O lugar da dramaticidade no Jornal
Nacional:
um
estudo sobre técnicas e ferramentas utilizadas na cobertura da pandemia de
Covid-19
Fabiana Siqueira1, Débora Freire2 e Vagner Cesarino de Souza3
1 Doutora em Comunicação pela UFPE.
Docente do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PPJ) e do Curso de
Jornalismo na UFPB. E-mail: fabiana.siqueira@academico.ufpb.br.
2 Mestre em Jornalismo pela
UFPB. Jornalista no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da UFPB. E-mail: jornalismo_debora@yahoo.com.br.
3 Mestrando em Jornalismo pela
UFPB. Especialização em Psicologia Escolar e da Aprendizagem pela Fundação
Francisco Mascarenhas. E-mail: bobvagner64@gmail.com
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar a presença de elementos utilizados pelo Jornal Nacional (JN) para conferir dramaticidade na cobertura da pandemia de Covid-19, a partir do olhar da dramaturgia do telejornalismo. O recorte compõe nove edições do telejornal entre o período de abril de 2020 e junho de 2021, dos quais extraímos técnicas e ferramentas usadas não só em reportagens, mas na apresentação do noticiário, bem como em quadros temáticos e editoriais. Como processo metodológico, utilizamos os conceitos de telejornalismo na atualidade e dramaturgia do telejornalismo, além do método da Análise da Materialidade Audiovisual (COUTINHO, 2016), que tem como objetivo observar a totalidade da informação como unidade (texto+som+imagem+tempo+edição). Identificamos tentativas por parte do JN de oferecer um discurso mais sensível e eficiente diante da enxurrada de informações e desinformações sobre a pandemia. Os elementos que conferem dramaticidade foram encontrados nas falas dos repórteres, apresentadores, entrevistados, nas imagens tanto captadas pela emissora ou pelo público e também nas artes, nas pausas sonoras, nos sobe sons. As situações características da dramaturgia do telejornalismo foram ainda localizadas nas narrativas, através da presença de heróis/mocinhos, vilões/bandidos, vítimas dos vilões/bandidos e nas situações de conflito mostradas nas notícias.
Palavras-chave
Telejornalismo; Jornal Nacional; Dramaticidade; Dramaturgia do telejornalismo; Pandemia de Covid-19.
The
place of dramaticity in Jornal
Nacional:
a study of techniques and tools used to
cover the Covid-19
Fabiana
Siqueira1, Débora Freire2 e Vagner
Cesarino de Souza3
1 Doutora em Comunicação pela UFPE.
Docente do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PPJ) e do Curso de
Jornalismo na UFPB. E-mail: fabiana.siqueira@academico.ufpb.br.
2 Mestre em Jornalismo pela
UFPB. Jornalista no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da UFPB. E-mail: jornalismo_debora@yahoo.com.br.
3 Mestrando em Jornalismo pela
UFPB. Especialização em Psicologia Escolar e da Aprendizagem pela Fundação
Francisco Mascarenhas. E-mail: bobvagner64@gmail.com
Abstract
The
aim of this study was to analyze the presence of elements used by Jornal Nacional (JN) to provide drama in
coverage of the Covid-19 pandemic from the perspective of television journalism
dramaturgy. The clipping comprises nine editions of the newscast between the
period of April 2020 and June 2021, from which we extract techniques and tools
used not only in reports, but in the presentation of the news, as well as in
thematic and editorial boards. As a methodological process, we use the concepts
of telejournalism today and telejournalism
dramaturgy, in addition to the Audiovisual Materiality Analysis method
(COUTINHO, 2016), which aims to observe the totality of information as a unit (text+sound+image+time+edition). We identified attempts by
JN to offer a more sensitive and efficient speech in the face of the flood of
information and misinformation about the pandemic by the audience and also in
the arts, in sound pauses, in the rise of sounds. The characteristic situations
of the dramaturgy of telejournalism were also located
in the narratives, through the presence of heroes/good guys, villains/bad guys,
victims of villains/bad guys and in conflict situations shown in the news.
Keywords
Telejournalism; Jornal Nacional; Dramaticity;
Telejournalism Dramaturgy; Covid-19 Pandemic.
Introdução
Em 2020 e 2021, além do
combate ao vírus da Covid-19 ao redor do mundo, a sociedade se deparou com um
problema que só aumenta: a infodemia (ZAROCOSTAS, 2020). É como se houvesse
duas pandemias ao mesmo tempo: uma sanitária e outra ligada a desinformação. A
primeira é combatida com vacinação, medidas de distanciamento e higiene. Já a
segunda, entre as estratégias de enfrentamento, estão: confrontar as
informações falsas, dar voz à ciência por meio da fala de especialistas e
pesquisadores reconhecidos pela comunidade científica, oferecer dados de fontes
confiáveis à população, etc.
Nesse cenário, o
telejornalismo tem ocupado um lugar de referência, mesmo diante dos ataques
sofridos contra a imprensa. Afinal, quem tenta combater a infodemia, acaba
também sendo alvo daqueles que procuram se beneficiar da desinformação.
Compartilhamos da visão de Vizeu (2009, p. 77) de que os telejornais têm uma
função pedagógica e contribuem “para que homens e mulheres possam compreender o
mundo da vida, o cotidiano tenso e permeado por conflitos ao qual eles têm cada
vez menos acesso”.
Mesmo diante do crescimento
da internet e do uso dos smartphones, o telejornalismo segue presente,
não mais restrito aos televisores, mas disponibilizado também em múltiplas
telas (EMERIM, 2017), inclusive, a dos celulares.
É assim com o Jornal
Nacional (JN), principal noticiário da TV Globo, cujo conteúdo é exibido ao
vivo pela emissora e pelo Globoplay (plataforma digital de streaming de
vídeos e áudios do Grupo Globo) e depois disponibilizado tanto no Globoplay,
quanto no portal de notícias G1, ambos pertencentes ao mesmo conglomerado.
Dessa forma, o telejornal pode ser assistido a partir da televisão, dos smartphones,
tablets ou computadores.
O JN surgiu em 1969
(MEMÓRIA GLOBO, 2004) e de lá para cá vem se valendo de estratégias para se
manter como o telejornal, de abrangência nacional, de maior audiência do país.
Uma dessas estratégias envolve o uso da dramaturgia do telejornalismo. É algo,
como aponta Coutinho (2012), que faz parte da estrutura jornalística da notícia
na TV:
O noticiário de televisão é espaço para que
experimentemos os pequenos e grandes dilemas cotidianos, emoções de anônimos e
autoridades, editadas segundo uma série de características que as aproximam das
narrativas de ficção, do terreno da (tele) dramaturgia (COUTINHO, 2012, p. 2).
Nos telejornais, a (tele)dramaturgia
está presente na forma como a estrutura narrativa é construída, na elaboração
do roteiro, no uso de imagens, na utilização do som e de trilhas sonoras, no
emprego de personagens (como são chamadas as pessoas cujas histórias têm
relação direta com a notícia).
Neste trabalho optamos por
estudar a presença de elementos que conferem dramaticidade à cobertura da
pandemia da Covid-19 no Jornal Nacional a partir do olhar da dramaturgia
do telejornalismo. Foram selecionadas nove edições entre o período de abril de
2020 e junho de 2021, das quais extraímos técnicas e ferramentas usadas não só
em reportagens, mas na apresentação do noticiário, bem como em quadros
temáticos. Como processo metodológico, utilizamos a Análise da Materialidade
Audiovisual (COUTINHO, 2016). Antes de detalharmos a metodologia deste estudo,
é importante que sejam destacados outros aspectos que embasaram este trabalho.
A dramaticidade nos
telejornais
Bourdieu (1996, p. 25) diz
que o princípio da seleção, que faz parte das rotinas jornalísticas, envolve “a
busca do sensacional, do espetacular”. Para o referido autor “a televisão
convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um
acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade e o caráter dramático,
trágico”. Na programação televisiva, há o apelo visual e sonoro, que é
perceptível ao longo da programação, em diferentes níveis, seja em novelas, em
programas de auditório, em noticiários etc.
De acordo com Coutinho e
Mata (2010, p. 67), no telejornalismo, a aproximação com a teledramaturgia “se
justifica na medida em que consideramos semelhantes as maneiras de contar tais
estórias e na importância do telejornal e da telenovela como elementos de
envolvimento do público brasileiro com a TV”.
As narrativas possibilitam
evidenciar, por exemplo, a figura do “herói” e do “vilão”. Permitem também
destacar sentimentos e emoções a partir do que é dito, despertando raiva,
indignação, comoção, orgulho, tristeza, alegria, etc. Arrebola e Souza (2016)
fizeram um estudo sobre a existência de elementos da dramaturgia no JN, no ano
de 2015, e, em grande parte dos conteúdos analisados, constataram a presença de
[...] elementos característicos do drama, como
a encenação de ações, construções narrativas associadas a conjuntos visuais e
sonoros, buscando aproximar o público a partir dos fatos que também poderiam
ter acontecido com qualquer espectador. Além disso, os personagens estavam com
as emoções afloradas, o que provavelmente a equipe de edição objetivava atingir
e sensibilizar quem assiste. (ARREBOLA; SOUZA, 2016, p. 10).
O foco das autoras citadas
acima foram as notícias em geral apresentadas pelo JN, no período de 27 de
abril a 1º de maio de 2015. Coutinho e Pereira (2020) também realizaram um
estudo sobre a dramaturgia voltado para o Jornal Nacional. A finalidade
foi compreender “a narração das notícias e ao mesmo tempo do telejornalismo,
que torna-se personagem dos noticiários como estratégia de (auto)legitimar-se
como espaço ou discurso de verdade” (COUTINHO; PEREIRA, 2020, p. 253).
As referidas autoras identificaram que o
telejornal utiliza a dramaturgia do telejornalismo e dessa forma:
reforça sua importância, e reafirma a
centralidade da notícia como lugar da verdade e não do fake. Como
discurso digno de credibilidade, portanto, o jornalismo e o telejornal podem
diferenciar o verdadeiro do falso, o comportamento certo (portanto esperado) do
errado (consequentemente rechaçado). (COUTINHO; PEREIRA, 2020, p. 269).
Quando se aborda uma
pandemia, por si só, já há a exposição de drama (ou dramas) por trás das
notícias. É um tema sensível, que passou a ser destacado com mais evidência, em
todos os veículos de comunicação, a partir 11 de março de 2020, quando a
Organização Mundial de Saúde declarou que havia uma pandemia mundial (MOREIRA;
PINHEIRO, 2020). Há o drama de quem contrai a doença, das famílias, dos
profissionais de saúde, de quem depende do sistema público ou particular de
saúde, de quem está com medo de ser acometido pela Covid-19, entre outros
aspectos. Existem ainda os conflitos entre quem segue e quem não cumpre as
regras de distanciamento e do uso de máscaras e entre o público, a imprensa e
os governantes.
A cobertura da Covid-19
no Jornal Nacional
Importante destacar que
antes da doença ser declarada pandemia mundial, o Jornal Nacional já
vinha informando sobre como a Covid-19 estava se espalhando em diversas partes
do mundo, que medidas estavam sendo tomadas pelos governos, quais recomendações
dos órgãos mundiais de saúde para conter o avanço do vírus, além da corrida de
cientistas e pesquisadores por remédios e vacinas. Para realizar este estudo,
utilizamos a Análise da Materialidade Audiovisual (COUTINHO, 2016, p. 10) que
envolve:
a identificação do objeto empírico a ser
investigado, e o estabelecimento de eixos e itens de avaliação tendo em vista
as questões de pesquisa, o referencial teórico utilizado e ainda, mas não menos
importante, os elementos paratextuais[1].
Após esse processo, foi
montada a ficha de leitura/avaliação e definida a amostra. A nossa ficha de
leitura envolveu os seguintes eixos: data de exibição, formato, assunto,
identificação das estratégias de dramatização na unidade
texto+som+imagem+tempo+edição (COUTINHO, 2012). Em relação a amostra, optamos
por selecionar trechos de nove edições do JN, exibidos entre abril de 2020 e
junho de 2021[2], que chamaram a nossa atenção pelas características singulares
que elevaram o nível de dramaticidade das informações apresentadas, tanto no
que diz respeito ao discurso textual, como no discurso imagético e sonoro.
Os trechos foram
selecionados independentemente do posicionamento no telejornal, indo da
abertura, passando pelas reportagens e encerramento, como é detalhado a seguir.
A Análise da
Materialidade Audiovisual do JN
O primeiro trecho
escolhido para a análise faz parte da edição de 9 de maio de 2020. Era sábado e
na bancada do Jornal Nacional estavam os apresentadores Flávio Fachel e
Mônica Teixeira. Era também o dia em que o Brasil alcançava a marca de mais de
dez mil mortes pelo novo coronavírus. O encerramento do JN ocorreu com uma
manifestação de solidariedade aos milhares de brasileiros feita pelos
apresentadores: “O Jornal Nacional termina não com o boa noite
tradicional, mas com uma homenagem respeitosa e com os sentimentos de toda a
nossa equipe para as famílias e amigos de cada uma dessas 10.627 pessoas” (JN,
9 mai. 2020).
Em seguida, em silêncio,
sem a trilha sonora característica, e com o cenário numa penumbra, revela-se em
um telão, ao fundo da redação, a imagem de um pedaço cinzento da bandeira
brasileira com o número de vidas perdidas no país até aquela data, como pode
ser observado abaixo.
Imagem
1
– Encerramento do JN 09/05/2020.
Fonte: Youtube
(2020).
A partir desta edição, o Jornal
Nacional passou a encerrar dessa maneira a cada cinco mil mortes por
Covid-19. Na cultura ocidental, em especial, nas religiões cristãs (católica e
protestante) e no islamismo, as cores predominantes para uso durante o luto são
o preto e o branco, e essa característica também se faz presente no
telejornalismo. De acordo com Puls (2016), o preto e o branco juntos oferecem
uma contraposição de valores antagônicos, em que as imagens, nesse tom, servem
para expressar juízo de valor ético sobre a realidade. A bandeira, insígnia
colorida, símbolo do Brasil, ganhou no cenário do JN nesse dia tons sombrios,
em sinal de tristeza. Ao invés da frase “Ordem e Progresso” há números de vidas
perdidas, fornecendo dramaticidade à informação.
Cinco dias depois de ver a
bandeira brasileira enlutada pela primeira vez no JN, o telejornal surpreendeu
o público novamente. Na abertura do programa, no dia 14 de maio de 2020, já
após a escalada (abertura do telejornal que mostra os principais assuntos que
vão ser abordados no dia) e o intervalo de um minuto, William Bonner anunciou
um novo cenário que apareceria todas as vezes em que o tema da Covid-19 fosse
abordado. De acordo com o apresentador, a tela com a ilustração do vírus daria
lugar a um painel com os rostos de vítimas do novo coronavírus, como uma forma
de homenagear essas pessoas e suas famílias, como destacou o jornalista: “Por
isso, a partir de hoje, aquela imagem do inimigo número um vai sair do nosso
painel. Em todos os momentos que o Jornal Nacional estiver tratando da
pandemia, vão estar lá atrás os rostos de brasileiros que ele nos tirou” (JN,
14 mai. 2020).
Nesse momento, o fundo foi
alterado (imagem 2) e Bonner continuou: “Esses sorrisos e olhares dos
brasileiros que nós perdemos podem nos ajudar a fortalecer a mensagem que
importa de verdade: a necessidade de proteger vidas” (JN, 14 mai. 2020).
Imagem
2
– Fundo anterior (esquerda) e o novo fundo (direita) com as fotos (14/05/2020).
Fonte: Globoplay (2020).
O impacto de ver centenas
de rostos de cidadãos de todos os gêneros, cores, credos e classes sociais
representando ali também um panorama da gravidade sanitária pela qual o Brasil
passava (e passa), foi ainda mais destacado quando, no texto, Bonner ressalta
que eles estão na tela para lembrar que as vítimas da Covid-19 não são números,
pois são vidas, pessoas, cidadãos, além de reforçar a grande quantidade de
famílias e amigos que estavam enlutados naquele momento. Como ocorre no
jornalismo, imagem e texto “casados” (PATERNOSTRO, 1999) são usados para tentar
fazer o telespectador sentir o drama da perda pela qual os parentes dos mortos
estavam passando. A homenagem acabou ficando em segundo plano, dando lugar à
dramaticidade da situação (e potencializando-a), levando ao público a tristeza
e o medo de acabar por fazer parte daquela tela ou ter algum conhecido
aparecendo ali.
Partimos agora para
analisar outro recurso utilizado pelo JN para abordar a pandemia em um tom mais
dramático: a criação de quadros temáticos. O primeiro estreou dia 14 de abril
de 2020. O quadro “Solidariedade S/A” surpreendeu ao publicizar as ações
solidárias de empresas e empresários durante a pandemia. As organizações que
estavam contribuindo com a sociedade em meio ao caos sanitário vivido no Brasil
eram citadas nominalmente, com direito a entrevistas com seus principais
executivos, o que não é habitual no telejornalismo da TV Globo. Antes de ir ao
ar, a apresentadora do JN, Renata Vasconcellos, explicou: “Os exemplos de
cidadãos solidários você vê quase todo dia por aqui com nome e sobrenome. Já as
iniciativas das empresas a gente tem apresentado como sempre fez, sem mencionar
as marcas delas” (JN, 14 abr. 2020). Logo depois, a apresentadora deixou claro
que, a partir daquele momento, havia um novo posicionamento da emissora
ocasionado pela Covid-19: “Mas a partir de hoje, e enquanto durar a pandemia, o
Jornal Nacional vai mudar isso, porque para superar um desafio tão
grande, é importante mostrar o que muitas e muitas empresas e empresários têm
feito nesse período” (JN, 14 abr. 2020).
Observamos essa estratégia
em três eixos entrelaçados para alcançar o objetivo de sensibilizar o público:
o social, o econômico e o discursivo. Com o quadro, o Jornal Nacional
tentou demonstrar sua responsabilidade social por meio da responsabilidade
social das empresas (imagem 3). O comunicado oficial da emissora lido por
Renata Vasconcellos, na apresentação, queria mostrar que, naquele momento, o
mais importante era a TV Globo “reconhecer” o lado solidário das instituições
sem nada cobrar. Vale ressaltar que o JN é o programa com o comercial mais caro
da TV Globo. O valor mínimo para um comercial (LISTA, 2021) de apenas 6
segundos, durante a semana, é de mais de 340 mil reais.
A potencialização da
dramatização nesse quadro tinha, entre outros fatores, a finalidade de angariar
mais audiência e fez com que a emissora abrisse mão, de certa forma, de seu
espaço publicitário mais desejado pelos anunciantes.
Imagem
3
– Arte em que aparecem as empresas lado a lado no quadro Solidariedade S/A.
Fonte: Globoplay (2020).
Outra característica que
chamou a atenção nesse momento do programa foram os depoimentos dos executivos.
Não bastava apenas explicitar o montante em dinheiro doado pelas empresas e
mostrar por meio de imagens. Era preciso exibir as falas que, assim como nas
reportagens sobre a Covid-19, estavam realçadas por palavras afetivas, de
ajuda, de esperança, de união. É o caso do que disse o presidente do Itaú
Unibanco, Cândido Bracher, na primeira exibição do quadro: “Nós temos um
problema humanitário em mãos, o Itaú Unibanco nasceu, cresceu e continuará
crescendo no Brasil e o Brasil é nossa casa. É o momento de cuidar da nossa
casa” (JN, 14 abr. 2020). Ainda nesse mesmo dia, o quadro trouxe a mensagem da
vice-presidente de RH do banco Santander, Vanessa Lobato, e de Asclepius
Ramatiz Lopes Soares, presidente da Fundação Banco do Brasil, que falou: “Nós
nunca vimos concorrentes se unirem em prol de uma causa. Eu acho que essa é a
maior mensagem que a gente pode levar e eu sempre tenho falado muito isso aqui,
que juntos nós somos mais fortes” (JN, 14 abr. 2020). Nessa perspectiva, as
empresas são mostradas na posição de benfeitoras, integrando o lado dos heróis
na dramaturgia do telejornalismo (COUTINHO, 2012).
Outro quadro criado pelo
JN para falar sobre a pandemia e que buscou causar comoção no público foi o
“Aqui Dentro”, em que profissionais da saúde relatavam como estava sendo
trabalhar na linha de frente do combate à Covid-19. A primeira exibição ocorreu
no dia 11 de maio de 2020 e até 6 de outubro de 2020 foram veiculadas 106
edições, cada uma com um profissional (AQUI, 2020).
Médicos (imagem 4),
enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, dentistas, psicólogos e tantos
outros profissionais, de várias partes do país, informaram detalhes do caos
vivido por eles nas unidades de saúde, com falta de equipamentos e insumos, e
como eles estavam enfrentando uma doença que nunca tinham visto antes. Entre os
relatos, estavam o dilema de ter que escolher qual paciente iria ter acesso à
UTI, o medo de se contaminar e de contaminar os familiares, além de ter que
lidar com a desinformação que circulava (e circula até hoje) nas redes sociais
sobre a doença.
Imagem
4
– Vídeos exibidos em 2020 pelo JN no quadro Aqui Dentro.
Fonte: Globoplay (2020).
Nos vídeos, que eram
gravados pelos próprios profissionais, geralmente dentro das unidades de saúde,
podia-se ver o cansaço estampado em seus rostos e muitos se emocionavam ao
falar dos desafios que estavam enfrentando. O médico cardiologista no Rio de Janeiro,
Jorge Ferreira, em seu depoimento que foi ao ar no dia 14 de maio de 2020,
relatou: “nosso emocional no final do trabalho sai destruído” (JN, 14 mai.
2020). Em 19 de maio de 2020, a médica infectologista no Espírito Santo, Rúbia
Miossi, disse que “como médico, a gente às vezes também se sente um tanto
perdido” (JN, 19 mai. 2020).
Se observarmos melhor,
essa estratégia se configurou como simples, já que a gravação e envio dos
vídeos eram feitos pelos profissionais; porém, eficaz, pois a intenção era
comover o público e os relatos dramáticos por si só foram suficientes. Mais uma
vez a narrativa de que havia “heróis” lutando contra o vírus foi evidenciada,
dando visibilidade a alguns desses profissionais.
Outra ferramenta do JN que
trouxe estratégias de dramatização à cobertura foi o “Retrato da Covid-19”,
quadro em que o Jornal Nacional analisa os dados sobre a doença no país.
A estreia foi no dia 9 de julho de 2020. Nele, os jornalistas Alan Severiano e
Márcio Gomes apresentaram um indicador usado por diversos veículos da imprensa
internacional, a chamada média móvel. Eles explicaram que para calcular essa
média, os especialistas em dados somam o número de mortes ou casos nos últimos
sete dias e dividem o resultado, em um processo que mostra o lado pedagógico do
telejornalismo (CERQUEIRA, 2018). É assim que desde então, os números sobre avanço
e diminuição da doença são mostrados com maior detalhamento ao público. Vale
ressaltar que os dados utilizados para calcular a média móvel são coletados
pelos jornalistas do Consórcio de Veículos de Imprensa formado pelo G1, O
Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL, que buscam informações diretamente nas
secretarias de Saúde de Estados e Municípios, e divulgam, em conjunto, números
sobre mortes, contaminados e vacinados.
O consórcio foi criado em
resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados
sobre a pandemia da Covid-19 (RODRIGUEZ, 2020). Nesta iniciativa inédita,
equipes de todos os veículos dividem tarefas e compartilham as informações. O
balanço fecha diariamente às 20h.
Por vezes, este quadro não
traz apenas números (que por si só já são impactantes), mas transforma esses
indicadores em rostos e falas, como foi na edição de sete de janeiro de 2021,
quando apresentou, como forma de homenagear as vítimas da Covid-19, histórias
de cinco delas, uma de cada região brasileira. Na reportagem (dentro do
quadro), o repórter Alan Severiano conversou com parentes sobre a dor da perda
para a pandemia. As vítimas (imagem 5) moravam nos estados que na época tinham
a maior média móvel de mortes em cada uma das cinco regiões (Bahia, Amazonas,
Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul). Os depoimentos emocionados
que foram exibidos também estavam repletos de apelos para que a sociedade
tivesse todos os cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus e o
aumento de mortes.
Imagem
5
– Allan Severiano mostrando fotos das vítimas no quadro Retrato da Covid (07/01/2021).
Fonte: Globoplay (2021).
Além dos quadros, muitas
reportagens sobre o novo coronavírus, ao longo das edições do JN, tentavam
trazer, além de novidades, o mesmo caráter de dramaticidade, sempre com um tom
de apelo e de conscientização. Foi assim com a matéria exibida em 29 de abril
de 2021 sobre a morte de centenas de pessoas, não por Covid-19, mas por falta
de leitos nos hospitais em decorrência da pandemia. A reportagem abriu com
depoimentos muito emocionados sobre a morte de parentes por falta de
atendimento e de leitos em hospitais.
A matéria mostrou que
mesmo com ordem da justiça para internar uma das vítimas que precisava ir
urgente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a vaga só apareceu quatro
dias depois e a senhora de 74 anos já havia falecido. Outra paciente, chamada
Delma, que havia sofrido um infarto, passou 25 dias em um posto de saúde e
precisava de um hospital com recursos, mas a vaga não apareceu e ela acabou
morrendo.
Foi utilizado o áudio de
um funcionário (que não foi identificado na matéria) do posto de saúde onde
Delma estava internada. A declaração demonstrou o caos que a saúde pública
enfrentava (imagem 6), marcando o conflito, presente na dramaturgia do
telejornalismo (COUTINHO, 2012).
Imagem
6 –
Depoimento de funcionário de hospital (29/04/2021).
Fonte: Globoplay (2021).
Outra personagem mostrada
na reportagem foi a de uma jovem com dois tumores no útero e que não conseguia
vaga em nenhuma unidade de saúde para realizar a cirurgia, devido à lotação de
pessoas com Covid-19.
O discurso da matéria é
complementado pela fala da médica intensivista Lara Kretzer, que participou da
elaboração de um protocolo para ajudar os médicos a fazer escolhas entre os
pacientes, na tentativa de salvar o maior número de vidas. Ela diz: “é uma dor
muito grande a gente não só não oferecer essa vaga de UTI [...], mas a gente
ter que falar isso pra pessoa ou ter que falar isso pra família.
É muito duro, emocionalmente é muito pesado. A gente vai pra casa
arrasada” (JN, 29 abr. 2021).
A reportagem demonstra bem
o que Coutinho (2012) chama de dramaturgia do telejornalismo, em que a
informação é arquitetada com um enredo dramático do cotidiano, que coloca em
conflito personagens (vilões e heróis). Nesse caso, os vilões são a Covid-19, a
falta de leitos nos hospitais, o caos sanitário, a falta de ação de
autoridades; e os mocinhos são os profissionais da saúde. O drama se desenrola
com a luta de pacientes para sobreviver, a dor dos familiares das vítimas do
novo coronavírus, além do dilema de médicos em escolher que paciente sobrevive.
Expõe ainda a necessidade de conscientização da população e a negligência das
autoridades.
Nos dias 20 de junho de
2020, 8 de agosto de 2020 e 19 de junho de 2021, o JN trouxe editoriais com
cobranças e dura críticas ao governo federal sobre a falta de planejamento e
ações minimamente eficazes no combate à pandemia. A abertura da edição de 8 de
agosto de 2020, por exemplo, pode ser considerada histórica. Nesse dia, na
volta da escalada do Jornal Nacional, a câmera segue direto para o telão
atrás do cenário com o número de mais de 100 mil mortes por Covid-19, mostrado
sobre a bandeira do Brasil em preto e branco, com as luzes reduzidas na redação
e sem destacar os apresentadores, como de costume (imagem 7).
Imagem
7
– Número de mortes destacado no cenário no dia 08/08/2020.
Fonte: Globoplay (2020).
Em seguida, aparece o
apresentador William Bonner lendo o seguinte editorial: “Todo cidadão
brasileiro tem direito à saúde. E todos os governantes brasileiros têm a
obrigação de proporcionar aos cidadãos esse direito. As ações dos governantes
precisam ter como objetivo diminuir o risco de a população ficar doente” (JN, 8
ago. 2020). O apresentador complementa, reforçando que essa não é uma posição
dos jornalistas ou da emissora: “E não somos nós que estamos dizendo isso. É a
Constituição brasileira que todas as autoridades juraram respeitar” (JN, 8 ago.
2020). Enquanto Bonner fala o texto é inserida uma arte, que cobre toda a tela
e que destaca o artigo 196 da Constituição brasileira, conforme pode ser
observado na imagem abaixo:
Imagem
8
– Arte com destaque para texto da Constituição - 08/08/2020.
Fonte: Globoplay (2020).
Depois, o editorial seguiu
com as falas de Renata Vasconcellos e William Bonner, que ressaltaram que o
país estava há 85 dias sem Ministro da Saúde titular. Eles também repetiram
falas do presidente Jair Bolsonaro, que evidenciaram o menosprezo da maior
autoridade do país pela doença, a indiferença em relação aos que perderam
parentes, a falta de compaixão, de empatia e ação. O editorial também reforçou
o papel da imprensa e do JN ao denunciar o drama dos doentes e das famílias e
os problemas da pandemia causados pela ineficiência dos governantes.
Pela narrativa, o
telejornal se posiciona, através dos apresentadores, do lado dos que sofrem:
“Não eram pessoas que estavam fadadas a morrer por qualquer outro motivo. Elas
morreram de Covid. Deixaram uma família em dor, amigos, colegas de trabalho,
conhecidos. Nós não podemos nos anestesiar” (JN, 8 ago. 2020).
Os 4 minutos e 19 segundos
do editorial com duras críticas ao presidente do Brasil e muita indignação aos
atos e falas descabidos do mesmo foram suficientes para estabelecer a dinâmica
e marcar explicitamente, de vez, a posição que o telejornal iria adotar (ou que
já havia adotado, mas de modo implícito): o de não apoio ao governo Federal nas
ações da pandemia, fato que efervesceu ainda mais a polarização política
extrema instalada no país. O texto traz palavras fortes que dão o ar dramático
e real da situação caótica: “filas enormes de desesperados” (JN, 8 ago. 2020);
“o presidente menosprezou a Covid” (JN, 8 ago. 2020); “100 mil brasileiros
mortos” (JN, 8 ago. 2020).
Em 20 de junho de 2020, o
JN havia feito editorial, de 2 minutos e 39 segundos, sobre as 50 mil mortes
por Covid-19, que já trazia, sem citar o nome do presidente do Brasil, críticas
ao governante. Depois de os apresentadores se solidarizarem como todos os
brasileiros que haviam perdido entes queridos, Bonner fechou a leitura do texto
com as seguintes palavras: “A história vai registrar também aqueles que se
omitiram, que foram negligentes, que foram desrespeitosos. A história atribui
glória e atribui desonra. E história fica para sempre” (JN, 20 jun. 2020).
Um ano após o Brasil
registrar 50 mil mortes, o país chorava o falecimento de 500 mil pessoas
decorrentes do novo coronavírus, em 19 de junho de 2021. O Jornal Nacional
voltou com outro editorial de 3 minutos e 2 segundos. O texto trouxe palavras
duras e os apresentadores exploraram, desta vez, com mais evidência, o
sentimento de indignação (pela falta de ação e pelas práticas erradas, em
especial do governo federal), com expressões e frases como: “registro
escandaloso” (JN, 19 jun. 2021), “o sentimento é de horror” (JN, 19 jun. 2021),
“são milhões de cidadãos enlutados” (JN, 19 jun. 2021), “é evidente que foram
muitos — e muito graves — os erros cometidos” (JN, 19 jun. 2021). Entre esses
erros, o JN destacou: “A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia,
o estímulo frequente a aglomerações, a postura negacionista e inconsequente de
não usar máscaras” (JN, 19 jun. 2021). E ainda pontuou: “e, o pior, a recusa em
assinar contratos para a compra de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas
fatais” (JN, 19 jun. 2021).
Estes últimos trechos
sintetizam todas as medidas e posturas descabidas adotadas publicamente por
Jair Bolsonaro e sua cúpula durante a pandemia, reativando com maior clareza o
não apoio às atitudes inconsequentes do governante e o colocando na posição de
vilão, dentro da dramaturgia do telejornalismo. Nesse editorial, o JN também
revelou, de forma clara, sofrer retaliações por cumprir o “dever de informar,
sem meias palavras” (JN, 19 jun. 2021), “com base na ciência” (JN, 19 jun.
2021) e por ir de encontro ao que prega o presidente da República, como
explicitaram os apresentadores: “Muitas vezes nós pagamos um preço por isso,
com incompreensões de grupos que são minoritários, mas barulhentos. Não
importa. Nós seguimos em frente, sem concessões” (JN, 19 jun. 2021).
De todos os editoriais
analisados, este foi o único em que ao fundo não havia fotos das vítimas. A
opção foi por uma imagem neutra por trás dos apresentadores, atribuindo mais
destaque a fala do que ao apelo visual, concentrando a dramaticidade nas
palavras, no texto, nas pausas.
Outro conteúdo que chamou
a atenção pela presença de elementos de dramaticidade foi exibido no dia 26 de
fevereiro de 2021. Trata-se de uma reportagem que mostrou o drama de pacientes
que enfrentaram a Covid-19 e sobreviveram e a relação de gratidão com os
profissionais de saúde. Desta vez, a emoção estava nas palavras do repórter, na
fala dos entrevistados e nas imagens.
Toda a informação foi
construída como um drama cotidiano, com a utilização de personagens divididos
em: Heróis/mocinhos (pacientes, suas famílias, médicos e profissionais da saúde),
vilão (a Covid-19), enredo com conflito (a luta dos pacientes contra a doença)
e lição moral. A notícia começou retratando o drama de um personagem que
acreditava ter morrido, mas sobreviveu. A matéria destacou que o paciente não
havia morrido, mas que o local onde ele estava parecia o paraíso, cheio de
anjos que cuidaram dele. No off, o repórter Pedro Bassan diz que “eles
se vestem de branco e guardam as asas bem escondidinhas debaixo do avental. Têm
muitos apelidos: médico, enfermeira, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta.
Tudo disfarce de anjo” (JN, 26 fev. 2021).
Outro personagem
apresentado na construção da notícia como mais um “anjo”, o médico Antônio
Galdino Eduardo Neto, destaca que “a Covid é uma doença solitária” (JN, 26 fev.
2021) e que, por isso mesmo, é necessário dar a mão aos pacientes para que eles
tenham força. Após apresentar outros personagens nessa luta contra o novo
coronavírus, a notícia se volta outra vez para o primeiro personagem, dizendo
que o carinho dos profissionais de saúde também foi remédio para ele, que se
emociona dizendo que nasceu de novo. E encerra com a lição moral, através da
fala do repórter: “nós entendemos, Ronaldo. O país, que há um ano enfrenta essa
pandemia, tenta nascer de novo todos os dias” (JN, 26 fev. 2021).
Considerações Finais
Os conceitos
teóricos-metodológicos acionados nesta pesquisa nos permitiram identificar a
presença de elementos utilizados pelo Jornal Nacional (JN) para conferir
ainda mais dramaticidade na cobertura da pandemia da Covid-19.
Analisando a totalidade da
informação como unidade (texto+som+imagem+tempo+edição), percebemos que os
conteúdos apresentados pelo telejornal, nas nove edições, utilizaram elementos
característicos da dramaturgia do telejornalismo, como construções narrativas
associadas a imagens (coloridas e preto e branco — como forma de marcar o
luto), sons, silêncios e muitas falas evidenciando os conflitos do cotidiano na
pandemia.
Para fazer uso do
artifício da narrativa dramática, o JN valeu-se da utilização de personagens.
Nesse caso, diante do exposto em editoriais, quadros temáticos e reportagens,
nós consideramos os próprios apresentadores e repórteres do telejornal também
como personagens. É que a pandemia afetou, de maneira nunca vista, a vida
pessoal e profissional de todos. Os jornalistas citados estavam com as emoções
afloradas e demonstraram isso.
O tom emocional, em
especial na dramatização dos argumentos (tanto nos momentos de solidariedade,
como nos de indignação e nos de conscientização), também pode ser apontado como
aspecto característico marcante que acabou por aproximar ainda mais o programa
do telespectador, afinal quase tudo o que estava sendo dito e mostrado poderia
acontecer com qualquer um que estivesse assistindo.
Os papéis e as situações
características da dramatização estavam presentes no material analisado do JN:
os heróis/mocinhos, vilões/bandidos, as vítimas e as situações de conflito. Por
vezes, além dos profissionais de saúde, os jornalistas também se inseriam
dentro da narrativa como “heróis”, pois por meio dos editoriais se
posicionaram, se solidarizaram com as vítimas e disseram que, apesar das
ameaças, não iriam desistir de lutar contra quem menospreza a doença.
Entre os heróis, também
estavam as empresas através dos atos solidários, os profissionais de saúde e
ainda aqueles que venceram a Covid-19, apesar de todas as adversidades. Estes
últimos, as pessoas que faleceram e suas famílias e toda a sociedade foram
retratados, por diversas vezes, como vítimas. No conteúdo analisado, além da Covid-19,
foram apontadas e nomeadas como vilãs as autoridades que promoveram (e seguem
promovendo) as situações de conflito, de caos sanitário e de desinformação.
Notas
[1] São elementos que estão para além do texto
(GENNETE, 2009).
[2] Edições do JN dos dias: 14/04/2020,
09/05/2020, 14/05/2020, 19/05/2020, 20/06/2020, 08/08/2020, 07/01/2021,
29/04/2021, 19/06/2021.
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Globo, 14 abr. 2020. Programa de TV.
JN. Jornal Nacional. Rio de Janeiro: Rede
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JN. Jornal Nacional. Rio de Janeiro: Rede
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JN. Jornal Nacional. Rio de Janeiro: Rede
Globo, 07 jan. 2021. Programa de TV.
JN. Jornal Nacional. Rio de Janeiro: Rede
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JN. Jornal Nacional. Rio de Janeiro: Rede
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