos do jornalismo, a partir de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas; as relações entre a política e a cultura digital; o cinema e a teoria da mídia e os estudos sobre o som. Publicamos também uma entrevista com a professora Isabel Ferin e uma resenha do livro Ver segundo o quadro, ver segundo as telas, de Mauro Carbone.

 

Afonso de Albuquerque, da Universidade Federal Fluminense, atualmente a desenvolver pesquisa de pós-doutorado no PPGCOM da Universidade Federal de Juiz de Fora, tece uma perspectiva de análise sobre as relações entre o decolonial e os estudos do jornalismo, procurando mostrar que este debate tem omitido o entendimento de processos de colonização que são conduzidos pelas instituições responsáveis pela produção e circulação do conhecimento, entre elas o sistema acadêmico global e o próprio jornalismo, que são organizados e privilegiam abordagens a partir dos Estados Unidos e outros países do Ocidente.

Os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará apresentam um estudo sobre a relação entre jornalismo e território nas pesquisas em Comunicação e Jornalismo nos cursos de pós-graduação no Brasil. Por meio de uma abordagem quanti-qualitativa, o estudo procurou mapear a produção científica entre 2005 e 2020 a fim de compreender as interseções e contraposições entre autores(as) e compreender como os conceitos foram construídos.

Ana Silvia Lopes Davi Médola e Monielly Barbosa do Carmo da Universidade Estadual Paulista investigam, sob a perspectiva da semiótica discursiva francesa, as estratégias enunciativas das projeções temporais exibidas na interface “Agora na TV” durante a exibição do Jornal Nacional no Globoplay. Procuram assim entender os efeitos de sentido de atualidade, simultaneidade e imediatismo, entre outros, próprios do discurso jornalístico.

Wagner Rodrigo Arratia Concha da Universidade Federal de Santa Catarina, analisa a cobertura do telejornal MG1 da Globo Minas sobre os três primeiros aniversários do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Propõe uma reflexão sobre memória, fontes e discurso de emoção e, também, a discussão sobre os problemas públicos relacionados ao acontecimento.

A pandemia da Covid-19 no Brasil é abordada por Carla Montuori Fernandes, da Universidade Paulista, por meio da análise do populismo anticiência presente nas narrativas negacionistas disseminadas pelo presidente Jair Bolsonaro em seu perfil no Twitter, as quais descredibilizaram as orientações de prevenção, riscos de contaminação e propagação do coronavírus durante um período de constante crescimento de casos e mortes de brasileiros em função da doença.

O artigo de Allan Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, examina a estigmatização das políticas sexuais adotadas pelos governos petistas (2003-2016) como ameaças ideológicas, ao analisar as postagens compartilhadas na página do então deputado federal Jair Bolsonaro no Facebook. Foram estudados os processos comunicacionais por meio dos quais “os discursos normatizaram a heterossexualidade como uma dimensão natural e constitutiva da existência humana e contribuíram para a midiatização do pânico sexual na cultura brasileira contemporânea”.

Arthur Freire Simões Pires, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, propõe uma reflexão sobre as fake news e as teorias da conspiração face ao absurdismo apontado pela filosofia de Albert Camus. Em tom ensaístico, o autor examina a mentira política na contemporaneidade com base em uma epistemologia dialógica a fim de procurar não se ater aos efeitos destes artifícios, mas entender o modo como “a corrupção da factibilidade opera no plano da consciência”.

Heloísa de Araújo Duarte Valente e Marcos Vinicius de Moraes Terra, da Universidade Paulista, apresentam o resultado da investigação sobre as paisagens sonoras presentes no processo criativo do grupo mineiro Clube da Esquina, a partir das entrevistas com Wagner Tiso registradas pelo Museu da Pessoa. Entre algumas memórias narradas pelo músico encontra-se o relato da sua relação com o amigo Bituca (Milton Nascimento) durante a infância e adolescência nos anos 1960 em Três Pontas. Os dois ouviam música no jardim, do lado de fora do Clube de Três Pontas. Tiso entrava e saía no clube para saber quais eram os acordes que eram tocados e compartilhar com o amigo, que esperava do lado de fora, pois era impedido de frequentar o clube porque era preto.

Luís Mauro Sá Martino da Faculdade Cásper Líbero propõe uma leitura sobre as contribuições de Siegfried Kracauer para o estudo da mídia e discute se é possível situar o trabalho do autor em Theory of Film (1960) no âmbito das Teorias da Comunicação.

As autoras Daniele Regina Gomes de Oliveira Leite e Luciana Coutinho Pagliarini de Souza, da Universidade de Sorocaba, discutem o potencial comunicativo e cognitivo do infográfico para a produção de conteúdo, tanto no ensino quanto na comunicação, a partir do estudo do diagrama na perspectiva da semiótica peirceana.

Neste último número de 2022 também apresentamos uma entrevista e uma resenha crítica. Lucas Arantes Zanetti da Universidade Estadual Paulista entrevista a professora portuguesa, que realizou parte de sua formação no Brasil, Isabel Ferin Cunha. A estudiosa aborda os desafios da pesquisa em Comunicação no espaço lusófono no período pós-pandêmico e em tempos de crise democrática, destacando um processo de fragmentação que caracteriza o que denomina como estágio de “desglobalização” atual. A resenha crítica escrita por Anelise de Carli, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresenta o livro, traduzido recentemente para o português, Ver segundo o quadro, ver segundo as telas, de Mauro Carbone. A partir da leitura de Merleau-Ponty, o filósofo apresenta seu entendimento sobre como os modos de ver e de se fazer visível são mediados pelas mídias em cada período histórico. Na contemporaneidade, o dispositivo visual de referência passa a ser a tela, que este compreende não como aquela que tudo mostra, mas “[...] cuja opacidade, em vez de esconder, nos permite ver”.

Nosso especial agradecimento aos autores e aos revisores por todo o interesse, a atenção e disponibilidade na elaboração desta edição.

Terminamos assim 2022 com esperança de que, no próximo ano, viveremos tempos melhores na universidade brasileira, que resistiu bravamente ao desmonte da educação sistematicamente promovido nos últimos anos.

Boas festas e Boa Leitura!!

Expediente

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Gabriela Borges

Paulo Roberto Figueira Leal

Leticia Barbosa Torres Americano
Jhonatan Alves Pereira Mata

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Daiana Sigiliano
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Gabriela Borges

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Capa

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