Editorial

Gabriela Borges1 

1 Professora do Programa de Pós Graduação em Comunicação/UFJF e editora da Revista Lumina. E-mail: gabriela.borges@ufjf.edu.br.

A segunda edição de 2022 da Revista Lumina traz uma série de artigos que discutem aspectos teóricos da comunicação e também apresentam análises empíricas de diferentes objetos comunicacionais.

O primeiro artigo da edição busca colocar em pauta os estudos de infraestrutura das mídias na sua intersecção com as artes, que são ainda pouco explorados no contexto brasileiro. Entende assim as infraestruturas como elementos que operam tanto como forma material quanto como construção discursiva e aponta os principais autores que circunscreveram o campo da arqueologia das mídias, onde esta discussão se situa, oferecendo ainda diálogos com Vilém Flusser e Friedrich Kittler.

O artigo do grupo de pesquisa da UERJ liderado por Fátima Régis traz a discussão sobre a virada afetiva na comunicação e na aprendizagem, propondo bases conceituais para refletir sobre tecnologias e humanos nos contextos comunicacionais e cognitivos contemporâneos.

Eliza Bachega Casadei, da ESPM, contribui com um artigo que discute os tensionamentos discursivos sobre a infertilidade masculina, a partir dos pressupostos metodológicos da Análise do Discurso, presentes na análise de matérias publicadas pelos diferentes veículos no período de fevereiro de 2020 e abril de 2021, além de uma de 2017, e pelos sites de clínicas de fertilidade. Concluindo que estes perpassam por discursos neoliberais e, entre outros, pelo conceito de “reproempreendedorismo” e por imperativos da masculinidade hegemônica.

Dois artigos apresentam estudos empíricos que analisam as atuações e repercussões de grupos da sociedade civil e da imprensa durante a pandemia de Covid-19 em 2020. A atuação do net-ativismo nas plataformas digitais é estudada por um grupo coordenado por Massimo Di Felice, da USP, que apresenta os resultados de pesquisa empírica realizada entre abril e junho de 2020 com dois ecossistemas formados pela sociedade civil, a campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus”, iniciativa da Redes da Maré, no Rio de Janeiro, e as articulações das comunidades paulistas de Paraisópolis e Heliópolis. O estudo desenvolvido por pesquisadores da UFC analisa, por meio da Análise de Conteúdo, os editoriais da Folha de São Paulo publicados entre fevereiro e maio de 2020 evidenciando que se impôs, neste período, uma abordagem política da pandemia com críticas à atuação do governo Bolsonaro.

Três artigos abordam análises jornalísticas de veículos nacionais e regionais. André Melo Mendes (UFMG) e Raquel Dornelas (UFRJ) investigaram os discursos e valores veiculados sobre o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo FIFA 2018 por meio da análise semiótica das capas dos jornais Super Notícia, O Globo e Folha de S. Paulo, e com base nos conceitos de Acontecimento, Enquadramento, Discurso e Romantismo, evidenciando que um certo ideal romântico sobrevive nos discursos encontrados.

O lambadão, ritmo musical da cultura popular de Cuiabá e do estado de Mato Grosso, foi estudado pelas pesquisadoras da UFMT sob o viés do jornalismo cultural a partir da análise do site Olhar Conceito, pertencente ao Olhar Direto, um dos principais portais de notícias da cidade de Cuiabá. O lambadão cresceu nas periferias da cidade, ganhando visibilidade tanto na região quanto em outros países da América Latina, porém, de acordo com os dados da pesquisa, a cobertura no site ainda é institucionalizada e o movimento cultural de massa ainda não ganhou a sua relevância em termos noticiosos.

As publicações do suplemento infantil O Progressinho, que circulou no interior do Maranhão entre 1986 e 1987, foram resgatadas por pesquisadoras da UFMA que, por meio de entrevistas e análise de conteúdo do suplemento, apresentaram um panorama geral sobre a implementação do projeto na cidade de Imperatriz, contribuindo assim tanto para a compreensão de aspectos da imprensa regional quanto para os estudos do jornalismo voltado ao público infantil.

Ainda no campo de estudos do jornalismo, o artigo teórico de Cristiane Naiara Araújo de Souza, da UFGRS, se debruça sobre o conceito de jornalismo de coalizão. Uma proposta que almeja fortalecer o papel e relevância do jornalismo na sociedade contemporânea, tendo como um de seus pressupostos a accountability e baseando-se na coordenação de interesses compartilhados por diferentes organizações.

Dois artigos refletem sobre os estudos de gênero, nas suas interfaces com o neoliberalismo e a nostalgia. Rayza Sarmento, da UFPA, observa textos em que mulheres são auto ou heteroidentificadas como feministas na revista Capricho entre os anos de 2015 a 2020. A partir da análise do discurso faircloughiana, os resultados apontam que os discursos feministas apresentam viés neoliberal, sendo voltados para realizações e comportamentos individuais e não coletivos. Os discursos das celebridades femininas focam-se na dimensão da escolha e se afastam de pautas mais emancipatórias ou históricas dos feminismos brasileiros.

Julia dos Santos, da UFRJ, apresenta um estudo teórico sobre a valência política da nostalgia como manifestação histórica, debruçando-se desde a genealogia do termo até as diferentes acepções encontradas na área das Ciências Humanas, mostrando assim que o seu entendimento converge para a ideia de que não existe uma nostalgia a priori. Relaciona assim a nostalgia ao feminismo por meio de uma busca ao passado que possa renovar o entendimento do termo e abrir caminhos para o futuro.

Por fim, para encerrar esta edição, um artigo, fruto de uma pesquisa realizada em 2021 por pesquisadores da UFRN com 43 produtores de conteúdo audiovisual para mídias sociais, elenca as suas principais demandas e mapeia o campo para o desenvolvimento de futuros estudos interdisciplinares, que podem colocar em diálogo as áreas da comunicação e da educação.

Agradecemos o interesse pela revista e a valiosa contribuição dos autores de universidades de diferentes regiões brasileiras e também a disponibilidade e comprometimento dos revisores, sempre incansáveis neste árduo trabalho que é primordial para o funcionamento da revista.

Agradecemos também a toda a equipe editorial, em especial ao Paulo Roberto Figueira Leal, pela parceria e pelo trabalho de preparação, lançamento e divulgação desta edição.

Boa leitura!

Gabriela Borges


Expediente

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Gabriela Borges

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Revisão Geral

Gabriela Borges

Diagramação

Hsu Ya Ya

Capa

Hsu Ya Ya

Imagem da Capa

Unsplash

Projeto Gráfico

Carlos Eduardo Nunes