Trem mineiro:

paisagens sonoras presentes na história de vida de Wagner Tiso

Marcos Vinicius de Moraes Terra1 e Heloísa de A. Duarte Valente2

Resumo

Neste artigo propomos analisar a paisagem sonora presente em uma narrativa de história de vida produzida com a metodologia adotado pelo Museu da Pessoa. Utilizando como fundamento teórico conceitos elaborados por R. Murray Schafer (2012) tomamos como estudo a história de vida do compositor Wagner Tiso (1945) presente no acervo do Museu. A partir das informações colhidas nas entrevistas registradas, coletamos referências que descrevem e circunstanciam as diversas paisagens sonoras vivenciadas pelo músico, ao longo de sua infância e juventude e que seriam fundantes para a estética do Clube da Esquina, do qual Tiso participou ativamente. Tais informações contribuem para compreender como se dá o pensamento estético e o processo criativo de Tiso. Para esta investigação, selecionamos depoimentos resultantes de entrevistas e analisamos vários “testemunhos auditivos” (SCHAFER, 2012) do músico. Paralelamente, é observada, ainda, a presença da paisagem sonora da canção das mídias (VALENTE, 2003), com o intuito de verificar algumas obras que acabaram por se incorporar à formação artística e intelectual de Tiso. O estudo conclui que a paisagem sonora e seus elementos foram fundamentais para o desenvolvimento do pensamento artístico de Wagner Tiso e de outros membros do Clube da Esquina.

Palavras-chave

Paisagem Sonora; Histórias de Vida; Clube da Esquina.

1 Mestre em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista (UNIP).  Diretor do Museu da Pessoa. E-mail: marcosvmterra@gmail.com.

2 Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora titular do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista; docente colaboradora junto ao Programa de Pós-graduação em Música (USP). Líder do Centro de Estudos em Música e Mídia - MusiMid. E-mail: musimid@gmail.com.

Train from Minas Gerais:

soundscapes in the life story of Wagner Tiso

Marcos Vinicius de Moraes Terra1 e Heloísa de A. Duarte Valente2

Abstract

In this article we propose to analyse the soundscape present in a narrative of a life history produced with the methodology adopted of the Museum of the Person. Using as theoretical groundwork concepts elaborated by R. Murray Schafer (2012) we chose the life history of the composer Wagner Tiso (1945) belonging to the collection of the Museum. From the information gathered in the recorded interviews, we have collected references that describe and circumstantiate the various soundscapes experienced by the musician, throughout his childhood and youth and that would be founders for the aesthetics of the Clube da Esquina, which Tiso actively participated in. Such information contributes to understanding how Tiso’s aesthetic thinking and creative process arises. For this investigation, we have selected testimonials resulting from interviews and have analysed several "hearing testimonies" (SCHAFER, 2012) of the musician. At the same time, the presence of the soundscape of the media song (VALENTE, 2003) is also observed, in order to verify how some works were incorporated into the artistic and intellectual thought of Tiso. This study concludes that the soundscape and its participating elements were fundamental to the development of the artistic thinking of Wagner Tiso and other members of the Clube da Esquina.

Keywords

Soundscape; History of Lives; Clube da Esquina.

1 Mestre em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista (UNIP).  Diretor do Museu da Pessoa. E-mail: marcosvmterra@gmail.com.

2 Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora titular do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista; docente colaboradora junto ao Programa de Pós-graduação em Música (USP). Líder do Centro de Estudos em Música e Mídia - MusiMid. E-mail: musimid@gmail.com.

Introdução: Navegando em um rio de memórias

Os seres humanos, independente da sua tribo, da sua cultura, compartilham uma memória. Imagina um grande rio onde águas de vários lugares, a água da chuva, a água dos igarapés, a água das nascentes, a água dele mesmo, dos lagos vai se é integrando, vai se rolando, vai fazendo fluxo.

 Ailton Krenak [1].

Este texto aborda particularidades a respeito de um membro de um grupo de músicos mineiros, conhecidos como Clube da Esquina [2], a partir de dados obtidos pelo relato das histórias de vida de seus protagonistas ao Museu da Pessoa. Com as informações obtidas, faz-se possível compreender mais acuradamente a pertinência de alguns aspectos relevantes no seu pensamento estético, notadamente, a importância da paisagem sonora. Considerando a importância de tais músicos no cenário artístico da década de 1970 e, em especial, no mercado fonográfico, esta abordagem parece-nos pertinente. Por razões de delimitação do escopo deste texto, centramos nossa abordagem à figura de Wagner Tiso.

Ao mencionarmos a expressão “paisagem sonora” referimo-nos a um conceito. A paisagem sonora é a qualquer campo de estudo acústico, não importando a sua natureza (SCHAFER, 2012) [3]. Desta forma, permite a identificação, registro e análise sobre a composição dos sons de um ambiente, suas funções e consequências no meio social, bem como o desenvolvimento de hábitos de escuta.

Para o presente artigo, embarcaremos na história de um dos protagonistas do Clube da Esquina, navegando em suas narrativas pessoais, os sons que habitam em sua memória e que se encontram guardadas apresentando no acervo do Museu da Pessoa. Como poderemos observar, os registros do museu oferecem possibilidades de análise muito particulares.

Escutando paisagens sonoras (alguns conceitos-chave para este estudo)

Trens, nuvens, montanhas, café, igrejas, bandas, procissões, passarinhos, cidades, morros, ruas, carros, rádios, sinos, cozinha, rios, estradas são alguns dos inúmeros símbolos que podem retratar Minas Gerais. A relação pode ser visual, olfativa, percebida pelo paladar. Pode ser encarada por qualquer dos sentidos, mas neste caso é sonora, porque é sagrada, é ruído, é silêncio [4], valores frequentemente presentes nas canções do Clube da Esquina.

Buscamos conhecer elementos que precedem a concepção artística de uma canção pela mente de um compositor, assim como compreender tudo o que possa ter e tenha afetado seu criador e sua criação. Neste caso, estudar a paisagem sonora constitui uma das possibilidades de decodificar a relação entre memória, a narrativa construída sobre ela e as marcas que a paisagem sonora imprime nas histórias de vida.

Em sua obra A Afinação do Mundo, o compositor R. Murray Schafer (2012) desenvolve um corpus conceitual que permite interpretar o conceito de paisagem sonora a partir do “ponto de escuta” de quem a experimenta (SCHAFER, 2012, p. 24).  Ocorre que a paisagem sonora é histórica e nem toda ela pôde ser registrada pelo som, uma vez que a midiatização do som é relativamente recente. Sendo assim, o autor se vê na necessidade de adentrar na memória do mundo, através de documentos pictóricos, além de textuais — de obras literárias a legislações — para analisar e tentar estabelecer relações entre sons e sua relação com o ambiente quando ainda não havia a possibilidade de seu registro. Um dos recursos empregados é a coleta de testemunhos como um guia para o estudo histórico do tema, de modo a garantir sua autenticidade. Estes relatos acabam-se caracterizando como “[...] o melhor guia possível na reconstrução das paisagens sonoras do passado” (SCHAFER, 2012, p.25).

Esse ato é denominado pelo autor como “testemunho auditivo” (SCHAFER, 2012), a partir da identificação em relatos de quem viveu experiências passadas, extraindo delas registros, elementos que possibilitem analisar traços da paisagem sonora. Esse recurso é útil porque, como descrito no livro, o pesquisador não se faz presente no momento da constituição de determinada paisagem sonora. Somente a partir do advento da eletricidade, da midiatização, que essas paisagens puderam ser registradas, tornando possível o armazenamento dos eventos sonoros.

O entusiasmo do autor com as possibilidades que o estudo da paisagem sonora oferece para a pesquisa não o impede, entretanto, de alertar para a complexidade que o tema impõe a quem se propõe a estudá-la:

Podemos isolar um ambiente acústico como um campo de estudo, do mesmo modo que podemos estudar as características de uma determinada paisagem. Todavia, formular uma impressão exata de uma paisagem sonora é mais difícil do que uma paisagem visual. Não existe nada em sonografia que corresponda à impressão instantânea que a fotografia consegue criar. (SCHAFER, 2012, p. 23).

Schafer (2012) adverte que os sons também desaparecem ou se mantêm, mas nem sempre segundo critérios semelhantes. Sendo assim, a memória torna-se um fator relevante para o registro do que o autor denomina “simbolismo em transição”. A memória se torna fonte de pesquisa e maneira de compreender a realidade:

É possível que todas as memórias sonoras se tornem romances. E, quanto mais rapidamente novos sons nos são lançados, mais seremos impelidos para as fontes da memória, imaginando os sons encantados do passado, suavizando-os em fantasias de paz. (SCHAFER, 2012, p. 254).

Muito além dos sons, os “aspectos significativos”, são mais “[...] importantes por causa de sua individualidade, quantidade ou preponderância” (SCHAFER, 2012, p. 25). Seguindo esses referenciais, tomamos três dentre os principais elementos de análise da paisagem sonora: sons fundamentais, sinais e marcas sonoras. Para elucidar a compreensão do tema, o autor estabelece uma comparação à percepção visual criada pelos psicólogos da Gestalt, ao tomar os conceitos de figura, fundo e campo: “A figura corresponde ao sinal, ou marca sonora. O fundo corresponde aos sons do ambiente à sua volta — que podem, com frequência, ser sons fundamentais —  e o campo, ao lugar onde todos os sons ocorrem, a paisagem sonora” (SCHAFER, 2012, p. 214).

Os sons fundamentais na paisagem sonora são aqueles ouvidos de forma contínua criando um verdadeiro plano de fundo auditivo que permanece como elemento familiar, enquanto os outros sons têm sua posição em destaque. Esses sons podem ser: “[...] os sons criados por sua geografia e clima: água, vento, planícies, pássaros, insetos e animais” (SCHAFER, 2012, p. 26).

Já os sinais são os que estão em contraste com os sons fundamentais, do mesmo modo que figura e fundo se contrapõem no ato da percepção visual. O autor ainda indica que devido aos propósitos do estudo, que são os de compreender uma determinada localidade, é necessário limitar-se a alguns desses sinais, indicando os que estão no conjunto determinados como avisos acústicos: sinos, apitos, buzinas, sirenes.

Por fim, a marca sonora refere-se a um som único de sua comunidade e que seja significativo ou notado pelos pares daquele determinado espaço como tal. O termo comunidade é descrito em capítulo próprio indicando que a comunidade pode ser uma entidade política, geográfica, religiosa ou social, ou até mesmo a própria casa onde uma determinada família tem seus próprios sons privados.

Elucidados estes pressupostos teóricos, cabe-nos, neste momento, aplicá-los à análise de alguns aspectos relevantes da paisagem sonora — sobretudo sons fundamentais, marcas e sinais — para verificar como eles se apresentam numa narrativa de história de vida produzida pelo Museu da Pessoa: a trajetória do músico Wagner Tiso. Antes de avançar, cabe-nos algumas notas breves sobre a metodologia do Museu da Pessoa e como são criados os acervos que o compõem.

Clube da Esquina no Museu da Pessoa

Tão expressiva quanto a Monalisa, de Leonardo da Vinci, é dona Pequenita, uma senhora ribeirinha [5] que mora na pequena cidade de Pilão Arcado Velho e que conquistou seu espaço no mundo. Realista como David, de Michelangelo, foi Germano, um homem que viveu entre 1875 a 1999, que se casou 13 vezes e teve 68 filhos [6]. Essas são algumas de milhares de histórias que compõem o acervo do Museu da Pessoa, verdadeiras obras que contam uma história tão singular quanto qualquer outra criação humana e fora de qualquer padrão canônico artístico ou apenas colecionismo de determinada peça de acervo. Uma narrativa construída sobre a história de vida de uma pessoa pode ser uma fonte rica e única sobre diversos assuntos. Entre eles, buscaremos nestas narrativas a paisagem sonora que as marcou.

O Museu da Pessoa é um museu virtual [7], estabelecido na capital paulista em 1991, foi fundado por um grupo de historiadores e jornalistas, norteados pela preocupação com a importância das histórias pessoais (mesmo de pessoas comuns) para a preservação da memória coletiva e social. O Museu se inspira no historiador Paul Thompson, um dos mais conhecidos teóricos da história oral, e utiliza de seus estudos como referência para a produção de seu acervo. Em sua publicação mais conhecida, A Voz do Passado (THOMPSON, 1992), o autor define o que é história oral, sua amplitude e seu sentido social:

A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só de dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. [...] Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical do sentido social da história. (THOMPSON, 1992, p. 44).

A partir dessa compreensão e método, o Museu da Pessoa registra, preserva e dissemina histórias de vida, de todos os estados da Federação, organizadas em grupos específicos ou sozinhas através do programa Conte sua história [8].

Na plataforma digital do Museu da Pessoa, quem acessa pode ser: 1) consulente, ao visitar todo o acervo da organização; 2) acervo, inserindo sua história no portal ou participando do programa Conte sua história; 3) curador, utilizando uma ferramenta específica no portal que pode aglutinar histórias, vídeos, imagens e pessoas em uma mesma coleção criando sua própria exposição virtual com histórias de vida.

A partir destas observações preliminares, concentremo-nos num grupo específico que passou por essa metodologia, no âmbito de um projeto extenso: o Clube da Esquina [9]: o museu registrou entre 2004 e 2007 um montante de 65 depoimentos, entre histórias de vida e histórias temáticas. Com esses testemunhos foi possível criar diversos produtos, dentre eles: uma publicação em papel, no formato de guia turístico, um portal virtual chamado Museu do Clube da Esquina, e dezenas de vídeos em curta-metragem[10].

Tendo como orientação a observação de Schafer de que na paisagem sonora as pessoas são “[...] público, seus executores e seus compositores” (SCHAFER, 2012. p. 287) e, jamais esquecendo que a paisagem sonora é mutante e histórica, buscamos nas paisagens sonoras de vida dos entrevistados aquelas que ajudaram a formar a concepção estética e artística desses músicos. Passemos, pois à narrativa história de vida de Wagner Tiso.

Paisagens sonoras paisagens de memória

Num universo de cerca de 20.000 histórias de vida que compõem o acervo do Museu da Pessoa, encontrar e definir uma delas exige, inicialmente, um conhecimento prévio do seu acervo. Como demonstraremos, a seguir, uma consulta aos depoimentos do acervo do Museu — mais especificamente, o acervo do Clube da Esquina —, além de informações relevantes para entender a produção cultural e fonográfica do Brasil, ajuda a compreender que elementos subjazem do surgimento de uma composição musical.

Uma pessoa e suas marcas no mundo não podem ser resumidas em poucas palavras, mas podemos encontrar um caminho próximo do justo para compreendê-las. Dessa forma, o registro da história da pessoa torna-se uma fonte única, rica e necessária sobre diversas características da sua personalidade, além das experiências pelas quais passou, sua formação intelectual, vínculos afetivos e ideológicos, dentre outros.

Dentre as possibilidades que o acervo do Museu da Pessoa oferece, um projeto, em particular, despertou-nos interesse: o já mencionado Clube da Esquina e, mais especificamente, uma história de vida; uma pessoa que representasse não só o movimento musical, mas também todas as diligências para que ele acontecesse e lograsse êxito. Foi assim que decidimos tomar a história de Wagner Tiso, uma vez que representa um elo entre o interior do estado e a capital mineira, referências essenciais para compreender a criação do Clube da Esquina. Ademais, Tiso foi o amigo de infância e parceiro musical de Milton Nascimento, cuja contribuição é de grande valia para o Clube da Esquina, além de ser um dos expoentes da música brasileira até hoje. Tiso é, pois, uma “testemunha auditiva” (SCHAFER, 2012, p. 368) muito relevante, não apenas no âmbito do Clube, assim como na música brasileira de seu tempo.

Antes de iniciarmos a análise sobre o relato da história de vida de Wagner Tiso, para compreender e aprofundar diversas questões relativas à paisagem sonora é necessário ressaltar que uma história de vida produzida pelo Museu da Pessoa tem como finalidade registro, edição, disseminação e salvaguarda sobre indivíduos, não se preocupa com apontamentos sobre a paisagem sonora. Assim, toda e qualquer menção sobre o tema é uma construção da memória da pessoa que, no exato momento da entrevista, elaborou como narrativa pontos importantes que trazem este elemento daquele determinado momento histórico, de maneira espontânea.

Inicialmente, faz-se necessário apresentar quem é Wagner Tiso, para além de sua contribuição ao Clube da Esquina. Nascido em Três Pontas, em 12 de dezembro de 1945, descendente de uma família mineira com origens no Leste Europeu. Seu pai era bancário; sua mãe, professora de piano.  Em começos da década de 1960, a família se muda para Alfenas. Lá, Tiso funda seu primeiro conjunto musical em companhia de Milton Nascimento, dentre outros amigos. Trata-se de algo despretensioso, apenas com o fim de animar os bailes da cidade.  Muda-se para a capital mineira e, do mesmo modo, em parceria com o Milton Nascimento, cria o Berimbau Trio. É nessa época que ambos conhecem a família Borges, dentre outros artistas moradores de Belo Horizonte. Estava formado o embrião do Clube da Esquina. No começo da década de 1970, constituem um grupo de rock progressivo, intitulado Som Imaginário. Wagner Tiso viria a participar do disco do Clube com o órgão e os arranjos das músicas. Em 1978, ele lança seu primeiro disco. O músico mantém-se em atividade ininterrupta, somando uma obra que reúne mais de 30 discos, além de dezenas de arranjos, trilhas musicais.

Passemos a mencionar algumas das lembranças pessoais relatadas pelo músico na entrevista concedida ao Museu da Pessoa. Estimulado pelo entrevistador, Wagner Tiso revisita suas primeiras lembranças de infância: a primeira é sobre sua mãe ensinando seu irmão mais velho a tocar piano. Tiso demostra seu entusiasmo, ao presenciar a situação, como também ao fazer seus primeiros contatos com a execução ao vivo de canções:

As lembranças antigas são muitas, né? Agora o difícil é você concatenar aqui as ideias, mas eu lembro muito da minha mãe ensinando piano, né? Eu lembro que eu ficava embevecido de ver minha mãe dando aula pra meu irmão mais velho, o Gileno. E eu ficava entusiasmado com aquele som. Ele estudava Chopin, essas coisas, aquilo me entrava na cabeça. (TISO, 2004, On-line).

Tiso prossegue a descrição desse momento de sua vida ao responder outra pergunta: além das aulas da mãe, que espiava, sorrateiramente, seu primeiro contato mais direto se deu quando começou a experimentar o acordeão da família, com o qual, ainda muito pequeno “ficava descobrindo acordes”. Em outra resposta, ele relata como ampliou suas referências auditivas musicais. Aqui, dois parentes importantes foram peças-chave para o desenvolvimento de seu repertório:

E conheci então dois primos mais velhos que foram fundamentais para me direcionar para um outro lado assim, né? Que é o Djalma Tiso e o Duílio Colgo Tiso também. O Duílio já tinha um espírito assim um pouco diferente da música clássica que se fazia na minha família. Minha família tocava muita música clássica, muita música cigana, tinha muito violinista, muito acordeonista. Mas o Duílio já tinha um espírito assim, ele ouvia música americana, acho que uma das únicas pessoas que ouvia música americana. O Djalma ouvia o que se fazia de moderno no Brasil na época, então tinha o quê? Ari Barroso, tinha os grupos do Cazé, de São Paulo. Ele tem discos de músicas paulistas, músicas cariocas já, entendeu? (TISO, 2004, On-line).

Dando continuidade a seus relatos, Tiso volta a citar as origens de sua família, agora como necessidade de ponderar a importância da música sobre eles:

Teve uma geração do meu avô que nasceu em Pádua, na Itália, e acabou indo pra Três Pontas. Ali formou o clã dos Tisos de Três Pontas. E, então, ali é uma região muito musical, e toda minha família tocava um instrumento, tocava no estilo da região, inclusive, e gostava dos clássicos também. Família europeia, né? (TISO, 2004, On-line).

Nascido após a fase hegemônica do rádio, Tiso destaca a importância da música midiatizada na sua formação como ouvinte qualificado. Com isto reforça-se a ideia de que “a música forma o melhor registro permanente de sons do passado” (SCHAFER, 2012, p. 151). E, acrescentamos: a música é poderosa fonte de memória, tanto individual, quanto coletiva (VALENTE, 2003).

Dando continuidade ao depoimento, seguem o relato de dois momentos importantes da narrativa de Tiso: a contribuição da música composta para o cinema e a música sacra. O primeiro se refere à importância das trilhas musicais cinematográficas em sua vida. Aqui identificamos a riqueza de tais composições, como precisamente destaca Medaglia (2005) a respeito da contribuição da música de concerto como trilha musical. O entrevistado relembra a presença desse repertório nos filmes aos quais assistia no cinema:

A minha influência era o impacto da música que a gente via no cinema, quando menino, né? A gente via os seriados de cinema, eles usavam muito música clássica, usavam muito Wagner. E aquela música, aquele movimento de orquestra, aquilo me encantava muito. Inclusive os bandidos correndo atrás dos mocinhos e sempre tinha uma música muito bem orquestrada que parecia com a cena, aquilo me encantava muito. Então foi um primeiro impacto na minha formação musical. (TISO, 2004, On-line).

Em um segundo momento a música e os sons sacros sugerem “Deus se fazendo ouvir”: mais que um sinal sonoro de relevância na comunidade; o sino além de sua função de anúncio de notícias e chamamento à missa, exerce uma função básica: a de atrair e aglutinar a comunidade (SCHAFER, 2012, p. 86). Nesses momentos, a paisagem sonora se caracteriza pela presença dos sons esperados, mas também agrega outros periféricos, circundantes. Um exemplo que bem elucida é a procissão da Paixão de Cristo, quando o silêncio esperado, há centenas de ruídos no entorno, tais como: os carrinhos que levam as imagens sacras, o estalo das velas queimando, o andar de todos envolta, tosses, murmúrios e choros compõem uma paisagem sonora única. Esses pormenores são claramente apontados por Tiso:

A música sacra teve uma influência muito grande, eu lembro inclusive que —, mas uma coisa triste, né, porque sempre pela Paixão de Cristo — às seis horas da tarde a gente ficava triste porque escurecia, ficava aquela música na igreja, os sinos batendo. Mas aquilo entrou dentro da gente, né? Nas procissões, os passinhos, cada família tinha o seu passinho. Enfeitava, eu enfeitava o passinho do meu avô. E o quarteirão da rua, a gente ajudava a enfeitar com flores, né, fazer aqueles mosaicos, aqueles trabalhos com flores, e a procissão passava tocando e cantando, né? Eu tinha aqueles primos mais velhos que cantavam com sons de tenores, aquelas primas que cantavam com sons de sopranos. Aquilo tudo, claro que você tem 4, 5, 6, 7 anos, mas todo ano vinha aqui, aquilo vai entrar de alguma forma em você, né? O órgão da igreja, tudo isso faz parte. (TISO, 2004, On-line).

A presença da igreja católica se destaca em outros trechos do depoimento: aparece como agente formador e sua importância é salientada no desenvolvimento da sua formação musical:

Eu estudei em colégio de padre, porque formação de músico ali era importante. Músico, que eu digo, não, corais. Tinha que ter corais, tinha aula de música. Então é realmente muito importante essa formação litúrgica, formação sacra, né, acho que foi importante. Não só pra mim, mas acho que usei mais porque eu saia pro mundo pra trabalhar e usei muita orquestra, então isso está sempre mostrando as minhas influências. Eu tenho essa oportunidade de mostrar as influências que eu tive. (TISO, 2004, On-line).

Uma particularidade a se destacar se dá quando Tiso foi capaz de compor uma série de obras graças às suas referências da música sacra que aprendeu nas igrejas. Tal afirmação é importante, uma vez que traz o contexto social em que o músico vivia para a sua memória individual, criando uma marca sonora que se imprimiria em sua produção musical subsequente:

Agora me lembrei inclusive de um fato interessante. O que me chamava atenção nos domingos era aquele pessoal que trabalhava nas fazendas e na cata de café, os operários da fazenda, eu via todos eles entrando na igreja. A gente viu eles toda semana trabalhando, aquela roupinha simples, todos sujos, coisa e tal. E todos muito bem vestidinhos, né? Claro que com uma calça curtinha, com a paletó... né? Mas eles todos muito bem arrumadinhos, entravam pra missa assim, né? E aquilo lá me encantava, né? Foi por isso que fiz um tema chamado a igreja majestosa e os cafezais sem fim, tirado de versos do meu pai. Meu pai que foi o letrista do meu irmão Gileno, que fez o hino da cidade de Três Pontas. E tem um momento na música que ele fala: ‘A igreja majestosa e os cafezais sem fim’. E isso me inspirou a fazer essa passagem do trabalhador entrando na igreja, né? E a partir daquele momento a música se tornava sacra, né? Porque vinha numa coisa alegre, uma coisa do trabalhador, porque, engraçado que geralmente no Brasil os trabalhadores pobres que levam a alegria. Os ricos é que levam as cerimônias mais tristes. Isso é engraçado. Mas tem a ver. O meu objetivo na época foi fazer isso, foram essas as influências que eu tive então. (TISO, 2004, On-line).

Outro aspecto relevante no que diz respeito à paisagem sonora nos locais em que habitou Tiso diz respeito à geografia local. Uma cidade tem seus “sons fundamentais”, assim como revela suas marcas sonoras — fato comum em todas as comunidades. No trajeto percorrido por Tiso, um sinal sonoro, único e familiar, uma música executada por outra pessoa, de uma forma única e própria de executá-la veio a configurar um tipo de paisagem sonora singular. Na rua pela qual passava se encontrava Bituca (apelido dado a Milton Nascimento). Mais que percorrer um caminho, foi um som que levou um músico ao outro:

Então eu passava em frente, imediatamente tinha um som, era o Bituca sentadinho assim no alpendre, nos degraus da escadinha, ele sentado e com as perninhas compridas assim. Ele botava uma gaita entre os joelhos, ali ele tocava a melodia, com a sanfoninha embaixo do braço ele se acompanhava. Eu achava aquilo assim muito fantástico, né?  ‘Mas que jeito diferente, que cara estranho, como é que ele consegue fazer isso? Tocava umas coisas bonitas, né, tocando gaita e se acompanhando ao mesmo tempo. Ele inventou essa história. E eu sempre tive muita curiosidade, ‘Pô eu preciso conhecer esse cara’. E nós tínhamos um amigo em comum e o Bituca tava ensaiando num conjunto vocal na casa da Quitéria. E eu passava também e ouvia aquilo som de conjunto vocal, achava aquilo interessante. Até que o Dida, nosso amigo, que cantava nesse grupinho do Bituca, me levou com meu acordeão. Eu cheguei lá com meu acordeom, eu devia ter 11 anos aí, 10, 11. Aí sentei lá, eles cantaram e eu comecei a acompanhar junto. E o Bituca gostou daquilo, ele gostou do jeito que eu tocava, acho que combinava com o jeito do grupo, né, aquela coisa toda. Mas aí ele me confessou: ‘Poxa, eu fiz uma promessa que jamais um Tiso ia tocar comigo. Porque em Três Pontas só Tiso sabe tocar’ (risos). Mas ele me aceitou naquele grupinho e formamos ali uma amizade. (TISO, 2004, On-line).

A execução ao vivo de música ainda hoje é uma das formas que permitem que um grupo de pessoas tenha acesso à música. Na cidade de Três Pontas na década de 1960, é possível de imaginar que essa experiência tenha sido estimulante e prazerosa. Sobretudo em se considerando a tenra idade dos espectadores com aspirações à carreira musical. Porém, por questões sociais, essa experiência se torna ainda mais relevante e incomum, como descrito por Tiso:

O Bituca eu lembro que ele não podia nem ir no Clube porque ele é preto, né? Então era uma cidade muito preconceituosa, que foi quebrado isso. Com o tempo as coisas se normalizaram. Eu lembro que, eu, amigo do Bituca, a gente muito ligado, tinha a Orquestra do Cazé, que era um grande saxofonista, foi tocar no Clube de Três Pontas. Agora, eu queria porque queria ver de qualquer maneira, né? Eu falei, ‘Pô, eu vou ver isso. Eu quero ver. Mas por outro lado vou ficar com dó do Bituca. Que ele não podia vir. Então eu combinei com o Bituca: “Vamos ficar aqui no banquinho do jardim, né, que era em frente ao Clube. E a Orquestra tocava, aí vinham aqueles sons assim diferentes pra gente, um barítono, às vezes tinha um trompete mais agudo, tal e coisa. Aí ele ficava assim: ‘Vê esse som, o que que é?’ Aí eu subia lá, olhava, olhava, olhava, ‘Olha, o saxofonista está tocando no meio, solando, o barítono fica aqui do lado esquerdo aqui do naipe de sax’. Eu ficava contando. Eu era o repórter, (risos) porque ele não podia entrar no Clube, cara, eu achava um absurdo isso. Então eu era o repórter de como as orquestras se portavam, né? Então eu ia, voltava, ia, voltava, ia voltava, contando as coisas pro Bituca. O Bituca achava aquilo tudo maravilhoso. ‘Pô, mas como é que é isso?’ Muito curioso, né? Querendo saber tudo como é que acontecia aquilo e eu reportava tudo, falava tudo pra ele. (TISO, 2004, On-line).

Algo relevante que aparece na história de vida de Tiso, em vários momentos é a Rádio de Três Pontas, um lugar importante para o seu desenvolvimento musical e que em vários momentos da entrevista aparece como principal acesso à música pelas linguagens midiáticas, especialmente a canção das mídias (VALENTE, 2003). Tiso destaca o valor da rádio e dos discos em sua vida:

Depois ele foi locutor da rádio, a gente ficava escolhendo discos e ouvindo as coisas que a gente mais gostava. Quando a gente ouviu Ray Charles ali pela primeira vez cantando Stella by Starlight, a gente só faltou desmaiar. A gente olhava um pro outro e não acreditava. O Bituca falou assim pra mim: ‘Tá vendo, homem também sabe cantar!’ Aquilo era muito interessante. E assim, eu conheci o Bituca assim. (TISO, 2004, On-line).

O relato sobre o suporte midiático da música remete para o esclarecimento de como se deu acesso; como foi possível, conhecer outros sons, por meio de aparatos tecnológicos. A narrativa de Wagner Tiso destaca como a escuta da música midiatizada (em disco, sobretudo) foi importante para conhecer os mais diversos gêneros musicais:

A gente estava começando um pouquinho a ouvir Bossa Nova, assim. Que teve uma vez que a gente tava lá em Alfenas na varanda de casa e aí chegou minha mãe com um disco assim. Eu falei, ‘Mãe, deixa eu ver.’ Ela falou: ‘Não mostro’. Mas ela foi lá na vitrola e botou o som, botou o disco. Era o Tamba Trio tocando Moça Flor, uma coisa assim. A gente também, depois do Ray Charles foi a segunda caída de queixo da gente. Falei, ‘Poxa! Existe uma música.’ Aí começamos a desenvolver também coisas parecidas com essas, né? Mas foi minha mãe que apresentou o Tamba Trio pra gente, impressionante. Ela ouviu numa loja, ela viajou, viu numa loja, falou: ‘Não sei o que lá Bossa Nova, acho que o Wagner e o Bituca vão gostar disso’. Ela desconfiou que a gente ia gostar disso. Aí comprou e levou e surpreendeu a gente com aquilo ali. E foi um dos momentos que foi um outro divisor de águas na vida da gente. (TISO, 2004, On-line).

Todas essas memórias confluem para um destino único: o desejo de ser músico. Toda essa vivência apresenta o caminho de amadurecimento do menino músico; hoje, profissional, continua a viver novas experiências e leva adiante sua trajetória de prestígio. Registremos o momento em que Wagner Tiso e seu amigo companheiro chegam a Belo Horizonte e começam efetivamente a escrever seus nomes na história da música brasileira:

Eu queria ser músico, eu queria aprender muito, saber muita coisa de música, saber tocar muito bem, isso é que eu queria, né? Queria aprender a escrever música, queria aprender a escrever arranjo. O Bituca queria saber cantar, mostrar as possibilidades que ele tinha, que sempre foi um cantor super inventivo, desde menino. Bituca era um passarinho cantando, era impressionante. E isso ele guardou pra sempre, entendeu? Mas aí tivemos essa necessidade de procurar novos caminhos realmente. Aí acabamos chegando em Belo horizonte. Em Belo Horizonte começou uma nova fase na carreira da gente. A gente fazia muito baile, como os conjuntos da cidade. E conhecemos um pessoal, começamos a visitar a casa do Nivaldo Ornelas, que ele começou a mostrar um monte de John Coltrane, Miles Davis, coisas maravilhosas, aquilo que foi encantando a gente. (TISO, 2004, On-line).

A partir deste momento é interessante notar que saem as narrativas com descrições da paisagem sonora para dar lugar a outros assuntos, em especial a descrição da produção artística de Wagner Tiso e seus parceiros. Há, ainda, outros aspectos a observar, na narrativa da história de vida do músico. Graças ao Museu da Pessoa, novas possibilidades de pesquisas e desdobramentos se fazem possíveis.

Considerações Finais: ... E o broto se fez memória!

Já podaram seus momentos, desviaram seu destino, seu sorriso de menino, quantas vezes se escondeu, mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia, e há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor, flor e fruto [11].

Em A afinação do mundo, Schafer lança uma pergunta: “Onde estão os museus dos sons desaparecidos?” (SCHAFER, 2012, p. 254). Em um momento de 1991, uma indagação parecida se pôs ante um grupo de pessoas no Brasil: Onde estariam os museus que reúnem as histórias de vida das pessoas? Transformaram-na em unidade de acervo de um museu, mostrando a importância de sua preservação e disseminação. Mas o que dizer sobre os museus de sons desaparecidos? Possivelmente não existem ainda. Para isso encontramos na narrativa das histórias uma possível fonte de compreensão aos sons que fazem parte de uma paisagem sonora que necessita ser estudada e compreendida.

“Quero falar uma coisa...” Assim começa a canção Coração de estudante, na qual visivelmente Wagner Tiso quer ser escutado, não apenas pelo som, mas também pela escrita. Ainda mais pela forma de contar uma história. Na música, o compositor exprime toda a intensidade de passar por alguns momentos da vida, elevando as possibilidades de renovação de esperança e indicando que é necessário “cuidar do broto” para que a “vida nos dê flor, flor e fruto”.

Seguramente a escuta é a parte mais importante da história oral. É nela que conseguimos dar continuidade a esse processo de entender uma pessoa, uma história, um local, um momento, um acontecimento e — porque não? —  um silêncio, também necessário para a compreensão do som. Neste artigo apelamos a Schafer e outros teóricos para tratar sobre som e memória. Escutamos Wagner Tiso e sua narrativa, construída por ele com apoio do Museu da Pessoa. Por fim, tentamos criar uma composição de todas essas vozes para navegar e fazer brotar uma compreensão da paisagem sonora e seu espaço na memória.

O fruto do processo de escutar essas várias fontes, em especial a história de Wagner Tiso, possibilitou conhecer melhor a importância do ambiente sonoro na vida de uma pessoa, demonstrando que, para além da ideia comum que um reconhecido artista nasce gênio, observamos que seu entorno, tudo o que toca e o que escuta, que se aprende e que se sente — no caso de Tiso representado pelas aulas da mãe, a missa, o rádio, os discos, a praça, os amigos, a rua, o baile da cidade —, tudo isso teve implicações em sua história e em sua carreira artística. A escuta atenta — “audição clara”, no dizer de Schafer (2012), assim como o envolvimento com a paisagem sonora presente em sua vida se manifesta nas suas composições.

E assim promovemos um diálogo entre Schafer e Thompson que poderia ter existido e que nos arriscamos em travar neste texto, ainda que de maneira tímida: ao combinar a metodologia da História Oral, com os pressupostos da teoria da paisagem sonora, abre-se um leque de possibilidades muito profícuas para os estudos musicológicos, mas também no campo das ciências humanas e sociais. O caso particular da formação do “ouvido pensante” de Wagner Tiso o comprova.

Notas

[1] Disponível em: <https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/historia/rio-de-memorias-44619>. Acesso em: 15 out. 2021.

[2] A denominação Clube da Esquina surgiu no final da década de 1970 para designar um núcleo de compositores, músicos e poetas do estado de Minas Gerais. Clube da Esquina e Clube da Esquina n° 2 acabaram se tornando títulos de canções e álbuns, lançados em 1972 e 1978, respectivamente (NUNES, p. 11, 2005). Consideramos o Clube da Esquina como grupo de pessoas que constituíram um movimento artístico.

[3] O autor define que o campo de estudo acústico pode ser uma composição musical, um programa de rádio ou mesmo um ambiente acústico (SCHAFER, 2012, p.23).

[4] “Ruído sagrado” e “silêncio” estão entre os conceitos fundamentais que Schafer utiliza para categorizar ou reconhecer alguns elementos sonoros em uma dada obra musical (SCHAFER, 2012).

[5] Maria do Socorro Dias Santos (Dona Pequenita). Disponível em: <https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/pessoa/maria-do-socorro-dias-santos-dona-pequenita-16450>. Acesso em: 15 out. 2021.

[6] Germano Araújo da Silva. Disponível em: <https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/historia/eu-nao-vi-o-seculo-passar-nao-44906>. Acesso em 15 out. 2021.

[7] O Museu da Pessoa desenvolveu uma metodologia própria, difundida em cursos e várias publicações sobre o tema, com o nome de Tecnologia Social da memória descrita como: “A Tecnologia Social da Memória reúne práticas, conceitos e princípios essenciais para que públicos diferenciados, com objetivos diversos, possam se apropriar da metodologia de registro e produção de narrativas históricas”. (MUSEU DA PESSOA, 2009, p. 12).

[8] O programa Conte sua história é uma ação programática e contínua onde toda e qualquer pessoa que se inscreva pelos canais de comunicação do Museu da Pessoa, passa pela metodologia de registro, disseminação e salvaguarda da história de vida criada pelo próprio Museu.

[9] Este projeto é resultado de parceria com um grupo organizado chamado Associação dos amigos do Museu do Clube da Esquina, que reúne diversas pessoas que participaram do processo de criação do movimento e que reunidos, constituem um grupo formalmente assim designado como Museu Clube da Esquina.

[10] Os vídeos em curta metragem podem ser vistos a partir do canal digital do Youtube do Museu Clube da Esquina. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/museuclubedaesquina/videos>. Acesso em: 15 out. 2021.

[11] Trecho da música Coração de estudante, uma das canções criadas por Wagner Tiso e executada por Milton Nascimento.

Referências

VALENTE, H. As vozes da canção na mídia. São Paulo: Via Lettera, 2003.

MEDAGLIA, J. Música Impopular. São Paulo: Global editora, 2005.

MUSEU DA PESSOA. Tecnologia social da memória. Brasília: Fundação Banco do Brasil: Abravídeo, 2009.

NUNES, T. A sonoridade específica do Clube da Esquina. 2005. 183 f. Dissertação (Mestrado em Música) - Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. Disponível em: <https://hdl.handle.net/20.500.12733/1601960>. Acesso em: 20 nov. 2021.

SCHAFER, R. M. A afinação do mundo. São Paulo: Editora Unesp, 2012.

THOMPSON, P. A voz do passado - História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

TISO, W. O Wagner é único (História de vida de Wagner Tiso). Museu da Pessoa, On-line, 29 jun. 2004. Disponível em: <https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/historia/o-wagner-e-unico-45530>. Acesso em: 20 out. 2021.