“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é  
preciso ter gana sempre”: entrevista com a  
Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Maria Lúcia Duriguetto*  
Maria Beatriz Costa Abramides**  
Maria Rosângela Batistoni***  
...os textos de Luiza Erundina estão “molhados” e não apenas salpicados de  
esperança. É que não há esperança fora da luta, da busca, do empenho de  
mudar, de refazer, de recriar, de reinventar. Não há esperança na pura espera,  
na inação de quem cruza os braços e, perdendo o desejo do sonho, submerge  
no fatalismo imobilista” (Paulo Freire – Prefácio do livro Exercício da Paixão  
Política).  
Luiza Erundina nasceu em Uiraúna, no sertão da Paraíba, no dia 30 de novembro de  
1934. De uma família numerosa de dez irmãos, cursou metade do curso de Serviço Social na  
Faculdade de Campina Grande e a outra metade na Faculdade de Serviço Social de João Pessoa,  
onde concluiu o curso em 1966. Nessa entrevista1, nosso foco foi que nos falasse de seu trabalho  
como Assistente Social desenvolvido na Paraíba e na Prefeitura Municipal de São Paulo (entre  
1967-1981), da sua militância e trabalho sindical como presidenta da Associação Profissional  
dos Assistentes Sociais de São Paulo (APASSP) entre 1978-1981, e do trabalho acadêmico  
como docente de Serviço Social em Faculdades da cidade e do Estado de São Paulo (1977-  
1981)2.  
* Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: maluduriguetto@gmail.com  
** Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: biabramides@gmail.com  
*** Universidade Federal de São Paulo. E-mail: rosangelabatistoni@gmail.com  
1
Entrevista realizada no contexto da pesquisa de pós-doutorado intitulada “A relação do Serviço Social com as  
lutas sociais no Brasil nas décadas de 1970-1990: reflexões sobre a questão da natureza da dimensão ético-política  
profissional. Premissas analíticas”, de Maria Lúcia Duriguetto (Bolsista produtividade (PQ) CNPq), realizada no  
Programa de Pós-Graduação da PUC-SP (2023-24) sob a orientação da Professora Maria Beatriz C. Abramides  
(Bolsista produtividade (PQ) CNPq). A entrevista com Luiza Erundina de Sousa foi realizada no dia 14/11/2023,  
na cidade de São Paulo, com duração de 2h13min. Foram entrevistadoras as Professoras Maria Lúcia Duriguetto,  
Maria Beatriz C. Abramides e Maria Rosângela Batistoni.  
2
Essas inserções foram desenvolvidas, portanto, antes de Erundina se tornar vereadora pelo Partido dos  
Trabalhadores (PT) pelo município de São Paulo, em 1982. Chamamos a atenção que alguns relatos dos trabalhos  
profissionais, sindicais e de docência feitos na nossa entrevista são reforçados e ampliados por outros depoimentos  
dados por Erundina e pelo conteúdo do seu livro autobiográfico (Sousa, 1991). Também, explicitamos informações  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.51146  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 28/11/2025  
Aprovado em: 15/12/2025  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
Entrevistadoras: Erundina, essa entrevista visa contribuir para desocultar a  
contribuição que segmentos da categoria de assistentes sociais tiveram no sentido de apoiar as  
lutas populares, de apoiar suas demandas, suas reivindicações, em um momento conjuntural  
quente aqui em São Paulo, que foi a segunda metade da década de 1970 e toda a década de  
1980. Então, estamos fazendo uma entrevista com as profissionais que estabeleceram relação  
com os movimentos sociais, defendendo suas reivindicações nos espaços institucionais em que  
atuavam.  
Luiza Erundina: Eu tinha um vínculo com a defesa da terra, com a população  
camponesa como assistente social... Eu vim para São Paulo para fazer o mestrado em Ciências  
Sociais, na Sociologia Política de São Paulo (19681969)... sobre uma experiência que eu vivi  
como Assistente Social na periferia de João Pessoa... com foco muito forte nas comunidades  
locais, numa visão muito inspirada na Teologia da Libertação... No meu caso, não tinha um  
vínculo muito pessoal com a Igreja não; eu sou católica, mas, naquele momento, era mais uma  
militância política, não partidária, trabalhando como assistente social junto aos camponeses  
primeiro, depois à população pobre da periferia e com a dimensão política da profissão.  
E havia um questionamento, na época, em que nós, Assistentes Sociais o Serviço  
Social éramos uma profissão descolada, desligada da luta concreta e das condições políticas  
que existiam na época, que era a ditadura militar, fortemente prendendo trabalhador, cassando  
mandatos de dirigentes sindicais. Então, naquele momento, algumas de nós descobrimos que a  
profissão carecia de uma dimensão política. O que se pregava nas Faculdades chamadas  
ascéticas era que a profissão tinha que ser neutra, tinha que ser ascética para poder garantir o  
caráter científico da profissão. Isso não tinha nada a ver com o que a gente tentava fazer como  
Assistente Social junto aos camponeses e junto à população pobre dos centros urbanos. E aí se  
conseguiu articular um grupo de profissionais (Erundina aqui já trata do período em que chega  
em São Paulo) que estava saindo da Faculdade, particularmente da PUC. Aí estavam a Bia3, a  
Celinha4, a Chana5... Esses novos profissionais que já vinham com um engajamento político —  
não em partido, porque os partidos estavam proibidos de existir mas havia as tendências,  
sobretudo daqueles que estavam voltando do exílio. E, então, algumas de nós, Assistentes  
Sociais, não aceitávamos essa pecha de que o Assistente Social era neutro, que não tinha que  
ter posicionamento político nenhum, que isso comprometeria o caráter racional e científico da  
988  
que achamos necessárias serem dadas em relação à alguns fatos mencionados por nossa entrevistada. Todas as  
informações acrescentadas se encontram em notas de rodapé.  
3 Maria Beatriz C. Abramides, assistente social do Inocoop à época.  
4 Célia Fernandes Vilarinho Peres, assistente social à época do Hospital do Servidor Público Estadual.  
5 Chana Viner, assistente social à época da Prefeitura Municipal de Osasco.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
profissão, e nós recusamos aceitar essa avaliação e esse critério. Mas isso, cada uma de nós  
sofrendo essa crítica, e foi a necessidade de nos organizarmos para enfrentarmos esse  
preconceito contra nós: que o Assistente Social era para resolver os problemas dos pobres que  
o governo criava o governo da época, o sistema econômico da época criava e nós,  
Assistentes Sociais, devíamos ir lá para pormos panos mornos entre os conflitos e as  
contradições. E alguns de nós nos recusamos a incorporar essa avaliação e deixar barato, e aí  
nós tivemos um momento de reflexão entre nós.  
Não dava para pensar em fazer isso com os profissionais no seu todo, muito menos a  
partir de uma Faculdade ou de alguma entidade ligada ao Serviço Social, porque não havia —  
e as que havia não eram no sentido de evoluir, no sentido de assumir a dimensão política da  
profissão. A gente entendia que a neutralidade político-ideológica favorecia os que não queriam  
mudança nenhuma; pra eles estava tudo bem, estava tudo bom. Para resolver os problemas da  
fome, da pobreza, do desemprego, o trabalhador estava despreparado para enfrentar a  
conjuntura, e a profissão teria que estar junto, ajudando o trabalhador individualmente a superar  
as dificuldades, e não focada nas causas estruturais do regime político, do sistema político e do  
regime de governo, que era a ditadura militar.  
E nós, trabalhando em órgãos públicos... então nós vimos que tínhamos que nos  
organizar e nos assumir politicamente e coletivamente, para poder a gente preservar os espaços  
que a gente estava conquistando e ampliar esses espaços. E aí a gente viu que tinha que assumir  
a tarefa de contribuir com a organização política da profissão.  
989  
Depois do mestrado, eu voltei para lecionar para Assistentes Sociais na Universidade  
Federal da Paraíba, em 1971... frequentei as reuniões do Departamento de Ciências Sociais; iria  
assumir a cadeira de Ciências Sociais numa segunda-feira e, na sexta-feira, recebi o recado da  
Chefe do Departamento de que minha entrada na Universidade tinha sido vetada pelo regime  
militar, da divisão do regime militar lá da região, que havia determinado ao Reitor6...  
Entrevistadoras: Nesse momento você vai trabalhar com os camponeses, quando você  
não é contratada. Você já tinha um trabalho anterior, e você continua o trabalho com a derrota  
das Ligas Camponesas. Fale um pouco para nós deste trabalho.  
6 Erundina, depois que se formou em Serviço Social, teve experiência como professora na área de Serviço Social  
“como monitora, como auxiliar. Mesmo como estudante, eu já trabalhava junto a algumas cadeiras no curso de  
serviço social lá em João Pessoa”. Explica que “a Faculdade de Serviço Social ainda não era da Universidade,  
ainda era uma escola de uma congregação religiosa...Portanto, eu, como auxiliar de ensino, como monitora, ajudei  
em algumas cadeiras lá, ainda como estudante. Quando fiz Ciências Sociais, era para lecionar nos cursos da  
Universidade. E aí fui impedida pelos órgãos de segurança” (Sousa, 2002, p. 14).  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
Luiza Erundina: As Ligas Camponesas foram destroçadas, numa violência enorme  
que ainda não se contou a sua verdadeira história, que teve um foco importante na Paraíba…  
Nós não éramos ligadas às Ligas Camponesas, nós entramos na relação com os que ficaram dos  
destroços do massacre... do Sapé7, e com o respaldo da Teologia da Libertação e da Pastoral da  
Terra da Arquidiocese da Paraíba, que era Dom José Maria Pires e Dom Helder Câmara, no  
Recife8. Era a igreja progressista... Toda aquela conjuntura do final do governo Goulart e o  
início da ditadura militar... teve uma presença muito forte da Igreja progressista, influenciando  
a política de educação e influenciando a política da terra... Era uma ação do nordeste, da igreja  
progressista, com os militantes políticos de esquerda que entraram na luta assumindo  
diretamente, concretamente, a dimensão política da militância. Fé e Política nasceu ali9.  
A fé sem política se ressente de sua eficácia, de sua importância, da sua oportunidade e  
da coerência... A fé sem política não é uma fé consequente, ou seja, uma fé transformadora.  
Portanto, tinha um vínculo cristão, católico, mas ao mesmo tempo tinha um braço político forte  
que associava a opção de fé com a ação política com vistas às reformas estruturais, as reformas  
de base que o Governo Goulart, o Celso Furtado e outros que estavam juntos estavam  
promovendo. Eles promoviam as reformas de base no sentido exatamente de enfrentar as  
injustiças, enfrentar as desigualdades, enfrentar, sabe, as consequências do capitalismo na sua  
forma mais atrasada, que tinha por base a propriedade da terra, apropriada individualmente,  
improdutivamente e excluindo os trabalhadores da terra e reforçando a migração campo-cidade.  
990  
7 As Ligas Camponesas do Sapé se referem ao núcleo das Ligas Camponesas que atuou na região do Engenho  
Sapé, localizado no município de Sapé, na Paraíba, sendo um dos núcleos mais importantes do movimento  
camponês entre o final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Formadas por trabalhadores rurais (trabalhadores  
sem-terra, moradores de engenho, arrendatários e pequenos agricultores), as Ligas foram organizações de  
resistência às duras condições de vida e trabalho impostas pelos proprietários de terra na região do nordeste. No  
Sapé, as Ligas se organizaram para reivindicar direitos trabalhistas no campo, acesso à terra, fim de expulsões  
arbitrárias e reforma agrária. Com o golpe de 1964, as Ligas foram duramente reprimidas, e suas organizações –  
incluindo o núcleo do Sapé – foram desmanteladas. Consultar, por exemplo, Julião (1962), Medeiros (1987) e o  
Memorial das Ligas Camponesas (2025).  
8
Dom José Maria Pires, o “Dom Zumbi”, foi arcebispo da Paraíba (1965-1995) e Dom Hélder Câmara foi  
arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985). Foram umas das principais vozes da Igreja Católica na defesa dos  
Direitos Humanos durante a ditadura e por justiça social no campo. Quando ambos assumiram seus arcebispados,  
as Ligas já haviam sido duramente desmanteladas e passaram a denunciar e condenar a violência sofrida pelos  
trabalhadores rurais (que eram assassinados, que enfrentavam expulsões, prisões e ameaças). Dom Hélder e Dom  
José ajudaram a preservar e transformar o legado das Ligas, impulsionando e apoiando novas formas de  
organização popular, como as Comunidades Eclesiais de Base, sindicatos, centros de formação e movimentos  
rurais que deram continuidade, de outro modo, à luta iniciada pelas Ligas.  
9 Fé e Política é uma corrente de reflexão e atuação dentro da Igreja Católica e de movimentos cristãos que surgiu  
na América Latina a partir dos anos 1960–1970, influenciada pela Teologia da Libertação. É um movimento que  
busca articular a vivência da fé com o compromisso social e político com as lutas contra as injustiças sociais, a  
conscientização política e o apoio a movimentos populares. Dom Hélder e Dom José foram grandes referências  
desse movimento.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Foi nesse momento, eu estava com essa atuação, que eu vim fazer o curso de mestrado (1968-  
69).  
Voltei em 1970 (para João Pessoa), e não fui lecionar porque fui vetada pelo regime  
militar, eu tenho inclusive ofício do Reitor... informando isso... e fiquei o ano de 1970  
trabalhando esse trabalho de igreja10, indo pro campo, indo com o bispo, porque se fosse sozinha  
era capaz de ser presa. Então, nós íamos no final de semana pra aquelas áreas cobertas que eles  
faziam no campo para conversar com os camponeses e pra tentar resgatar os trabalhadores que  
estavam dispersados com os destroços das Ligas Camponesas…  
O medo e a repressão foram tão fortes sobre eles que eles não se reconheciam mais  
como camponeses, como trabalhadores rurais e foi com esse núcleo que restou das Ligas  
completamente destroçadas, muito medo, muito trauma, a morte do Teixeira (faz menção ao  
documentário “Cabra Marcado para Morrer”) e a sua parceira Elizabete11. Com o apoio do  
bispo progressista Dom José e Dom Helder a gente tinha um certo respaldo pra tá trabalhando  
com os camponeses, não estávamos tão frágeis, tão expostas como Assistentes Sociais  
trabalhando com a igreja até um certo ponto...era um trabalho interdisciplinar, com  
profissionais de várias áreas…  
Eu voltei para ir lecionar na Universidade Federal da Paraíba e aí houve o  
impedimento... Então eu fiquei trabalhando como funcionária administrativa… no INPS... e  
sendo muito visada. Onde eu ia tinha um olheiro destes querendo ouvir o que eu estava fazendo  
e gravando minhas falas em algum lugar pra ir me detonar. Eu me lembro uma vez, eu estava  
fazendo uma palestra com trabalhadoras domésticas porque elas estavam querendo formar uma  
associação, nós estávamos juntas para que elas formassem aquela associação e no final da  
palestra, no final da sala, eu encontrei um jovem que morava vizinho a minha família lá no  
bairro e eu conhecia esse rapaz, a irmã dele estudou comigo no Colégio estadual… e como o  
Colégio era afastado, muitas vezes era o pai da Edna e desse rapaz que ia nos levar... porque  
era muito deserto… Então eu o conhecia como vizinho, ele estava lá no fundo da sala, ele me  
abordou, se aproximou de mim, se apresentou, eu sou o fulano de tal, irmão da Edna, moro  
991  
10 Um ano antes de cursar o mestrado e trabalhando no SANDU, Erundina vai passar férias em São Paulo na casa  
de parentes e faz um concurso para assistente social no INPS, sendo aprovada. Ficou o ano de 1970 trabalhando  
no INPS, em João Pessoa, em uma atividade administrativa e “militando como assistente social. Militava nos  
movimentos de mulheres, no trabalho com o trabalhador rural” (Sousa, 2002, p. 14).  
11  
Erundina se refere a Francisco Teixeira, que foi uma liderança das Ligas. Foi assassinado, em 1962, por  
latifundiários e grupos armados. Sua esposa, Elizabete Teixeira, também era militante e foi duramente perseguida,  
o que a obrigou a viver escondida durante todo o período da ditadura. O filme Cabra Marcado para Morrer, de  
Eduardo Coutinho, foi iniciado em 1964 e pretendia relatar a vida de Teixeira com a participação de Elizabete. As  
filmagens foram interrompidas no dia do golpe e parte do material foi apreendida. Coutinho retomou o filme entre  
1981–1984, agora como documentário sobre as lutas camponesas pré-64, o assassinato de Teixeira e a perseguição  
a Elizabete, seu sofrimento e o reencontro com os filhos. Link do documentário: https://youtu.be/yaOQ2Pyo15w  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
vizinho a sua casa e eu trabalho para o regime militar e eu estou aqui pra gravar o que você tá  
falando pra levar... então ele declarou, assim meio sem jeito.  
Eu disse, olha você sabe as consequências disso pra mim e pra outras pessoas que  
eventualmente você segue levando informações...eu não faria esse trabalho… Então chegou um  
ponto que eu não tinha mais liberdade nenhuma, segurança em canto nenhum. Aí tinha uma  
amiga minha, irmã de caridade, que tinha um irmão que era membro do poder do 4º Exército lá  
em Recife e ela indagou dele qual era minha situação política diante das forças armadas...então  
ele falou pra ela que eu corria risco, que não era bom permanecer lá, que era melhor eu sair de  
lá, porque tinha problemas sérios, era mais seguro eu sair de lá...foi quando resolvi vir para São  
Paulo. Me lembro que eu não queria vir, queria continuar fazendo a luta lá pela Reforma Agrária  
e fui tomar o ônibus no Recife... até São Paulo. Já tinha estado lá fazendo o curso, e voltei como  
Assistente Social, como funcionária do INPS12... Então eu fui de ônibus para São Paulo...essa  
religiosa que era minha amiga foi me levar na rodoviária, eu muito magoada, chorando, eu senti  
como se eu tivesse deixado a luta para trás…  
Cheguei em São Paulo (em 28 de janeiro de 1971), eu odiava essa cidade… São Paulo  
era muito frio e eu não tinha roupa adequada para o inverno... me lembro do frio que eu sofria.  
Eu trabalhava durante o dia...6hs fazendo cálculos... para benefícios para o trabalhador,  
trabalho... burocrático…  
992  
Aí comecei a dar aula na Faculdade Paulista de Serviço Social, na Faculdade de Serviço  
Social das Faculdades Metropolitanas Unidas e na Pontifícia Universidade Católica (todas em  
São Paulo); no interior do estado, em que voltava na mesma noite, de ônibus: Universidade de  
Taubaté (UNITAU); Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul, e na  
Universidade Católica de Santos, em Santos. Então eu fiquei dez anos lecionando em diferentes  
Faculdades.  
Aí eu entrei na luta política através dos estudantes, que já estavam resistindo aos  
currículos tradicionais...os alunos fizeram greve e nós, professores, fizemos greve juntos, aí  
eles nos demitiram...13  
12  
Erundina pediu transferência como administrativa do INPS para trabalhar em São Paulo. Ela já “tinha feito o  
concurso de assistente social, estava bem classificada, então era certo o meu aproveitamento como assistente social  
do INPS. Só que eles me colocaram num órgão de contabilidade, para fazer cálculos custo-benefício... Deve ter  
sido por limitações políticas, o fato de eles não terem me aproveitado como Assistente Social. E me lembro que  
me obrigavam a fazer cálculos, a fazer horas extras fazendo cálculos de serviços. Era uma agonia!” (Sousa, 2002,  
p. 16).  
13 Erundina foi demitida da Faculdade Paulista de Serviço Social depois de nove anos de trabalho “... porque nós  
nos aliamos aos estudantes numa greve interna para repensar o currículo, para repensar a formação profissional”  
(Sousa, 2002, p. 22).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Entrevistadoras: E você também, neste período, já estava na luta no trabalho  
profissional. Você passa no concurso público em 1971 na Secretaria de Bem-Estar Social da  
Prefeitura de São Paulo (Sebes) e vai trabalhar nas favelas14.  
Luiza Erundina: Eu fiz um outro concurso e a prefeitura me chamou logo em  
seguida...e me puseram para trabalhar nas favelas e nos cortiços e aí que foi que eu me descobri  
em São Paulo. Porque quem eu fui encontrar nas favelas? Os trabalhadores rurais que não  
tinham mais condições de trabalho e viam para a cidade grande, não exatamente os mesmos,  
mas havia gente do nordeste, do interior de São Paulo. O fluxo migratório campo-cidade  
intensificou-se naquele período pela mudança da política agrária do governo, enfim, então eu  
fui para as favelas.  
Aí eu percebi, havia poucas favelas na época porque a repressão sobre as ocupações era  
muito grande, e as ocupações se faziam de madrugada, uma a uma, família por família. Elas  
estavam chegando, não tinham onde morar, não iam para debaixo de viaduto ainda...então  
encontravam um vazio na cidade, um espaço e de madrugada montavam um barraco e entravam  
para dentro... A partir do dia seguinte ia crescendo, e ia se criando os núcleos de favela, foi  
onde a gente atuou como Assistente Social.  
E eu, tendo uma identidade muito direta com a situação deles e com eles, porque  
estavam vindo expulsos pelo latifúndio, estavam vindo do campo para a cidade e chegavam  
aqui não tinham onde morar, muito menos trabalho, não tinham a formação para o trabalho  
urbano, na indústria. Não tinham, porque estavam vindo do campo, portanto numa precariedade  
muito grande.  
993  
O primeiro problema que enfrentavam, além do emprego, era o de não terem onde  
morar... eu, desde o início com outras colegas, acompanhamos essa construção, esse  
crescimento do fenômeno de favelas na cidade, favelas e cortiços, e foi rápido porque foi um  
14  
A Sebes foi transformada em Coordenadoria do Bem-Estar Social (Cobes) em maio de 1977, criando a  
descentralização do órgão e a criação de Supervisões Regionais de Serviço Social (Surss). Erundina integrou a  
Surss da zona norte, a partir de 1978, na área de habitação. As diretrizes de trabalho de ação da Surss eram  
compreensão da realidade regional, criação de uma metodologia comum de trabalho social junto à população da  
área regional que tinha como estratégia a mobilização e participação popular. Em 1979, como representante da  
Surss, Erundina foi convidada pela direção da Cobes para a elaboração de uma proposta de trabalho junto a  
representantes de outros órgãos da prefeitura. A proposta não foi oficializada devido ao esquema montado para  
apoiar a candidatura do então prefeito biônico Reynaldo de Barros ao governo do Estado de São Paulo,  
transformando a Cobes em seu cabo eleitoral. Técnicos capacitados foram afastados, Assistentes Sociais perderam  
emprego e lideranças de movimentos populares cooptadas. “Ainda passei por outras experiências na Cobes. Tive  
oportunidade de compreender as limitações impostas pela instituição com o fim de impedir a realização de um  
trabalho comprometido com os interesses dos trabalhadores. Compreendi ainda que o profissional competente e  
realmente comprometido com os interesses dos trabalhadores, se está sozinho, não é capaz de reorientar uma  
prática institucional. Para superar as limitações, temos que ampliar e criar novos espaços de atuação, assumindo,  
ao mesmo tempo, clara posição política diante da realidade social” (Sousa, 1991, p. 69).  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
período que se intensificou o fluxo migratório campo-cidade... e aí os núcleos de favelas  
começaram a crescer e a se formar. A repressão policial e de governo se dava com muita força  
e aí nós fomos de novo visadas por estarmos juntas com eles nos momentos de despejos.  
Ficávamos ao lado deles enfrentando a repressão policial e como funcionárias da prefeitura.  
E eles queriam que nós, Assistentes Sociais da prefeitura, ao invés de estarmos lá  
apoiando, defendendo os trabalhadores - sem terem onde morar - da repressão policial, nós  
tínhamos que convencê-los a sair e tendo uma ajuda financeira para dar a eles, uma passagem  
de volta de onde eram e alguma coisa para comer durante o caminho. Houve um decreto do  
Paulo Setúbal, que era prefeito da cidade, criando essa função para nós15. Aí foi a primeira vez  
que nós nos rebelamos, nós que estávamos sobrevivendo na cidade sob os olhos da ditadura, da  
repressão a nós, mas como funcionárias públicas.  
A condição de funcionárias públicas nos dava acesso aos problemas, à população, às  
comunidades e as condições de sobrevivência nossa. Mas o compromisso da luta pela questão  
da terra, o direito a trabalhar e viver da terra e a terra pra morar... Eu descobri na luta que tinha  
que estar aqui mesmo… Eu tinha uma identidade muito forte porque eu trouxe de lá a razão de  
ser, o meu compromisso com a democratização da terra no campo, a mesma coisa a  
democratização da terra na cidade.  
E aí foi o vínculo mais forte, político, que se criou entre, no meu caso e outras pessoas  
que trabalhamos juntas, com as favelas, os cortiços, com a população das periferias, que crescia  
assustadoramente...as ocupações já não se davam só individualmente, se davam por grandes  
grupos de pessoas e a resistência era mais forte, consequentemente, a repressão era mais forte…  
A gente lá tentando evitar a repressão policial. O Adão morreu num despejo de favela  
na zona leste... Era um ocupante de terra que resistiu à expulsão, ao despejo, e nós tentando  
negociar com a polícia. Tinha alguns advogados que estavam na nossa equipe que  
também ajudavam a encaminhar junto à justiça, protelando a hora de despejar para poder juntar  
gente, organizar melhor a luta.  
994  
Aí nasceu o grande movimento de favelas e de cortiços pelo direito à terra na cidade pra  
morar e esse movimento foi tão forte que ensejou a organização política dos Assistentes Sociais,  
que trabalhavam com esse fenômeno.  
15  
Erundina se refere ao Decreto Municipal n.15.086 de junho de 1978 do prefeito biônico Olavo Setúbal. “O  
decreto determinava o uso da força policial e a intervenção de assistentes sociais através da Unidade de Supervisão  
Regional de Serviço Social (Surss)...para impedir a ocupação das áreas vazias na cidade para deter o crescimento  
das favelas”. Erundina, em outra entrevista, elucida: “Então, ia o assistente social, junto com o policial, levando  
uma ajuda para o aluguel de três meses, ou para a construção de um barraco, ou a compra de um terreno... Alguém  
que tivesse um terreno, um parente que tivesse um terreno para ajudar a construir uma casa, ou então, dar passagem  
de volta para as pessoas que estavam chegando...” (Sousa, 2002, p. 18).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
A gente viu que não dava mais só como funcionária da prefeitura, Assistente Social que  
trabalhava na prefeitura, dar condições e ação política nossa sem que isso implicasse na nossa  
eliminação, na demissão. Não só eu, outras companheiras. Aí veio a ideia da gente reativar a  
Associação Profissional dos Assistentes Sociais, que estava desativada há sete anos.16  
Aí foi o nosso trabalho, veio a Celinha, a Chana, a Bia, me convencer pra que eu  
assumisse a presidência da Associação, que seria reativada17... Eu não estava interessada em  
fazer militância sindical naquele momento, estava interessada em continuar a luta na cidade...  
usando a profissão, mas percebendo os limites e as determinações que faziam com que a  
profissão não iria muito a frente… que não iríamos resistir por muito tempo só como  
profissionais.  
Aí veio a ideia da Associação Profissional, era um outro espaço que a gente criava pra  
onde a gente levava a discussão da luta pelo direito de morar, terras ociosas na cidade, a  
repressão nos despejos 18. E o governo, também, começou a nos vigiar, a nos perseguir, enfim,  
era de novo a resistência ao regime militar a partir da ação profissional, mas ação profissional  
com uma dimensão político-sindical...onde vieram outros profissionais, outras associações,  
vieram e se juntaram a nós nesses momentos de stresse e de conflito e de confronto com o  
governo, com o regime.  
Era um espaço mais independente e, ao mesmo tempo, apoiado por mais entidades,  
profissionais de outras áreas… E os próprios favelados também começando a discutir, perceber  
as causas dos seus problemas, começaram, também, a se organizar e a exigir que os  
profissionais também se organizassem.  
995  
16  
Isso foi em 1977. Mas já no ano de 1968, houve tentativas de reorganizar a Associação por parte de alguns  
profissionais com o apoio do movimento estudantil por meio da realização de assembleias. Entretanto, com a  
promulgação do AI-5 em dezembro deste ano, esse processo de reativação foi impedido, assim como associações  
e entidades sindicais profissionais em todo o país. Esse processo ainda necessita ser investigado.  
17  
“Lembro-me que era um pessoal que tinha saído da PUC, recém-formado. Eu já tinha bastante idade, já era  
formada há muito tempo, mas eles me procuraram para dar condições de representatividade junto à categoria na  
reativação da APASSP. Então, eram jovens. Era a Chana, a Socorro - que trabalhava no INAMPS -, tinha um grupo  
grande de pessoas… a Celinha… Enfim, eram jovens que estavam saindo do curso de Serviço Social da PUC e  
que tinham vínculos com, por exemplo, a Convergência Socialista, com grupos clandestinos e que, no Serviço  
Social, viam como instrumento reativar a Associação. E eu estava junto com eles na APASSP” (Sousa, 2002, p.  
17).  
18 “E aí nós nos rebelamos – nós da APASSP – contra esse decreto e dissemos que não íamos cumpri-lo. Isso em  
plena ditadura...Aí, chamamos a população favelada para dizer: olha, esse decreto é para tirar vocês das áreas em  
que vocês estão, além de impedir que ocupem outras. Portanto nós estamos sendo ameaçados de demissão, de  
enquadramento na Lei de Segurança Nacional etc. Então vamos juntos tentar resistir a essa ordem, a esse decreto”.  
Sousa (2002, p.18). Um debate sobre essa questão foi promovido pela APASSP com moradores de favelas,  
representantes de movimentos sociais e de outras categoriais profissionais, dando “início ao processo de  
organização dos moradores das favelas...depois surgiam as Associações de Moradores de Favelas, que passaram a  
dirigir o movimento de forma autônoma ...” (Sousa, 1991, p. 77-78).  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
Eles não entendiam, depois de um certo tempo que a gente os convencia a se formarem  
com suas comunidades para resistir, a luta, eles não entendiam que nós não tivéssemos também  
a nossa organização. Isso nos formava também, nos levava também, nós, também, tínhamos  
questões profissionais nossas que requeriam uma ação política em defesa de nós, porque somos  
trabalhadores. Nunca a profissão se colocava para si mesmo a condição de trabalhador  
assalariado, os profissionais se achavam profissionais liberais. Coisa nenhuma, eram  
assalariados, explorados tanto quanto e que precisavam se organizarem, conscientizarem da sua  
posição de opressão, de injustiça, de desigualdade.  
Também isso contribuiu para que os profissionais começassem a se interessar pela  
militância sindical através da Associação Profissional… Então a profissão começou a se  
politizar, a profissão era tida mesmo como profissão a pretexto de ser técnica, científica, não  
pode ter opção ideológica, falar em política19... então a gente rompeu com tudo isso… e essa  
ruptura se deu definitivamente no Congresso (de 1979).  
Entrevistadoras: Neste contexto mesmo como é que era esse trabalho (na SEBES)  
junto com a docência?  
Luiza Erundina: Eu continuei lecionando nas escolas no horário que não era o do  
trabalho na prefeitura20.  
Entrevistadoras: Luiza, duas perguntas ligadas. Você era Assistente Social, docente e  
militante sindical. Como é que esse conteúdo, essa prática, essa relação com os movimentos  
sociais vieram para os conteúdos (se veio, como veio), para o ensino nos espaços em que você  
estava? E, situe para nós, elementos da pressão interna que esse movimento da categoria  
produziu no âmbito da Secretaria de Bem-Estar Social. Teve o Congresso que é emblemático,  
mas também tem muito mais coisa aí.  
996  
19  
Segundo Erundina, “a diretoria da APASSP estava decidida a contribuir no processo de mobilização e  
organização da categoria” por meio de realização de atividades e lutas que envolveram profissionais do estado de  
São Paulo e de todo o país. Lembra que um “número significativo de profissionais e estudantes de Serviço Social  
compareceu ao painel intitulado “O papel do assistente social frente à realidade brasileira” em 1978, em  
comemoração ao dia da profissão no teatro TUCA da PUC-SP. Sousa (1991, p. 76). Explicita: “Reativamos a  
APASSP, e fiquei três anos como presidente (1978-1981), participando de todas as lutas de resistência”. Na greve  
geral dos servidores públicos do estado e do município, em abril de 1979, Erundina era do comando de greve como  
Assistente Social da prefeitura e como presidenta da APASSP, e em alguns momentos, assumiu a liderança da  
greve, que durou mais de um mês. AAPASSP, também, esteve presente na Comissão Permanente de Mobilização  
no apoio aos trabalhadores metalúrgicos em greve no ABCD (em 1979), no Comitê de Solidariedade aos  
Metalúrgicos em greve no ABC e, desde 1978, compôs a coordenação geral do Comitê Brasileiro de Anistia.  
20  
Nesse tempo, Erundina lecionava nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), uma instituição privada:  
“Lembro-me que, a cada ano, os estudantes me convidavam para ser paraninfa, e meus discursos eram gravados.  
Em seguida, eu era chamada na diretoria para explicar meus discursos. E os estudantes… faziam um abaixo  
assinado exigindo a minha volta no ano seguinte, porque eles sabiam que se eles não fizessem isso, se não me  
sustentassem, eles me demitiriam” (Sousa, 2002, p. 23).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Luiza Erundina: Antes de trabalhar nas favelas, eles me puseram para coordenar o  
MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que era de responsabilidade da  
prefeitura... e tinha uma equipe muito boa... gente tocada pela luta também… Eu coordenando  
a equipe… algumas delas politizadas…  
Quando estudava, a gente adotava o método Paulo Freire no campo, alfabetizando  
trabalhadores… esses profissionais conheciam e trabalhavam com o método Paulo Freire. Aí  
veio a obrigatoriedade do livro do MOBRAL, que era o livro da Abril21, com método de  
alfabetização de adultos mais antigo do mundo e generalizado para todo o país… Dissemos:  
vamos elaborar apostilas com o método Paulo Freire, nós não vamos usar os textos da Abril,  
mas isso tínhamos que fazer clandestinamente porque se a gente fosse pego era grave. Nós  
passamos a alfabetizar com o método Paulo Freire através de apostilas elaboradas pela equipe.  
Portanto, a gente ia fazendo subversão na medida que desse aqui e acolá no interior da  
instituição. Aí veio forte foi esse trabalho nas favelas que era um fenômeno que explodia... e  
isso tinha um fator de subversão forte. Por isso, eles escolhiam a nós, Assistentes Sociais, para  
convencer os que estavam ocupando a terra para voltar para seu lugar de origem…  
Entrevistadoras: O que vocês faziam quando foi colocada essa demanda, esse decreto?  
Luiza Erundina: Ao mesmo tempo que levava os serviços, a assistência social... cesta  
de alimentos, ajuda para aluguel, etc. nós levávamos, juntas, a preocupação em conversar com  
as pessoas que a gente levava esses serviços, a razão do porque eles estavam precisando desses  
benefícios. Não é porque você está desempregado que você está recebendo esses benefícios,  
você é desempregado porque tem uma situação maior que te coloca nessa situação. Não é culpa  
sua, nem é favor nenhum do governo...Você tem direito a muito mais, você tem direito ao  
trabalho, a emprego, a salário, a morar. Então você levava junto a conscientização, a força da  
conscientização, mas tudo isso sob um risco muito grande, porque havia pessoas encomendadas  
para ver o que a gente estava fazendo… Éramos profissionais… que conseguiam permanecer  
junto ao povo e, se realmente estava tocado pelo processo de emancipação do pobre e de  
oposição ao regime, esse contato com o povo era fundamental. Com todos os riscos que isso  
implicava. Se não você ia reproduzindo a situação gerada pela própria política do governo…  
Não dá para levar os benefícios só sem levar junto a consciência ao beneficiário do  
porque ele tá recebendo isso, porque isso significa pra ele não achar que tá recebendo um favor.  
Não é favor. Então era um processo de conscientização na linha freiriana mesmo.  
997  
21  
O MOBRAL foi um programa criado no período da ditadura (1967-1985), que impôs a utilização do material  
didático produzido pela editora Abril no processo de alfabetização funcional de jovens e adultos. O material  
promovia um ensino homogeneizador em profunda sintonia com a ideologia do regime.  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
A gente lia os livros de Paulo Freire que a gente importava clandestinamente22. Alguém  
que viajava para o exterior e não tinha vínculo com a política, era lançado um livro do Paulo  
Freire em algum país, a gente sabia. Então falávamos: quando você vier compre o livro tal e  
esconde na sua mala, chegando aqui eu pago. A gente importava dessa forma, clandestinamente,  
os livros e, nos finais de semana, a gente se escondia em algum buraco...e estudava, lia os livros,  
era assim. Era resistência mesmo. Acho que isso nos formou muito. Não foi fácil. Era aquilo  
que a gente fazia no nordeste…  
Então o serviço público dava essa margem de possibilidade se você tivesse uma  
consciência, se tivesse um projeto, se tivesse decidida a correr o risco… Ou você corria o risco  
ou você ficava aguardando o dia em que acontecesse alguma coisa, mas alguma coisa estava  
acontecendo… Foi uma luta muito dura, mas que nos formou…  
Entrevistadoras: Você avalia o fato dessas assistentes sociais... já terem resistido  
como estudantes, já terem resistido no campo, isso auxiliou a própria formação de consciência  
delas? Eram profissionais que vinham com um grau de consciência muito grande.  
Luiza Erundina: É o meu caso. Havia antes o envolvimento dos profissionais na  
política, até que assumissem uma luta política no plano institucional23.  
Neste momento da entrevista, Maria Beatriz C. Abramides e Luiza Erundina  
evidenciam, juntas, o fato de os movimentos sociais reconhecerem a importância da APASSP  
para suas organizações e suas lutas. Também afirmam a importância da APASSP se constituir  
como um espaço da luta sindical e de articulação política das profissionais que estavam atuando  
nas várias políticas sociais públicas setoriais. E, nelas, ajudando os movimentos a organizarem-  
se na defesa dos seus direitos (como as lutas pela tarifa social de água e luz, pelas creches  
998  
22 Importante lembrar que Luiza Erundina, quando cursava a graduação em Serviço Social já fazia um trabalho de  
alfabetização de adultos no ciclo de cultura do Paulo Freire. Com a instauração da ditadura, lembra que “...nossos  
livros tiveram que ser escondidos, os retroprojetores que usávamos nas aulas de alfabetização de adultos tiveram  
que ser enterrados…” (Sousa, 2002, p. 7).  
23  
Em outra entrevista, Erundina é indagada sobre qual a relevância que teve a militância de alguns Assistentes  
Sociais vinculados a organizações de esquerda - para além dos espaços da categoria profissional- naquele momento  
histórico. Ela evidencia: “Antes de tudo, contribuiu para criar uma outra imagem do profissional de Serviço Social  
junto aos trabalhadores e a sociedade em geral. A militância política desses assistentes sociais e seu engajamento  
concreto nas lutas reivindicativas dos trabalhadores e dos segmentos excluídos da sociedade, contribuiu para  
afirmar a dimensão político-ideológica da profissão. Também ajudou na articulação dos Assistentes Sociais com  
profissionais de outras áreas (pedagogos, sociólogos, economistas, advogados), ampliando e fortalecendo, assim,  
sua própria atuação e a daqueles com os quais militavam e participavam das mesmas lutas. Ajudou no processo de  
politização dos assistentes sociais menos politizados e contribuiu na organização política da categoria, participando  
da criação de associações profissionais e sindicatos como instrumentos de luta por direitos e de conquista de espaço  
de ação política na sociedade. Em síntese, a militância dos Assistentes Sociais vinculados a organizações de  
esquerda, nas décadas de 1960 e 1970, foi muito importante como presença da categoria nas lutas que marcaram  
aquele momento histórico da vida do país e que criaram as condições para as mudanças e avanços, cujos efeitos  
até hoje se fazem sentir” (Sousa, 2009, n.p.).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
diretas, contra as mães crecheiras, entre outras). Eram profissionais que estavam enraizadas na  
discussão dessas lutas.24  
Entrevistadoras: Como que isso pressiona a instituição para mudanças internas? E  
também dos movimentos que resultam das ações que pressionam essas mudanças?  
Luiza Erundina: Você percebe que o movimento é uma luta mais de prestação de  
serviços e aproveitar essa relação de prestação de serviço para dar um componente  
conscientizador e politizador. Isso vai crescendo ao ponto de que uma comunidade que lutava  
para a canalização de um córrego... ou uma creche… ou um posto de saúde, essa luta ela ia se  
qualificando, ia se coletivizando. Quanto maior era o número de pessoas que demandavam  
aquele serviço e que lutavam por eles juntos, mais rapidamente esse coletivo se transformava  
numa força política. Aí, junto com profissionais que tinham uma opção política que trabalhava  
junto com eles, tinha uma mão dupla de politização e de força política que se criava a partir  
deles e a partir de nós. Nós nos formamos politicamente, nós nos organizamos politicamente,  
ao mesmo tempo que ajudávamos a população a se conscientizar da sua força, dos seus  
direitos…  
Depois de um certo tempo que eu vivia isso, eu também quero dizer que quando é que  
eu e outras decidimos pela militância política partidária, porque exatamente o sindicato, a  
associação profissional, a CUT (Central Única dos Trabalhadores)... nós estávamos  
acompanhando a evolução do movimento sindical, nós apoiávamos a greve dos metalúrgicos...  
a gente ia para os eventos.  
999  
Eu me lembro de uma companheira nossa que se chamava Maria Odete... era só  
profissional, não tinha apelo político, mas ela descobriu a política na profissão naquele  
momento. Ela fazia lenços para usarmos nos atos contra o gás lacrimogêneo da polícia… Foi  
um processo muito rico, muito bonito e que fica…  
Aí veio a nossa opção partidária e a ideia do mandato de vereadora, a própria profissão  
e os movimentos entendiam que era importante ter um mandato de vereadora. Então veio não  
por eu querer ser não, veio como consequência desse processo. Então, eu fui a vereadora  
levando os movimentos para dentro da Câmara… Essa mesma dinâmica que a gente imprimia  
à profissão junto aos movimentos, a gente passou a adotar essa dinâmica no espaço institucional  
no exercício de um mandato de um partido que nascia com uma vocação socialista, o Partido  
dos Trabalhadores. Que nascia na porta das fábricas, na porta dos sindicatos, na luta do campo,  
na luta das periferias, na luta pela reforma agrária. Portanto, um partido genuinamente do povo,  
24 Para uma explicitação da relação da APASSP com as lutas sociais aqui referidas, conferir Abramides, Duriguetto  
e Batistoni (2025).  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
nasceu do povo e o povo se formando com ele. Os petistas de origem se formaram na construção  
do partido, eles não acharam o partido pronto, eles acharam primeiro a luta e como membro da  
luta, viam a necessidade de ter uma ferramenta mais forte… não era suficiente o sindicato, a  
CUT, são necessários, mas não suficientes.  
O suficiente era você disputar o poder político, porque é o poder político que muda as  
estruturas junto com o poder popular. Mas só que, com o tempo, esses partidos que nasceram  
com a vocação de ser poder popular - nascer com o poder popular e exercitar-se como poder  
popular - se perdeu e passou a se encastelar nos espaços institucionais de poder e se afastou do  
povo...Muita gente que veio do movimento se pendurou em mandatos, tirou lideranças dos  
movimentos, isso ao longo do tempo… Mas o processo anterior nos formava a gente de tal  
forma que a gente não conseguia fazer diferente.  
Entrevistadoras: Este movimento na profissão também estava acontecendo na  
América Latina.  
Luiza Erundina: O processo de formação política que teve no Brasil aquela  
expressão que culminou com o Congresso de 1979 também se dava um movimento na  
América Latina… a partir da resistência do povo às ditaduras… A categoria de Assistentes  
Sociais também participou desse movimento no Movimento de Reconceituação,  
reconceituando as bases teóricas que davam sustentação ao trabalho da profissão… E teve a  
integração da resistência dos profissionais na América Latina e do Brasil e a construção do novo  
no Serviço Social que era o processo de reconceituação.  
1000  
Entrevistadoras: E fizemos aqueles encontros na época com o apoio do CELATS  
(Centro Latino-Americano de Trabalho Social) que era a unificação desses assistentes sociais  
com os movimentos sociais na América Latina e no Brasil em que já discutíamos isso, nós  
fizemos o encontro em Itapecerica, antes do Congresso de 79. Antes deste Congresso, com esta  
relação direta que a Luiza está trazendo, em que a gente começa a se organizar estando coladas  
nas lutas sociais, junto com os movimentos sociais como assistentes sociais, nós vamos  
caminhando para essa direção antes, e com esses apoios como o do CELATS que vai apoiar a  
experiência do INOCCOP, a CENEAS, e que nos possibilitou organizar antes para o Congresso  
da Virada.  
Luiza Erundina: As oposições sindicais do Serviço Social fazendo oposição aos  
sindicatos antigos. Uma inserção real nos fatos, nas conjunturas e influenciando as  
conjunturas… Por conta desse movimento na categoria e relacionado a outras categoriais que  
teve impacto na formação profissional. Éramos nós que estávamos na formação profissional,  
mas, já na condição de ter engajamento político…  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Entrevistadoras: E era via associações que as Universidades vinham. Nós puxávamos  
as universidades, lembra quando a gente fez aquele ato pelas creches diretas na PUC, depois a  
defesa da moradia... Era nossa relação direta com a luta social como assistentes sociais e  
influenciando as universidades.  
Luiza Erundina: Uma questão importante foi a relação da profissão com os  
trabalhadores assalariados e a relação dos trabalhadores assalariados com a profissão. Quando  
da greve dos metalúrgicos de 1978, quando Lula fez aquela denúncia no estádio da Vila  
Euclides25 que a Volkswagen estava contratando Assistentes Sociais para aliciar os  
trabalhadores a saírem da greve... Quando no encerramento do Congresso (de 1979), o Lula foi  
convidado… para compor a mesa de comissão de honra do Congresso, porque nós destituímos  
a comissão de honra fruto da preparação nossa três dias antes do Congresso, que a gente não  
concordava com o Congresso, com como ele foi construído, com a programação, os custos, a  
exclusão dos estudantes... Nós fizemos uma denúncia a tudo isso... (Erundina rememora aqui  
a dinâmica de denúncias e mudanças produzidas no Congresso de 79 pelas associações  
profissionais)26.  
25  
Em abril e maio de 1979, Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de líder sindical, realizou discursos e  
assembleias históricas no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, como parte da greve geral dos  
metalúrgicos do ABC. No discurso que Erundina faz como paraninfa da turma de Serviço Social da Faculdade de  
Serviço Social de São Paulo, em março de 1979, ela explicita: “... injusta e arbitrária intervenção do Governo nos  
Sindicatos dos Metalúrgicos do ABCD e à odiosa repressão policial de que estão sendo vítimas os trabalhadores  
daquela região. Estão sendo punidos por reivindicarem um direito. Seu ´crimeconsiste em exigirem um tratamento  
mais justo nas injustas relações de trabalho, usando, para isto, do legítimo recurso de greve... Não podemos deixar  
de repudiar, nesta oportunidade, tais arbitrariedades, em incorrer em grave omissão e sem trair nosso compromisso  
profissional. Não é suficiente, porém, denunciar e repudiar. Temos que assumir, enquanto categoria profissional,  
posição ativa de apoio ao movimento dos trabalhadores” (Sousa, 1991, p. 45-46). Nos discursos para a turma da  
Faculdade de Serviço Social das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e da PUC de Campinas,  
respectivamente em 1979 e 1980, também repudia as demissões de profissionais que estavam ocorrendo em órgãos  
públicos e empresas privadas por suas posições críticas à ditadura: 24 Assistentes Sociais e outros profissionais do  
Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo (Inocoop); 05 Assistentes Sociais da Fundação  
de Promoção Social da Prefeitura de Santo André ; Assistentes Sociais do Hospital dos Servidores Públicos do  
Estado e 06 professores da Faculdade Paulista de Serviço Social (Sousa, 1991, p. 47-48; 118-119).  
1001  
26 Nos dias 21 a 23 de setembro de 1979 realizou-se na cidade de São Paulo o III Encontro Nacional de Entidades  
Sindicais de Assistentes Sociais, do qual participaram 21 entidades e criaram a Comissão Executiva Nacional de  
Entidades Sindicais de Assistentes Sociais (CENEAS), que teve a APASSP na coordenação. Um dos temas deste  
Encontro foi a avaliação da organização do Congresso, em que destacaram o caráter acrítico dos temas que seriam  
debatidos, como o das políticas sociais, representantes governistas na composição das mesas, descompromisso  
com as lutas de resistência à ditadura, entre outras questões. O III CBAS foi realizado de 23 a 28 de setembro,  
com cerca de 2500 profissionais. No segundo dia do Congresso, foi chamada uma assembleia (dentro do  
Congresso), na hora do almoço, quando estava programada uma visita às entidades sociais. “No refeitório, com  
600 congressistas, viramos o jogo do Congresso. Dissemos: Vamos tomar a direção do Congresso. Propusemos,  
e foi aprovado, que aquela Comissão de Honra composta à revelia da categoria, pelo então Presidente da  
República, General João Batista Figueiredo; o Ministro do Trabalho, Murilo Macedo, (que havia cassado a  
diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cujo presidente era Luiz Inácio Lula da Silva); o Ministro da  
Previdência, Jair Soares; o Governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf, o Prefeito de São Paulo, Reynaldo de  
Barros e o secretário da Promoção social do Estado de São Paulo, Antônio Salim Curiati, seria substituída por  
representantes dos dirigentes sindicais cassados; do Comitê Brasileiro pela Anistia; do Movimento Contra a  
Carestia; da Associação Popular de Saúde; da Frente Nacional do Trabalho, em homenagem aos trabalhadores  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
Eu queria chegar no momento do discurso do Lula (no Congresso) que começa dizendo  
assim: agora eu descobri que tem Assistente Social e tem Assistente Social, tem Assistente  
Social que está do lado do trabalhador e tem Assistente Social que está do lado do patrão. Isso  
eu aprendi nesse Congresso…  
Foi um momento importante politicamente dessa descoberta, porque para nós que  
estávamos ligadas na resistência à ditadura e construindo uma nova profissão… de ser  
denunciado para milhares de trabalhadores que estavam na Vila Euclides...que Assistentes  
Sociais estavam sendo contratados para tirar os trabalhadores da greve, foi uma denúncia que  
pegou pesado na gente, nós que estávamos lá… Aí ele lembrou desse fato, aliás foi uma  
assistente social que levou o convite para ele fazer o encerramento do Congresso… isso foi um  
momento importante, que foi o resgate dos Assistentes Sociais pelos trabalhadores27.  
Entrevistadoras: Uma questão agora é em relação à ocupação da Gleba do Pêssego.  
Luiza Erundina: A população queria cobrar do governo algumas providências… aí nós  
trouxemos um grupo bastante grande… para ser recebido pelo Coronel Ávila e ele não recebeu.  
Então nós entramos na marra...ele chamou polícia para cercar o prédio e queria que a população  
saísse e que ficássemos só nós, Assistentes Sociais. Aí a população disse não, nós não vamos  
sair… e saímos juntos só de madrugada...28  
Entrevistadoras: Luiza, nas suas entrevistas, no seu livro29, você fala que carregou na  
sua trajetória política até os dias atuais muito do seu compromisso, da sua concepção e visão  
profissional. Queríamos que você falasse disso.  
1002  
Luiza Erundina: Eu tenho consciência de que toda essa trajetória, essa busca, esses  
avanços, também recuos, também tem perdas... vinha a minha formação profissional. A minha  
opção profissional marca cada momento dessa trajetória minha. Eu fui a Assistente Social que  
fui pela minha formação profissional de compromisso com o povo e de acreditar no povo. Que  
o povo é a origem do poder, portanto, estar com o povo, é estar com o poder e colocar esse  
poder a serviço do povo.  
brasileiros e todos os que morreram na luta em defesa da democracia. A assembleia de encerramento contou com  
a presença da Comissão de Honra, eleita democraticamente pelos congressistas, ocasião em que várias Moções  
importantes foram aprovadas destacando-se, entre outras, a de repúdio à intervenção nos sindicatos e prisão de  
líderes sindicais; contra o projeto de Anistia restritiva e contra a devastação e ocupação da Amazônia” (Sousa,  
2009, n.p.).  
27  
As demais propostas aprovadas e os discursos proferidos por Erundina e por Lula no Congresso estão  
reproduzidos em Sousa (1991, p. 91-112).  
28 Apergunta refere-se a um trabalho de assistentes sociais e demais profissionais da SEBES junto a um movimento  
de moradia no período de 1979 a 1982. Este trabalho e o processo de tensionamento, de repressão e de  
criminalização imposto pelo órgão institucional aos profissionais foram desenvolvidos em Abramides e Duriguetto  
(2024).  
29 Sousa (1991).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
Outro dia eu encontrei meu discurso de posse como vereadora... é incrível como esse eu  
já tinha o pensamento político na relação com a profissão… Eu me surpreendi como aquilo era  
a expressão daquilo que eu carregava comigo desde sempre. Quando eu cheguei como  
vereadora e de lá para cá eu fui a prefeita que fui, a deputada que fui e continuo sendo a  
deputada que fui tem a marca daquela luta e do meu compromisso profissional. É muito  
forte. Por isso eu digo se eu tivesse que escolher outra profissão outra vez eu escolheria o  
Serviço Social. Para mim, não tem uma formação tão determinante, na vida de uma pessoa,  
determinação na formação profissional de uma pessoa como foi para mim o Serviço Social. Eu  
não queria ser Assistente Social, queria ser médica… Me encontrei com o Serviço Social, já  
estava na luta pela reforma agrária. É muito forte o Serviço Social. É uma profissão realmente  
que muda a pessoa e promove mudanças. Se você realmente se organiza politicamente para  
isso. Realiza. E é uma profissão que não é prestigiada, que não tem bom salário… Mas é uma  
opção que se faz…  
Se não te passar essa visão da profissão, a formação profissional fica muito reduzida às  
técnicas… e deixa de ter a marca que teve em toda a América Latina e passou a ser respeitada  
pela sociedade.  
Entrevistadoras: Nossa pesquisa tem esse objetivo também de reafirmar esse tempo,  
essa posição, esse trabalho de relação político-ideológica com os movimentos sociais, em que  
segmentos profissionais articularam seu trabalho, nos espaços sócio-ocupacionais, com as  
mobilizações e as organizações populares que estavam acontecendo naquela época em São  
Paulo. Ao mesmo tempo em que tinha um trabalho profissional muito vinculado às demandas  
populares (tanto as organizadas quanto as não organizadas), também tinha uma dimensão da  
militância política seja no sindicato, seja no partido. E foi essa conjugação de uma ação  
profissional comprometida nas e com as lutas mais a militância política que formaram a época  
de vocês, dos Assistentes Sociais dessa época que fizeram tanta coisa maravilhosa. Que lição  
que isso fica?  
1003  
Luiza Erundina: Fica nas pesquisas que vocês estão fazendo, e essas pesquisas vão  
mexer com a cabeça das novas gerações. Não queremos transferir para elas essa nossa  
experiência que já não serve mais, é outra época, é outro momento. Não é que aquilo lá não  
serve mais, não serve mais para fazer face a essa conjuntura. Então capacitar as pessoas a avaliar  
o que é uma conjuntura, como ela se apresenta em um determinado momento e como isso é  
base da formação profissional… É o que se pretende com essa profissão naquele tempo que  
você está vivendo.  
Maria Lúcia Duriguetto; Maria Beatriz Costa Abramides; Maria Rosângela Batistoni  
O que marca a profissão nesse momento como resposta a realidade que está aí… tem  
que ter uma dimensão política que é a força da ação profissional, é a opção política do  
profissional. Eu não vejo um profissional que lida com o povo, que lida com as contradições da  
sociedade, que não tenha um posicionamento político a respeito daquele momento, da  
sociedade, do país. É isso que nos dá elã, expectativa de futuro. Não fica preso ao cotidiano, a  
rotina profissional que mata qualquer ânimo, qualquer alento, qualquer sonho. Tem que sonhar.  
É o tipo de profissão que se não sonhar, se não se apaixonar, não muda muita coisa, e não dá  
alegria.  
Estamos aqui vibrando com o que vivemos a quarenta, cinquenta anos atrás. É muito  
legal chegar ao momento que a gente está e olhar que a gente viveu isso, isso foi bom para nós  
e para os que viveram naquele tempo. O país tem jeito. É possível fazer diferente, e a história  
vai acontecendo... Eu sou muito feliz por ter feito essa opção profissional. Te juro. Eu faria  
outra vez essa opção, o Serviço Social.  
Referências bibliográficas  
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ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa; DURIGUETTO, Maria Lúcia; BATISTONI, Maria  
Rosângela “Lutas da classe trabalhadora e sua relação com a organização sindical do Serviço  
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1004  
CABRA MARCADO PARA MORRER. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Mapa Filmes  
/ C.P.C. Centro Popular de Cultura da UNE / MPC Movimento de Cultura Popular de  
Pernambuco,  
1984.  
Documentário,  
119  
min.  
Disponível  
em:  
FREIRE. Paulo. Prefácio. In: SOUSA, Erundina Luiza de. Exercício da paixão política. São  
Paulo: Cortez, 1991.  
SOUSA, Erundina Luiza de. Exercício da paixão política. São Paulo: Cortez, 1991.  
JULIÃO, Francisco. Que são as Ligas Camponesas? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,  
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MEMORIAL  
DAS  
LIGAS  
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©
2025.  
Disponível  
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www.ligascamponesas.org.br. Acesso em: 7 nov. 2025.  
Entrevistas concedidas por Luiza Erundina de Sousa  
SOUSA, Luiza Erundina de. Luiza Erundina (depoimento, 2001). Rio de Janeiro,  
CPDOC/Ministério da Previdência e Assistência Social - Secretaria de Estado de Assistência  
Social, 2002.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 987-1005, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”:  
entrevista com a Assistente Social Luiza Erundina de Sousa  
ERUNDINA, Luiza. Memória da Associação Profissional dos Assistentes Sociais (APASSP).  
associacao-profissional-dos.html. Acesso em: 14 nov. 2025.  
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