“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de  
Memórias do Serviço Social na Ditadura  
“I’m still here”: an analysis of the Cycle of Memories of  
Social Work during the Dictatorship  
Graziela Scheffer*  
Karla da Silva Apolinario**  
Sara Beatriz Silva de Oliveira***  
Resumo: O artigo apresenta o resultado da ação  
extensionista denominada “Ciclo de Memórias  
Serviço Social na Ditadura Civil-Militar". A  
extensão é derivada da pesquisa sobre o Serviço  
Social e as lutas democráticas no Rio de Janeiro  
no período de 1964-1985. As ações foram  
realizadas no formato de ciclo de debates por  
meio de depoimentos de estudantes, docentes e  
profissionais cujas experiências formativas e/  
ou profissionais ocorreram no período  
ditatorial. Este estudo incidiu na análise de 6  
depoimentos realizados nas atividades. Os  
procedimentos utilizados para realização das  
ações extensionistas envolveram o contato via  
correio eletrônico contendo a carta-convite, o  
termo de consentimento informado e roteiros  
organizados a partir dos eixos da investigação  
sobre a incidência das lutas democráticas na  
profissão. Entendemos que os depoimentos  
foram uma importante estratégia pedagógica de  
resgate das memórias coletivas acerca das  
formas das resistências profissionais na ditadura  
civil militar. A memória profissional foi uma  
estratégia pedagógica de sensibilização da  
consciência histórica junto ao segmento  
acadêmico.  
Abstract: This article presents the results of an  
extension action called “Cycle of Memories of  
Social Service during the Civil-Military  
Dictatorship”. The extension is derived from  
research on Social Service and democratic  
struggles in Rio de Janeiro between 1964 and  
1985. The actions were carried out in the format  
of a debate cycle through testimonies from  
students, teachers and professionals whose  
formative and/or professional experiences  
occurred during the dictatorship. This study  
focused on the analysis of 6 testimonies given  
during the activities. The procedures used to  
carry out the extension actions involved contact  
via e-mail containing the invitation letter, the  
informed consent form and a script organized  
based on the axes of the investigation on the  
incidence of democratic struggles in the  
profession. We understand that the testimonies  
were an important pedagogical strategy for  
recovering collective memories about the forms  
of professional resistance during the civil-  
military dictatorship. Professional memory was  
a pedagogical strategy for raising awareness of  
historical awareness among the academic  
segment.  
Palavras-chaves: Serviço Social; Consciência  
Histórica; Ditadura; Memória Coletiva.  
Keywords:  
Consciousness;  
Memory.  
Social  
Work;  
Historical  
Collective  
Dictatorship;  
* Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: graziela.uerj@gmail.com  
** Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: karla.s.apolinario@gmail.com  
*** Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: sbeatriz020@gmail.com  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.49676  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 01/08/2025  
Aprovado em: 12/12/2025  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
Introdução  
O título do artigo faz referência ao filme brasileiro Ainda estou aqui1 que ganhou, em  
2025, o tão cobiçado Oscar hollywoodiano, abordando as memórias dos familiares dos/as  
desaparecidos/as na ditadura civil-militar e a luta por justiça na responsabilização do Estado  
brasileiro. A memória hegemônica2 sobre a ditadura brasileira não foi amplamente  
compartilhada pela maioria da sociedade. A Lei de Anistia (1979), significou o silenciamento  
e a impunidade. Essa lei foi um evento emblemático que circunscreveu a memória sobre a  
ditadura, no sentido que impôs limites para a investigação e punição de violações a direitos  
humanos praticados nesse período, deixando marcas que até hoje não foram superadas  
plenamente (Napolitano, 2022). Sob esse fio de memória das feridas ainda abertas das violações  
aos direitos humanos, o filme tece uma interessante metáfora acerca da memória na sociedade  
brasileira ao retratar a jornada de Eunice Paiva em busca pela verdade do desaparecimento do  
seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva. Avançando, no fim da vida da protagonista, na  
atualidade da sociedade brasileira, Eunice Paiva é apresentada com a doença Alzheimer, tendo  
breves lampejos de lembranças do marido enquanto assiste uma matéria jornalística sobre  
Comissão da Verdade na TV. O filme é representativo da luta por memória, verdade e justiça,  
incentivando o debate na sociedade brasileira sobre a necessidade de lidar com as injustiças  
ocorridas no regime militar.  
828  
Mesmo passados 40 anos da ditadura civil-militar, ainda persistem as heranças  
autoritárias que se evidenciam na polarização social no cenário político brasileiro. É nesse  
contexto fecundo de conflitos e disputas em torno das memórias na ditadura que desenvolvemos  
a atividade extensionista3 denominada, “Ciclo de Memórias sobre o Serviço Social na  
ditadura”. O objetivo da atividade foi debater expressões na profissão dos processos de  
repressão-resistência no Rio de Janeiro de 1960-1980, visando contribuir no fortalecimento da  
consciência histórica junto à comunidade acadêmica. As ações extensionistas ocorreram por  
meio de depoimentos de convidados que foram estudantes, professores e profissionais no  
1 O filme aborda através da trajetória de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido e morto  
pela ditadura civil-militar, o roteiro toca em temas importantes relativos à memória e luta por justiça a partir do  
impacto da ditadura militar na vida de uma família e na sociedade brasileira. A obra oferece aos espectadores a  
possibilidade de refletir sobre o passado e a importância de não esquecer as violações na ditadura.  
2 A “memória hegemônica” pode ser definida como a narrativa sobre o passado que predomina na esfera pública,  
instituições político-jurídicas, imprensa, movimentos sociais, sistema artístico e sistema escolar de uma sociedade.  
Pode haver variáveis ideológicas entre estas instituições diversas, mas a tendência é ficar preservado um núcleo  
valorativo e ético para dar sentido social aos eventos que pautam a narrativa (Napolitano, 2015). Ademais, é  
importante salientar que a questão da memória sobre a ditadura brasileira é na atualidade uma arena de conflito e  
disputa.  
3
O Ciclo de Memórias é uma atividade de extensão derivada da pesquisa intitulada Serviço Social e as lutas  
democráticas no Rio de Janeiro no período de 1964-1985, submetida à Plataforma Brasil em 25 de agosto de 2023.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
período da ditadura, abrangendo as décadas de 1960, 1970 e 1980. A extensão foi uma via de  
articulação entre o ensino e a pesquisa em Fundamentos Históricos Metodológicos do Serviço  
Social, circunscritas às reflexões sobre as incidências das lutas democráticas na profissão.  
Consideramos que a extensão é significativa ao tempo presente, ancorados aos visíveis ataques  
vivenciados à democracia brasileira, sendo essencial mobilizar a memória profissional  
enquanto uma via pedagógica para novas gerações profissionais alinhadas à defesa dos valores  
democráticos, considerando a necessidade de enfrentamento ao avanço das “(...) ideias e  
práticas conservadoras, reacionárias e fundamentalistas no Brasil e no mundo onde os mínimos  
direitos humanos de grupos historicamente excluídos têm sido violentados” (Alves, 2024, p.  
92).  
O artigo se estruturou em dois itens: no primeiro abordamos as concepções teóricas que  
orientaram as atividades extensionistas. No segundo, apresentamos a sistematização e a análise  
de trechos dos seis depoimentos realizados nos eventos extensionistas do ciclo de memórias.  
Tempo, compositor de destino”: Serviço Social, memória coletiva e consciência  
histórica  
E quando eu tiver saído  
Para fora do teu círculo  
(...) Não serei nem terás sido  
Tempo, tempo, tempo, tempo  
Ainda assim acredito  
829  
Ser possível reunirmo-nos  
Tempo, tempo, tempo, tempo  
Num outro nível de vínculo.  
(Oração do Tempo - Caetano Veloso, 1979).  
Para Álvaro Vieira Pinto (1960) a consciência histórica permite desencadear um  
processo de compreensão da realidade social que contribui para que os sujeitos se situem no  
mundo e possam transformá-lo. Ainda em sua visão, a consciência histórica era essencial para  
a libertação dos oprimidos e para a construção de uma sociedade mais justa. A consciência que  
investiga a si mesma, tem como núcleo de todas as suas estruturas e reações esta propriedade:  
a de ser uma consciência histórica. Ou seja, a autopercepção do ser é histórico, sua  
representação é condicionada por uma circunstância objetiva constituída pelo real enquanto  
presente de um tempo histórico e, portanto, seus enunciados não possuem a vigência de  
verdades perenes, mas refletem o momento que lhe dá origem. Seguindo nessa trilha, Paulo  
Freire (1983), sob inspiração do mesmo autor, apresenta a mesma concepção de consciência  
histórica, porém apontando que a educação deveria favorecer este processo por meio do  
fortalecimento da capacidade de compreensão da realidade histórica e social dos oprimidos.  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
A consciência histórica, portanto, era vista enquanto instrumento de libertação, pois  
possibilita que os oprimidos reconheçam sua situação de opressão e se organizem para  
transformá-la. Sendo que a consciência histórica deveria ser desenvolvida por meio de uma  
educação dialógica, que envolvesse a participação ativa dos sujeitos na construção do  
conhecimento. Portanto, uma abordagem pedagógica que permitisse que os sujeitos se  
apropriassem de sua história e não apenas objetos de uma história imposta. Para o autor:  
(...) só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido,  
transformando-o em apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinventá-  
lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações  
existenciais concretas (Freire, 1983, p. 15).  
Neste sentido, acreditamos que conhecer e dar visibilidade à história do Serviço Social,  
articulada à construção de uma política de memória e documentação histórica é essencial para  
projetar perspectivas profissionais diante dos desafios atuais, ou seja:  
Rever o passado para iluminar o presente, elucidando as constelações que  
ligam presente e passado, é um movimento heurístico fundamental para  
compreender tanto o passado recente quanto o ineditismo das atuais condições  
históricas e para recriar a práxis de enfrentamento a esses tempos de regressão  
conservadora, contribuindo para formas de resistência política (Iamamoto;  
Santos, 2021, p. 27-28).  
Entretanto, cabe ponderar que consciência histórica, assim como a consciência de  
classe, apresenta limites, conforme aponta Iasi:  
830  
Não basta ter consciência das determinações históricas do mundo em que  
vivemos e a certeza de que podemos nos converter em sujeitos de uma nova  
sociedade; é preciso construir os caminhos práticos da emancipação nas  
condições históricas dadas (Iasi, 2022, p. 17).  
Em nosso ponto de vista, o trabalho extensionista com base nos depoimentos  
profissionais vincula-se à concepção de memória coletiva, ou seja:  
(...) um novo campo de significações para a memória coletiva. Esta se refere  
não apenas a este processo de registro de acontecimentos pela experiência  
humana, mas também à construção de referenciais sobre o passado e sobre o  
presente de diferentes grupos sociais e sob a perspectiva de diferentes grupos  
sociais, ancorados nas tradições e intimamente associados a mudanças  
culturais. O processo de registrar a história é imprescindível, uma vez que  
todos nós somos sujeitos históricos (Andrade et al., 2024, p. 5).  
Além disso, compreendemos que as atividades de extensão de memórias da ditadura  
criaram um espaço de troca de experiências entre passado e presente que possibilitou  
desencadear um processo de conscientização na formação profissional. Também, nesse sentido,  
favorece a construção de uma cultura histórica que privilegie a geração de novas experiências  
por meio da aprendizagem do conviver na diversidade humana, com vistas à preservação e  
fortalecimento da democracia brasileira, tão atacada na atualidade (Alves, 2024). Nesta trilha,  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
vinculamos os ciclos à função pedagógica desenvolvida pela profissão, que se insere no campo  
das atividades educativas formadoras da cultura, ou seja, são ações formadoras de um modo de  
pensar, sentir e agir. Sendo que entre as estratégias de mobilização que o/a assistente social  
pode utilizar incluem-se a linguagem escrita e audiovisual, para impulsionar uma consciência  
crítica capaz de desmistificar e desencadear ações coletivas que se contraponham à cultura  
domesticadora, difundida pela mídia hegemônica empresarial e outros meios de comunicação  
(Abreu, 2009). Portanto, vai além de descrever o passado (Andrade et al., 2024), mas valorizar  
a trajetória dos sujeitos que integram os movimentos sociais e o serviço social, possibilitando  
mediações com o presente e miradas para o futuro das lutas contra as opressões dentro e fora  
da profissão. Ademais, trabalhamos nos ciclos de memórias:  
A unidade dialética entre a consciência que nos move e os muros de pedra que  
se apresentam como barreiras constituem os dois elementos da práxis daqueles  
que entenderam que fazem história, mas não a fazem como querem, nem em  
circunstâncias de sua escolha (Iasi, 2022).  
Além disso, temos que reconhecer as disputas em torno das memórias, conforme aponta  
Gómez (2020). A questão da memória sobre a repressão da ditadura supõe reconhecer uma  
pluralidade de memórias no processo demorado e inacabado com acerto de contas com o  
passado violento, que agrega diferentes sujeitos sociais e instituições estatais. Ou seja, são  
memórias que entram em confronto em seus sentidos e marcos interpretativos desse passado no  
tempo presente que aspiram tornar-se hegemônicas, de modo que, por sua historicidade, sofrem  
modificações nas próprias lembranças, esquecimentos e silêncios, produto das mudanças  
(políticas, jurídicas, ideológicas e culturais) nacionais e internacionais. Apesar dessa  
pluralidade das memórias em disputa, isso não apaga o fato da legitimidade até os dias atuais,  
da transmissão das experiências subjetivas. Na próxima seção apresentaremos a atividade  
extensionista e seus resultados.  
831  
“O tempo é sua morada”: pesquisa /extensão em Fundamentos históricos  
metodológicos do Serviço Social  
Trago no peito costuradas  
Contas de memória fresca  
(O tempo é sua morada Francisco el Hombre)  
O ciclo de memórias do Serviço Social na ditadura foi realizado de setembro de 2023  
até novembro de 20244. Os procedimentos para sua realização foram: contato via correio  
4
O título faz referência à música “O Tempo é sua morada” da banda Francisco el Hombre, que traz uma reflexão  
poética sobre a passagem do tempo e a forma como as memórias e o luto são processados.  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
eletrônico contendo a carta-convite, o termo de consentimento informado e roteiro,5  
organizados a partir dos eixos da investigação da incidência das lutas democráticas na  
profissão6 a serem tratados na apresentação durante a atividade. A metodologia utilizada na  
extensão perpassou pelos pressupostos da pesquisa-ação enquanto um caminho prático da  
investigação, a partir de depoimentos públicos realizados de forma aberta aos inscritos na  
atividade de extensão denominada Ciclos de Memória. Tais depoimentos foram sistematizados  
por meio de transcrições e submetidos à análise de conteúdo (Bardin, 2002), considerando os  
eixos previamente estabelecidos no roteiro. Os ciclos implicaram em uma dupla função:  
primeiro enquanto processo de democratização da memória profissional na ditadura, cujo  
objetivo prático foi desencadear um processo de conscientização histórica. Já a segunda, atende  
ao objetivo da pesquisa em obter informações por meio de depoimentos, da memória  
profissional no período da ditadura (Thiollent, 2018).  
Portanto, a atividade extensionista buscou colaborar no processo de consciência  
histórica junto à comunidade universitária por meio do debate das expressões das lutas  
democráticas7 na trama das memórias profissionais atrelados aos processos de repressão-  
resistência no Rio de Janeiro de 1964-1985. Entendemos que,  
A história, enquanto construção de homens e mulheres, remete a um conjunto  
de ações e fenômenos que se processam na sociedade. Embora tenham  
existido, nem todas as ações estão registradas, documentadas, catalogadas,  
razão pela qual a historiografia se faz tão importante para a produção científica  
e para a vida das sociedades. Com a historiografia, torna-se possível o registro  
da história, por meio do acesso a diferentes tipos de fontes: livros, artigos,  
cartas, documentos, pessoais, fotografias, entre outras (Andrade, et al., 2024,  
p. 3).  
832  
Durante a execução da atividade buscamos a problematização da temática relativa ao  
aprofundamento de elementos abordados na pesquisa. Entendemos que “a problematização é a  
reflexão que alguém exerce sobre um conteúdo, fruto de um ato, ou sobre o próprio ato, para  
agir melhor, com os demais, na realidade” (Freire, 1983, p. 50). Neste sentido, a extensão  
enquanto uma ação comunicativa e dialógica deve considerar:  
5 O roteiro foi elaborado abordando os seguintes aspectos: identificação; lutas democráticas e militância; formação  
e trabalho vinculados aos impactos da ditadura; organização política; movimento estudantil; estágio e trabalho de  
conclusão de curso.  
6
O objetivo geral da pesquisa é analisar o Serviço Social no Rio de Janeiro em seu enlace com as lutas  
democráticas visando identificar processos críticos de erosão dos fundamentos tradicionais e conservadores da  
profissão nas décadas 1960, 1970 e 1980. A investigação teve como base: revisão bibliográfica, coleta de  
documentos históricos na Faculdade de Serviço Social e a organização digital do material no google drive com a  
intenção de construir um acervo.  
7
Compreendemos que as lutas democratizantes e suas experiências concretas jamais se circunscrevem apenas à  
forma de governo: referem-se ao conjunto das relações sociais nas quais emergem. Elas tendem a questionar o  
controle dos meios sociais de produção e, sob o capitalismo, evidenciam a distância crescente entre a socialização  
da produção e o controle privado do capital sobre os meios de existência (Fontes, 2019).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
Esta problematização, que se dá no campo da comunicação em torno das  
situações reais, concretas, existenciais, ou em torno dos conteúdos  
intelectuais, referidos também ao concreto, demanda a compreensão dos  
signos significantes dos significados, por parte dos sujeitos interlocutores  
problematizados (Freire, 1983, p. 45).  
Além disso, o projeto visou contribuir no adensamento do ensino em Fundamentos  
Históricos Metodológicos do Serviço Social, no qual o uso da memória profissional foi um  
recurso pedagógico de sensibilização da consciência histórica junto à comunidade acadêmica.  
Concordamos com Freire (1983, p. 33), que ressalta:  
(...) o fato histórico não pode ser simplesmente narrado com este gosto  
excessivo pelo pormenor das datas, reduzido assim a algo estático que se põe  
no calendário que o fixa. (...) é necessário problematizar o fato mesmo ao  
educando. Necessário que ele reflita sobre o porquê do fato, sobre suas  
conexões com outros fatos no contexto global em que se deu. Poder-se-ia dizer  
que esta é a tarefa própria de um professor de História; a de situar, na  
totalidade, a “parcialidade” de um fato histórico. Parece-nos, entretanto, que  
sua tarefa primordial não é esta, mas a de, problematizando a seus alunos,  
possibilitar-lhes o ir-se exercitando em pensar criticamente, tirando suas  
próprias interpretações do porquê dos fatos.  
O trabalho de extensão e comunicação se concentrou nas memórias coletivas  
relacionadas a eventos históricos no Rio de Janeiro, abrangendo as experiências de seis  
depoentes como estudantes, professores e profissionais. Essas experiências ocorreram em  
diferentes momentos da ditadura, entre 1964 e 1985.  
833  
Buarque (2008) aponta que no final dos anos de 1950 a Europa vivenciava uma  
sequência inédita de guerras de descolonização, que transformaram o perfil não só econômico,  
mas sobretudo cultural do chamado "Primeiro Mundo". No Brasil, a juventude dos anos de  
1960, impulsionada pela experiência social e pelo engajamento na luta cultural, atualizou, à sua  
maneira, a luta internacional pelas minorias. Como resultado, a produção cultural brasileira do  
início dos anos de 1960 alcançou um patamar crescente de engajamento, sendo diretamente  
marcada pelos temas do debate político. Para Buarque (2008, p. 206), "seja nas produções de  
traços populistas, seja na produção das vanguardas experimentais, os temas da modernização,  
do nacionalismo ou da 'fé no povo' informam a urgência de uma arte participante e a crença no  
alcance revolucionário da arte e da palavra poética".  
A cidade do Rio de Janeiro foi importante sede do movimento estudantil da União  
Nacional dos Estudantes (UNE), de modo que abrigou diferentes experiências dos Centros  
Populares de Cultura (CPC) sob o comando da UNE. Esse movimento reuniu um conjunto de  
jovens artistas (dramaturgos, atores, compositores, cineastas, artistas plásticos, poetas), líderes  
estudantis e pessoas interessadas que possuíam um projeto intelectual comum: a elaboração  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
imperiosa de uma “cultura popular” em confronto com as expressões artísticas vigentes  
(Berlinck, 1984, p. 05). Nesse período, houve avanço das práticas de cultura popular e  
alfabetização no Rio de Janeiro pela Campanha de Alfabetização da UNE e pelo Plano Nacional  
de Alfabetização, com implantação iniciada na Baixada Fluminense. Também, enquanto antiga  
capital do país, abrigou importantes segmentos da intelectualidade, das artes e do movimento  
estudantil8 da UNE.  
Em 1962 foi criada a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESS),  
vinculada à UNE9. No Serviço Social brasileiro, a militância estudantil se devolveu por meio  
das organizações católicas, muitas vezes marcada pela trajetória de participação ainda no ensino  
secundarista na Ação Católica (JEC - Juventude Estudantil Católica). De modo que ao se inserir  
no ambiente universitário, ingressaram na Juventude Universitária Católica (JUC).  
Conforme Becker (2021), no contexto do Serviço Social brasileiro, a JUC continuava  
seu trabalho de militância e formulação teórica (consciência histórica, responsabilidade política  
e transformação social). Discutiam a possibilidade de reformas profundas ou até mesmo uma  
revolução no Brasil, indo além do Governo Federal. O Evangelho era reinterpretado: Cristo,  
além de santo, era um revolucionário, sacrificado por seus ideais de justiça e distribuição de  
riquezas. Devido à necessidade de assumir uma posição política mais livre da Igreja Católica,  
um grupo significativo de militantes, sobretudo no movimento estudantil, criou a Ação  
Popular10 (AP), um movimento independente da Ação Católica. Para Ridenti (1998) a história  
da AP foi marcada pelo seu romantismo revolucionário romantismo entendido como "uma  
crítica da modernidade, isto é, da civilização capitalista moderna, em nome de valores e ideais  
do passado. O romantismo revolucionário se caracterizava por uma busca de instaurar um futuro  
novo, no qual a humanidade estaria guiada por qualidades e valores de comunidade, gratuidade,  
doação, harmonia com a natureza, trabalho como arte, encantamento da vida; apostando numa  
utopia anticapitalista alicerçada no passado. Atrelado a esses aspectos, o romantismo  
834  
8
Para Netto (2015), as bases sociopolíticas que impulsionaram a erosão do Serviço Social tradicional e  
conservador na virada crítica foram: 1) as atividades relacionadas ao Desenvolvimento de Comunidade; 2)  
mudança crítica na Igreja Católica; 3) aproximação com concepções progressistas das ciências sociais; 4)  
Movimento Estudantil articulado as lutas e movimentos sociais da época.  
9 Alves (2022, p. 15) em sua pesquisa sobre as resistências das mulheres do Serviço Social na ditadura aponta que  
foi neste contexto histórico que estudantes, profissionais e/ou docentes de Serviço Social, inseridos na luta política,  
sofreram violações de direitos e violências. Em 1960, houve um amadurecimento da crítica profissional ao  
conservadorismo e seus compromissos de classe, contudo foi reprimida pelo terrorismo do Estado. No período de  
1960-1963 representou, um período de gestação da consciência nacional-popular e de engajamento de amplas  
camadas sociais na luta pelas reformas de estrutura, bem como processos de conscientização e politização de  
operários, camponeses, estudantes e intelectuais (Ammann, 2003).  
10  
A trajetória da Ação Popular (AP), do cristianismo da Ação Católica no final dos anos 50 e início dos 60,  
passando pela influência guevarista, até a adesão ao maoísmo, em 1968, e sua dissolução no início da década de  
80.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
revolucionário enfatizava a prática, a ação, a coragem, a disposição, a vontade de  
transformação. A AP no período de 1962-1964 procurou ampliar o seu trabalho de base,  
mantendo sua atuação no segmento estudantil junto com a inserção em trabalhos com operários  
e camponeses, orientação política que favoreceu o contato com experiências educativas  
inspiradas no pensamento de Freire (Closs, et al., 2021)  
Nos anos de 1960 a crítica à universidade e à sua relação com a sociedade era um fator  
determinante para os movimentos estudantis. A agenda política desses movimentos incluía,  
portanto, a necessidade de estabelecer novas relações entre a universidade e a "comunidade".  
Segundo Faleiros (2021), inúmeros estudantes de Serviço Social em diversas cidades brasileiras  
participaram de experiências com círculos de cultura e o método Paulo Freire. Contudo, o golpe  
civil-militar de 1964 resultou na interrupção e criminalização da maioria dessas iniciativas. Um  
exemplo disso é o caso em Ribeirão Preto, onde o proprietário da Faculdade de Serviço Social  
denunciou à Polícia os estudantes envolvidos na organização e mobilização popular, o que  
levou à prisão ou interrogatório deles. A capital carioca se destacou por vivenciar intensos  
movimentos culturais, especialmente através das experiências dos Centros Populares de Cultura  
(CPC) (Berlinck, 1984). O golpe civil-militar de 1964 foi a causa fundamental do fim do CPC  
da UNE, cuja sede foi destruída em 1º de abril. A curta experiência estética e política do CPC  
transformou-o em "mito". Ex-cepecistas tentaram manter a aliança de classes popular-  
revolucionária com o Grupo Opinião, buscando recuperar a dialética forma e conteúdo para  
montar espetáculos engajados, como o "Show Opinião" de 1964. Contudo, essa alternativa foi  
afetada pelo AI-5 (1968) e o endurecimento do regime, além de receber críticas de parte da  
esquerda por manter "representações romantizadas" do "povo engajado" (Chaves, 2021).  
No que concerne ao Serviço Social na cidade do Rio de Janeiro, apesar de sua  
efervescência cultural e estudantil, sua trajetória foi marcada pela intensa atuação do CBCISS,  
o qual, por sua vez, fomentou discussões acerca das vertentes da Modernização Conservadora  
e da Reatualização do Conservadorismo. A seguir, apresenta-se o quadro dos/as depoentes,  
destacando dados referentes ao período de ingresso e conclusão do curso de graduação em  
Serviço Social no Rio de Janeiro:  
835  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
Quadro 1 - Apresentação dos sujeitos depoentes no Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura.  
Período  
Graduação/Local  
Nome  
Atuação  
Articulação política  
Miriam  
Calvalcanti  
1965-1968  
UERJ  
Estudante/Profissional  
Movimento Estudantil  
1968-1971  
Movimento Estudantil  
PCB/Movimento da  
Reforma Sanitária  
Maria Inês Bravo  
Universidade Gama Assistente Social na saúde  
Filho  
Ana Maria  
Vasconcelos  
1968-1972  
Movimento Estudantil  
Sindicato profissional  
Assistente Social na saúde  
UFF  
1977-1981  
UERJ  
1974-1978  
UNISUAM  
1982-1986  
UERJ  
Estudante/Professor  
UERJ  
Paulo Roberto  
Magali Almeida  
Ney Almeida  
Movimento de bairro  
Movimento  
Negro/CRESS  
Estudante/Profissional  
Estudante/Professor  
Movimento Estudantil  
Fonte: Elaboração própria da equipe de extensão, a partir dos depoimentos coletados em 2025.  
O quadro evidencia que o ingresso no curso de Serviço Social se deu em momentos  
distintos da ditadura, observamos que as três primeiras depoentes (Miriam Cavalcanti, Maria  
Inês Bravo e Ana Maria Vasconcelos) vivenciaram o período dos Atos Institucionais (AI) que  
foram utilizados como ferramenta de controle e centralização do poder. Já em abril de 1964 o  
AI nº 1 suspendeu os direitos políticos e legalizou o que ficou conhecido como “operação  
limpeza”, tendo como alvo possíveis opositores da ditadura nas instituições públicas e  
movimentos sociais, o que se tornou uma constante nos anos seguintes. Esse quadro foi  
agudizado com o AI nº 5, iniciando os “tempos de chumbo”, marcados pela suspensão do  
habeas corpus e pela perseguição violenta sob tutela do Estado. Por meio dos depoimentos,  
podemos verificar a dinâmica de repressão-resistência e a importância do movimento  
estudantil:  
836  
As reuniões eram meio clandestinas (1965), mais ou menos. A gente marcava  
encontro aqui por perto, e íamos subindo as rampas até o local da reunião, e  
às vezes acendendo fósforos. (...) Ajuventude tem uma vantagem, que sempre  
acredita que está imune, mesmo quando tem medo, ela é tão forte. (...) quem  
organizava essas reuniões era o Diretório Central dos Estudantes, a tarefa  
deles era identificar nas faculdades se haviam estudantes de esquerda para  
formar chapas para compor o Diretório (Miriam Cavalcanti, 2024).  
A repressão veio primeiro nas universidades públicas e depois nas  
universidades particulares. (...). Então, naquela época, as universidades  
particulares, Santa Úrsula, PUC-RJ, Gama Filho, tinham certa liberdade. Por  
exemplo, eu cheguei na Gama Filho no início de 68, tinha Centro Acadêmico,  
(...), eles não fecharam nem na PUC e nem na Gama Filho. Os outros Centros  
Acadêmicos estavam fechados nas outras universidades federais. Teve um  
movimento em 1968 muito importante, que contou com uma forte  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
mobilização dos estudantes, principalmente os estudantes das federais, que  
tinham fechado seus CEAs e seus DCEs e iam realizar o congresso de Ibiúna  
no segundo semestre de 68 (Maria Inês Bravo, 2024).  
A gente tinha medo de tudo, a gente tinha medo de falar, porque as pessoas  
estavam desaparecendo. A presidente do Centro Acadêmico (UFF),  
desapareceu e a gente não sabe para onde. A gente ia para as passeatas. A  
minha família, não deixava. Aí eu inventava, ia para estágio e ia para as  
passeatas. A gente levava panfleto e era aquela confusão, então a gente  
contestava dentro de sala e fora dela. Todas as pessoas que a gente conhecia  
participavam do movimento estudantil (Ana Maria Vasconcelos, 2024).  
Nas décadas de 1960 e 1970, a juventude assumiu um papel central, tornando-se  
protagonista de movimentos sociais mais impactantes do que os observados nas décadas  
anteriores. Mundialmente, fenômenos como os movimentos de contracultura e as lutas  
estudantis se disseminaram, posicionando a juventude como um agente de contestação radical  
da ordem política, cultural e moral vigente. Nesse cenário, o movimento estudantil ganhou força  
e se politizou intensamente, não apenas no Brasil, mas em escala global, alcançando inclusive  
os regimes socialistas (Menegozzo, 2016).  
Os depoimentos também retratam os efeitos do autoritarismo e violência  
institucionalizada, que, após o golpe civil-militar de abril de 1964, colocaram os estudantes e  
as lideranças estudantis como alvo de grande repressão e na clandestinidade. Por exemplo, a  
UNE, foi posta na ilegalidade e sua sede foi incendiada pelos militares. Também sofreram  
perseguição a União Estadual dos Estudantes (UEE) e os Diretórios Centrais dos Estudantes  
(DCEs) durante todo período ditatorial. Buarque (2008, p. 210) salienta que o golpe de 1964  
surpreendeu estudantes e artistas, desarticulando seus projetos de transformação social por  
confronto de classes. A UNE perdeu apoio e atuou em semiclandestinidade. A agressiva censura  
e outras consequências se impuseram após o Primeiro de Abril (Chaves, 2020).  
837  
As depoentes ressaltam o período de 1968, que foi marcado pela ampla e forte  
mobilização de artistas, intelectuais e estudantes contrários ao regime. Essa mobilização ecoou  
na passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, e no Congresso clandestino de Ibiúna, em São  
Paulo, promovido pela UNE, no qual o movimento estudantil do Serviço Social aderiu à tese  
militante da APML (Ação Popular Marxista Leninista). Esse segmento político defendia que o  
foco da formação deveria ser centrado na realidade brasileira e no modo de produção capitalista.  
Igualmente, argumentava na defesa dos direitos dos segmentos atingidos pela repressão militar  
e o compromisso com os trabalhadores (Abramides, 2016).  
Nos relatos destacados acima, com ênfase no de Ana Maria Vasconcelos, identificamos  
a intensa participação dos estudantes na construção das lutas diante de um cenário permeado  
pela contradição entre o medo da repressão e a vontade de enfrentar a bruta realidade posta. Na  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
mesma medida em que os estudantes se depararam com o trágico sumiço de companheiros de  
curso e a censura de entidades estudantis, também enxergavam a necessidade de se organizar e  
compor manifestações contra o regime militar. Também podemos observar que a posição crítica  
adotada por muitos estudantes de Serviço Social na época, se expressou em uma composição  
de muitos profissionais alinhados com um enfrentamento massivo ao conservadorismo, que  
tentava e tenta se renovar na categoria. Muitos dos sujeitos que estavam nos centros acadêmicos  
e nas frentes de luta agora são professores, assistentes sociais formados, que compartilham a  
memória viva como ferramenta de luta e resistência.  
Já os três assistentes sociais, Paulo Roberto, Magali Almeida e Ney Almeida,  
concluíram a formação no processo de distensão da ditadura e redemocratização. Para Serra  
(2009), a partir de 1975 houve mudança na profissão no sentido de pôr novas alternativas ao  
trabalho profissional vinculadas à tradição marxista. Também, nesse período, fundou-se os  
cursos de mestrado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tais cursos contribuíram na mudança  
crítica, na ação político-organizativa do Serviço Social. Concomitantemente, este período  
marca o início da crise do regime ditatorial com esgotamento do milagre econômico, que se  
intensificará até 1978. Ou seja, é nesse período que se evidencia na cena pública a retomada  
das lutas democráticas por diferentes movimentos sociais (trabalhadores, negros, mulheres) e  
por pautas que exigem democratização das estruturas institucionais em diversos campos sócio-  
ocupacionais.  
838  
No testemunho do professor Paulo Roberto, tornam-se evidentes indícios dessas  
transformações. Ele narra que, em 1978, a FSS/UERJ foi submetida a uma renovação do seu  
corpo docente e da matriz curricular do curso, o que, em sua análise, sinalizava a perspectiva  
de modernização e também uma convergência com o espectro progressista que se apontava no  
período.  
Além de alguma coisa tradicional, todos eles (os novos professores) já  
utilizavam a literatura da chamada reconceituação, então a gente via muito  
espanhol. O espanhol era uma língua normal da disciplina de todos esses  
professores. Eram produções do CELATS e da editora Humanitas da  
Argentina. [...]. Já se lia alguma coisa de Marx, por meio desses autores. [...]  
o método BH líamos uma edição bem precária, cópia do manuscrito, alguma  
coisa da Leila Lima Santos publicada pelo CELATS (Paulo Roberto, 2023).  
A turma de formandos de 1981, em um gesto de homenagem à cultura e à reflexão  
social, escolheu o nome "Operários em Construção", remetendo ao emblemático poema de  
Vinícius de Moraes. Essa escolha, por si só, carregava um significado de compromisso com a  
transformação e o trabalho contínuo, espelhando talvez a visão que os estudantes tinham de sua  
futura atuação profissional. Para paraninfo a turma elegeu o Professor Vicente Faleiros, uma  
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“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
figura certamente influente e respeitada no meio acadêmico, cuja presença endossava o espírito  
e os valores daquela coorte de formandos. Contudo, um dos momentos mais marcantes e  
representativos do clima da época ocorreu durante a cerimônia de formatura. Motivados por  
uma insatisfação com a natureza e o conteúdo do juramento oficial, os estudantes  
empreenderam a elaboração de uma nova versão do texto. Infelizmente, essa manifestação de  
autonomia e pensamento crítico foi abruptamente censurada. O texto alternativo, fruto da  
reflexão coletiva da turma, foi vetado e interrompido pelo vice-diretor quando seria lido  
publicamente. Este episódio não foi um evento isolado, mas sim um reflexo direto e incisivo  
do contexto político e institucional autoritário que permeava a academia naquele período. A  
censura exercida pelo vice-diretor era sintomática de uma estrutura de poder centralizada, na  
qual a autonomia universitária era severamente restringida. O fato de gestores e diretores serem  
nomeados diretamente pelo reitor e não eleitos pela comunidade acadêmica (professores,  
estudantes e técnicos) criava um ambiente onde a lealdade à hierarquia e o controle ideológico  
frequentemente se sobrepunham à liberdade de expressão e ao debate democrático. A  
intervenção na leitura do juramento alternativo serviu como um lembrete vívido das limitações  
impostas à livre manifestação dentro da própria universidade.  
Essa ambiência política de autoritarismo institucional teve um impacto significativo e  
catalisador no movimento estudantil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O  
descontentamento acumulado culminou na histórica greve dos estudantes de Serviço Social em  
1982, um marco de resistência dentro da universidade. Essa paralisação não foi um evento  
isolado, mas sim uma resposta direta e contundente às ações de cunho autoritário promovidas  
pela administração da época. A motivação central da greve foi a demissão sumária e  
injustificada de cinco importantes docentes do curso de Serviço Social: Alany Pinto Caldeira,  
Ana Maria de Vasconcelos, Maria Alice Correia, Maria Helena Rauta Ramos e Rose Mary  
Sousa Serra. É crucial destacar o perfil dessas professoras. Todas estavam profundamente  
envolvidas e eram militantes ativas no movimento de renovação crítica que, naquele período,  
se expandia e ganhava força no Serviço Social brasileiro. Essa corrente de pensamento  
propunha uma reorientação da profissão, rompendo com o conservadorismo e adotando uma  
perspectiva mais crítica, engajada e sintonizada com as demandas sociais e a luta por  
redemocratização do país. A demissão delas foi vista, portanto, como uma tentativa de cercear  
o debate e reprimir o pensamento crítico dentro da universidade. A adesão à greve foi ampla,  
demonstrando a solidariedade e o engajamento dos estudantes com a causa da renovação e  
contra o autoritarismo. O professor Ney Luiz de Almeida teve participação ativa e relevante  
nesse movimento grevista estudantil. A greve de 1982 na UERJ se consolidou, assim, como um  
839  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
importante episódio de luta pela democratização universitária e pela manutenção da autonomia  
de pensamento no Serviço Social.  
Eu comecei o curso em 1982 com 30 dias de início das aulas, o pessoal do  
centro acadêmico passou nas turmas falando que 5 professoras tinham sido  
demitidas [...] com 30 dias de aula não entendi muito bem, mas aquilo me  
incomodou. [...] E o fato mais marcante, é que um grupo conversou com a  
professora, que era a Ana Jacó, professora de psicologia. Falamos,  
“professora, nós estamos interessados em ir à reunião, aí ela respondeu, “é  
uma questão do curso de vocês, vão pedir autorização?! Vocês precisam  
decidir se vão ou não.” Então nós saímos da aula, em torno de 5 ou 6 alunos,  
a maior parte não saiu. E daí nos envolvemos nesse processo. Mas, 5 dias  
depois da Páscoa, quando a gente volta, a unidade está lacrada, porque o  
diretor já sabendo desse movimento destituiu as professoras e falou que iria  
fazer uma mudança no curso e que precisava de uns dias, contando que iria  
desmobilizar o movimento estudantil. [...]. Tínhamos militantes das frações  
políticas mais atuantes. Com o apoio também muito forte dos centros  
acadêmicos da geologia, da história, da química e alguns estudantes do direito.  
Então, inicialmente deflagramos uma greve por tempo indeterminado,  
tentamos negociar com o diretor, mas não houve acordo, então essa greve se  
estendeu por 35 dias. Foi a primeira greve a parar a UERJ de fato. Essa greve  
acabou tendo condições de retomar o processo de contratação das professoras,  
com exceção de uma, a professora Rose Serra, porque era substituta (Ney L.  
de Almeida, 2023).  
A greve estudantil transbordou os muros institucionais da FSS-UERJ, desencadeando  
mobilizações que levaram a uma greve geral dos estudantes na UERJ em apoio às demandas  
dos discentes do Serviço Social. Além disso, a greve estudantil estreitou seus vínculos com a  
organização sindical da categoria e desencadeou a criação do currículo de 1985, balizado em  
pressupostos teóricos da tradição marxista na formação da FSS-UERJ (Cislaghi; Brandt, 2014).  
Evidencia-se que o contexto político de mobilização pela democratização da universidade e do  
país forjaram o processo de revisão curricular e debate em torno do projeto de formação na  
FSS/UERJ. O depoente afirmou ainda que esse processo político da década de 1980 marcou  
profundamente a forma como as eleições internas são realizadas até o tempo presente na  
unidade, prezando pela paridade e ampla participação, ou seja, transformou-se numa cultura  
política. Essa experiência histórica de mobilização dos estudantes da FSS/UERJ reflete a  
reconstrução institucional do movimento estudantil, que se deu no contexto de uma onda de  
protestos em 1977 e culminou com a refundação da UNE, em 1979. Essa conjuntura permitiu  
ao movimento estudantil alcançar significativa visibilidade e ser reconhecido como uma força  
relevante no processo de abertura política (Menegozzo, 2016).  
840  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
O depoimento da Professora Magali Almeida enfatiza o Movimento Negro no Rio de  
Janeiro e a sua participação no Movimento Black Rio, que promoviam bailes dos ritmos  
predominante soul11. Conforme Pedretti (2022, p. 12):  
Não é uma coincidência que os bailes soul tenham surgido na mesma época  
em que nascia o chamado Movimento Negro Contemporâneo, ou dos Anos  
70, que apresentava dois pontos principais em sua agenda: a denúncia, como  
farsa, do mito da “democracia racial” e a construção de uma identidade negra  
positiva, baseada na afirmação da história e da cultura da África e da Diáspora  
Africana, e também na valorização do fenótipo negro. E os bailes soul, com a  
promoção de uma estética afro, deram sua contribuição importante a esse  
processo.  
Conforme o depoimento da professora Magali da Silva Almeida, enquanto mulher negra  
e uma das protagonistas do debate étnico racial, em seus relatos presentes no ciclo podemos  
observar memórias subterrâneas, definidas por Pollak (1989) como as memórias enterradas  
pelos vitoriosos na disputa de narrativas. Ou seja, a partir da dominação capitalista, a memória  
hegemônica promove um apagamento das vivências e lutas das minorias implementando um  
consenso de memória coletiva acerca de momentos históricos, que enterra os grupos sociais  
oprimidos pela coerção no esquecimento. Um exemplo disso é o silêncio disseminado sobre os  
bailes black no Brasil, que surgiram como uma das principais formas de organização negra no  
século XX e despontaram na formação do MNU (Movimento Negro Unificado), ocupando  
papel central como espaço de fortalecimento e reafirmação do que é ser negro, da construção  
da autoestima e carregando o slogan “negro é lindo”.  
841  
Entendemos que a depoente revive sua memória nesses bailes como parte de sua  
formação política, nos é permitido olhar para a história de outra forma, enxergando essa  
manifestação cultural também enquanto manifestação política e teórica do Movimento Negro,  
pois nas palavras dela “a gente lutava, dançava, mas também formulava”.  
Juntamente a esse desenterrar da memória, que nos fornece novos elementos para  
análise da história, o depoimento volta o nosso olhar para o fortalecimento do mito da  
democracia racial durante a ditadura, que como ideologia impregnada na sociedade, também se  
fez presente nos movimentos sociais e no Serviço Social. Ela relata como um momento em que  
os avanços travados no campo teórico no que diz respeito à questão étnico racial, foram  
cessados pela censura, perseguição de pesquisadores e movimentos que levantaram o debate  
nas ciências sociais, trazendo o exemplo de Clóvis Moura e a perseguição policial sofrida pelo  
autor, que tinha o racismo e o escravismo enquanto categorias centrais da sua obra. Além disso,  
11  
O surgimento do soul vincula-se ao milagre econômico e ao avanço da chamada indústria cultural. Os bailes  
ganharam destaque e passaram a chamar atenção das gravadoras, que logo perceberam o potencial comercial  
daquele público de milhares de jovens (Pedretti, 2022).  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
no que diz respeito à construção teórica da professora, foi relatado acerca das leituras  
clandestinas que ela teve contato durante a graduação, visto que não se falava abertamente sobre  
reconceituação e movimentos sociais em sua universidade.  
Para Magali Almeida (2024), “a ditadura fez um estrago ao impedir de lembrar quem  
somos nós” enquanto povo negro, o que ao mesmo tempo que dificultou a organização da luta  
coletiva, fez gritar a necessidade de construção de um movimento negro unificado, concretizado  
nos anos 1980. O efervescer dessa organização trouxe mudanças diretas para o Serviço Social,  
que passava pelo seu momento de renovação crítica no Brasil. Das contribuições identificadas  
no ciclo, podemos pontuar a movimentação pela integração da categoria na organização da  
marcha contra a farsa da abolição, em que Magali atuou na posição de coordenadora do CRAS  
(Conselho Regional de Assistentes Sociais), atual CRESS. Além disso, tem-se o início de um  
coletivo negro no Serviço Social, fomentado principalmente no eixo Rio-São Paulo, em que  
Magali e outras assistentes sociais negras fomentaram a publicação de artigos debatendo o  
racismo.  
Ainda é interessante observar a importância da cultura para os depoentes, vejamos  
alguns exemplos ilustrativos:  
[...]. Diante desse processo de ofensiva moral, intelectual que o racismo  
propõe, eu acho que a classe trabalhadora -que o Clóvis Moura vai falar disso-  
, o que resta para nós é a cultura. Acultura é quem vai nos alimentar a memória  
de referências positivas, de beleza. Eu trouxe essa foto dos anos 70, que  
mesmo a ditadura matando, a galera dançava, e dançava muito (Magali  
Almeida, 2024).  
842  
Na faculdade, no primeiro ano que entramos, tínhamos uma fantasia, muito  
inspirada no que eram nos filmes americanos, como no filme “Juventude  
Transviada12”, tinha-se essa ideia, o que podia parecer ser meio estranho  
estando numa Ditadura (Miriam Cavalcante, 2024).  
Olha aqui, quer dizer, em outubro, você tem o Congresso de Ibiúna. Em  
setembro, você tem o Festival da Canção13. Esse festival, o terceiro, foi o mais  
importante na época. Porque os festivais foram importantes, foram todos eles,  
quer dizer, Gil, Caetano, Chico, Edu Lobo, enfim. Então, todos esses foram  
fundamentais e cresceram, e apareceram. Realmente, foi fundamental para os  
festivais (Maria Inês Bravo, 2024).  
12  
O filme aborda a busca por identidade e o confronto com as normas sociais, ele se tornou um símbolo da  
adolescência e da rebeldia, além disso, o protagonista representa a frustração e o questionamento dos jovens em  
relação às figuras de autoridade, como seus pais.  
13 O Festival Internacional da Canção (FIC), promovido pela TV Globo de 1966 a 1972, teve seu evento de 1968  
(III FIC) como crucial para a MPB. Além de lançar artistas e obras, esse festival refletiu a complexa situação  
política e cultural do país, destacando-se o lançamento de "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", de Geraldo  
Vandré, hino da juventude contra a ditadura.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
música (Ney Almeida, 2023).  
Com base nos relatos dos/as depoentes, observamos a ocorrência de um processo de  
radicalização da cultura ao longo das diferentes conjunturas, conforme a análise de Acosta  
(2008), que considera a "cultura radical" resultante da articulação entre a ascensão da classe  
operária e as posições de outras camadas sociais, como as classes médias e os intelectuais. Estes  
últimos são cruciais como mediadores para a consolidação do "bloco histórico". Paralelamente,  
as transformações técnico-materiais na produção industrial, impulsionadas pela  
financeirização, reconfiguraram as relações entre trabalho manual e intelectual na geração de  
valor, o que, por sua vez, redefiniu as relações entre as esferas econômica e político-cultural.  
Além disso, Acosta (2008) salienta que, no Serviço Social, seus desdobramentos se  
manifestaram na renovação profissional como uma refração na cultura profissional. Este  
processo vincula-se à luta da classe trabalhadora pela direção intelectual e moral do conjunto  
da sociedade, angariando a adesão das camadas médias para seu campo e, com elas, a dos  
intelectuais. Ademais, essa manifestação na renovação profissional assumiu suas formas mais  
radicalizadas na América Latina sob a denominação de Movimento de Reconceituação.  
Segundo Duriguetto et al. (2021), o "Método de BH" (1969-1975) na Escola de Serviço  
Social de Belo Horizonte, ligado à Reconceituação, baseou-se na resistência à ditadura,  
alinhando o Serviço Social aos interesses das classes subalternas. Devido às condições  
ditatoriais e correlação de forças desfavorável, a experiência mineira permaneceu isolada e  
minoritária, sendo resgatada no final dos anos de 1970, com a reinserção do movimento das  
classes trabalhadoras.  
843  
Em suma, os depoimentos analisados, abrangendo diversos períodos e militâncias  
políticas, evidenciaram a dinâmica de repressão e resistência característica do período da  
ditadura. Destaca-se a importância da organização estudantil como elemento articulador com  
as lutas pela democracia e na formação profissional em um sentido mais amplo. Conclui-se que,  
apesar das contradições de realidade imporem limites aos indivíduos, elas também fornecem os  
recursos necessários para o avanço das lutas sociais.  
Tempo rei”: considerações finais  
Não me iludo  
Tudo permanecerá do jeito  
Que tem sido  
Transcorrendo  
Transformando  
Tempo e espaço navegando todos os sentidos  
(Tempo Rei Gilberto Gil, 1983)  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
A análise dos depoimentos permitiu constatar a relevância da militância estudantil na  
formação política dos assistentes sociais. O movimento estudantil, ao se configurar como um  
elo entre as lutas democráticas e a comunidade universitária, deflagrou um intenso processo de  
politização na formação profissional com refrações no exercício profissional. Tal politização  
manifestava-se na denúncia da violência e da censura estatal, bem como na atenção às  
demandas das classes trabalhadoras. Os relatos evidenciam uma juventude engajada em  
diversas frentes de lutas, incluindo entidades estudantis, o movimento negro e movimentos  
culturais.  
Nos depoimentos de Miriam Cavalcante (2024) e Ana Maria Vasconcelos (2024),  
observamos o enfrentamento da clandestinidade por jovens que integravam espaços de  
organização e reuniões da juventude de esquerda. Em meio à repressão, estes se sentiam aptos  
a formular proposições e empreender lutas coletivas, reiterando a relevância das entidades  
estudantis na articulação da organização da classe trabalhadora no âmbito universitário, sendo  
a disputa pelo Diretório Central dos Estudantes o principal foco.  
Já na apresentação pública de Maria Inês Bravo (2024), por sua vez, ressalta-se a  
importância da articulação latino-americana no período em que o Serviço Social passava pelo  
Movimento de Reconceituação. Enquanto estudante e, posteriormente, assistente social e  
docente, Bravo dedicou-se à participação em instâncias como conselhos universitários, reuniões  
e congressos da categoria. Outro ponto relevante em suas manifestações é a distinção na forma  
como a ditadura se manifestou nas universidades públicas em comparação com as universidades  
privadas (exemplificando sua faculdade situada na Universidade Gama Filho), indicando que  
dinâmicas distintas de repressão e resistência, consequentemente, repercutindo na organização  
das lutas democráticas, ocorreu primeiramente nas instituições públicas. O depoimento da  
professora Magali Almeida (2024) resgatou memórias de sua juventude enquanto estudante  
negra que sentiu a repressão e resistiu à censura se movendo contra o que era estabelecido como  
lugar do negro a partir do mito da democracia racial. Os bailes blacks foram destacados como  
espaços de formação e resistência, construindo parte do seu arcabouço político para  
posteriormente ocupar espaços deliberativos da profissão, como o (CRESS), levando a  
discussão das relações étnico raciais no momento de redemocratização.  
844  
Finalmente, nos relatos dos ex-alunos da UERJ e, posteriormente, docentes, Paulo  
Roberto (2023) e Ney Almeida (2023), é possível constatar a aproximação do Serviço Social  
da unidade com o arcabouço teórico que fundamentou a renovação crítica da profissão. Tais  
depoimentos permitiram a análise de elementos que compõem o contexto da greve de 1982 e a  
dimensão da luta estudantil na FSS-UERJ, que vivenciou a demissão e perseguição de diversos  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
“Ainda estou aqui”: análise do Ciclo de Memórias do Serviço Social na Ditadura  
estudantes e professores durante a distensão democrática na década de 1980, evidenciando que  
a resposta discente se baseou na organização coletiva e no diálogo do Serviço Social com outras  
unidades curriculares da universidade.  
Analisando os relatos, observamos que o compartilhamento da memória por parte dos  
entrevistados estabeleceu uma importante relação dialética entre passado e presente, visto que  
ao realizarem a reflexão sobre esse fio temporal de onde vieram, até o momento e espaços que  
compõem agora, permitiram uma visualização dos ouvintes sobre elementos que constituem a  
posição crítica da categoria até os dias atuais. De forma geral, fica elucidado os desafios vividos  
pelo Serviço Social frente a efervescência dos movimentos sociais e lutas coletivas,  
demonstrando que, apesar dos desafios, a escolha desses estudantes por pautarem o  
enfrentamento ao regime nos permitiu, durante a construção deste projeto, ter o contato com  
relatos de profissionais que assumiram um compromisso com o lado crítico da história.  
Entre os resultados alcançados pelo projeto, temos as contribuições no adensamento do  
ensino em Fundamentos Históricos Metodológicos do Serviço Social, utilizando a memória  
profissional enquanto um recurso pedagógico de sensibilização da consciência histórica junto  
à comunidade acadêmica. Nesse processo, os discentes envolvidos com o projeto puderam ter  
um contato direto com relatos que ultrapassam os limites das salas de aula, proporcionando uma  
experiência dialética importante para formação, que despertou o interesse sobre a temática,  
tanto dos fundamentos, quando da memória, se tornando objeto de pesquisa de alunos  
envolvidos.  
845  
Além disso, a experiência com o tratamento da memória também foi uma importante  
capacitação trazida pelo ciclo de debates, que em todos os momentos de coleta de relatos, tornou  
a exposição coletiva e aberta ao público, possibilitando que a extensão fizesse seu papel de  
contato entre a universidade e a sociedade civil, buscando fomentar uma “UERJ sem muros”.  
Por fim, em tempos de ascensão do conservadorismo e tentativas constantes da extrema  
direita de construir uma narrativa favorável aos horrores da ditadura, espaços como o ciclo de  
debates reafirmam o enfrentamento crítico assumido pelo serviço social e pelas universidades  
públicas. A memória é ferramenta fundamental para construção da história e ao valorizar a  
memória oral enquanto instrumento de análise, temos como resultado a materialização do  
legado de luta de assistentes sociais que vivenciaram ativamente esse momento chave para toda  
categoria.  
Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira  
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