Diferentes abordagens sobre fundamentos do  
Serviço Social e a necessidade deste debate  
Different approaches to the foundations of Social Work  
and the need for this debate  
Ana Clara Serpa Cardoso*  
Érica Aparecida dos Santos Francisco**  
Luciana Gonçalves Pereira de Paula***  
Resumo: O presente artigo tem por objetivo  
apresentar diferentes abordagens que se fazem  
presentes no debate dos fundamentos do  
Serviço Social. Estes estudos vêm sendo  
acumulados ao longo de oito anos, mas o recorte  
aqui tratado é fruto direto de dois projetos de  
pesquisa: “Mapeamento sobre o debate dos  
fundamentos, formação e trabalho profissional  
no Serviço Social”; “Serviço Social e seus  
fundamentos: tendências e concepções”. O  
artigo traz, ainda, reflexões sobre a necessidade  
da aproximação e/ou retorno ao debate dos  
fundamentos da profissão, procurando  
demonstrar como eles se fazem imprescindíveis  
para a compreensão do significado social da  
mesma. Por fim, tece algumas considerações  
que apresentam a importância do avanço em  
estudos, pesquisas e produções sobre os  
fundamentos do Serviço Social.  
Abstract: This article aims to present different  
approaches present in the debate on the  
foundations of Social Work. These studies have  
been accumulated over eight years, but the  
section discussed here is the direct result of two  
research projects: "Mapping the Debate on the  
Foundations, Training, and Professional Work  
in Social Work"; and "Social Work and Its  
Foundations: Trends and Conceptions." The  
article also reflects on the need to re-engage  
with and/or revisit the debate on the profession's  
foundations, seeking to demonstrate how they  
are essential to understanding its social  
significance. Finally, it offers some  
considerations that highlight the importance of  
advancing studies, research, and production on  
the foundations of Social Work.  
Palavras-chaves:  
Serviço  
Social;  
Keywords: Social Work; Fundamentals; Social  
Fundamentos; Questão social.  
issues.  
* Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: anaclaracardoso.ufjf@gmail.com  
** Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: erica_dos_santos_jf@hotmail.com  
*** Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: lugppaula@ufjf.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.50727  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 03/11/2025  
Aprovado em: 12/11/2025  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
Introdução  
Este artigo expressa o acúmulo de, aproximadamente, oito anos de estudos sobre o  
tema dos fundamentos do Serviço Social, por parte de uma das autoras1, e a construção de  
diálogos e parcerias, dentro desta temática, com as demais companheiras que contribuíram  
para a construção das reflexões que serão aqui compartilhadas2. Mas, o recorte temático que  
será apresentado decorre, especialmente, dos estudos realizados no decorrer do  
desenvolvimento de dois projetos de pesquisa: “Mapeamento sobre o debate dos fundamentos,  
formação e trabalho profissional no Serviço Social”3, entre os anos de 2023 e 2024; “Serviço  
Social e seus fundamentos: tendências e concepções”4, iniciada em 2025.  
Em se tratando dos fundamentos do Serviço Social, na primeira pesquisa, uma hipótese  
nos orientou: a de que uma aproximação rasa e superficial com a temática imprime a falsa  
sensação de que tudo o que já foi produzido apresenta consenso; como se todos os autores  
apresentassem uma mesma compreensão sobre o tema; como se tudo já estivesse muito bem  
explicado e, portanto, muito bem compreendido e, por isso, não fossem mais necessários  
estudos ou aprofundamentos sobre a questão. O que em nosso entendimento não seria  
verdadeiro e, portanto, deveria ser refutado com a comprovação de que ainda são necessários  
os estudos e as pesquisas sobre os fundamentos do Serviço Social.  
718  
1
Luciana Gonçalves Pereira de Paula, embora sempre tenha dialogado com o tema do Serviço Social desde sua  
monografia de graduação, passando por dissertação de mestrado e tese de doutorado, iniciou seus estudos sobre  
os Fundamentos do Serviço Social, mais especificamente, no processo de pós-doutorado iniciado em 2017, sob  
supervisão de Yolanda Guerra, no PPGSS/UFRJ. Contribuíram para o amadurecimento de seus estudos nesta área  
as experiências docentes com a disciplina “Fundamentos históricos, teórico-metodológicos e ético-políticos do  
Serviço Social”, ministrada no Doutorado em Serviço Social da UFJF, desde o ano de 2023; e a participação na  
coordenação nacional do GTP “Serviço Social: fundamentos, formação e trabalho profissional” da ABEPSS, nas  
gestões 2023/2024 e 2025/2026.  
2 As interlocuções com Ana Clara Serpa Cardoso e Érica Aparecida dos Santos Francisco se deram, inicialmente,  
por causa da disciplina “Fundamentos históricos, teórico-metodológicos e ético-políticos do Serviço Social”  
(ministrada por Luciana) e se estenderam pelo fato de serem ambas orientandas da mesma docente em seus  
processos de doutoramento. E pela inserção de uma delas no GEPEFSS. Esta parceria já possui alguns frutos,  
como artigos apresentados em eventos da categoria e publicados em periódicos da área.  
3
A pesquisa se propôs a identificar os debates construídos na área do Serviço Social sobre: Fundamentos,  
Formação e Trabalho Profissional. Ancorada no método materialista-histórico-dialético, de natureza quanti-quali,  
debruçou-se sobre os trabalhos publicados nos anais do XVII Encontro Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço  
Social (ENPESS), realizado em 2022, no Rio de Janeiro; e sobre as teses e as dissertações, publicadas no catálogo  
da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação (MEC),  
entre 2019 e 2022.  
4 A pesquisa tem como objetivo compreender as possíveis diferenças e/ou divergências conceituais presentes no  
debate dos Fundamentos do Serviço Social, no Brasil. Para isso, se propõe a localizar, por meio de pesquisa  
bibliográfica, as principais obras publicadas na área do Serviço Social que abordam o debate dos fundamentos da  
profissão; capturar nestas obras as principais tendências no que se refere ao debate dos Fundamentos do Serviço  
Social; identificar as principais tendências no debate dos Fundamentos do Serviço Social, presentes nos trabalhos  
apresentados, neste subeixo temático, no último Encontro Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço Social  
(ENPESS), realizado no ano de 2024, em Fortaleza/CE; detectar as perspectivas teórico-metodológicas, ético-  
políticas, bem como a concepção de Fundamentos nas produções da área, através da análise dos produtos dos  
Programas de Pós-graduação em Serviço Social publicadas no banco de teses e dissertações CAPES, no período  
de 2023 a 2024.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
A partir da pesquisa bibliográfica realizada, ainda durante a primeira pesquisa,  
identificamos que existem abordagens distintas sobre o tema dos fundamentos do Serviço  
Social nas produções da nossa área. Essas diferentes abordagens também se confirmaram com  
as análises realizadas nos trabalhos publicados nos anais do XVII ENPESS e nas teses e  
dissertações disponíveis e defendidas entre 2019 e 20225. Portanto, identificamos a existência  
de diferentes tratos sobre o tema dos fundamentos do Serviço Social, mas também percebemos  
especialmente nos trabalhos publicados no XVII ENPESS muita imprecisão na abordagem  
da temática. O que nos levou a concluir que o debate dos fundamentos do Serviço Social ainda  
não se encontra plenamente captado e compreendido por nossa categoria profissional.  
Esse foi um dos motivadores que nos levou ao desenvolvimento do segundo projeto de  
pesquisa, com enfoque nos fundamentos do Serviço Social. Nele renovamos a nossa hipótese  
anterior, mas avançamos com a seguinte indicação: embora pareça existir consenso, em meio  
a nossa categoria profissional, quando se trata dos fundamentos do Serviço Social, na realidade  
existem  
diferentes  
abordagens  
sobre  
esta  
temática  
que  
nos  
revelam  
construções/compreensões/concepções distintas sobre o tema6. E, para a comprovação de  
nossa hipótese, nos propusemos ao aprofundamento teórico, realizando estudos sistemáticos  
sobre a bibliografia previamente levantada7.  
Deste modo, o artigo que ora se apresenta tem o objetivo de apontar resultados parciais  
de nossa segunda pesquisa, especialmente no que se refere aos estudos bibliográficos que  
foram realizados sobre os fundamentos do Serviço Social. Nosso intuito é dividir com nosso  
leitor algumas de nossas reflexões, mas essencialmente, a forma como estamos  
organizando/sistematizando nossa compreensão em torno destas como estamos chamando –  
diferentes abordagens sobre os fundamentos do Serviço Social. Este será o objetivo do item  
subsequente a esta introdução.  
719  
Mas porque estudar fundamentos do Serviço Social? Esta é uma pergunta que ronda o  
universo acadêmico e profissional de discentes e assistentes sociais. Não são raras as vezes em  
que ouvimos, em sala de aula, questionamentos sobre a necessidade de tantas disciplinas de  
Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social em nossa proposta  
curricular. Também já escutamos de assistentes sociais e docentes, algumas vezes, que o  
5 Esses resultados podem ser encontrados em Lima et al. (2024).  
6
Compreensão reforçada por Silva, Nóbrega e Serpa (2021, p. 57): “É importante destacar que o debate dos  
fundamentos do Serviço Social não goza de consenso entre os diversos/as autores/as que tratam o tema. O que se  
explicita é um debate acerca da compreensão do seu significado”.  
7
Com as principais produções sobre Fundamentos do Serviço Social identificadas na pesquisa bibliográficas,  
organizamos um grupo de estudos semanal no GEPEFSS com o objetivo de aprofundamento, debate e reflexão  
sobre a temática.  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
debate dos fundamentos do Serviço Social é algo muito endógeno e que precisamos avançar  
para outras discussões maiores e mais amplas como se este campo fosse menos importante  
que outros.  
Em nossa perspectiva estas percepções encontram-se cravejadas de compreensões  
equivocadas ou de não compreensões acerca dos fundamentos da profissão e da  
importância deste debate. Desse modo, este artigo trará, um segundo tópico cuja proposta será  
demonstrar, mesmo que de forma breve, a necessidade da aproximação ou do retorno aos  
estudos dos fundamentos do Serviço Social.  
Por fim, sinalizamos algumas considerações finais que demonstram o quanto ainda  
precisamos avançar nas reflexões, nas pesquisas e nas produções sobre os fundamentos do  
Serviço Social. Estamos certas de que esta é a única chave que permite o entendimento pleno  
da nossa profissão. Afinal, se você não sabe de onde veio, ou quem é, como irá saber onde  
quer chegar?  
Diferentes abordagens sobre os fundamentos do Serviço Social  
Para melhor desenvolver as reflexões que serão apresentadas neste artigo, se fazem  
necessárias algumas considerações preliminares. Primeiramente, destacamos que as diferentes  
abordagens sobre os fundamentos, que vem sendo construídas por autores do Serviço Social,  
encontram-se todas em um mesmo campo do pensamento, o qual seja o campo marxista. São  
abordagens distintas e apresentam, em alguns momentos, compreensões e/ou concepções  
diferentes sobre os fundamentos do Serviço Social, mas estão todas ancoradas no campo do  
materialismo-histórico-dialético.  
720  
Outro ponto importante de destaque é a demarcação de quando surge este debate sobre  
os fundamentos do Serviço Social. E para esta demarcação encontramos indicações relevantes  
em Guerra (2018) e Teixeira (2019).  
De acordo com Guerra (2018), “o debate sobre os fundamentos no Serviço Social ganha  
centralidade no contexto da análise do currículo de 1982”. A autora nos explica que  
[...] o debate dos fundamentos encontra sua gênese na necessidade de superar  
a tricotomia história/teoria/método resultante da revisão do projeto de  
formação dos anos de 1980, que por sua vez logrou a superação da visão  
tradicional do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade e consagrou a  
nova direção social assumida pela categoria explicitada nas “Diretrizes  
Curriculares para o curso de Serviço Social”. É a busca em ultrapassar a  
fragmentação posta pela tricotomia mencionada anteriormente que inaugura o  
debate dos fundamentos históricos e teórico-metodológicos no Serviço Social  
(Guerra, 2018, p. 27).  
Em Teixeira (2019, p. 137) encontramos a seguinte argumentação:  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
Na busca pela trajetória histórica do debate dos fundamentos do Serviço  
Social, a passagem das disciplinas de Serviço Social de Caso, Grupo e  
Comunidade, para disciplinas mais abrangentes e globalizantes, como  
História, Teoria e Metodologia do Serviço Social, é um avanço. Mas foi  
principalmente na implantação e avaliação desse novo currículo e das  
demandas teórico-metodológicas daí decorrentes que podemos aproximarmo-  
nos da construção dos fundamentos do Serviço Social como unidade  
articulada dos Núcleos de Fundamentação das Diretrizes Curriculares da  
ABEPSS.  
Ambos os autores apontam que a efervescência do debate sobre os fundamentos do  
Serviço Social é impulsionada pelos processos de construção e revisão dos projetos de formação  
profissional nas décadas de 1980 e 1990. Corroboramos com os autores, pois compreendemos  
que mesmo que o termo “fundamentos” já fosse utilizado previamente em debates e produções  
da área do Serviço Social, ele não abarcava as reflexões e compreensões acumuladas nos  
processos desenvolvidos pela profissão nestas décadas. Principalmente, ele não se encontrava  
alicerçado no campo crítico do pensamento marxista, o único capaz de oferecer fundamentos  
ao debate dos fundamentos do Serviço Social, como defenderemos mais adiante. Portanto, sem  
dúvida, no marco histórico dos anos de 1980 e 1990, ele ganha novo peso e monta.  
Apresentadas estas considerações preliminares, traremos em seguida quatro diferentes  
abordagens sobre os fundamentos do Serviço Social. Faremos esta exposição tomando sempre  
um ou dois autores por referência, compreendendo que, em certa medida, há uma centralidade  
de tal abordagem em suas produções. Mas, também procuraremos sinalizar o diálogo destes  
com outros autores que apresentam em suas produções abordagens semelhantes, quando  
possível. Vamos então a elas.  
721  
1 - A abordagem dos fundamentos do Serviço Social em Teixeira (2019) – “Fundamentos  
do Serviço Social como unidade articulada dos Núcleos de Fundamentação das Diretrizes  
Curriculares da ABEPSS”.  
Rodrigo José Teixeira é um intelectual que tem se destacado entre autores de uma nova  
geração que tem tomado o Serviço Social como objeto de estudo e análise. Sua mais relevante  
contribuição para o debate dos fundamentos do Serviço Social, até o momento, é a tese de  
doutorado intitulada “Fundamentos do Serviço Social: uma análise a partir da unidade dos  
Núcleos de Fundamentação das Diretrizes Curriculares da ABEPSS”, do ano de 2019.  
O objetivo central da tese foi “[...] analisar os fundamentos do Serviço Social a partir  
da unidade dos núcleos de Fundamentação das Diretrizes Curriculares da ABEPSS” (Teixeira,  
2019, p. 33). E a tese defendida afirma “[...] que a unidade articulada dos núcleos de  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
fundamentação das Diretrizes expressa uma concepção acerca dos fundamentos do Serviço  
Social no trabalho e na formação profissional” (Teixeira, p. 40).  
Desse modo, de acordo com Teixeira (2019, p. 66), “a construção do documento das  
Diretrizes Curriculares é o esforço de explicar o significado social da profissão para formar  
assistentes sociais nesse significado”. E ainda sobre a lógica das Diretrizes Curriculares da  
ABEPSS, o autor afirma que  
O método, ao mesmo tempo, permite analisar as diretrizes curriculares em sua  
lógica, sua estrutura e sua dinâmica. Não significa que as disciplinas de  
História, Teoria e Metodologia do Serviço Social, que se configurou como o  
eixo do currículo de 1982, transformaram-se em uma matéria Fundamentos  
Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social. Mas que História,  
Teoria e Metodologia como unidade articulada expressa toda a lógica de  
construção das diretrizes curriculares da ABEPSS. Isso deve ser considerado  
na análise dos fundamentos (Teixeira, 2019, p. 85-86).  
Essa defesa se faz fundamental, pois no próprio autor encontramos o seguinte relato:  
Para as/os discentes, os fundamentos do Serviço Social diziam respeito à  
disciplina Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos (FHTM) do  
Serviço Social. Estes componentes, muitas vezes, são vistos como cronologia  
histórica no conjunto de 04 ou 05 semestres, distribuídos por períodos  
cronológicos e não pelas respostas profissionais diante das diferentes  
conjunturas nacionais e internacionais, demonstrando que estudavam muito  
mais a historiografia do Serviço Social do que o significado do Serviço Social  
na produção e reprodução das relações sociais no modo de produção  
capitalista (Teixeira, 2019, p. 27).  
722  
E, então, Teixeira (2019, p. 45) aponta: “os fundamentos do Serviço Social, apreendidos  
no projeto de formação, são fundamentos da profissão, uma vez que estão no projeto de  
formação, mas são fundamentos do trabalho de assistentes sociais e da formação profissional,  
em uma perspectiva de totalidade”.  
Nesse sentido, Goin (2019b, p. 03) é uma autora que dialoga com as reflexões de  
Teixeira (2019) quando afirma que “[...] o entendimento dos fundamentos do Serviço Social  
ultrapassa a noção formalista de matéria curricular os conhecidos Fundamentos Históricos e  
Teórico-Metodológicos do Serviço Social para situá-los na totalidade histórica [...]”.  
Na mesma direção, encontramos preocupações semelhantes em Guerra (2018), quando  
a autora defende que um projeto de formação consistente e coerente precisa ser orientado por  
um determinado projeto de profissão. E prossegue apontando que  
[...] é nessa perspectiva que se entende a necessidade de indicar que a ausência  
de ter o Serviço Social no centro e na articulação da formação profissional,  
como eixo estruturante do currículo e engrenagem que movimenta os  
conteúdos dos núcleos de fundamentação, pode levar à formação de  
profissionais com um claro e consistente perfil teórico-político, mas com  
pouca ou nenhuma condição de intervir criticamente na realidade institucional  
[...] (Guerra, 2018, p. 29).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
Por fim, o autor reforça suas defesas:  
O desvendar dos fundamentos como unidade articulada dos núcleos exige um  
caminho teórico-metodológico que tenha a totalidade e a mediação como  
condutos para que essa análise da vida social seja particularizada na sociedade  
brasileira e estes no trabalho profissional. Nesse sentido que reafirmamos as  
Diretrizes Curriculares da ABEPSS como um documento vivo, atual, o qual,  
quando considerado sob uma perspectiva crítico-dialética, é uma resistência  
frente aos desafios e contém os elementos que nos permitem construir  
respostas profissionais (Teixeira, 2019, p. 303).  
2 - A abordagem dos fundamentos do Serviço Social em Abreu e Cardoso – “A categoria  
da práxis como fundamento da prática profissional de assistentes sociais”  
Marina Maciel Abreu e Franci Gomes Cardoso são professoras, pesquisadoras e  
intelectuais militantes que se constituíram como referência do chamado “Grupo do Maranhão”  
(Tapiro; Paulo, 2024, p. 193).  
Na tentativa da captura e da compreensão da abordagem de fundamentos do Serviço  
Social nas produções destas autoras, foram analisadas três publicações: Cardoso (2007), Abreu  
e Cardoso (2014) e Abreu (2018)8.  
A análise do texto de Cardoso (2007), nos revela que a autora traz uma importante  
contribuição ao debate dos fundamentos do Serviço Social quando ressalta a necessidade de se  
pensar sobre a estrutura das disciplinas de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos  
do Serviço Social (FHTMSS) no processo de formação profissional. Nesta publicação, Cardoso  
(2007) se propõe a discutir o modo como as disciplinas de FHTMSS têm sido organizadas e  
oferecidas nas instituições de ensino, a partir dos núcleos de fundamentação presentes nas  
Diretrizes Curriculares da ABEPSS.  
723  
A autora destaca que, mesmo em instituições comprometidas com uma formação  
profissional crítica e qualificada, fortemente vinculadas à tradição marxista, o debate dos  
fundamentos do Serviço Social tem se mostrado, muitas vezes, impreciso ou incoerente. Nesse  
artigo de 2007, percebemos que as reflexões apresentadas pela autora dialogam muito com as  
preocupações de Teixeira (2019) apontadas acima. No entanto, destacamos Abreu em parceria  
com Cardoso, como autoras que tratam os fundamentos do Serviço Social em uma outra  
abordagem, devido ao texto escrito por ambas e publicado em 2014.  
Neste artigo, Abreu e Cardoso (2014) apresentam o Serviço Social como uma expressão  
da práxis e destacam:  
[...] a reflexão sobre a categoria da práxis ganha importância, a partir da  
referência marxiana e outras referências da tradição marxista com destaque  
8
Tais publicações foram selecionadas porque apresentam em seu título o descritor “fundamentos”; e tratam do  
Serviço Social brasileiro – esses foram os nossos critérios de inclusão/exclusão.  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
para Gramsci, como fundamento para pensar o Serviço Social como totalidade  
histórica, ou seja, o Serviço Social como profissão, apreendida a partir das  
mediações que determinam a sua institucionalização e a particularizam no  
movimento real totalizante da práxis, constituindo-se uma expressão desse  
movimento, enquanto uma totalidade em menor nível de complexidade  
(Abreu; Cardoso, 2014, p. 314).  
A análise das autoras parte da categoria da práxis, fundamentada na tradição marxista,  
como chave interpretativa para compreender os desafios históricos que atravessam tanto o  
desenvolvimento da sociabilidade capitalista, quanto o horizonte da emancipação humana. No  
entanto, reconhecem que, no cenário atual, as possibilidades emancipatórias têm sido marcadas  
por retrocessos, especialmente diante da intensificação das desigualdades, da precarização do  
trabalho e do retrocesso das políticas sociais (Abreu; Cardoso, 2014).  
Cardoso e Abreu (2014) destacam que vivemos em um contexto marcado por intensas  
disputas políticas e ideológicas, no qual, diferentemente de outros momentos históricos, não há  
uma efervescência dos movimentos sociais e sindicais. O que observamos é uma atuação  
fragmentada, pontual e esporádica desses sujeitos coletivos. Nesse cenário, as autoras defendem  
a superação de uma concepção instrumental e formal dos fundamentos do Serviço Social.  
Propõem, em seu lugar, uma abordagem crítica e articulada à totalidade da vida social, em que  
o próprio Serviço Social, enquanto prática profissional, seja compreendido como expressão da  
práxis.  
724  
Portanto, no que se refere, em particular, aos fundamentos do Serviço Social, a  
compreensão das autoras assenta-se na categoria da práxis como fundamento da prática  
profissional de assistentes sociais (Abreu; Cardoso, 2014). Nesta perspectiva os fundamentos  
do Serviço Social envolvem uma leitura crítica da realidade social, que reconhece as disputas  
políticas em curso e reafirma o compromisso ético-político da profissão com as lutas sociais.  
Assim, os fundamentos do Serviço Social são entendidos como elementos vivos e dinâmicos,  
que se constituem no interior das contradições sociais e exigem constante atualização teórica,  
crítica e compromisso com a transformação social.  
Para as autoras, os fundamentos do Serviço Social não podem ser entendidos como um  
conjunto estático de conteúdos, mas como expressões vivas de um processo social em constante  
transformação um reflexo da práxis e, portanto, da luta de classes e das contradições  
estruturais da sociedade capitalista (Abreu; Cardoso, 2014).  
O terceiro artigo, escrito somente por Abreu (2018) aponta a trajetória histórica e a  
função política do Grupo Temático de Pesquisa (GTP) “Serviço Social: fundamentos,  
formação e trabalho profissional” da ABEPSS. A autora nos apresenta algumas considerações  
sobre os fundamentos partindo da própria ementa do GTP, que os trata como: “Fundamentos  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
teóricos do Serviço Social: historicidade, configuração e paradigmas teóricos na realidade  
nacional e internacional nos âmbitos latino-americano e mundial”. Notamos, desse modo, que  
a própria ementa do GTP, destacada pela autora, apresenta uma concepção que entende os  
fundamentos do Serviço Social de maneira mais próxima à leitura desenvolvida com maior  
centralidade por Yazbek em suas produções esta será a próxima abordagem apresentada.  
A autora ainda sinaliza que nos eventos da categoria, em especial no Encontro Nacional  
de Pesquisadoras/es em Serviço Social (ENPESS), os artigos publicados na ênfase de  
fundamentos incorporam: “[...] os estudos do método e da produção do conhecimento, as  
vertentes teóricas e ideopolíticas presentes no debate da profissão e os estudos sobre a  
trajetória histórica da profissão, bem como o debate do projeto ético-político [...]” (Abreu,  
2018, p. 191).  
3 - A abordagem dos fundamentos do Serviço Social em Yazbek (2009, 2018, 2020, 2024)9  
– “Fundamentos do Serviço Social como matriz histórico-ontológica explicativa da  
realidade e da profissão”  
Maria Carmelita Yazbek é uma das principais referências para o debate dos  
fundamentos do Serviço Social (Lima et al., 2024). É uma das autoras mais lidas e utilizadas  
em produções que versam sobre os fundamentos da profissão.  
725  
No texto mais antigo, por nós analisado, a autora afirma que  
A análise dos principais fundamentos que configuram o processo através do  
qual a profissão busca explicar e intervir sobre a realidade, definindo sua  
direção social, constitui o principal objetivo deste texto. É necessário assinalar  
que essa análise das principais tendências históricas e teórico-metodológicas  
da profissão, sobretudo nas três últimas décadas não é tarefa fácil ou simples,  
pois exige o conhecimento do processo histórico de constituição das principais  
matrizes de conhecimento do social, do complexo movimento histórico da  
sociedade capitalista brasileira e do processo pelo qual o Serviço Social  
incorpora e elabora análises sobre a realidade em que se insere e explica sua  
própria intervenção (Yazbek, 2009, p. 01-02).  
Com as afirmações aqui apresentadas, a autora está abordando fundamentos do Serviço  
Social em duas perspectivas: uma histórica e outra teórico-metodológica. E, embora a autora  
demarque a importância da análise do processo histórico que incide diretamente no Serviço  
Social, sua abordagem irá privilegiar a análise das principais matrizes do pensamento que  
oferecem fundamentação ao exercício profissional de assistentes sociais (Yazbek, 2009).  
Esse é também o caminho construído por Yazbek (2018), quando discorre sobre: o  
pensamento doutrinário, o pensamento conservador, a matriz positivista, o pragmatismo, a  
9
Tais publicações foram selecionadas porque apresentam em seu título o descritor “fundamentos”; e tratam do  
Serviço Social brasileiro – esses foram os nossos critérios de inclusão/exclusão.  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
abordagem estruturalista, a matriz marxista, a perspectiva fenomenológica, o pensamento pós-  
moderno. No entanto, na produção de 2018 encontramos uma definição mais explicita acerca  
do que seriam os fundamentos do Serviço Social quando a autora afirma: “[...] entendemos que  
os fundamentos consistem na matriz explicativa da realidade e da profissão, permeando a  
interlocução entre o Serviço Social e a sociedade” (Yazbek, 2018, p. 47).  
E, acerca das perspectivas de análise anteriormente apontadas como histórica e  
teórico-metodológica, em 2009 , no artigo de 2018, encontramos:  
É no âmbito da análise acerca dos fundamentos que se observa a incorporação  
pela profissão de matrizes fundamentais de conhecimento do social na  
sociedade burguesa. Esses fundamentos são constituídos por múltiplas  
dimensões: históricas, teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-  
operativas. Na atualidade, eles se expressam na abordagem histórico-crítica  
fundada na teoria social marxiana (Yazbek, 2018, p. 47).  
Portanto, aqui os fundamentos já aparecem analisados em quatro perspectivas de análise  
tratadas pela autora como dimensões , sendo elas: histórica, teórico-metodológica, ético-  
política e técnico-operativa.  
Na citação destacada acima também surge um outro elemento, da argumentação da  
autora, que será mais bem desenvolvido nas duas últimas produções por nós analisadas: o de  
que esses fundamentos, na atualidade, se expressam por meio do campo marxista.  
No artigo de 2020 essa defesa aparece ainda mais consolidada como podemos verificar:  
726  
[...] em primeiro lugar reafirmo, a centralidade dos fundamentos em minha  
abordagem sobre a profissão, entendendo aqui por fundamentos a matriz  
histórico-ontológica, explicativa da realidade, e da profissão, sob múltiplos  
aspectos, e que permeia a interlocução entre o Serviço Social e realidade.  
Fundamentos que na atualidade se expressam na abordagem histórico-crítica,  
fundada na Teoria Social de Marx e na Tradição Marxista e que se colocam  
como base para o projeto profissional hegemônico, expressando uma direção  
social que se estrutura nas dimensões histórico-ontológicas, teórico-  
metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas (Yazbek, 2020, p. 294).  
De acordo com a autora a compreensão dos fundamentos do Serviço Social se faz  
necessária porque “[...] tivemos fortes marcas de fundamentos doutrinários, positivistas e  
sabemos também que o pensamento conservador nos persegue, nos engendra, de múltiplas  
formas” (Yazbek, 2020, p. 296). Essa passagem mais uma vez reforça a centralidade da  
abordagem dessa autora na compreensão dos fundamentos do Serviço Social enquanto matrizes  
do pensamento.  
No artigo de 2024, a autora apresenta uma compreensão de fundamentos definindo-os  
como: “[...] a matriz histórico-ontológica, explicativa da realidade e da profissão, sob múltiplos  
aspectos, e que permeia a interlocução entre o Serviço Social e a realidade” (Yazbek, 2024, p.  
152).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
Em outra passagem, ela volta afirmar a centralidade dos fundamentos na matriz analítica  
da Teoria Social Maxiana:  
[...] diz respeito ao núcleo central do debate brasileiro contemporâneo sobre  
fundamentos, que se estrutura sob a perspectiva da Teoria Social Marxiana e  
sua direção a partir de um determinado modo de entender a profissão, no  
âmbito das relações sociais constitutivas da ordem capitalista, consideradas as  
particularidades de sua condição periférica (Yazbek, 2024, p. 153).  
Uma autora também da nova geração que vem se dedicando ao debate dos  
fundamentos do Serviço Social que dialoga com a abordagem construída por Yazbek (2024)  
é Closs (2017). A autora aponta que “tais fundamentos podem ser definidos como uma matriz  
explicativa da realidade e da profissão, particular ao Serviço Social, (re) construída  
processualmente na sua trajetória histórica a realidade brasileira” (Closs, 2017, p. 52).  
No entanto, diferente de Yazbek (2009, 2018, 2020, 2024) a autora destaca que a análise  
dos fundamentos do Serviço Social ocorre quando observamos o acervo teórico-metodológico,  
construído no campo da profissão. Assim, “destaca-se a importância das produções da área nos  
anos 1980 e 1990 para a qualificação deste acervo [...]” (Closs, 2017, p. 26). Closs (2017, p.  
135), afirma que “os fundamentos se assentam na conjugação de método/teoria marxistas e  
valores de cunho emancipatório, na análise histórico-crítica da profissão na realidade brasileira,  
conformando o núcleo central da matriz explicativa hegemônica construída nas últimas  
décadas”.  
727  
Assim, ambas as autoras localizam os fundamentos do Serviço Social, no escopo das  
matrizes explicativas da realidade e da profissão, que incidem na formação e no trabalho de  
assistentes sociais. Mas, há nuances que diferem também as suas abordagens.  
4 - A abordagem dos fundamentos do Serviço Social em Guerra (1997, 2004, 2015, 2018,  
2020, 2023a, 2023b, 2024)10 – “O debate dos fundamentos histórico-ontológicos da  
profissão”  
Yolanda Aparecida Demétrio Guerra, mais conhecida no meio acadêmico como  
Yolanda Guerra, consagrou-se nas últimas décadas como uma autora de destaque no campo do  
Serviço Social. Suas importantes inserções políticas e acadêmico-científicas na ABEPSS e no  
GTP supramencionado fizeram com que ela se tornasse referência indispensável para qualquer  
pesquisador que deseje enveredar nos estudos dos fundamentos da profissão.  
Para compreender o debate de fundamentos do Serviço Social construído por Guerra,  
analisamos oito artigos publicados pela autora, ao longo de 27 anos. É importante enfatizar que,  
10 Tais publicações foram selecionadas porque apresentam em seu título o descritor “fundamentos”; e tratam do  
Serviço Social brasileiro – esses foram os nossos critérios de inclusão/exclusão.  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
desde seus primeiros textos, a autora demonstra uma compreensão acerca do Serviço Social  
firmemente ancorada na tradição marxista. Guerra (1997, 2004) já considera o campo marxista  
como sendo o único capaz de nos permitir um mergulho real nos fundamentos do Serviço  
Social.  
Para Guerra (1997) a gênese do Serviço Social articula-se diretamente ao  
desenvolvimento capitalista para “[...] intervir nos conflitos oriundos dos antagonismos de  
interesses das classes (ou segmentos das classes) sociais fundamentais da ordem burguesa  
constituída” (Guerra, 1997, p. 10). E logo após afirma:  
[...] o Serviço Social [...] tem que se reconhecer numa determinada realidade  
sócio-histórica que lhe atribui uma razão de ser e coloca seus objetos de  
intervenção. Se a sua lógica de constituição e se os seus objetos de intervenção  
se vinculam a determinada realidade histórico social, seu substrato material é  
a realidade social (Guerra, 1997, p. 11).  
Desse modo, a autora nos indica que são as determinações sociais que conformam esta  
profissão, do mesmo modo que ainda a legitimam. Portanto, identificamos no trecho destacado  
acima elementos cruciais para o entendimento daquilo que funda o Serviço Social, portanto, de  
seus fundamentos mesmo que esta ainda não seja uma formulação redigida pela autora.  
Vemos concepção semelhante, e cada vez mais refinada, em seus textos seguintes. No  
artigo de 2004, a autora afirma que “ir aos fundamentos” é “recuperar a essência das coisas”  
(Guerra, 2004, p. 21). E pensando, então, o Serviço Social, ela nos diz que:  
728  
[...] pretende-se resgatar a importância da tradição marxista no Serviço Social  
e de seu investimento em compreender as bases histórico-ontológicas que  
fundam a profissão, na apreensão do seu significado social e sua  
funcionalidade, na crítica ao conservadorismo teórico-metodológico e prático-  
político e na construção de um projeto profissional que intencione a ruptura  
com o conservadorismo (Guerra, 2004, p. 25).  
Segundo a autora, a realidade social se apresenta como a base sólida sobre a qual se  
constroem tanto o Serviço Social quanto às teorias que buscam explicá-lo. A partir dessa  
perspectiva, a autora defende que é somente a ontologia do ser social desenvolvida por Marx  
e aprofundada por Lukács que oferece os instrumentos teórico-metodológicos necessários  
para uma análise crítica dos fundamentos da profissão. É nesse contexto que, em Guerra (2004),  
surge pela primeira vez a formulação de que os fundamentos do Serviço Social estão enraizados  
em suas bases histórico-ontológicas. Ou seja, são as categorias marxianas que possibilitam  
compreender, de forma profunda e crítica, os fundamentos que forjam a profissão.  
Guerra (2015, p. 7) nos apresenta uma definição ainda mais precisa acerca dos  
fundamentos do Serviço Social quando aponta:  
Quanto ao Serviço Social, por fundamentos estamos considerando as bases  
sócio-históricas objetivas e subjetivas, bem como as mediações que vinculam  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
e permeiam o exercício profissional do assistente social, ambos resultantes das  
determinações societárias mais amplas, as quais se particularizam em  
determinações próprias da cultura profissional (Guerra, 2015, p. 7).  
Neste artigo, Guerra (2015) constrói uma argumentação coerente e comprometida, onde  
insiste na importância de se compreender o Serviço Social no bojo das relações sociais mais  
amplas. E nesse sentido, afirma que:  
[...] podemos captar a profissão como resultado histórico, no confronto de  
interesses antagônicos entre o capital e o trabalho e na mediação entre as  
classes sociais fundamentais e o Estado e as funções deste como administrador  
dos ciclos de crise. Nesta direção, a busca dos fundamentos permite à  
profissão compreender a sua funcionalidade ao projeto societário do capital,  
mas também as possibilidades de questioná-la (Guerra, 2015, p. 9).  
No artigo de 2018 encontramos, pela primeira vez, a menção da autora a existência de  
um debate sobre os fundamentos do Serviço Social, indicando sua percepção de que existem  
diferentes abordagens sendo construídas em torno do tema.  
Ainda neste artigo, Guerra (2018, p. 29) aponta  
[...] que ter a realidade social como fundamento significa que são as condições  
de produção e reprodução da vida social e espiritual dos homens e mulheres  
as suas bases constitutivas, processo construído por meio de sua práxis  
individual e social que, ao mobilizar/enfrentar as contradições de classe,  
constroem a história (Guerra, 2018, p. 37).  
Os fundamentos do Serviço Social compreendidos enquanto histórico-ontológicos,  
inscritos na realidade social são reafirmados em Guerra (2023a). Neste capítulo de livro, a  
autora explicita, pela primeira vez, a compreensão de que existem diferenças entre o que  
compreendemos enquanto fundamentos do e para o Serviço Social, quando afirma que “[...] se  
faz necessário reconhecer que a temática dos fundamentos do/para o Serviço Social ganha  
novos contornos na quadra história que vivenciamos” (Guerra, 2023, p. 34).  
729  
Em Guerra (2023b, p. 45), encontramos, de forma didática, o significado etimológico  
da palavra fundamentos: “[...] princípio sobre o qual se apoia e se desenvolve uma coisa”.  
Com base nessa reflexão, considero fundamento as bases e a razão de ser que  
explica a gênese e a existência da sociedade e da profissão. Trata-se de  
fundamentos histórico-ontológicos enquanto as balizas, pilastras, razão e  
modos de ser constitutivos e constituintes da realidade e da profissão (Guerra,  
2023b, p. 45).  
Em Goin (2019a), encontramos uma abordagem dos fundamentos do Serviço Social que  
dialoga muito com as construções apresentadas acima:  
É nesse bojo de análise que, em síntese, se entende por fundamentos do  
Serviço Social os elementos que (a) alicerçam e assentam as bases da  
formação e do trabalho profissional ao longo de sua trajetória sócio-histórica  
e (b) conferem configuração particular à profissão em face da processual e  
orgânica relação com a realidade, interpondo-lhe a necessária apropriação das  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
matrizes de conhecimento do social e do movimento da sociedade para prover  
de direção social e política do trabalho profissional [...] (Goin, 2019a, p. 31).  
E, por tudo o que já foi até aqui exposto, podemos perceber, na abordagem construída  
por Guerra ao longo dos anos, a centralidade que os fundamentos histórico-ontológicos têm.  
Entretanto, a autora também destaca a existência e a importância dos fundamentos teórico-  
metodológicos, compreendidos pela mesma enquanto “[...] formas de interpretar a realidade e  
a profissão”; e os fundamentos ídeo-políticos que em suas palavras: “[...] subjazem  
determinadas concepções de homem e mundo, priorizam determinados valores e afirmam  
determinado projeto de sociedade e de profissão” (Guerra, 2023b, p. 45).  
De modo ainda mais apurado, encontramos em Guerra (2024) a seguinte afirmação:  
Estamos considerando fundamentos, a partir do seu sentido etimológico, como  
base, o alicerce, os princípios que regem realidade e profissão, tanto o que  
funda quanto sua lógica constitutiva; mas, também: as explicações, os  
argumentos de interpretação, a justificativa de existência de ambas (Guerra,  
2024, p. 159).  
No entanto, para Guerra (2024, p. 159), ao se pensar a profissão, os fundamentos  
histórico-ontológicos “[...] tem prioridade em relação aos que buscam explicá-la”. Isto porque  
são produtos da práxis e denotam a “[...] prioridade ontológica da realidade sobre o  
conhecimento, da prática sobre a teoria, dos fundamentos histórico-ontológicos sobre os  
teórico-filosóficos(Guerra, 2024, p. 160). O que não significa dizer que os fundamentos  
teórico-filosóficos são menos importantes. Eles  
730  
[...] são a base de fundamentação sobre a realidade e sobre a profissão. Eles  
têm como objeto os fenômenos e práticas sociais e se constituem em modos  
de explicar a realidade social, buscam a apreensão da sua base material, da sua  
lógica constitutiva e, nesta base, da profissão (Guerra, 2024, p. 160).  
Em Guerra (2020), encontramos a análise mais completa da autora sobre os chamados  
fundamentos teórico-filosóficos. Nesta produção, ela nos oferece importante contribuição ao  
estudo do que convenciona chamar de fundamentos para o Serviço Social.  
Para Guerra (2020) o conhecimento teórico é essencial para orientar “[...] nossa forma  
de ler, de interpretar a realidade” e dá suporte para “pressupostos teórico-metodológicos e  
visões de mundo, cujo substrato é ético e político e nos conduzem a uma determinada postura  
diante do real que pode ser de sua transformação ou manutenção” (Guerra, 2020, p. 32).  
Neste capítulo, a autora faz uma densa incursão sobre os “fundamentos dos  
fundamentos”. Ou seja, Guerra (2020) se propõe a realizar um debate sobre as determinações  
filosóficas e ídeo-políticas contidas nas fundamentações teóricas que influenciam a nossa  
profissão.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
Segundo Guerra (2020) no campo do Serviço Social, até os anos de 1980, a produção  
de conhecimento estava assentada em referenciais teóricos ancorados em uma racionalidade  
formal-abstrata. E foi somente com a aproximação da profissão com a produção de Karl Marx  
que se inaugura a possibilidade de uma produção de conhecimento fundamentada em bases  
histórico-ontológicas.  
Dessa forma, nas produções de Guerra encontramos profícuos caminhos para o debate  
dos fundamentos do Serviço Social e para a compreensão da necessidade de apreensão dos  
fundamentos para o Serviço Social. Seus artigos fazem a defesa de que apenas alcançamos os  
fundamentos do Serviço Social por meio dos fundamentos da matriz teórico-filosófica marxista.  
Sendo esta a única fundamentação que nos permite captar a essência do que funda a profissão.  
Seria, portanto, o campo marxista que nos ofereceria os fundamentos para a compreensão dos  
fundamentos do Serviço Social.  
O necessário retorno aos fundamentos do Serviço Social  
O tópico anterior deste artigo se propôs a apresentar o debate dos fundamentos do  
Serviço Social, destacando algumas das suas diferentes abordagens. Mas, qual a relevância do  
estudo e da compreensão dos fundamentos do Serviço Social para o desenvolvimento do nosso  
trabalho profissional, enquanto assistentes sociais? Sinalizar essa relevância ou ao menos  
lançar luzes sobre ela é o nosso intuito nas breves reflexões que se seguem.  
O debate sobre os fundamentos do Serviço Social, mediante as distintas abordagens  
anteriormente apresentadas, se faz imprescindível para a compreensão da profissão na  
atualidade. Portanto, estudar os fundamentos do Serviço Social e/ou retornar a eles, não significa  
visitar o seu passado ou conhecer a sua história; nem apenas elencar as matrizes de pensamento  
que já serviram a assistentes sociais na busca pela compreensão da realidade social. É o estudo  
dos fundamentos do Serviço Social que nos possibilita a apreensão do significado social do  
nosso trabalho profissional movimento indispensável para a elaboração consciente das  
respostas profissionais para o enfrentamento das expressões da “questão social” nos diversos  
espaços ocupacionais.  
731  
Portanto, compreender os fundamentos do Serviço Social significa captar o significado  
social da profissão, inscrita na divisão social, racial, sexual e técnica do trabalho (Escurra;  
Iamamoto, 2020). Para isso, faz-se necessário captar as bases que fundam o Serviço Social  
constituídas por determinações econômicas, políticas, sociais, culturais e ideológicas, inscritas  
na dinâmica concreta da vida social.  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
No Brasil, os autores que inauguram essa análise, no ano de 1982, são Iamamoto e  
Carvalho (2014). Os autores, ancorados na perspectiva marxiana, apresentam a compreensão  
do significado da profissão inscrita no processo de reprodução das relações sociais capitalistas  
como um tipo de especialização do trabalho coletivo, partícipe da divisão do trabalho. Buscam  
desvendar as múltiplas determinações que provocam o surgimento do Serviço Social na  
sociedade capitalista, no contexto brasileiro, bem como o caráter contraditório do trabalho  
profissional, ultrapassando a compreensão endógena da profissão voltada para uma análise de  
seus fundamentos a partir de si mesma.  
Em Iamamoto e Carvalho (2014) encontramos, pela primeira vez, a indicação da  
“questão social”11 como elemento fundante do Serviço Social. Desse modo, o Serviço Social  
se institucionaliza e se legitima como uma profissão no processo de desenvolvimento da  
industrialização e expansão urbana no Brasil no contexto de constituição da classe  
trabalhadora e da burguesia industrial enquanto um dos recursos acionados pelo Estado e pelo  
empresariado, com apoio da Igreja Católica para o enfrentamento das manifestações da  
“questão social”, que se revela como a base de justificação da profissão (Iamamoto; Carvalho,  
2014).  
O adensamento deste debate se faz posteriormente com Netto (2011), por meio das  
análises que revelam o surgimento do Serviço Social a partir da constituição de um tratamento  
diferenciado dado às expressões da “questão social” em um determinado momento histórico  
preciso: a conformação do capitalismo monopolista. Segundo Netto (2001), nos diferentes  
estágios da ordem capitalista, a “questão social” é produzida compulsoriamente em diversas  
manifestações. A sua estrutura medular é determinada pela relação capital/trabalho, pelos  
componentes sociais, políticos, culturais e econômicos constituintes do modo de produção  
capitalista.  
732  
Portanto, para o autor, a profissão surge vinculada à ordem monopólica, tendo esse  
momento histórico como seu fundamento. Assim, o Serviço Social torna-se necessário  
mediante aos fatores sócio-históricos que estão postos na realidade. Nesse processo de  
legitimação da categoria profissional, seus agentes são chamados a atuarem frente às expressões  
da “questão social” e na execução das políticas sociais na esfera do Estado.  
11 A questão social se refere ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade  
capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Têm sua gênese no caráter coletivo da produção,  
contraposto à apropriação privada da própria atividade humana - o trabalho -, das condições necessárias à sua  
realização, assim como de seus frutos. É indissociável da emergência do “trabalhador livre”, que depende da  
venda de sua força de trabalho como meio de suas necessidades vitais (Iamamoto, 2001, p. 16-17).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
Dessa forma, em nosso entendimento, encontramos em Iamamoto e Carvalho (2014) e  
Netto (2011) elementos imprescindíveis para o debate e para a compreensão dos fundamentos  
do Serviço Social assentados na perspectiva marxiana. No entanto, há também nesses autores  
diferenças em suas abordagens.  
A obra de Iamamoto e Carvalho (2014) debruça-se sobre a conjuntura nacional,  
especificamente no começo no século XX, procurando desvendar as determinações concretas  
da gênese do Serviço Social em terras brasileiras. Enquanto em Netto (2011), encontramos o  
esforço teórico-metodológico de compreensão e explicação do momento de transição do  
capitalismo concorrencial para  
o
capitalismo monopolista, em um contexto  
internacional/mundial, na transição do século XIX para o XX.  
Portanto, por mais que estes autores estejam ambos ancorados no referencial marxista e  
no método materialista-histórico-dialético, eles estão nos apresentando análises diferentes sobre  
o surgimento do Serviço Social. Não diferentes enquanto concepção de profissão, mas,  
diferentes leituras de momentos e lugares em que surge o Serviço Social, no intuito de captar  
os seus fundamentos.  
Iamamoto e Carvalho (2014) destacam que as condições que particularizam o trabalho  
profissional de assistentes sociais se processam na dinâmica das relações sociais vigentes na  
sociedade capitalista. O exercício profissional de assistentes sociais é polarizado pelos  
interesses distintos das classes sociais antagônicas presentes nesta sociedade. Isso significa que  
assistentes sociais reproduzem interesses contrapostos ao realizarem qualquer atividade em seu  
cotidiano profissional. Respondem tanto às requisições da classe dominante, quanto às  
necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora por meio de qualquer ação que venham a  
desenvolver.  
733  
A razão de ser desta profissão, portanto, é dada pela contribuição que oferece no jogo  
da luta de classes na sociabilidade do capital, o que revela o caráter ideológico do seu  
significado social. Do ponto de vista das requisições da classe dominante, o Serviço Social  
contribui com o controle político-ideológico e/ou repressivo, principalmente por meio do  
aparato burocrático do Estado, facilitando a criação de mecanismos ideológicos favoráveis à  
manutenção das relações sociais capitalistas, no sentido de camuflar as tensões que lhe são  
próprias, como se fossem relações harmônicas e passíveis de conciliação.  
No entanto, pode também atender às demandas da classe trabalhadora para além do que  
lhe é imediatamente solicitado. O Serviço Social tem o papel de contribuir na luta de classes por  
meio da capacidade intelectual de seus agentes, os quais podem utilizar seus conhecimentos  
para imprimir uma direção ético-política à sua ação para favorecer a criação de condições de  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
mobilização e de organização política dessa classe, visando contribuir para construção de um  
novo tipo de sociedade.  
Isso significa tomar a “questão social” de fato como fruto de uma contradição posta, que  
sendo o conjunto das desigualdades engendradas pelo modo de produção capitalista revela  
também a potencialidade da resistência e da rebeldia da classe trabalhadora. Portanto,  
assistentes sociais devem buscar construir suas ações não somente para amenizar/minimizar as  
condições de pobreza e miséria da classe trabalhadora, mas, especialmente, para dar voz a estes  
segmentos desfavorecidos, para legitimar a sua inconformidade, para identificar seus focos de  
resistência, para estimular a conformação de consciência crítica, para potencializar a  
organização e a luta dos trabalhadores.  
Em se tratando da “questão social”, Netto (2001) explicita que esta expressão, ganhou  
notoriedade na segunda metade do século XIX, passando a ser usada pelo pensamento  
conservador, na intenção de naturalizar as desigualdades sociais, tornando-as alvo de ações de  
caráter reformista e moralizador12. A intenção era evitar a compreensão de que sua  
determinação se assentava no modo de produção capitalista, na contradição entre  
capital/trabalho.  
Afinal, encontramos em Marx (2008), mais precisamente na lei da acumulação  
capitalista, o fundamento enquanto base de fundamentação capaz de explicar a existência –  
da “questão social”. Por meio dela compreendemos que o avanço dos meios de produção é  
sempre superior à capacidade de absorção dos trabalhadores produtivos disponíveis no  
mercado. Com o incremento tecnológico e científico no processo de produção, os trabalhadores  
acabam produzindo mais em menor tempo. Esse processo advém do interesse dos empresários  
capitalistas em extrair uma quantidade cada vez maior de trabalho de uma parcela cada vez  
menor de trabalhadores. Além disso, amplia-se a jornada de trabalho e as formas de  
intensificação da exploração do trabalho (Iamamoto, 2001).  
734  
Esse quadro contribui tanto na produção das formas de mais-valor, quanto na produção  
de uma população relativamente supérflua para o regime de acumulação do capital. Assim, a  
população de trabalhadores sempre cresce mais rapidamente do que a necessidade de seu  
emprego na dinâmica de valorização do capital. Entretanto, na sociedade capitalista, o  
“trabalhador livre” depende da venda de sua força de trabalho em troca de um salário para a  
12  
O autor sinaliza que a expressão “questão social” surgiu [...] para dar conta do fenômeno mais evidente da  
história da Europa Ocidental que experimentava os impactos da primeira onda industrializante, iniciada na  
Inglaterra no último quartel do século XVIII: trata-se do fenômeno do pauperismo. Com efeito, a pauperização  
[...] massiva da população trabalhadora constituiu o aspecto mais imediato da instauração do capitalismo em  
seu estágio industrial-concorrencial [...] (Netto, 2001, p. 42).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
garantia da sua sobrevivência13, ou seja, precisa encontrar espaço no mercado de trabalho.  
Logo, essa dinâmica “gera, [...], uma acumulação da miséria relativa à acumulação do capital,  
encontrando-se aí a raiz da produção/reprodução da questão social na sociedade capitalista”  
(Iamamoto, 2001, p. 15).  
Nestas condições, as demandas da população e dos trabalhadores passam a ser  
parcialmente atendidas e refuncionalizadas para dinamizar os superlucros da ordem  
monopólica. Esse processo foi tensionado por conflitos e contradições em escala global. A  
necessidade de legitimação do Estado encontrou saída na consolidação de políticas voltadas à  
classe trabalhadora, num jogo das forças políticas. Por meio dessas condições, as expressões da  
“questão social” passaram a ser objeto de intervenção por parte do Estado, sendo foco das  
políticas sociais (Netto, 2011). Assim, Netto (2011) afirma que a origem do Serviço Social deve  
ser compreendida nesse período monopolista do capital, especificamente, quando as expressões  
da “questão social” se expandem e o Estado passa a intervir enquanto instrumento de controle  
da mesma, possibilitando alavancar o modo de produção capitalista.  
As políticas sociais são implementadas como respostas institucionalizadas frente às  
expressões da “questão social”, que são recortadas como problemáticas sociais – como o  
desemprego, a fome, a falta de habitação, a ausência de escola, o não acesso aos serviços de  
saúde etc. para assegurar o funcionamento da ordem monopólica. É no âmbito político que  
as políticas sociais são operacionalizadas, enquanto instrumentos de apoio à ordem  
sociopolítica, oferecendo “[...] um mínimo de respaldo efetivo à imagem do Estado como  
‘social’, como mediador de interesses conflitantes” (Netto, 2011, p. 31).  
735  
Portanto, as bases de fundação da profissão estão atreladas aos processos sócio-  
históricos que estão postos na realidade. Conforme Netto (2011, p. 73-74), o Serviço Social se  
funda “[...] indivorciável da ordem monopólica”, pois os profissionais passaram a ser chamados  
para a operacionalização das políticas sociais, e a profissão encontrou sua funcionalidade na  
divisão social e técnica do trabalho: a administração das manifestações da “questão social”.  
A “questão social” está inscrita na dinamicidade das relações sociais capitalistas e se  
reformula sob condições sócio-históricas de produção/reprodução, na órbita do capital. As  
expressões da “questão social” se modificam em razão das configurações das transformações  
societárias, da política, da cultura, das particularidades territoriais, dos aspectos étnico-raciais,  
13  
Aqui, tem-se “[...] a separação do indivíduo das condições de seu trabalho, monopolizadas sob a forma  
capitalista de propriedade – enquanto condição histórica dessa forma de organização social da produção [...]”,  
assim, ele é “[...] excluído de toda a riqueza objetiva, dotado de mera capacidade de trabalho e alijado das condições  
necessárias à sua realização objetiva na criação de seus meios de sobrevivência” (Iamamoto, 2001, p.16).  
Ana Clara Serpa Cardoso; Érica Aparecida dos Santos Francisco; Luciana Gonçalves Pereira de Paula  
das relações de gênero, das disputas ambientais e das lutas sociais, que lhe atribuem uma  
redefinição. Tais expressões alteram-se, mas sem extinguir sua natureza no processo de  
exploração do trabalho e nas respostas do Estado sob égide capitalista, fazendo com que o  
Serviço Social permaneça necessário. A compreensão desse processo se faz imprescindível para  
quem quer, de fato, entender que profissão é essa.  
Considerações finais  
Chegando ao final deste artigo, voltamos a destacar que o nosso intuito foi, a partir das  
reflexões apresentadas, demonstrar como o debate sobre os fundamentos do Serviço Social –  
consensualmente hegemônico em meio a nossa categoria profissional encontra, de fato,  
muitas convergências. Mas, também esconde/revela a existência de diferentes abordagens sobre  
o tema. Essas diferentes abordagens, nem sempre são facilmente percebidas, pois não se  
revelam de maneira tão explícita e imediata. A sua captura exige um mergulho mais profundo  
nos estudos desses fundamentos da profissão.  
Este é apenas um dos muitos elementos que indicam para nós o quanto este debate ainda  
não se esgotou e como se faz necessário que avancemos em nossas pesquisas sobre fundamentos  
para continuar fazendo emergir à superfície aquilo que ainda se encontra submerso.  
Nesse sentido, um ponto a ser destacado que em nossa compreensão merece maiores  
aprofundamentos trata-se do debate sinalizado por Guerra (2024), onde a autora aponta que:  
736  
[...] parece-nos que fazer a distinção (puramente didática) entre os termos  
fundamentos e fundamentação pode dar maior visibilidade à nossa  
argumentação sobre a diferença entre as filosofias e/ou sociologias e a Teoria  
Social de Marx. Todas as filosofias/sociologias podem prestar uma  
fundamentação à realidade e, indiretamente, fornecer explicações à profissão.  
Qualquer uma pode ser objeto de escolha de assistentes sociais, segundo sua  
visão de homem e mundo e o mirante sob o qual captam a realidade. Contudo,  
[...] nem todas as perspectivas teóricas alcançam dos fundamentos da vida  
social. E não o fazem, justamente, por eliminarem as bases concretas das suas  
análises [...] somente a perspectiva da ontologia do ser social inaugurada por  
Marx é capaz de fundar ontologicamente a análise da realidade e da profissão  
(Guerra, 2024, p. 174).  
O debate provocado por Guerra (2024) que já havia aparecido anteriormente em outras  
de suas produções nos leva a pensar se, no âmbito do Serviço Social existe diferença entre o  
que chamamos de fundamento e o que entendemos enquanto fundamentação. Se tratamos todas  
as concepções teórico-filosóficas os campos do pensamento conservador que já foram  
hegemônicos no Serviço Social ao longo da sua trajetória como fundamentos, isso significa  
dizer que os fundamentos da profissão foram se alterando com o seu desenvolvimento? Ou  
ainda, considerando que todos esses campos do pensamento conservador, em maior ou menor  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 717-739, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Diferentes abordagens sobre fundamentos do Serviço Social e a necessidade deste debate  
escala, continuam incidindo no Serviço Social hoje embora não se façam mais hegemônicos  
todos eles seriam fundamentos do Serviço Social?  
A nosso ver, faz-se necessário retomar esse debate e avançar na construção de reflexões  
que possam abrir novos caminhos para a compreensão do que estamos chamando de  
fundamentos do Serviço Social. Afinal  
[...] nem todas as referências teórico-metodológicas que estão na base das  
Teorias Sociais apreendem os fundamentos histórico-ontológicos da realidade  
e da profissão. Aqui se faz necessário estabelecer a distinção entre aquelas  
fundamentações que se detêm na expressão fenomênica da realidade e da  
profissão tomada como a sua base de explicação, aquelas que consideram os  
fundamentos ontológicos da realidade como inacessíveis, aquelas que  
“desconfiam” da distinção entre aparência e essência e aquelas que  
reconhecem o papel da busca dos fundamentos na apreensão da lógica  
constitutiva dos processos e práticas sociais, no movimento que vai da  
aparência para a essência (Guerra, 2023b, p. 46).  
Dessa forma, as produções de Iamamoto e Netto não foram retomadas aqui por acaso.  
É nelas que, ainda, encontramos o cerne do debate sobre os fundamentos do Serviço Social.  
Portanto, conhecê-las ou revisitá-las não é tarefa superada; é missão urgente para assistentes  
sociais que não querem se ver tragados pela aparente falta de perspectiva dos cotidianos  
institucionais. Retornar a estas produções não significa uma volta ao passado, não representa  
olhar para o que foi o Serviço Social. Nas obras aqui mencionadas e em outras que não foram  
abordadas pelos limites deste artigo encontramos profícuos caminhos para olhar adiante e  
compreender que esta é uma profissão que ainda tem muito o que construir pela frente.  
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