Editorial

Gabriela Borges[1]

 

Os artigos que compõem a primeira edição de 2021 da revista Lumina abrangem uma variedade de reflexões no campo da comunicação que perpassam análises da imagem em movimento - a televisão e o cinema, da história em quadrinhos e da fotografia, bem como a articulação de perspectivas teóricas sobre midiatização e a circulação, relações entre comunicação e política nas redes sociais, cultura de fãs e cultura do consumo.

O artigo Imagens em disputa: a circulação de sentidos sobre o Exército Brasileiro no Complexo da Maré, de Ana Paula da Rosa e Bruno Garcia Vinhola, examina o fenômeno da midiatização a partir da disputa pela construção da imagem do Exército Brasileiro durante a operação de pacificação do Complexo da Maré, ocorrida entre 2014 e 2015.

A partir de diferentes olhares, no campo da análise das imagens e sons publicamos um artigo sobre a recepção do programa do Chacrinha, um artigo sobre o filme Paterson e dois artigos que analisam aspectos sonoros da filmografia de Godard e do filme Saneamento Básico. Em Arquivo Televisivo: Imaginário, Memória e Laço Social, os autores Mario Abel Bressan Junior e Heloisa Juncklaus Preis Moraes analisam os comentários no Twitter do público que assistiu ao remake do programa Cassino do Chacrinha, exibido na Rede Globo de Televisão e no Canal Viva em 2017. O artigo tem como objetivo refletir sobre a reformulação do laço social da televisão a partir da memória teleafetiva. A vida cotidiana em Paterson e as categorias fenomenológicas do pensamento, de Marcos Paulo da Silva e Victor Hugo Sanches Pereira, analisa o longa-metragem Paterson (2016), de Jim Jarmusch. Apresenta uma reflexão sobre a constituição da vida cotidiana em interface com as categorias do pensamento fenomenológico a partir da filosofia peirceana, por meio da análise das formas de expressão poética mobilizadas pelo filme.

No artigo Música e som nos curtas-metragens de Jean-Luc Godard dos anos 1950, Luíza Beatriz Alvim analisa cinco obras do realizador produzidas nos anos 1950, ressaltando aspectos formais das peças musicais ao longo dos filmes, além de referências intertextuais importantes na obra posterior do realizador francês. Trilhas e rastros em Saneamento básico: dialogismo e aspectos metasonoros no cinema de Jorge Furtado, dos autores Afonso Barbosa e Luiz Antonio Mousinho, reflete sobre os desdobramentos da metalinguagem e do dialogismo no filme por meio das relações construídas a partir da trilha sonora.

Consumo, Violência e a constituição de identidades na modernidade tardia, de Marcia Perencin Tondato, discute a formação de identidades na sociedade midiatizada sob o ponto de vista da violência simbólica, que permeia tanto os conteúdos jornalísticos quanto as relações estabelecidas no mundo virtual.

Na interface entre a comunicação e a política apresentamos dois artigos que refletem sobre campanhas eleitorais recentes. As transformações nas campanhas eleitorais, de Daniela Paiva de Almeida Pacheco e Wallace Faustino da Rocha Rodrigues, aborda a forma como a campanha eleitoral é organizada na atualidade enquanto campanha permanente. Reflete sobre as mudanças decorrentes do papel dos partidos políticos na produção das campanhas em virtude dos desafios apresentados pela difusão das informações pelas redes sociais. O artigo A militância forjada dos bots: A campanha municipal de 2016 como laboratório eleitoral, dos autores Rose Marie Santini, Débora Salles, Giulia Tucci e Charbelly Estrella, investiga a conversação gerada pela atuação de contas de bots políticos no Twitter durante o primeiro turno das eleições municipais de 2016 no Rio de Janeiro. Discute os modos como os bots podem afetar os resultados eleitorais, pois ocupam um vácuo de opiniões políticas e oferecem posições partidárias. Argumenta ainda que estes prepararam o terreno para a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.

Dois artigos discutem as relações de produção e consumo na cultura digital, em especial no que diz respeito às novas formas de interação dos fãs, mas também do público em geral. Em Referências em série: memes e intertextualidade em fandoms de narrativas seriadas, Daniel Rios investiga as particularidades dos memes que circulam em fandoms de narrativas seriadas estadunidenses no Brasil. Apresenta uma pesquisa etnográfica, desenvolvida entre junho de 2018 e maio de 2019, com três comunidades de fãs brasileiros, ressaltando as dinâmicas de sociabilidade calcada principalmente na intertextualidade. As prioridades de quem produz: Entretenimento e violência nas fanpages dos jornais regionais, de Michele Goulart Massuchin e Suzete Gaia de Sousa, apresenta uma análise das fanpages dos jornais A Tarde, Correio Braziliense, Diário Online, Gazeta do Povo e O Globo no Facebook. O estudo foi realizado com base em 2.825 postagens coletadas durante duas semanas por meio de análise de conteúdo quantitativa e ressalta a veiculação de conteúdos relacionados ao entretenimento e à violência, caracterizando-se pela proximidade e impacto das notícias.

No artigo A incompletude constitutiva do sujeito e o reconhecimento de si: o mangá Naruto como metáfora para (re)pensar a condição humana, Diego Rodrigues da Silva e Francisco Vieira da Silva analisam, por meio dos elementos verbais e visuais do mangá, a construção do percurso do personagem e das ambiguidades de sua existência.

E, por fim, o artigo internacional que compõe esta edição, Multiplatform storytelling: are photojournalists taking advantage?, de Estibaliz García-Taboada, Ainara Larrondo-Ureta e Simón Peña-Fernández, apresenta um estudo realizado com fotógrafos que ganharam o prêmio World Press Photo, com o objetivo de examinar as formas como os recursos digitais e multiplataforma são explorados por estes profissionais.

Agradeço a todos os autores que se interessaram em publicar na nossa revista e o apoio dos pareceristas, sem os quais não seria possível a preparação desta edição. Agradeço também à toda a equipe editorial e às novas profissionais que nos auxiliam neste processo, Lícia Oliveira Souza e Hsu Ya Ya.

Para fechar este editorial não podemos deixar de compartilhar a notícia de que a revista Lumina venceu a Chamada Pública 05/2017 da FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de MG) e no período de dois anos (2021/2022) poderá contar com a profissionalização de seu processo editorial.

 

Desejamos uma boa leitura!!

Gabriela Borges



[1] Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação/UFJF e editora da Revista Lumina. E-mail: gabriela.borges@ufjf.edu.br