“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa
Entrevistadoras: E era via associações que as Universidades vinham. Nós puxávamos
as universidades, lembra quando a gente fez aquele ato pelas creches diretas na PUC, depois a
defesa da moradia... Era nossa relação direta com a luta social como assistentes sociais e
influenciando as universidades.
Luiza Erundina: Uma questão importante foi a relação da profissão com os
trabalhadores assalariados e a relação dos trabalhadores assalariados com a profissão. Quando
da greve dos metalúrgicos de 1978, quando Lula fez aquela denúncia no estádio da Vila
Euclides25 que a Volkswagen estava contratando Assistentes Sociais para aliciar os
trabalhadores a saírem da greve... Quando no encerramento do Congresso (de 1979), o Lula foi
convidado… para compor a mesa de comissão de honra do Congresso, porque nós destituímos
a comissão de honra fruto da preparação nossa três dias antes do Congresso, que a gente não
concordava com o Congresso, com como ele foi construído, com a programação, os custos, a
exclusão dos estudantes... Nós fizemos uma denúncia a tudo isso... (Erundina rememora aqui
a dinâmica de denúncias e mudanças produzidas no Congresso de 79 pelas associações
profissionais)26.
25
Em abril e maio de 1979, Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de líder sindical, realizou discursos e
assembleias históricas no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, como parte da greve geral dos
metalúrgicos do ABC. No discurso que Erundina faz como paraninfa da turma de Serviço Social da Faculdade de
Serviço Social de São Paulo, em março de 1979, ela explicita: “... injusta e arbitrária intervenção do Governo nos
Sindicatos dos Metalúrgicos do ABCD e à odiosa repressão policial de que estão sendo vítimas os trabalhadores
daquela região. Estão sendo punidos por reivindicarem um direito. Seu ´crime’consiste em exigirem um tratamento
mais justo nas injustas relações de trabalho, usando, para isto, do legítimo recurso de greve... Não podemos deixar
de repudiar, nesta oportunidade, tais arbitrariedades, em incorrer em grave omissão e sem trair nosso compromisso
profissional. Não é suficiente, porém, denunciar e repudiar. Temos que assumir, enquanto categoria profissional,
posição ativa de apoio ao movimento dos trabalhadores” (Sousa, 1991, p. 45-46). Nos discursos para a turma da
Faculdade de Serviço Social das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e da PUC de Campinas,
respectivamente em 1979 e 1980, também repudia as demissões de profissionais que estavam ocorrendo em órgãos
públicos e empresas privadas por suas posições críticas à ditadura: 24 Assistentes Sociais e outros profissionais do
Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo (Inocoop); 05 Assistentes Sociais da Fundação
de Promoção Social da Prefeitura de Santo André ; Assistentes Sociais do Hospital dos Servidores Públicos do
Estado e 06 professores da Faculdade Paulista de Serviço Social (Sousa, 1991, p. 47-48; 118-119).
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26 Nos dias 21 a 23 de setembro de 1979 realizou-se na cidade de São Paulo o III Encontro Nacional de Entidades
Sindicais de Assistentes Sociais, do qual participaram 21 entidades e criaram a Comissão Executiva Nacional de
Entidades Sindicais de Assistentes Sociais (CENEAS), que teve a APASSP na coordenação. Um dos temas deste
Encontro foi a avaliação da organização do Congresso, em que destacaram o caráter acrítico dos temas que seriam
debatidos, como o das políticas sociais, representantes governistas na composição das mesas, descompromisso
com as lutas de resistência à ditadura, entre outras questões. O III CBAS foi realizado de 23 a 28 de setembro,
com cerca de 2500 profissionais. No segundo dia do Congresso, foi chamada uma assembleia (dentro do
Congresso), na hora do almoço, quando estava programada uma visita às entidades sociais. “No refeitório, com
600 congressistas, viramos o jogo do Congresso. Dissemos: Vamos tomar a direção do Congresso. Propusemos,
e foi aprovado, que aquela Comissão de Honra composta à revelia da categoria, pelo então Presidente da
República, General João Batista Figueiredo; o Ministro do Trabalho, Murilo Macedo, (que havia cassado a
diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cujo presidente era Luiz Inácio Lula da Silva); o Ministro da
Previdência, Jair Soares; o Governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf, o Prefeito de São Paulo, Reynaldo de
Barros e o secretário da Promoção social do Estado de São Paulo, Antônio Salim Curiati, seria substituída por
representantes dos dirigentes sindicais cassados; do Comitê Brasileiro pela Anistia; do Movimento Contra a
Carestia; da Associação Popular de Saúde; da Frente Nacional do Trabalho, em homenagem aos trabalhadores