Memória e imaginário da Covid-19 no Jornal
Nacional:
o hospital no cotidiano
midiatizado
Denise Cristina Ayres
Gomes[1]
Renata
de Rezende Ribeiro[2]
Resumo: O artigo pertence a uma
pesquisa ampliada que investiga a representação da pandemia da Covid-19 no Brasil
como fotografia de um país atravessado pelo imaginário da morte (incluindo sua
banalização). A partir de fragmentos audiovisuais, por meio de reportagens do Jornal
Nacional, nas edições do mês de janeiro de 2021, a proposta, neste texto, é
refletir sobre o hospital como constructo simbólico, levando em conta a
narrativa midiatizada do cotidiano brasileiro, que é sintoma (e se torna
memória) de um país em crise. O objetivo é demonstrar como tais narrativas
organizam e desorganizam estruturas de sentido, constituindo um imaginário
coletivo (MAFFESOLI; SILVA) de uma época. Para fins heurísticos, a metodologia
combina percurso bibliográfico, pesquisa exploratória e análise de conteúdo,
levando em conta a base teórica de narrativa (segundo RICOEUR), considerando-a
como mediação que desenvolve a materialidade do sentido da própria experiência.
No corpus de 36 ocorrências, verificamos que as câmeras devassam o espaço hospitalar, evidenciando o que até
então concernia à intimidade: os doentes e mortos são espiados de formas
dramáticas e celebratórias. As
narrativas midiáticas revelam o imaginário disruptivo que será, em parte,
constituidor da memória da nação.
Palavras-chave: Memória;
Imaginário; Cotidiano Midiatizado; Hospital; Pandemia.
Covid-19's memory and
imagination in Jornal Nacional:
the hospital in the
mediatized daily life
Denise Cristina Ayres
Gomes[3]
Renata de Rezende Ribeiro[4]
Abstract: The article belongs to an expanded research that investigates the
representation of the Covid-19 pandemic in Brazil as a photograph of a country
crossed by the imaginary of death (including its trivialization). From
audiovisual fragments, reported from Jornal Nacional, in the January 2021
editions, the proposal in this text is to reflect of the hospital as a symbolic
construct of the pandemic, taking into account the mediatized narrative about
the Brazilian daily life, which is a symptom (and becomes a memory) of a
country in crisis. The objective is to demonstrate how such narratives organize
and disorganize structures of meaning, constituting a collective imagination
(MAFFESOLI; SILVA) of a time. For heuristic purposes, the methodology combines
a bibliographic path, exploratory research and content analysis, taking into
account the theoretical basis of narrative (from RICOEUR), considering it as a
mediation that develops the materiality of the meaning of the experience
itself. In the corpus of 36 occurrences, we verify that the cameras scan the
hospital space, showing what hitherto concerned intimacy: the sick and the dead
are spied on in dramatic and celebratory ways. The media narratives reveal the
disruptive imagery that will be, in part, constitutive of the nation's memory.
Keywords: Memory; Imaginary; Mediatized Everyday Life;
Hospital; Pandemic.
Introdução
“Tudo o que o homem
podia ganhar no jogo da peste e da vida era o conhecimento e a memória”,
afirmou Camus (2017, p.270) na obra que se tornou referência sobre o imaginário
de uma epidemia. Em “A peste”, o escritor franco-argelino desenvolve reflexões
sobre o absurdo da existência, em recorrentes conexões com a ameaça política e
o direito de viver e de morrer. O romance de Camus reitera a importância da
memória como chave epistemológica para a própria sobrevivência humana,
principalmente quando levamos em conta que a história costuma se repetir ora
como tragédia, ora como farsa, como afirmou Marx (2006) em outros contextos[1].
Segundo Marialva
Barbosa (2020, p.820), “a pandemia da
Covid-19 faz emergir lembranças de um passado que sobreviveu”. Por meio de autoetnografia,
a autora resgata a memória de sua infância, a partir da narrativa de seu pai, e
desenvolve um paralelo entre a gripe espanhola de 1918 e a peste contemporânea.
Para Barbosa (2020, p.828), os acontecimentos impactantes buscam “nas
profundezas adormecidas palavras escutadas em outras épocas [...] ecoa o som
das vozes ouvidas no passado e as imagens emergem”.
Lilia
Schwarcz e Heloisa Starling (2020), em uma historiografia da gripe espanhola no
Brasil, também remontam imagens e textos memorialistas sobre o contexto
epidêmico da época, evidenciando inúmeras similitudes com o cenário atual,
desde a falta de gestão política, à precariedade do sistema de saúde, as
desigualdades sociais, o negacionismo, as inúmeras crendices da população, as
informações falsas, entre outras situações.
A memória, nesse
sentido, se manifesta como um encontro com os mortos — sejam pessoas ou
acontecimentos idos —, na medida em que presentifica narrativas, textos,
imagens e diversos objetos reveladores do simbolismo das ausências (RIBEIRO,
2015), ou como afirma Ricoeur (2007, p.38), “[...] com a lembrança, o ausente
traz a marca temporal do anterior”.
Passados cem anos entre as duas epidemias,
mesmo com a abundância de informações produzidas pela primeira, qual foi o
aprendizado impresso em nosso imaginário coletivo? Qual a duração dessa memória
em nossas mentalidades? Schwarcz e Starling (2020, p.330) afirmam, a partir
de Jardim, “que toda experiência, para ter seu acabamento precisa ser narrada”.
O que também acreditamos, a partir de Ricoeur (2010, p.11), que “é a narrativa
que torna acessível a experiência humana do tempo, o tempo só se torna humano
através da narrativa”. O filósofo francês nos lembra que “se podemos acusar a
memória de se mostrar pouco confiável, é precisamente porque ela é o nosso
único recurso para significar o caráter passado daquilo de que declaramos
lembrar.” (RICOEUR, 2007, p.40).
A
narrativa permite um resgate aos significados dos acontecimentos e, nesse
sentido, o “aprendizado com a espanhola” parece estar mais no campo do
esquecimento, como demonstra o atual funcionamento da sociedade brasileira,
degradada em 2020 diante da intensa presença da morte e de sua banalização.
Ao
olharmos nosso cotidiano em 2021, mais de um ano após o início da pandemia da
Covid-19, parece que retrocedemos em relação a 1918. Mesmo com o significativo
avanço científico e tecnológico, no momento em que escrevemos este texto, o
Brasil contabiliza mais de 535 mil mortos[2].
A
experiência da gripe espanhola poderia ter reduzido os danos causados no país
pela Covid-19? Como pesquisadoras, acreditamos que sim, mas a distopia[3] que se instaurou no Brasil e coincidiu
com a pandemia, evidencia que a memória atua em conjunto com o esquecimento,
segundo as forças e os contextos do tempo. As narrativas, portanto, constroem a memória
de uma época, mas também têm o poder de desfazê-la, por meio de diferentes
artifícios. Como afirma
Ricoeur (2007, p.513), “escrever a vida é outra história”, é também
“inacabamento”.
Maurice Halbwachs
(2006) afirma que a duração de uma memória está sempre limitada ao grupo, e sua relação individual e/ou coletiva
depende de muitos fatores, entre eles, que existam pontos comuns e os
indivíduos concordem com a memória do grupo. Nesse sentido, memória e esquecimento
atuam conjuntamente no desenvolvimento narrativo.
Nessa
breve volta ao tempo, tentamos compreender a potência da memória social em
contextos traumáticos, ou seja, a que se constrói enquanto processo e se
manifesta no imaginário, permitindo (ou não) à sociedade renovar e transformar a compreensão do
passado para experienciar melhor o presente e projetar o futuro.
Se a
memória social brasileira sobre a gripe espanhola parece não ter sido
suficiente para amenizar a situação devastadora da Covid-19 no país, como
pensar a produção contemporânea dos registros que se desenvolvem em ambientes
midiatizados[4], os quais transbordam
informações de todas as partes? Parece-nos que essa proliferação de narrativas
contribui para a saturação da memória, na medida em que as imagens com forte impacto e exibidas à exaustão provocam, ao
mesmo tempo, sua inevitável obsolescência.
(COURTINE, 1999).
Neste artigo, desenvolvemos uma reflexão sobre a produção das
narrativas da pandemia da Covid-19 no Brasil, por meio de fragmentos do que
denominamos cotidiano midiatizado, ou seja, o cimento da vida ordinária
atravessada por
uma profusão de imagens e processos gestados pelas ou nas mídias. O objetivo é
demonstrar como tais narrativas organizam e desorganizam estruturas de sentido,
constituindo um imaginário coletivo de uma época. Especificamente neste texto,
a proposta é refletir sobre o hospital como constructo simbólico da peste do
século XXI, a partir de reportagens do Jornal Nacional (JN), da Rede Globo,
levando em conta a construção de uma narrativa midiatizada sobre o cotidiano
que é sintoma de um país em crise.
A pesquisa faz
parte de uma investigação ampliada e tem caráter exploratório e qualitativo.
Nosso corpus empírico foi delimitado ao conteúdo das
edições do mês de janeiro de 2021 do JN, recorte que nos ajudou a compreender a
“paisagem” da pandemia a partir do noticiário mais assistido pelos brasileiros[5]. É preciso reiterar que, embora utilizemos a análise
do conteúdo para a organização
dos dados, nossa interpretação se desenvolveu por meio do exame de fragmentos
narrativos do telejornal (reportagens, notas cobertas e de estúdio, etc)
especificamente em temas relacionados à pandemia. O objetivo foi tentar reconstruir rastros
de memória deixados por essa materialidade midiática.
Neste texto, a
intenção é refletir sobre o hospital como constructo simbólico na pandemia, a
partir do desenho narrativo do JN. A compreensão metodológica se dá a partir de
Ricoeur (2007), que toma a representaçã0 tanto em seu aspecto narrativo, quanto
em sua composição com as modalidades de explicação/compreensão. Desta forma, a proposta do estudo é, como
afirma Leticia Matheus (2021, p.2), “entender esse conceito como operador
teórico para análises de comunicação, em vez de inscrevê-lo
em uma perspectiva ontológica segundo a qual o pesquisador seria obrigado a
identificar quais textos são narrativos ou não”. Problematizamos, assim, a
constituição de um imaginário repleto de cenários e de cenas relacionadas a uma
doença que marca o espírito do tempo do século XXI.
O imaginário da pandemia no Brasil
A morte é um processo
natural da vida; o sentido trágico da existência. Como forma de encará-la, a
humanidade cria simbolismos e rituais que se enraízam no cotidiano. A pandemia
da Covid-19 evidencia a morte como um fenômeno abrupto, aleatório e inadiável.
Se o vírus parece atacar qualquer pessoa sem distinção, a realidade mostra que
decisões políticas, condições socioeconômicas, acesso a tratamentos de saúde e
informações circulantes incidem sobre os diferentes modos de lidar com a
finitude. Para além de sua dimensão orgânica, a experiência do fim da vida está
eivada de imaginário, revelando o sistema cultural vigente.
O imaginário é real, traduz-se
em uma ambiência partilhada que ultrapassa a esfera racional e evoca as
dimensões lúdica, onírica, afetiva e simbólica. O imaginário é “o conjunto de
crenças, representações, fantasmagorias, criações culturais e cotidianas que
permitem expressar, dar forma a esse sentimento comum.” (MAFFESOLI, 2020, p.8).
O
jornalismo modula o imaginário social, organizando o mundo através de
narrativas que matizam fenômenos, tornando-os singulares. Apesar da vocação
iconoclasta do jornalismo (BARROS, 2007), a atividade atua sobre o simbólico e
utiliza técnicas próprias para dar sentido ao mundo, por isso, é uma
“tecnologia do imaginário.” (SILVA, 2012). A notícia, sendo um fragmento de
imaginário, transfigura a realidade, conferindo a ela um “plus de
significado.” (SILVA, 2021, p. 29).
As imagens da pandemia impulsionam as práticas sociais, dão
sentido ao cotidiano e compõem a memória coletiva, que desempenha papel
fundamental para os processos históricos. (HALBWACHS, 2006). Segundo Halbwachs, a memória
coletiva molda imagens e narrativas às crenças do tempo presente e, desta
forma, reconstrói o passado, na medida em que este é (re)significado.
A pandemia tornou a morte ainda
mais visível, “a morte que nós reprimimos e terceirizamos meticulosamente.” (HAN,
2021, p. 35). Um dos exemplos dessa visibilidade são as notícias apresentadas no Jornal Nacional sobre
a Covid-19. O adoecimento e a morte avultam o noticiário televisivo diante da
radicalidade e da magnitude do fenômeno. Como ressalta Castoriadis (2000), o
evento-catástrofe rompe com o imaginário instituído, provocando uma radical
descontinuidade no social: “[...] a catástrofe sai de todos esses limites, é a
expressão paroxística do sentido, sua explosão torna-se irrepresentável,
anormal, incalculável.” (VIDAL, 2020, p.80).
O adoecimento e a morte ultrapassam a questão meramente
biológica. As decisões políticas podem selar o destino das pessoas,
distinguindo entre aquelas que terão mais chances de sobreviver, diante do caos
instalado, e as que vão sucumbir à doença. A vida e
a morte, portanto, inserem-se em uma ordem de poder. A necropolítica, isto é, o
poder da morte, é uma modalidade do biopoder (FOUCAULT, 2011), em que ocorre “a
instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material
dos corpos” (MBEMBE, 2020, p, 10). A necropolítica norteia a divisão entre os
seguimentos sociais, regulamentando o poder de gestão sobre a vida e, dessa
maneira, garante o funcionamento do capitalismo na contemporaneidade. O poder
sobre a morte recrudesce com a pandemia e, de acordo com o historiador
camaronês, em entrevista à Folha de S. Paulo: “a necropolítica aparece, também, no fato de que o
vírus não afeta todas as pessoas de uma maneira igual.” (BERCITO, 2020).
A Covid-19 repete as desigualdades históricas relativas a outras
pandemias. Os
fatores socioeconômicos influenciam a evolução e o impacto da doença no Brasil,
aumentando o número de mortes entre os mais pobres. (FIGUEIREDO et al.,
2020). E ainda os estados brasileiros com maior desigualdade econômica têm maior
incidência e mortalidade. (DEMENECH et al,
2020). O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS),
Tedros Adhanom, alertou que “o mundo está à beira de um fracasso moral
catastrófico,” referindo-se à discrepância no acesso
às vacinas. Enquanto
cerca de 39 milhões de doses da vacina foram administradas em
49 países de alta renda, apenas 25 doses foram administradas em um país pobre.
(OMS, 2021a).
Em meio à pandemia, o próprio presidente do Brasil tomou decisões
que evidenciaram a necropolítica, negando a
gravidade da doença, comparando-a a uma “gripezinha”, além de disseminar
informações falsas, incentivar aglomerações e culpabilizar a mídia,
principalmente a Rede Globo, por exagerar na cobertura do assunto. Um estudo da
Universidade de São Paulo (USP) apontou ações deliberadas do governo para a disseminação do coronavírus sob o
pretexto da retomada econômica. (CEPEDISA; CONECTAS, 2021).
Por
meio do telejornalismo acompanhamos os impactos da pandemia no agravamento da
crise econômica e social, as desigualdades entre os países desenvolvidos e o
restante do mundo, além das discrepâncias próprias de cada nação. Como alerta
Harari (2020), as
epidemias deflagraram crises políticas e econômicas ao longo da história.
Desde o início da pandemia, o Brasil enfrenta
muitas dificuldades chegando, em 2021, ao colapso do sistema de saúde em vários
estados, com enormes filas de espera por leitos em unidades de terapia
intensiva (UTIs). As reportagens do JN
observadas na análise mostram o auge da crise, com a falta de oxigênio nos
hospitais. De outro lado, o presidente da nação despreza a gravidade da
pandemia, incentivando o desrespeito às medidas sanitárias e, com isso, procura
instituir a “condição para a aceitabilidade do fazer morrer.” (MBEMBE, 2020).
O
telejornalismo procurou traduzir em imagens a disruptividade da pandemia que matou (até o
momento de nossa escrita) mais de 4,04 milhões de pessoas e contaminou outras 187
milhões em todo o mundo (OMS, 2021b). No Brasil, mais de meio milhão de pessoas
perderam a vida e outras 19 milhões foram contaminadas.
As
notícias sobre a pandemia predominam nos telejornais modificando, inclusive, os
modos de produção dos conteúdos, os processos de apuração e a própria atuação
dos jornalistas, conforme diferentes pesquisadores observaram na obra “A
(re)invenção do telejornalismo em tempos de pandemia” (EMERIM, PEREIRA;
COUTINHO, 2020), além do artigo das pesquisadoras Christina Musse e Mariana
Musse (2020) que aborda o Jornal Nacional, entre outros veículos:
Pensar
o telejornalismo brasileiro, na época da maior crise sanitária que o país viveu
no último século, é uma maneira de interpretar as possibilidades narrativas da
mídia mais poderosa do país, em um momento de ruptura profunda. (MUSSE, C.;
MUSSE, M., 2020, p. 111).
Neste contexto conturbado, as reportagens do JN
integram um imaginário, um determinado modo de existir desencadeado pela
pandemia, que pode contribuir nas reflexões do tempo contemporâneo, atuando na
constituição de uma “memória midiatizada.” (RIBEIRO, 2015). Nessa ambiência
midiática, a representação do hospital se torna um importante retrato para a
compreensão do impacto da Covid-19 no cotidiano do Brasil.
Conforme situamos, nosso recorte tomou as edições
de janeiro de 2021, totalizando 26 programas. O estudo se desenvolveu em uma
perspectiva qualitativa, embora também utilizemos o instrumental quantitativo
(análise do conteúdo) para sistematização dos dados. É preciso destacar que, apesar do aspecto
estruturalista, o método foi usado em conjunto com o arcabouço teórico,
ampliando as reflexões do material encontrado. A análise da narrativa
audiovisual é interpretada a partir de Ricoeur (2010), na medida em que leva em
conta o universo da representação e da experiência.
A interpretação das narrativas
se desenvolveu para além das estruturas formais do gênero discursivo. Como
afirma Matheus, a análise estrutural pode ser realizada, desde que “lembremos
que a linguagem pertence ao mundo social.” (MATHEUS, 2020, p.5). Nesse sentido,
inicialmente selecionamos o conteúdo em fragmentos (reportagens, notas,
quadros, “ao vivo” de estúdio ou externa, etc.), segundo a temática “pandemia”
e todos os eixos associados ao assunto, dividindo-os por tipologias para
facilitar a sistematização e verificar o que o próprio conteúdo desenhava em
termos narrativos amplos. Verificamos que das 26 edições do JN do mês de
janeiro de 2021, em quase todas a pandemia foi destaque principal[6], totalizando 12 horas e 49 segundos, em
309 ocorrências. Em virtude do recorte, nos dedicamos à categoria “hospital”,
que totalizou 36 incidências nas 26 edições.
O contexto é inerente ao período da coleta dos dados, diretamente
influenciado pela pandemia que pauta e, ao mesmo tempo, é objeto de nossa
investigação.
Buscamos evidenciar como se
desenvolve o imaginário coletivo da pandemia no Brasil, como conjunto de
símbolos que comportam memórias, mas também esquecimentos que produzem um
repertório de imagens da peste do século XXI, em particular neste artigo, por
meio da representação do hospital.
O hospital: da
assistência à gestão dos corpos
A
origem do hospital é controversa. Para Fabiani (2020), o termo advém do latim hostis
e designava, no século VI, o local para acolhimento de estrangeiros que
construíam igrejas como voluntários, além de indigentes que eram recebidos e
alimentados. De acordo com publicação do Ministério da Saúde (1965), o termo
hospital possui a raiz latina hospitalis e vem de hospes, isto é,
hóspedes, já que nesses
espaços os peregrinos, pobres e doentes recebiam assistência. “O termo hospital
tem hoje a mesma acepção de nosocomium, de fonte grega, cuja
significação é — tratar os doentes — como nosodochium quer dizer —
receber os doentes.” (MS, 1965, p. 7).
O
período de surgimento do hospital também suscita dúvidas. Durante a Idade Média, foram criados vários locais para
acolhimento. O “hospício” era destinado aos doentes pobres, incuráveis e
insanos, enquanto o “hospital” era um local para o tratamento temporário. Já o
termo “hotel” era “empregado com a acepção bem conhecida e universal.” (MS,
1965, p.7).
As
grandes fomes e epidemias da Idade Média provocaram o aumento do número de
pessoas que precisavam de assistência. Os hóspedes foram sendo substituídos
pelos famintos e doentes. Dada a situação caótica da época, os hospitais
passaram a ser considerados perigosos e fonte de criminalidade. (FABIANI,
2020).
As
ordens religiosas eram responsáveis por prestar assistência aos pobres no
espaço hospitalar, onde se esperava a morte. Até o século XVIII, o hospital
cumpria a “função de transição entre a vida e a morte, de salvação espiritual
mais do que material, aliada à função de separação dos indivíduos perigosos à
saúde geral da população” (FOUCAULT, 2004, p. 102), tanto que a origem da
palavra é a mesma para “hospício”.
A
partir do final do século XVIII, o hospital passa a integrar a nova ordem
social instaurada pelo capitalismo. Foucault (2004) concebe esse espaço como
dispositivo biopolítico, em que a disciplina, técnica de exercício de poder, é
aperfeiçoada para gerir a vida. O vigor físico precisa ser mantido e o corpo
docilizado a fim de estar apto ao trabalho. Nessa época, ocorre a chamada
medicalização dos hospitais, isto é, a visita constante do médico para observar
e descrever de forma sistemática a evolução da doença e assistir o paciente.
Os
controles disciplinares no espaço hospitalar permitem a vigilância constante
sobre os corpos. Trata-se da ação que submete os indivíduos, diminui a força
política por meio da obediência e, simultaneamente, aumenta o vigor somático. (FOUCAULT,
2004). A prática de internação de doentes possui
justificativa epistemológica (conhecimento médico), moral (controle de
condutas) e terapêutica (lugar de cura). O hospital, portanto, torna-se uma
tecnologia da vida e da morte, lugar em que uma série de intervenções, saberes
e técnicas se entrecruzam e estabelecem o controle sobre as populações.
Compreendemos
que o hospital e a disciplina transformaram os
modos de lidar com a morte a partir do século XX porque, de acordo com Ariès
(2014), até então, o doente ficava sob os
cuidados da família e sua agonia era partilhada na esfera doméstica. De outro
modo, a morte no hospital é solitária, higiênica e possui o amparo técnico da
medicina, podendo-se prolongar a vida com a ajuda de aparelhos. A morte natural
cede lugar à morte monitorada, em um local discreto e íntimo: “o hospital se
torna, daí em diante, o único local onde a morte pode certamente escapar a uma
publicidade — ou o que dela
resta, considerada, portanto, uma inconveniência mórbida.” (ARIÈS, 2014, p.
770).
O hospital como
espetáculo midiático
A
pandemia do coronavírus parece modificar o estatuto do hospital, convertido em
espaço amplamente midiatizado. As instalações hospitalares se tornam palco
privilegiado por onde desfilam os dramas de brasileiros internados ou à espera
de assistência. Milhares de pessoas sucumbiram à doença ou estão internadas
lutando pela vida. Outras tantas não conseguiram um leito a tempo. Imagens de
entradas de hospitais com pessoas à espera de atendimento, corredores
abarrotados de macas com pacientes e unidades de terapia intensiva superlotadas
tornaram-se frequentes. Câmeras de jornalistas, de pacientes e de familiares
adentraram o espaço hospitalar, como nunca visto, a fim de mostrar a situação
de doentes desesperados por atendimento ou inertes nos leitos de UTIs, ligados a
aparelhos para manter a vida.
O
hospital, antes lócus da intimidade e da solidão, passa a ser invadido
pelas câmeras que focam monitores cardíacos, respiradores artificiais, tubos de
oxigênio e máquinas de hemodiálise. Todo arsenal da medicina na luta contra a
Covid-19. Pacientes entubados são exibidos à exaustão. Os rostos dos doentes
aparecem desfocados, tentando preservar a identidade enquanto, paradoxalmente,
familiares encaram as câmeras pedindo ajuda e manifestando indignação com a
falta de leitos e de estrutura. Os profissionais de saúde também não se furtam
às lentes que registram o cansaço e as súplicas para que a população se cuide.
No
telejornal, “a morte na UTI” parece necessitar do aumento de tom dramático
porque não há barulho de tiros, explosões ou gritos — cenas comuns em reportagens de violência — e os pacientes estão escondidos em meio aos
aparelhos. (MUSSE, C.; MUSSE, M., 2020). Mas a gravidade da situação revela-se
nas imagens de profissionais da saúde paramentados da cabeça aos pés para
evitar a contaminação. O cenário distópico lembra aos filmes de ficção.
Em
ambiente asséptico e repleto de tubos, os equipamentos de proteção e as
máscaras tornam indistintos os rostos e as expressões dos profissionais da
saúde. Sabemos que estão exaustos pelas imagens mostradas e, mesmo sem ter
acesso às faces, o cansaço é refletido nas vozes e nos corpos encostados nos
corredores ou sentados no chão dos hospitais.
Não raro, esses trabalhadores narram todo tipo de drama de pacientes e
familiares.
Em
nossa investigação, as reportagens sobre os hospitais aparecem na maioria das
edições analisadas[7]: a
categoria perfaz 36 incidências do total de 309 matérias do Jornal Nacional do
mês de janeiro de 2021. Embora imagens e referências ao espaço hospitalar apareçam
em outros assuntos categorizados, destacamos a importância que o lugar ocupa
nesse produto midiático, devido ao caos que se instalou nesses ambientes. Já na
edição do primeiro dia do ano, a chamada
de uma matéria alerta para a tragédia: “número diário
de internações bate mais um recorde em Manaus.” (JN, 01 jan. 2021).
O jornalista Willian Bonner,
apresentador do telejornal, complementa a chamada em tom irônico, afirmando que
“a 2.700 quilômetros do local onde o presidente havia mergulhado, o número de
internações superava mais um recorde” — a nota coberta[8] exibia o chefe da nação tomando banho de
mar no litoral paulista e provocando aglomeração.
As imagens iniciais mostram
ambulâncias estacionadas na porta de um hospital de Manaus à espera de leitos
para os pacientes que estão dentro do transporte. O filho de um doente diz que
está faltando oxigênio e seu pai tem que esperar na ambulância. Imagens de
pacientes em macas, sendo conduzidos ao interior do hospital, misturam-se com a
cena de um caixão saindo do local para ser colocado no transporte funerário. As portas do
hospital são um lugar de passagem de doentes e mortos, mas também um lugar de
espera, de aglomeração e de angústia, tanto de pessoas com Covid-19 que
precisam de atendimento quanto de seus familiares que as amparam.
O
entorno do hospital dá a dimensão da tragédia e é o local onde se desenrolam as
situações dramáticas potencializadas com o som e as luzes vermelhas das
ambulâncias que chegam; o choro de pessoas em desespero ecoa com a revolta de
outras pela falta de atendimento. As câmaras frias colocadas do lado de fora do
hospital materializam a morte que não cabe mais no interior do edifício. A
repórter na passagem[9] de
vídeo em frente ao local explica:
Dentro
do plano de ações para enfrentar o novo coronavírus, câmaras frias foram
instaladas do lado de fora de dois hospitais de Manaus para acondicionar os
corpos de pacientes vítimas de Covid. Uma terceira vai ser instalada nesta
unidade. (JN, 01 jan. 2021).
O JN exibe a situação paroxística de
Manaus, onde dezenas de pacientes morreram agonizando sem ar em janeiro de
2021. O desespero de doentes e familiares na busca por tubos de oxigênio chocou
o Brasil e o mundo. Muitas instituições se mobilizaram para enviar suprimentos
ao estado.
A
edição do dia 02 de janeiro mostra a situação em Campo Grande (MS), onde não há
mais leitos de UTI disponíveis. A reportagem mostra fotos de um homem que
morreu de Covid-19 e havia feito um transplante renal dois anos antes. Em
seguida, é exibido um vídeo gravado em celular por uma infectologista, que
denuncia a superlotação nos hospitais e diz que os números de vítimas não
diminuem, apesar dos esforços.
Imagens
amadoras, realizadas com telefones celulares por familiares e profissionais de
saúde, hibridizam-se aos registros dos cinegrafistas de TV, revelando o quanto
a pandemia modificou o próprio fazer jornalístico. Mesmo com baixa qualidade,
as imagens amadoras testemunham a realidade da pandemia e evidenciam situações
que os jornalistas não presenciaram. Muitos profissionais de saúde gravam
vídeos durante os plantões e mostram o caos nos hospitais: “essas declarações
são reproduzidas nos telejornais, não dando margem para a argumentação ou
questionamento do repórter.” (MUSSE, C.; MUSSE, M., 2020, p. 106).
O
jornalismo teve que se adaptar às dificuldades impostas pela pandemia, e os
hospitais foram amplamente midiatizados de modo a exibir as situações mais
drásticas. A peste colocou em cena o espaço hospitalar, atravessado pelas
câmeras de televisão e celulares. A agonia da morte se converteu em espetáculo,
e o hospital, em morredouro, “um lugar para morrer”[10], retomando Foucault. (2004, p. 102).
Sem
a infraestrutura e os recursos necessários, somados à letalidade do vírus, os
hospitais se tornaram palco da angústia, do sofrimento e da morte. Os locais
exibidos na maioria das reportagens são públicos e atendem pessoas pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Os hospitais particulares e os chamados de elite foram,
em grande parte, poupados das matérias, ainda que os leitos estivessem
totalmente ocupados. A morte se tornou um evento banal e, como afirma Ribeiro
(2015), “não escapa à formatação midiática de sua performance.”
Além
das imagens caóticas dos hospitais superlotados, outro termômetro da midiatização
da pandemia são os infográficos utilizados no telejornal analisado. O JN fez um quadro exclusivo
para contabilizar os registros dos mortos e infectados pela doença no Brasil e
no mundo. O recurso dá o tom de cada dia, ilustrando o balanço das mortes, das
internações e o número de leitos disponíveis, principalmente nas UTI’s. Algumas
reportagens mostram os hospitais e, na sequência, as medidas impostas para
tentar diminuir a circulação do vírus.
O
caos é tangibilizado em números; um recurso didático e quase uma intimação ao
telespectador para que mantenha o autocuidado e preserve a vida. “Em São Paulo, tanto na região metropolitana da capital,
quanto no interior, já existem hospitais com 100% dos leitos para Covid
ocupados.” (JN, 05 jan. 2021),
anuncia a apresentadora Renata Vasconcelos. A matéria segue com um infográfico
apresentando a evolução da ocupação de leitos. Os números conferem a tônica do
dia: “taxa de ocupação de leitos de UTI para
pacientes da Covid está em 83% em Belo Horizonte.” (JN, 05 jan. 2021). “A ocupação dos leitos de UTI para Covid nos
hospitais públicos do Amazonas está em 88%; 378 pessoas esperam por um leito.
Os sepultamentos bateram recorde: 198 em um único dia.” (JN, 14 jan. 2021). “Taxa de ocupação de UTIs está em 96% no
estado. Venezuela envia 136.000 metros cúbicos de oxigênio.” (JN, 20 jan. 2021). “Não há mais
leitos disponíveis de UTI para Covid na capital de Rondônia.” (24 jan. 2021).
Tais
fragmentos narrativos enunciam que a pandemia potencializou o chamado “estágio
meteorológico da informação” (BAUDRILLARD, 2011), uma ambiência que se impõe
dada a profusão de sentidos. Os infográficos possuem uma credibilidade
instantânea, parecem o retrato virtual da realidade, ainda que no dia posterior
(no caso do JN), a informação
seja substituída por outra. Segundo Baudrillard (2011, p.46), o estágio
meteorológico se relaciona à “indemonstrabilidade inconsciente oriunda da
própria perfeição do cálculo e da informação”. Ainda que não vejamos todos os
mortos ou tenhamos acesso apenas a uma parte das imagens, os infográficos
pretendem traduzir a realidade, mas acabam superando-a dada a instância
simbólica em que atuam.
Considerações Finais
A
atmosfera de risco paira em toda a parte. Os números e as imagens revelam a
ameaça constante que pode afetar qualquer pessoa e levá-la a um hospital ou
ainda à morte. Ao longo do mês de janeiro de 2021, as reportagens analisadas em
nosso estudo mostram o hospital como local de denúncia, improviso, caos e
martírio; exibem os corpos inertes e desfocados nas UTIs, em uma experiência de
“quase-morte”. Nos corredores e entradas, há inquietação e vai-e-vem de
pacientes e profissionais de saúde.
A pandemia representada no Jornal
Nacional torna-se constructo simbólico resultante da técnica
jornalística, no qual as reportagens traduzem a
ameaça nebulosa em argumentos, testemunhos, denúncias, dados científicos e
gráficos que têm a pretensão de dar conta da realidade. A
representação do hospital se torna indício e sintoma do potencial destruidor do
vírus, mostrando pessoas doentes e em estado completo de vulnerabilidade.
As câmeras devassam o espaço hospitalar, evidenciando o que até
então concernia à intimidade: os doentes e mortos são espiados de formas
dramáticas e celebratórias e tais narrativas (re)constituem e desenham “uma
memória coletiva” que traz um “discurso reflexivo e nostálgico [...] a partir
da ideia de que participar daquela cerimônia torna os telespectadores um mesmo
conjunto.” (BARBOSA, 2004, p. 78). Além da precária e improvisada assistência
hospitalar mostrada nas imagens, os doentes passam a ser “assistidos” também
pelas telas dos espectadores e o telejornal, enquanto moldura social,
aproxima-se ainda mais das práticas simbólicas da morte.
Lilia
Schwarcz e Heloisa Starling (2020, p.20) nos lembram que há cem anos, na
epidemia da gripe espanhola, o médico Miguel Pereira afirmara que o “Brasil
ainda era um imenso hospital”. A frase, que segundo as autoras, foi
transformada em metáfora do país, continua mais atual do que nunca. Parece que
o Brasil ganhou pouco conhecimento e memória no “jogo da peste.” (CAMUS, 2017).
Como afirmou Camus (2017, p.11), em sua alegoria literária, “nunca é agradável ficar doente, mas há cidades e países que nos
amparam na doença e onde podemos, de certo modo, nos entregar”. Não é o caso do
Brasil de 2021, como confirmam as narrativas
midiáticas estudadas, as quais revelam o imaginário disruptivo que será em
parte (em conjunto com o esquecimento, evidentemente) constituidor da memória
da nação. Parodiando o escritor (CAMUS, 2017), as narradoras
deste texto “têm, portanto, os seus testemunhos e outros”, hoje midiatizados.
Ainda que por meio de fragmentos e de forma ínfima, somos levadas a recolher as
“quase memórias” da história que se desenha para o futuro desse século.
Notas
[1] Ver mais in: MARX, Karl. O Dezoito
Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006.
[2] De acordo com dados do Ministério da Saúde em 13
de julho de 2021, o Brasil contabilizou 535.838 mortos pela Covid-19. Ver: <https://bit.ly/3xpkLsv>. Acesso em 13
jul. 2021.
[3] Levando em conta o
contexto do Brasil, no qual, desde o início da pandemia, com o primeiro caso
divulgado no país em fevereiro de 2020, o chefe da república nega a epidemia da
Covid-19, incentivando a população a não seguir as orientações da Organização
Mundial de Saúde.
[4] Em uma leitura de ‘ethos midiatizado’, a
partir de Sodré (2002), no qual os conteúdos midiáticos estão articulados em
redes de informação e de comunicação formadas por tecnologias digitais que
atravessam quase todas as instituições sociais e culturais do cotidiano.
[5] Segundo as pesquisas de
audiência. Ver mais in: <https://bit.ly/37kWKIP>.
Acesso em: 30 mai.2021.
[6] A única exceção foi no
dia 06 de janeiro, quando a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, ocupou a
maior parte do conteúdo do telejornal.
[7] Das 26 edições analisadas, essa tipologia apareceu
em reportagens de 19 edições.
[8] Enunciado
telejornalístico curto coberto por imagens.
[9] Enunciado telejornalístico que se refere à
presença do repórter na tela.
[10]
Foucault (2004) se refere ao hospital como morredouro em uma época em que a
assistência nesse local cabia às ordens religiosas, voltadas para a salvação do
doente. Retomamos a expressão para evidenciar o colapso dos hospitais e a falta
de atendimento especializado que redundou em pacientes entregues à própria
sorte e, consequentemente, em grande número de mortes.
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[1] Doutora
em Comunicação Social (PUCRS). Professora adjunta do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão/campus Imperatriz. Email:
dayres42@gmail.com
[2] Doutora em
Comunicação (UFF). Professora
e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da
Universidade Federal Fluminense. Email: renatarezente@id.uff.br
[3]
Doutora em Comunicação Social (PUCRS). Professora adjunta do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão/campus
Imperatriz. Email: dayres42@gmail.com
[4] Doutora em
Comunicação (UFF). Professora
e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da
Universidade Federal Fluminense. Email: renatarezente@id.uff.br