As telas da pandemia da Covid-19: desafios do Jornalismo e do Audiovisual

 

Iluska Coutinho1, Edna Mello2 e Cristiane Finger3

 

1 Jornalista, mestre e doutora em Comunicação. Docente do curso de Jornalismo e do PPGCOM-UFJF. Líder do NJA, Núcleo de Jornalismo e Audiovisual, pesquisa Telejornalismo e Comunicação Pública com apoio do CNPq (PQ2), Fapemig (PPM) e Capes. E-mail: iluska.coutinho@ufjf.br.

2 Mestra e Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do PPGCOM da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação, Design e Tecnologias Digitais (UNIFESP/CNPq). E-mail: eedna.mello@unifesp.br.

3 Doutora em Comunicação Social pela PUCRS. Professora Titular do Curso de Jornalismo e do Programa de Pós Graduação em Comunicação Social Famecos/ PUCRS. Pesquisa o telejornalismo e as narrativas para outras telas. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Televisão e Audiência (GPTV). E-mail: cristiane.finger@pucrs.br.

 

Desde março de 2020, as telas, que já ocupavam centralidade na sociedade brasileira, têm sido suporte não apenas para informação cotidiana e entretenimento, mas também para acesso à educação e sociabilidade. Se o Brasil (é) ditado pela TV, o jornalismo foi desafiado a atuar frente às transformações decorrentes da pandemia da Covid-19. Outros gêneros e profissionais do audiovisual também experimentaram mudanças diversas nos modos de atuar e de comunicar.

Mais de um ano após a confirmação do primeiro caso de Covid-19, quando a edição do dossiê foi proposta, o distanciamento social era medida de defesa da saúde e da vida no país, e a presença das telas como modo de (com)viver é uma realidade. Nesse cenário. propusemos aos autores e autoras refletir acerca do protagonismo assumido pelo jornalismo e por outros produtos audiovisuais consumidos, mas também cada vez mais produzidos por meio de telas, cada vez mais centrais na contemporaneidade.

É certo que elaborar um dossiê sobre o jornalismo e o audiovisual nas telas contemporâneas é um grande desafio. Primeiro, porque os estudos sobre televisão e outras telas aumentaram significativamente e o campo vem desenvolvendo um conhecimento sólido e de referência. Em segundo lugar, porque o transbordamento e o conteúdo de televisão nestes tempos de convergência ficaram muito mais complexos.

A pandemia, por fim, colocou em “xeque” muitas das nossas rotinas de produção e regras que talvez tenham demorado demais para serem quebradas: nunca entregue o microfone para o entrevistado; para fazer uma reportagem em vídeo é preciso estar no lugar do fato; a qualidade técnica na captação de imagens é tão importante quanto as informações; a câmera é a segurança da equipe, basta gravar; o rosto do repórter deve demonstrar a seu conhecimento e dar credibilidade à notícia; nada substitui a televisão; a televisão é hegemônica; os jovens não assistem mais televisão; aumenta a audiência dos telejornais. Outros tensionamentos convidam a pesquisas e reflexões: repórter mascarados, jornalistas ameaçados, novas formas de captação e edição de imagens, veiculação em redes sociais e tantas outras mudanças. Certezas que não se cumprem e dúvidas que nunca serão sanadas.

Se as redações dos telejornais adotaram novos procedimentos em suas rotinas produtivas, adaptando-se às exigências da necessidade de informar a sociedade e preservar a saúde de seus profissionais, também outros universos do audiovisual, como a produção de telenovelas e seriados, foi atravessada por mudanças nos modos de ser e estar em função da Covid-19. Tais processos de transformação e/ou de remediação têm sido, desde então, tema de pesquisas e estudos apresentados em congressos e eventos científicos, estes nos últimos 18 meses realizados também por meio de telas. As lives se constituíram em nova ambiência para a experiência comunicativa, jornalística e/ou cultural em tempos de pandemia. Shows; conferências; reuniões acadêmicas, administrativas e familiares; bancas de defesas de mestrado e doutorado; com a Covid-19 distintos modos de ser e estar, (sobre)viver foram concretizados pela mediação audiovisual, em telas.

Os oito artigos que compõem esse dossiê refletem sobre distintos produtos audiovisuais, e ainda sobre a importância da checagem de fatos como exigência para que em distintas telas e suportes a circulação seja de dados e informações confiáveis, capazes de reduzir desigualdades sociais e no acesso ao conhecimento. Há textos que colocam em tela ameaças ainda persistentes para a atuação de repórteres e cinegrafistas, em particular das mulheres jornalistas, as ações de (re)existência e as mudanças de linguagem e práticas profissionais. As (re)invenções em tempos de pandemia estão registradas em obras como A (re)invenção do Telejornalismo em tempos de pandemia (2020)[1], e motivaram pesquisas diversas como as apresentadas nos artigos deste dossiê, preparado com rigor científico, e entre telas pelos autores e autoras. Porque a ciência, neste momento, exige cuidados redobrados e apoio incondicional. Estes estudos são resultados de pesquisas que não podem parar. Elas são a garantia de que vamos combater as notícias falsas e a desinformação com técnica, ética, estudos e muita reflexão.

 

Boa leitura!

Iluska Coutinho, Edna Mello e Cristiane Finger

 

 

Notas

 

[1] EMERIM, Cárlida; PEREIRA, Ariane & COUTINHO, Iluska (orgs). A (re)invenção do Telejornalismo em tempos de pandemia. Coleção Jornalismo Audiovisual, v.10. Florianópolis: Insular, 2020.