A midiatização como processo de reconfiguração do imaginário:

uma análise do Caso Kliemann

Ricardo Luís Düren1 

Resumo

Neste artigo compartilhamos as conclusões da pesquisa na qual observamos de que forma os processos que se estabelecem a partir da materialização do sentido em dispositivos de mídia reconfiguram determinada classe de sentidos bastante peculiar, chamada de imaginário. Por materialização do sentido entendemos, a partir da epistemologia da midiatização, a transformação de sentidos antes etéreos – caso do pensamento – em enunciados materiais, palpáveis, como as narrativas impressas em jornais ou os enunciados gravados em dispositivos de áudio, dentre outros exemplos. Na esteira dos apontamentos de Verón (1980; 2005; 2013), entendemos que o sentido, uma vez materializado, adquire autonomia em relação a seu autor e persistência no transcurso do tempo, o que o deixa à mercê de determinadas reconfigurações – que, em nossa pesquisa, observamos em uma visada focada no imaginário. Por imaginário entendemos, em consonância com Silva (2017), um excedente de significação (caso da comoção, do deslumbramento, do choque emocional) que se estabelece na subjetividade dos indivíduos quando esses deparam-se com determinados eventos concretos – caso dos acidentes e tragédias, por exemplo –, eventos esses que simplesmente acontecem na concretude do mundo, inicialmente, destituídos de sentidos. O corpus de pesquisa é um conjunto de narrativas, em jornais, gravações em áudio e livro-reportagem, acerca dos eventos ocorridos nos anos 1960 no Rio Grande do Sul, Brasil, que ficaram conhecidos como Caso Kliemann e que, em nossa leitura, apresentam uma forte carga de sentidos da ordem do imaginário.

Palavras-chave

Imaginário; Midiatização; Sentido; Reconfiguração; Caso Kliemann.

1 Doutor em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (PPGL/Unisc) (bolsista Capes). Mestre em Letras pelo PPGL/Unisc (bolsista Capes). Jornalista. E-mail: ricardoduren@mx2.unisc.br.

The mediatization as a process of reconfiguration of the imaginary:

an analysis of the Kliemann case

Ricardo Luís Düren1 

Abstract

In this paper we share the conclusions of the research in which we observe how the processes that are established from the materialization of meaning in media devices reconfigure a certain very peculiar class of meanings, called the imaginary. By materialization of meaning, based on the epistemology of mediatization, we understand the transformation of previously ethereal meanings – the case of thought – into material, palpable statements, such as narratives printed in newspapers or statements recorded on audio devices, among other examples. In the wake of Verón's (1980; 2005; 2013) notes, we understand that meaning, once materialized, acquires autonomy in relation to its author and persistence over time, which leaves it at the mercy of certain reconfigurations - which, in our research, we observed in a view focused on the imaginary. By imaginary we mean, in line with Silva (2017), a surplus of meaning (the case of commotion, dazzle, emotional shock) that is established in the subjectivity of individuals when they are faced with certain concrete events - in the case of accidents and tragedies, for example – events that simply happen in the concreteness of the world, initially devoid of meaning. The research corpus is a set of narratives, in newspapers, audio recordings and book-reports, about the events that took place in the 1960s in Rio Grande do Sul, Brazil, which became known as the Kliemann Case and which, in our reading, present a strong load of meanings of the imaginary order.

Keywords

Imaginary; Mediatization; Sense; Reconfiguration; Kliemann Case.

1 Doutor em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (PPGL/Unisc) (bolsista Capes). Mestre em Letras pelo PPGL/Unisc (bolsista Capes). Jornalista. E-mail: ricardoduren@mx2.unisc.br.

Introdução

        Neste artigo, excerto da tese de doutoramento, buscamos demonstrar, a partir de imbricações entre a epistemologia da midiatização e as teorias do imaginário, de que forma uma determinada classe de sentidos chamada de imaginário passa por reconfigurações quando materializada em dispositivos de mídia, caso, por exemplo, do texto impresso ou gravado. Para tanto, apresentaremos mais adiante o conceito de imaginário com o qual trabalhamos e, a seguir, abordaremos um dos processos que fazem com que o sentido, uma vez materializado, passe por reconfigurações no transcurso do tempo e em variações do espaço geográfico. Por fim, abordaremos exemplos do fenômeno pinçados do corpus de pesquisa que empregamos em nossa investigação, composto por determinadas narrativas midiáticas produzidas a partir de episódios trágicos ocorridos nos anos 1960, no Rio Grande do Sul, Brasil, que ficaram conhecidos como Caso Kliemann.

        Para uma melhor compreensão de nossa proposta de pesquisa, cumpre destacar, desde já, que no curso de seu desenvolvimento a epistemologia da midiatização tem demonstrado, na esteira das pesquisas de Verón (1980; 2005; 2013), que o sentido fica à mercê de reconfigurações quando materializado mediante emprego de tecnologias de mídia  – ou seja, quando deixa de ser etéreo (caso do pensamento) e se converte em algo material, como um texto escrito à mão ou impresso, gravado ou disponibilizado na internet. Tais reconfigurações fazem com que os sentidos emergentes a partir da interpretação do enunciado possam apresentar variações em relação ao que foi proposto pelo enunciador. No cerne desses processos está o que Verón (1980; 2005; 2013) chama de fenômeno midiático, que se estabelece na materialização do sentido e dota-o de autonomia em relação ao enunciador e de persistência no decorrer do tempo - gerando um distanciamento físico e temporal entre os contextos (social, histórico, econômico, ideológico, etc.) do enunciador e do interpretante.

        A partir da perspectiva veroniana, pesquisamos de que forma o fenômeno midiático incide sobre o imaginário, reconfigurando-o. Abordaremos logo a seguir o conceito de imaginário. Já no que toca aos processos que desencadeiam a reconfiguração do sentido midiatizado, nos deteremos, neste artigo, à ideia da variação que se estabelece entre gramáticas de produção/condições de produção e gramáticas de reconhecimento/condições de reconhecimento, fenômeno estudado por Verón (1980; 2005; 2013) e que detalharemos mais adiante [1]. Nossa proposta, de momento, é demonstrar como ocorre esse processo específico de reconfiguração dos sentidos, observando o fenômeno a partir de um determinado fio condutor – um recorte do corpus de pesquisa que empregamos em nossa investigação: o Caso Kliemann.

        Os contornos trágicos do Caso Kliemann iniciaram em 20 de junho de 1962, quando Margit Kliemann, esposa do deputado estadual Euclydes Nicolau Kliemann, foi encontrada morta, após ter sido espancada com um objeto contundente e empurrada do alto de uma escada, na residência da família, em Porto Alegre. A autoria do crime nunca foi esclarecida, contudo, ao longo das investigações policiais, Euclydes foi considerado o principal suspeito – fato amplamente explorado na época pelos jornais de Porto Alegre, particularmente, o Última Hora e o Diário de Notícias, hoje extintos. Cumpre antecipar que, conforme observamos, a cobertura destes dois jornais foi marcada por determinadas estratégias operacionais e discursivas – que, a luz de Verón (1980; 2005; 2013), classificamos como gramáticas de produção –, as quais envolveram, particularmente, a criação de fatos e personagens ficcionais, que passaram a povoar as notícias acerca do crime, questão que retomaremos mais adiante.

        O segundo evento trágico do Caso Kliemann foi o assassinato do próprio Euclydes, alvejado por um antagonista político em 31 de agosto de 1963 dentro dos estúdios da Rádio Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul – estando a emissora ao vivo. Uma gravação em áudio preservada até os dias de hoje, logo, dotada de autonomia e persistência, na perspectiva de Verón (1980; 2005; 2013), permite ouvir parte do discurso que o adversário de Euclydes, o vereador Floriano Peixoto Karan Menezes, conhecido pelo apelido de Marechal, proferia ao microfone da rádio na ocasião. Em sua fala, Marechal atacou o deputado e, em dado momento, afirmou que Kliemann “[…] é, ou foi, e os jornais aí estão para o dizer: suspeito. Suspeito no caso havido com sua esposa” (DISCURSO NA RÁDIO SANTA CRUZ, 1963). Diante da declaração, Euclydes, que havia discursado minutos antes e permanecia nas dependências da rádio, invadiu o estúdio. A gravação mostra que Kliemann ainda afirmou “essa não” e, a seguir, pode-se ouvir o tiro, disparado por Marechal, que provocou a morte do deputado e ecoou nos aparelhos de rádio de milhares de ouvintes.

        Em nossa pesquisa, optamos por analisar uma série de narrativas acerca do Caso Kliemann produzidas pelos dispositivos comunicacionais da época, particularmente, os jornais Última Hora e Diário de Notícias, além da revista de circulação nacional O Cruzeiro. Também analisamos narrativas posteriores acerca desses eventos, no livro-reportagem Caso Kliemann: A história de uma tragédia, de Celito De Grandi, lançado em 2010. Outro enunciado que nos serve de insumo nessas análises é o da gravação citada acima. Tratam-se de narrativas e discursos que, materializados por dispositivos de mídia, mantêm-se preservados até os dias de hoje, conforme previsto no conceito veroniano de fenômeno midiático.

        Entendemos que há, no Caso Kliemann, certos elementos da ordem dos sentidos que potencializam a emergência do imaginário. Dentre tais elementos está o caráter trágico, violento e comovente desses episódios, bem como, o status político e social das vítimas. Cumpre citar que Margit e Euclydes vinham de famílias tradicionais e prósperas de Santa Cruz do Sul e que ele, como deputado, era um indivíduo detentor de poder e influência política no Rio Grande do Sul. De certa forma, o casal enquadrava-se no que Morin (1997) chama de olimpianos modernos, conceito que remete a estrelas de cinema, líderes, campeões esportivos, exploradores e artistas – enfim, a indivíduos considerados bem-sucedidos no escopo social e que, por isso, são reverenciados e tomados como referências a serem seguidas no âmbito das sociedades que habitam. Cumpre, portando, apresentarmos o conceito de imaginário com o qual trabalhamos, movimento que faremos no tópico a seguir.

O que é o imaginário?

        No que tange ao imaginário nos filiamos ao pensamento de Silva (2017), que descreve o fenômeno como um processo inerente à subjetividade humana em que um “transbordamento de sentidos” emerge a partir de fatos que se desenvolvem na concretude do mundo. O imaginário seria, portanto, uma gama de sentidos – também chamada por Silva (2017) de excedente de significação – que o indivíduo, socialmente constituído e dotado de uma bagagem semântica (de experiências, conhecimentos prévios, preconceitos e crenças socialmente compartilhadas) atribui aos fatos. Equivale a dizer que aos eventos que acontecem no plano físico – no dito mundo real –, tais como uma partida de futebol, um acidente de trânsito ou uma tragédia, o imaginário atribui sentidos que, por si só, esses incidentes não têm.

        É a partir desse processo, defende Silva (2017), que mesmo uma situação banal se torna, no âmbito da subjetividade humana, interessante, deslumbrante, chocante ou comovente. Para Silva (2017, p. 44), o imaginário “[...] transforma o trivial em especial. Potencializa o banal até fazer dele o inimaginável. Reveste o acontecimento com uma película de singularidade. O sentido, como imaginário realizado, é sempre hiperespetacular e irrefutável”. Não fosse o plus fornecido pelo imaginário, acredita o autor, o real – e a vida humana – seria insosso, sem graça, insuportável.

        No âmbito de nossa pesquisa, apresentamos um relato do desenvolvimento dos estudos do imaginário que culminam nos apontamentos de Silva (2017). Por questão de economia, não o faremos neste artigo. Contudo, para viabilizar a compreensão de nossa proposta no presente trabalho, cumpre citar também os apontamentos de Durand (1998) acerca de como os mitos [2], elaborados pelo homo sapiens desde a Pré-História como forma de explicar o mundo em que vivemos, continuam interferindo na geração de imaginários – particularmente, do que o autor chama de imaginário coletivo, termo que compreende, entre outros conceitos, os valores, crenças e narrativas aceitos e compartilhados socialmente pelos indivíduos. Para Durand (1998), essa influência ocorreria na esteira da reconfiguração das histórias míticas, que se daria durante a passagem de tais narrativas por diferentes esferas sociais. Nesse processo de reconfiguração, o mito antigo – bárbaro, marginal e ilógico – seria tolhido, regrado e transformado em uma narrativa pedagógica, aceita e compartilhada conforme os valores sociais vigentes em cada contexto histórico, geográfico e econômico. Tais narrativas, também formas de atribuir excedentes de sentidos ao mundo e aos fatos que nele ocorrem, são fruto do imaginário.

        A origem mítica do imaginário foi abordada também pelo discípulo de Durand (1998), Michel Maffesoli. Para Maffesoli (1988), o mito é fonte dos sentidos, simbolismos, representações e sensações que, compartilhados na esfera social, consubstanciam a socialidade. Para o autor, nos mitos está a origem do que ele chama de “cimento social”, que mantém as sociedades unidas, e dos “motores sociais”, que impulsionam as sociedades para determinados objetivos, tais como a busca pelo progresso tecnológico. Para o autor, os sonhos (ou imaginários) de progresso compartilhados por uma sociedade partem da dimensão do sagrado (do mítico), mantendo sua interferência sob novas roupagens.

        Maffesoli (1988) chama de “pseudomorfose” o fenômeno onde uma forma arcaica (caso dos mitos), travestida de novas roupagens, age como matriz de um objetivo que se apresenta como novo. No entender do sociólogo, as descobertas e invenções tecnológicas, o progresso científico, decorrem da influência de imaginários calcados, em sua origem, nas histórias antigas, míticas. Podemos inferir, portanto, que para Maffesoli (1988) o imaginário é uma força motriz que impulsiona o homem para um determinado objetivo. Cabe ressaltar, porém, que para Maffesolli (1988), esse impulso não age sobre um único homem, mas sobre um conjunto de homens e mulheres – sobre uma sociedade. O imaginário, ao envolver um compartilhamento de anseios (por mudança, por progresso), e também de crenças, narrativas e valores, é elemento agregador na esfera social. É cimento social, como afirma o autor, é uma liga que mantém a sociedade unida em busca de objetivos em comum.

        Na linha sugerida por Durand (1998) e Maffesoli (1988), observamos em nossa pesquisa que o caráter olimpiano de Euclydes Kliemann também lhe conferia certo caráter mítico – logo, um sentido da ordem do imaginário. De Grandi (2010) o descreve como um homem poderoso e próspero, um político combativo e forjado para alçar voos ainda maiores, sobre o qual sua comunidade depositava anseios de progresso. De certa forma, era também um símbolo sagrado – ou “totem”, conforme expressão também usada por Maffesoli (1988) – a ser cultuado e usado como referência a ser seguida pela sociedade na busca por progresso. Na esteira de uma pseudomorfose, Kliemann, assim como os antigos heróis da mitologia, também servia à sociedade como um imaginário agregador e capaz de atuar como motor social.

        Contudo, esse imaginário sofre uma ruptura a partir da morte de Margit Kliemann, momento em que Euclydes, de fonte de inspiração, de exemplo a ser seguido na busca pelo progresso, converte-se em suposto autor de um crime chocante – o homicídio da própria esposa –, por si só, uma acusação repleta de sentidos do imaginário que transbordam para além do fato concreto, remetendo à violência, à brutalidade e à covardia; gerando interesse, revolta e comoção, não só pelo aspecto hediondo do assassinato, mas pelo caráter olimpiano de vítima e acusado. É esse imaginário que, uma vez materializado em dispositivos de mídia, estará, conforme nossa hipótese de pesquisa, à mercê de novas reconfigurações no transcurso do tempo. Desenvolveremos essa ideia no tópico a seguir.

A reconfiguração dos sentidos

         Conforme antecipamos, pretendemos oferecer, neste artigo, uma simulação teórica de processos que, conforme a epistemologia da midiatização, atuam na reconfiguração dos sentidos – inclusive, do imaginário –, empregando como fio condutor e como fonte de exemplos um recorte de nosso corpus de pesquisa. Esse recorte específico é o assassinato de Margit Kliemann, ocorrido em 20 de junho de 1962. O gráfico a seguir resume os processos que, conforme nossa pesquisa, se estabeleceram em relação ao imaginário a partir do crime, e que nos propomos a descrever a seguir. O gráfico, portanto, nos servirá de guia para abordar tais processos (Gráfico 1).

Gráfico 1 - A reconfiguração do imaginário que emerge a partir do assassinato de Margit Kliemann.

https://bit.ly/45vZaQI 

Fonte: Elaboração do autor a partir de Verón (2013).

        Como podemos ver no gráfico (Gráfico 1), e no diálogo com os apontamentos de Silva (2017), podemos inferir que o assassinato consistiu em um fato concreto, que simplesmente ocorreu na concretude do mundo empírico, mas ao qual os indivíduos, por conta dos processos que se estabelecem em sua subjetividade, atribuíram um excedente de significação – um imaginário. Equivale a dizer que, por conta dos processos do imaginário, potencializados pelas peculiaridades do Caso Kliemann que abordamos anteriormente (o status social dos envolvidos, o aspecto mítico atribuído a Euclydes, o caráter de mistério e a violência do crime), o assassinato de Margit adquiriu novos contornos, gerando entre os indivíduos um transbordamento de sentidos (SILVA, 2017), tais como perplexidade, comoção, revolta e deslumbramento.

        Entendemos que esse imaginário que emergiu do crime, inclusive entre os repórteres, redatores e editores encarregados da cobertura jornalística do assassinato de Margit, transferiu-se, ainda que de forma latente, às narrativas jornalísticas acerca do Caso Kliemann, permeando os relatos acerca do homicídio e de seus desdobramentos no âmbito da investigação policial. No diálogo com a ciência da midiatização, podemos afirmar que tais narrativas, no que têm de sentido materializado em dispositivos de mídia – jornais, revistas, gravações em áudio (armazenadas pelas rádios) e em vídeo (produzidas pelas televisões da época) – deram curso ao fenômeno midiático, o qual, à luz de Verón (1980; 2005; 2013), concede ao sentido as potencialidades de autonomia em relação a seus autores e de persistência no transcurso do tempo.

        Conforme o autor, a autonomia faz com que o sentido, materializado em tecnologias de mídia, torne-se independente de seu enunciador, tirando desse o poder de interferir nos processos de interpretação do enunciado, ou seja, inviabilizando ao enunciador eventual interferência direta sobre o interpretante – o que ainda seria possível, por exemplo, na comunicação oral, cara a cara. Já a persistência garante ao sentido durabilidade ao longo do tempo. No caso de nossa pesquisa, é mostra da persistência a possibilidade de acesso que temos, quase 60 anos depois do assassinato de Margit, a determinadas narrativas jornalísticas sobre o crime produzidas na época, dado que jornais e revistas foram armazenados. Também o áudio, no qual é possível ouvir o discurso de Marechal, a interrupção de Euclydes e o tiro, dá mostras da persistência do sentido a partir do fenômeno midiático.

        Verón (1980; 2005; 2013) observa que, por conta da persistência, o sentido materializado sobrevive às variações que se estabelecem, no transcurso do tempo, entre as gramáticas de produção (GP)/condições de produção (CP) e as gramáticas de reconhecimento (GR)/condições de reconhecimento (CR) –  o que diz respeito ao processo de reconfiguração do sentido que nos propomos a abordar neste artigo. Conforme o autor, as GP dizem respeito às regras e lógicas que regem a produção do discurso, não só no âmbito do campo linguístico, mas também ideológico, ético e social, ao passo que as CP remetem às possibilidades extradircursivas – tecnológicas, sociais e econômicas – que viabilizam e também interferem na elaboração e materialização do discurso. Desta forma, o acesso a técnicas de impressão, bem como as possibilidades econômicas de imprimir, são exemplos de CP.

        Transferindo-se o olhar do polo de produção do sentido para o polo onde situam-se os interpretantes, que Verón (1980; 2005; 2013) chama de polo do reconhecimento, encontraremos também nesta instância gramáticas e condições – no caso, gramáticas de reconhecimento (GR) e condições de reconhecimento (CR). Para o autor, as variações do tempo e do espaço geográfico, e com elas, as variações econômicas, ideológicas, éticas, sociais, etc., que se estabelecem entre o contexto do

enunciador e o contexto do interpretante, fazem com que as CR e GR sejam diferentes em relação às CP e GP, o que também incide sobre o sentido materializado, o reconfigurando.

        Além disso, mas ainda no âmbito das variações entre gramáticas, outro fator que contribui para as reconfigurações do sentido, segundo Verón (2013), é a existência de uma multiplicidade de GR no polo do reconhecimento (demonstrada no gráfico anterior pelos símbolos GR1, GR2, GR3, etc.). Para compor esse argumento, o autor parte da visada sistêmica de Luhmann (2011) e, assim, relaciona a pluralidade de GR à pluralidade de sistemas sociais – cada qual com suas complexidades e gramáticas específicas, e compostos por subsistemas, também repletos de peculiaridades próprias.

        Conforme Luhmann (2011), um sistema pode ser identificado a partir das diferenças que se estabelecem entre ele, o meio e os demais sistemas; sendo que tais diferenças dizem respeito às operações que o sistema em questão realiza, as quais, exclusivas a ele, se distinguem das operações realizadas por outros sistemas. O autor apropriou-se do conceito de encerramento operativo, inicialmente elaborado pelo biólogo chileno Humberto Maturana [3], para referir-se à forma como um sistema “[…] estabelece seus próprios limites, mediante operações exclusivas, devendo-se unicamente a isso que ele possa ser observado” (LUHMANN, 2011, p. 102).

        Equivale a dizer que, identificando-se como se dá o encerramento operativo – ou seja, as operações que só o sistema em questão realiza –, é possível definir suas fronteiras e, assim, distingui-lo dos demais sistemas e do meio. Por este viés, podemos entender que os dispositivos institucionais de mídia (jornais, revistas, rádios, televisão e sites e blogs de notícias, por exemplo) podem ser entendidos como integrantes de um sistema específico – que Soster (2017) chama de sistema midiático –, cujas operações têm por finalidade a comunicação e que, justamente por conta disso, distingue-se dos demais sistemas que integram o ambiente social, tais como o Direito, a segurança ou a ciência, por exemplo, cuja finalidade última, de suas operações, não é a Comunicação.

        Retornando à visada de Verón (2013), temos que diferentes sistemas ou subsistemas realizam suas operações próprias – que os distinguem dos demais sistemas – guiando-se por gramáticas e condições específicas, que variam conforme as particularidades, contextos sociais e, principalmente, finalidades operacionais de cada um. O reflexo disso, no campo dos sentidos, é que essa variação de gramáticas força diferentes sistemas a diferentes interpretações. Equivale a dizer, a título de exemplo, que determinado sentido materializado pelo sistema midiático – caso de uma notícia impressa em jornal ou transmitida em rádio ou televisão –, elaborado e apresentado conforme as gramáticas de produção inerentes ao sistema midiático, sofrerá reconfigurações quando interpretado no âmbito do sistema do Direito, cujas gramáticas de reconhecimento são outras. Daí que Verón (2013) aponta para a possibilidade de uma pluralidade de GR, variável conforme diferentes sistemas.

        Contudo, por conta da persistência gerada pelo fenômeno midiático – que possibilita a manutenção de um texto escrito ou gravado no transcorrer do tempo –, um enunciado produzido por um dispositivo de mídia conforme GP e CP específicas de sua época, sobrevive a variações de gramáticas e condições de reconhecimento que se estabelecem, ao longo dos anos, no âmbito no próprio sistema midiático. Em nossa pesquisa observamos o fenômeno a partir dos apontamentos de De Grandi (2010), no livro O Caso Kliemann: A história de uma tragédia. A contextualização oferecida pelo autor aponta para estratégias específicas de geração de sentidos adotadas pelos jornais – particularmente, o Diário de Notícias e o Última Hora – que extrapolaram a cobertura jornalística dos fatos concretos – reais, por assim dizer – inerentes ao assassinato e à investigação policial.

        Conforme De Grandi (2010), na ocasião os repórteres passaram a elaborar personagens e situações ficcionais para povoar suas narrativas, fugindo assim à premissa jornalística de ater-se aos eventos reais. Tal estratégia, segundo o autor, já era comum nos jornais da época mesmo antes do assassinato de Margit e tinha por objetivo alavancar as vendas dos periódicos, ao oferecer aos leitores enredos considerados ainda mais atraentes que os fatos reais. No caso do Última Hora, que, segundo De Grandi (2010), amargava um período de queda das vendas no período, tal expediente teria sido adotado para reverter a crise financeira. A partir destes apontamentos, observamos que os jornais em questão adotaram, por força de certas condições de produção (o aspecto econômico), determinadas gramáticas de produção (o emprego de personagens e fatos ficcionais) que, no transcurso do tempo, sofreram variações dentro de um mesmo sistema – o sistema midiático –, dado que atualmente as gramáticas do jornalismo não toleram o emprego da ficção em notícias. Essa variação de gramáticas revela-se, inclusive, no tom de censura adotado por De Grandi (2010) ao abordar o tema, mostra de que sua leitura dos jornais da época deu-se sob influência de GR diferentes das GP.

O caso da Dama de Vermelho

        Um exemplo de personagem ficcional criado pelos jornais da época tem ajudado a observar, em nossa pesquisa, a reconfiguração de sentidos do imaginário decorrente das variações entre CP/GP e CR/GR. Trata-se da Dama de Vermelho, que aparece pela primeira vez em uma manchete do Diário de Notícias de 23 de junho de 1962. Segundo o texto impresso pelo jornal, a dama seria uma jovem, aparentemente com 18 anos, que trajava elegante vestido vermelho e supostamente teria sido vista saindo da casa dos Kliemann e embarcando em um táxi pouco depois do assassinato. Conforme De Grandi (2010):

o Diário de Notícias passa a explorar, nas edições seguintes, o surgimento da “Dama”. E só aos poucos Última Hora admite sua existência. É quando Sérgio Jockymann [4] entra em cena, usa seu talento de ficcionista e oferece a dama à imaginação dos seus leitores (DE GRANDI, 2010, p. 102) (grifo nosso).

        A partir de então a Dama de Vermelho passou a figurar frequentemente em ambos os jornais, que a apresentavam como integrante da alta sociedade – elemento que, conforme argumentamos no início deste artigo, também é um potencializador da emergência de imaginários. Como integrante das altas camadas sociais, a Dama de Vermelho seria parte do seleto grupo dos olimpianos modernos, ao qual Euclydes e Margit Kliemann também pertenciam e que, conforme Morin (1997), são cultuados no âmbito social.

        A opção pelo vermelho como cor das vestes da personagem nos parece outro fator potencializador de imaginários e, considerando o caráter ficcional da Dama, pode-se supor que não foi uma escolha aleatória por parte dos jornalistas do Diário de Notícias. Trata-se da cor do sangue e da paixão, um elemento que, no âmbito do imaginário, remeteria a um suposto aspecto passional do crime – outra suposição explorada pelos jornais na época. Além disso, o clima de mistério acerca da identidade da Dama de Vermelho também suscitou imaginários. Segundo De Grandi (2010), as notícias sobre o suposto envolvimento desta personagem no crime passaram a provocar, entre os leitores, toda sorte de especulações acerca de quem seria, dentre as integrantes da alta classe social porto-alegrense, a mulher de vermelho supostamente envolvida com o assassinato.

        Contudo, toda a aura de mistério possivelmente suscitada pela Dama de Vermelho entre os leitores da época cai por terra na releitura de De Grandi (2010) sobre as notícias publicadas pelos jornais no período. A releitura do autor, guiada por GR diferentes em relação às GP empregadas pelo Última Hora e Diário de Notícias, reconfigura os sentidos do imaginário e a Dama de Vermelho, de misteriosa, passional e olimpiana, transforma-se em uma fraude, uma produção antiética – o que, por si só, também suscita imaginários de condenação, no âmbito de uma sociedade que compartilha os mesmos valores e imaginários de progresso (MAFFESOLI, 1988). Sob este aspecto, a Dama de Vermelho torna-se, no âmbito de nossa pesquisa, um exemplo de reconfiguração de sentidos do imaginário decorrente do fenômeno midiático, pelo viés da variação entre GP/CP e GR/CR.

Considerações Finais

        Neste artigo, excerto da pesquisa que realizamos por conta da tese, buscamos demonstrar que os processos que, conforme a epistemologia da midiatização, atuam na reconfiguração de sentidos, também incidem sobre o imaginário. Um dos exemplos deste fenômeno é o citado caso da Dama de Vermelho, o qual, conforme buscamos argumentar, de início fez gerar sentidos da ordem do imaginário ao sugerir que uma mulher misteriosa, vestida de vermelho e integrante da classe dos olimpianos teria relação com o assassinato de Margit. Contudo, nas releituras acerca do aparecimento dessa personagem, realizadas a partir de gramáticas atualizadas, percebemos um novo sentido do imaginário – de olimpiana misteriosa, a Dama de Vermelho converte-se em uma fraude, expressão também carregada de um transbordamento de sentidos na medida em que invoca questionamentos e censuras.

        Outra reconfiguração atingiu os sentidos do imaginário acerca da suposta relação entre Kliemann com a morte da esposa. Observamos nas edições do Última Hora e do Diário de Notícias que Euclydes logo passa a ser tratado como o principal suspeito do homicídio de Margit, crime frequentemente chamado, por estes jornais, como “trucidamento”, “massacre” e “barbárie”, expressões que, no que têm de hiperbólicas, remetem a exagero e, assim, geram um transbordamento de sentidos – ou seja, um imaginário, conforme a conceituação de Silva (2017). Inferimos que tais notícias fizeram surgir, entre seus leitores, um imaginário segundo o qual um homem rico e poderoso, um exemplo a ser seguido e cultuado, converte-se em autor de uma brutalidade desprezível – o assassinato da própria esposa, também uma olimpiana, com requintes de crueldade.

        Indício disso é o discurso de Marechal na Rádio Santa Cruz (dotado de persistência por conta de sua materialização em mídia de áudio), proferido momentos antes do assassinato de Euclydes, no qual, conforme citamos no início desse trabalho, o vereador acusa Euclydes de ser um “sujeito baixo” e arremata dizendo que ele “[…] é, ou foi, e os jornais aí estão para o dizer: suspeito. Suspeito no caso havido com sua esposa” (DISCURSO NA RÁDIO SANTA CRUZ, 1963) (grifo nosso). A declaração deixa nítido que foi por meio dos jornais que Marechal elaborou esse imaginário. Outra pista que aponta neste sentido, dentre outras que elencamos em nossa pesquisa, é um incidente, narrado por De Grandi (2010) e que ocorreu à filha mais velha de Margit e Euclydes, Suzana Kliemann, dias após o assassinato da mãe. Em entrevista ao autor, ela relatou que, na ocasião, um desconhecido presumiu que ela seria amante de Euclydes e a interpelou: “Não tens vergonha de estar com um homem que acabou de matar a mulher?” (DE GRANDI, 2010, p. 39).

        Contudo, a partir das releituras mais atuais, realizadas após a atualização das gramáticas e de outros processos decorrentes do fenômeno midiático, podemos perceber uma reconfiguração deste imaginário e um novo transbordamento de sentidos: de assassino brutal, Euclydes converte-se em vítima de um “massacre” protagonizado pela imprensa. A ideia de massacre – também uma expressão que remete a transbordamento de sentidos – está nítida, por exemplo, no prefácio do livro de De Grandi (2010), no qual o escritor Luiz Antônio de Assis Brasil afirma que Euclydes Kliemann foi “massacrado” pela imprensa.

        A seguir, o prefaciador também afirma que, a partir do livro de De Grandi (2010), Kliemann, após ser “[…] levado ao fundo do desespero de ser pai, e ainda esposo sobrevivente de uma união com feições de filme de Hollywood, encontra na posteridade seu merecido repouso” (ASSIS BRASIL, 2010, p. 13). Chama atenção, no excerto, a expressão “levado ao fundo do desespero”, outra que remete a excesso, e também uma referência ao caráter olimpiano de Margit e Euclydes, casal cuja união teria “feições de filme de Hollywood”. Observamos também que, para o prefaciador, só a partir do trabalho de De Grandi (2010) é que Euclydes pode, enfim, desfrutar de seu descanso pós mortem, agora absolvido das acusações da polícia e da imprensa, que tanto o massacraram.

        De fato, De Grandi (2010), ainda que de forma latente, absolve Kliemann em seu livro. Sua opção é por apresentar as reações de Euclydes, após o assassinato, sob o ponto de vista do próprio deputado – assim corroborando suas alegações. Nesta estratégia, emprega também hipérboles e outras expressões que remetem a um transbordamento de sentidos, como ao narrar o momento em que o deputado encontra a esposa morta: “[…] Ao encontrar Margit ‘caída de bruços, com a cabeça numa poça de sangue’ [5], Euclydes Kliemann jogou-se sobre ela. […] Depois, desabou num sofá. Desesperado, aos soluços” (DE GRANDI, 2010, p. 89) (grifo nosso). O excerto, além de sugerir que Euclydes foi pego de surpresa pelo crime – logo, inocentando-o –, indica o impacto emotivo que a visão da esposa, brutalmente assassinada, causa sobre o marido, latente nas expressões que grifamos, as quais, a nosso ver, remetem a um transbordamento de sentidos da ordem do emocional, logo, também potenciais geradores de um imaginário.

        Cumpre salientar que estes são alguns dentre outros exemplos de reconfiguração do imaginário que, em nossa pesquisa, encontramos a partir da análise de narrativas acerca do Caso Kliemann. A exposição, acima, de tais exemplos, sintetiza também o método que empregamos para observar a reconfiguração do imaginário. Tal método passa por identificar um imaginário “original”, na narrativas dos jornais da época, e compará-lo ao imaginário reconfigurado que emergiu da releitura desses enunciados realizada por autores contemporâneos – caso de De Grandi (2010) e de seu prefaciador –, entendendo que a releitura desses autores deu-se após o estabelecimento de processos decorrentes do fenômeno midiático, como a variação entre GP e GR. Para localizar esses imaginários diversos no âmbito dos enunciados que nos servem de corpus de pesquisa, elaboramos uma metodologia que nos permitiu identificar elementos dessa classe específica de sentidos – tais como excedentes de significação (SILVA, 2017), vínculos com raízes míticas (DURAND, 1998) e com os conceitos de cimento e motor social (MAFFESOLI, 1988), dentre outros.

        A partir desta comparação entre diferentes sentidos que emergiram em períodos distintos, a partir das narrativas acerca do Caso Kliemann, observamos que o imaginário, uma vez materializado em dispositivos de mídia, também fica à mercê dos processos de reconfiguração de sentidos que se põem em curso a partir do fenômeno midiático. Equivale a dizer que, embora o imaginário tenha uma origem em comum em todos os indivíduos – os mitos –, também fica exposto às reconfigurações quando transformado em uma narrativa midiática. Desta forma, esperamos também que, com essa investigação, possamos oferecer novos insumos tanto para a epistemologia da midiatização quando para as teorias do imaginário.

Notas

[1] Em nossa pesquisa também estudamos outros processos que, à luz da epistemologia da midiatização, atuam na reconfiguração dos sentidos. Um deles diz respeito aos atravessamentos, que consistem, conforme Soster et al. (2018), no aparecimento de sentidos produzidos e materializados em suportes de mídia por agentes “desautorizados”, externos ao sistema midiático institucional (formado por jornais, rádios, emissoras de televisão, etc.), que se interpõem – se atravessam – entre enunciadores e interpretantes. O outro processo estudado é a relação de dialogia que se estabelece entre os próprios dispositivos do sistema midiático, gerando influências recíprocas e novas reconfigurações de sentidos, fenômeno estudado por Soster (2016; 2017). Por uma questão de economia, neste artigo nos deteremos à questão da variação entre gramáticas e condições de produção e de reconhecimento.

[2] O mito, conforme Eliade (2019), consiste em uma narrativa que, sob a ótica das sociedades que o cultuam, conta uma história considerada real e explica como deuses ou outras entidades sobre-humanas criaram, no princípio, o mundo, a natureza, o homem e a mulher. Nestas sociedades o mito é, portanto, pedagógico, não só porque oferece uma explicação para a criação do mundo, mas porque também molda o comportamento humano, dado que as ações do indivíduo não podem fugir à ética prevista pelos entes sobrenaturais.

[3] No desenvolvimento de sua teoria dos sistemas, Niklas Luhmann apropria-se de uma série de conceitos de Maturana, ainda que desautorizado por esse. O próprio Luhmann (2011) releva que o chileno não admite a aplicação, na Sociologia, de conceitos cunhados para o estudo de sistemas orgânicos pela Biologia.

[4] Sérgio Jockymann, escritor e jornalista do Última Hora, era um dos encarregados da cobertura do assassinato de Margit Kliemann.

[5] O autor emprega a expressão entre aspas por trata-se de parte de anotações escritas pelo próprio Euclydes em um diário, após o crime.

Referências

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DE GRANDI, C. Caso Kliemann: a história de uma tragédia. Porto Alegre: Literaris/Edunisc, 2010.

DISCURSO NA RÁDIO SANTA CRUZ. [Locução de]: Floriano Peixoto Karan Menezes. Santa Cruz: 1963.

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