Graziela Scheffer; Karla da Silva Apolinario; Sara Beatriz Silva de Oliveira
imperiosa de uma “cultura popular” em confronto com as expressões artísticas vigentes
(Berlinck, 1984, p. 05). Nesse período, houve avanço das práticas de cultura popular e
alfabetização no Rio de Janeiro pela Campanha de Alfabetização da UNE e pelo Plano Nacional
de Alfabetização, com implantação iniciada na Baixada Fluminense. Também, enquanto antiga
capital do país, abrigou importantes segmentos da intelectualidade, das artes e do movimento
estudantil8 da UNE.
Em 1962 foi criada a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESS),
vinculada à UNE9. No Serviço Social brasileiro, a militância estudantil se devolveu por meio
das organizações católicas, muitas vezes marcada pela trajetória de participação ainda no ensino
secundarista na Ação Católica (JEC - Juventude Estudantil Católica). De modo que ao se inserir
no ambiente universitário, ingressaram na Juventude Universitária Católica (JUC).
Conforme Becker (2021), no contexto do Serviço Social brasileiro, a JUC continuava
seu trabalho de militância e formulação teórica (consciência histórica, responsabilidade política
e transformação social). Discutiam a possibilidade de reformas profundas ou até mesmo uma
revolução no Brasil, indo além do Governo Federal. O Evangelho era reinterpretado: Cristo,
além de santo, era um revolucionário, sacrificado por seus ideais de justiça e distribuição de
riquezas. Devido à necessidade de assumir uma posição política mais livre da Igreja Católica,
um grupo significativo de militantes, sobretudo no movimento estudantil, criou a Ação
Popular10 (AP), um movimento independente da Ação Católica. Para Ridenti (1998) a história
da AP foi marcada pelo seu romantismo revolucionário – romantismo entendido como "uma
crítica da modernidade, isto é, da civilização capitalista moderna, em nome de valores e ideais
do passado. O romantismo revolucionário se caracterizava por uma busca de instaurar um futuro
novo, no qual a humanidade estaria guiada por qualidades e valores de comunidade, gratuidade,
doação, harmonia com a natureza, trabalho como arte, encantamento da vida; apostando numa
utopia anticapitalista alicerçada no passado. Atrelado a esses aspectos, o romantismo
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Para Netto (2015), as bases sociopolíticas que impulsionaram a erosão do Serviço Social tradicional e
conservador na virada crítica foram: 1) as atividades relacionadas ao Desenvolvimento de Comunidade; 2)
mudança crítica na Igreja Católica; 3) aproximação com concepções progressistas das ciências sociais; 4)
Movimento Estudantil articulado as lutas e movimentos sociais da época.
9 Alves (2022, p. 15) em sua pesquisa sobre as resistências das mulheres do Serviço Social na ditadura aponta que
foi neste contexto histórico que estudantes, profissionais e/ou docentes de Serviço Social, inseridos na luta política,
sofreram violações de direitos e violências. Em 1960, houve um amadurecimento da crítica profissional ao
conservadorismo e seus compromissos de classe, contudo foi reprimida pelo terrorismo do Estado. No período de
1960-1963 representou, um período de gestação da consciência nacional-popular e de engajamento de amplas
camadas sociais na luta pelas reformas de estrutura, bem como processos de conscientização e politização de
operários, camponeses, estudantes e intelectuais (Ammann, 2003).
10
A trajetória da Ação Popular (AP), do cristianismo da Ação Católica no final dos anos 50 e início dos 60,
passando pela influência guevarista, até a adesão ao maoísmo, em 1968, e sua dissolução no início da década de
80.
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 827-847, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518