Elementos para pensar o trabalho profissional  
de assistentes sociais pela perspectiva da  
totalidade social  
Elements for thinking about the professional work  
of social workers from the perspective of social totality  
Lorena Ferreira Portes*  
Melissa Ferreira Portes**  
Evelyn Secco Faquin***  
Resumo: Este artigo é resultado de trajetória  
profissional e acadêmica de docentes da área da  
formação e do trabalho profissional em Serviço  
Social. A partir de uma revisão bibliográfica,  
objetiva-se contribuir, à luz da totalidade social,  
com as discussões sobre a problemática do  
Abstract: This article is the result of the  
professional and academic trajectories of  
professors in the field of training and  
professional work in Social Work. Based on a  
literature review, the aim is to contribute, in  
light of the social totality, to discussions on the  
problems of professional work, highlighting the  
understanding of social policies as a mediating  
field for the work of social workers and the  
necessary distinction and mediation between  
social policy objectives and professional  
objectives; and addressing the practicist trait  
that leads to the way we understand work and  
plan professional actions. To this end, a  
dialogical, educational, and ongoing training  
approach is necessary, not exclusively. This  
approach will not be an individual endeavor, but  
requires the strengthening of collective debates,  
the political reorganization of the professional  
category, and an intense process of professional  
qualification.  
trabalho  
profissional,  
destacando  
a
compreensão das políticas sociais como campo  
mediador do trabalho de assistentes sociais e a  
necessária distinção e mediação entre objetivos  
das políticas sociais e objetivos profissionais; e  
o enfrentamento do traço praticista que  
desemboca na forma de compreender o trabalho  
e planejar as ações profissionais. Para tanto, é  
necessária, não exclusivamente, uma postura  
dialógica, educativa e de formação permanente.  
Esse enfrentamento não será obra individual e  
requer o fortalecimento dos debates coletivos,  
da reorganização política da categoria  
profissional  
e
de intenso processo de  
qualificação profissional.  
Palavras-chaves: Serviço Social; Trabalho  
profissional; Totalidade social; Objetivos  
profissionais; Praticismo.  
Keywords: Social Work; Professional Work;  
Social Totality; Professional Objectives;  
Practicality.  
* Universidade Estadual de Londrina. E-mail: lorenafportes@gmail.com  
** Universidade Estadual de Londrina. E-mail: melissaportes2010@gmail.com  
*** Universidade Estadual de Londrina. E-mail: evelynsecco@uel.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.49629  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 29/07/2025  
Aprovado em: 08/12/2025  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
Introdução  
O temário proposto para esta edição da revista Libertas sobre os fundamentos históricos,  
teórico-metodológicos e ético-políticos do Serviço Social no Brasil e em outros países assume  
extrema relevância diante do contexto econômico, político, social e ambiental no qual o mundo  
se encontra na atualidade. A lógica do capital e seu interesse por uma reprodução ampliada  
acometem os mais diversificados campos da vida social. Como uma das expressões dessa lógica  
perversa, exploradora e opressora, encontra-se o massacre de trabalhadores com uma política  
regressiva de direitos sociais, de intensificação e precarização das condições de trabalho, de  
afrouxamento dos direitos trabalhistas e flexibilização das regulamentações até então vigentes.  
Ao lado desse massacre, como mais um dos ataques do presente, tem-se uma política de  
devastação ambiental. Enquanto vendedores/as da sua força de trabalho, portanto, investidos/as  
pelo estatuto de assalariamento e do subjugo decorrente, os/as assistentes sociais não devem  
ficar alheios/as às transformações societárias em curso, às alterações acarretadas nas políticas  
sociais e no mercado de trabalho, que impactam o trabalho profissional e as condições de  
trabalho dos/as profissionais de Serviço Social.  
A atenção para as demandas e requisições do momento histórico em que vivemos, seja  
da sociedade de uma maneira mais ampla, seja nos âmbitos da formação e do trabalho  
profissional, exige um conjunto de conhecimentos teóricos, políticos e técnicos que,  
articulados, processados, mediados e reafirmados, podem contribuir para uma análise mais rica,  
crítica e aprofundada da realidade social e profissional, bem como apontar caminhos e  
estratégias para aprimorar e redirecionar a intervenção profissional nos distintos espaços sócio-  
ocupacionais em que se encontram os/as assistentes sociais no Brasil.  
574  
Por isso, a ênfase no debate dos fundamentos da profissão é tarefa premente e coloca-  
se como um desafio necessário. Assim, este artigo tem a finalidade de reforçar o debate sobre  
a problemática do trabalho profissional, enfatizando a sua fundamental apreensão pela  
perspectiva da totalidade social, resistindo a análises fragmentadas, idealistas e endogenistas,  
rechaçando uma postura presa ao imediatismo, meramente instrumental e “supostamente”  
técnica do trabalho profissional.  
Partindo da trajetória profissional e acadêmica das autoras, na docência na graduação e  
na pós-graduação na área do Serviço Social, considerando coordenação e participação em  
projetos de ensino e pesquisa sobre a formação e o trabalho profissional, desenvolvimento de  
cursos de capacitação e aprimoramento profissional para assistentes sociais, supervisores/as de  
campo, disciplinas ministradas, orientações de trabalho de conclusão de curso, iniciação  
científica, mestrado e doutorado, acompanhamento de estágios supervisionados, entre outras  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
atribuições, apresentamos uma síntese das reflexões construídas durante o percurso profissional  
e formativo, buscando elucidar questões que perpassam dois elementos considerados fulcrais,  
quais sejam: a) a compreensão das políticas sociais como campo mediador do trabalho de  
assistentes sociais e a necessária particularidade e mediação entre objetivos das políticas sociais  
e objetivos profissionais; b) o enfrentamento de um traço ainda pertinente no trabalho de  
assistentes sociais que reforça uma herança praticista e empirista, desembocando na forma de  
compreender o trabalho e planejar as ações profissionais.  
Em relação aos procedimentos metodológicos, o artigo é de natureza qualitativa  
utilizando-se da revisão de bibliográfica. Para a revisão, contamos com autores/as que são  
consideradas/os de relevância no debate e que possuem larga trajetória em suas pesquisas e  
problematizações sobre a temática em questão. Esse recurso metodológico é essencial, tendo  
em vista a pesquisa ser um trabalho de construção e reconstrução que se fundamenta em “[...]  
uma linguagem baseada em conceitos, proposições, hipóteses, métodos e técnicas, [...] processo  
de trabalho em espiral” (Minayo, 2009, p. 26). Nesse sentido, Lima e Mioto (2007, p. 40)  
indicam a necessidade de revisão crítica dos conceitos já existentes “[...] a fim de que sejam  
incorporados ou superados criticamente pelo pesquisador”. O artigo está divido em duas  
seções, seguidas das considerações finais. A primeira busca analisar o trabalho de assistentes  
sociais a partir da categoria totalidade social e a segunda busca problematizar continuísmos e  
enfrentamentos urgentes do trabalho profissional.  
575  
Analisando o trabalho dos/as assistentes sociais à luz da totalidade social  
A compreensão do trabalho dos/as assistentes sociais brasileiros/as, na segunda década  
do século XXI, requer retomar premissas analíticas fundamentais que não recaiam em aspectos  
endogenistas, idealistas e fragmentados da realidade, mas que percorram um caminho à luz da  
totalidade social. Sendo assim, a análise calcada na crítica da economia política é condição  
basilar.  
Em tempos de renúncia da totalidade social condenada como totalitarismo, de rechaço  
à universalidade em prol de localismos e particularismos, de negação da classe social pela  
substituição de novos sujeitos coletivos, a demarcação do debate sobre o trabalho profissional,  
situado histórica, política e economicamente, é elemento urgente e contundente contra  
tendências epistemológicas e idealistas que teimam em ignorar e negligenciar (teórica e  
politicamente) a explicitação das contradições sociais oriundas do modo de produção  
capitalista, escamoteando o fato de que são produtos das relações de produção e reprodução  
capitalistas. Assim, a apreensão da categoria trabalho é despida das múltiplas determinações  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
que se interpõem na produção material e no conjunto das totalidades que compõe os diferentes  
momentos da vida social.  
Estas tendências expressam-se em um conjunto muito diversificado e heterogêneo, mas  
que, ao final, colocam-se como respostas à considerada crise da modernidade, buscando  
explicar as transformações societárias no campo econômico, político e social, como  
desdobramentos de um novo tempo, ou melhor, de um novo espírito do tempo. Encontra-se  
nesse largo leque de tendências, o pensamento pós-moderno que dirige suas críticas, sobretudo,  
ao legado marxiano e à anulação de possibilidades revolucionárias e emancipatórias. Ao negar  
a crítica da economia política elaborada por Marx e Engels, os pós-modernos negam a história  
e as lutas de classes. Pleiteiam o fim da sociedade industrial, o fim das classes sociais e a morte  
do marxismo (o que não se coloca como novidade).  
Na contramão dessa direção, buscamos compreender e problematizar o trabalho, em  
especial o trabalho realizado por assistentes sociais, na perspectiva da totalidade social. A teoria  
social crítica de Marx, tendo “O Capital” como sua obra síntese e madura, é construída a partir  
de uma intepretação da realidade pelo prisma da totalidade social. O que isso quer dizer? Ao ter  
por objeto de investigação o modo de produção capitalista, Marx elucidou os fundamentos que  
sustentam essa relação social e histórica, contraditória e passível de transformações. Desvendou  
a lei econômica da sociedade burguesa, ou seja, “as leis do nascimento, desenvolvimento e  
morte do modo de produção capitalista” (Gorender, 2013, p. 36).  
576  
Compreender como a sociedade está estruturada, como, a partir da produção social, se  
ergue um aparato político, ideológico e jurídico, requer uma análise das múltiplas  
determinações que incidem sobre o real. Dessa maneira, para que possamos entender de forma  
aprofundada e mais próxima do real as transformações sociais, econômicas e políticas que  
demarcam os tempos atuais, é preciso partir de uma análise que privilegie o conjunto de  
determinações que estão embutidas na realidade concreta, condenando explicações  
deterministas e economicistas, mas, também, explicações idealistas, especulativas,  
reducionistas e fragmentadas.  
Valemo-nos das ponderações feitas por Netto (2011a), ao enfatizar que, para Marx, a  
sociedade burguesa é uma totalidade concreta. Não é um todo constituído por partes que são  
integradas funcionalmente. É uma totalidade concreta, inclusiva e macroscópica, de máxima  
complexidade, constituída por totalidades de menor complexidade. Como há totalidades mais  
determinantes que outras, cabe analisar cada um dos complexos constitutivos das totalidades,  
esclarecendo as tendências operantes em cada uma das totalidades, que são articuladas.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
Portanto, abarcar uma análise pela totalidade social implica em considerar as contradições  
presentes nesse conjunto de complexos de totalidades.  
O real é constituído por uma totalidade prenhe de determinações que não se dão a  
conhecer de modo imediato. Essa totalidade é conectada por totalidades menos complexas, ou  
como explicou Lukács, a totalidade social é um complexo que implica em um conjunto  
articulado de complexos, quer dizer, um complexo de complexos. Nas palavras do autor, “todo  
‘elemento’, toda parte, é também aqui um todo; o ‘elemento’ é sempre um complexo com  
propriedades concretas, qualitativamente específicas, um complexo de forças e relações  
diversas que agem em conjunto”. No entanto, pontua Lukács, “essa complexidade não elimina  
o caráter de ‘elemento’: as autênticas categorias econômicas são – precisamente em sua  
complexidade e processualidade, cada uma a seu modo e cada uma em seu posto – algo  
efetivamente ‘último’, algo que ainda pode ser analisado, mas não ulteriormente decomposto  
na realidade” (Lukács, 2012, p. 307).  
Diante desses apontamentos, reforçamos que a sociedade burguesa – como uma  
totalidade concreta – impõe um caminho investigativo que deve considerar a totalidade não  
como uma soma de partes isoladas e fragmentadas, mas como um todo orgânico e articulado,  
reconhecendo que as totalidades menos complexas não devem ser consideradas simples. O que  
deve ser reconhecido é a distinção em relação ao grau de complexidade e como se evidenciam  
as articulações e mediações com o “momento predominante” que podem resultar, como em  
relações subordinantes e/ou subordinadas.  
577  
Aqui é preciso enfatizar que esse “momento predominante”, permeado por contradições  
e mediações, não exclui ou desconsidera os elementos menos complexos, pois estes compõem  
a realidade concreta. É somente o conhecimento dessas conexões que permitirá uma apreensão  
concreta da realidade concreta. Chasin, citado por Tonet (2016, p. 143), é contundente ao  
afirmar que “o conceito de totalidade é absolutamente decisivo”, pois, “em última análise o  
método dialético é a pretensão de reproduzir na cabeça a totalidade do objeto inquirido. E do  
ponto de vista da dialética só a totalidade contém e revela a verdade. Fora da totalidade não há  
verdade” (Chasin apud Tonet, 2016, p. 143).  
Sendo assim, é preciso distinguir o que é da ordem do pensamento e o que é da ordem  
do real. A realidade é rica, pois é constituída por múltiplas determinações, por uma riqueza  
categorial que lhe é inerente. Assim, para construir o caminho de apropriação dessas múltiplas  
determinações, é preciso um movimento de abstração dessa realidade. O exercício intelectivo  
é fundamental para que se possa captar a lógica do real, sua totalidade concreta, saltando da  
imediaticidade, da aparência fenomênica para alcançar a verdade. Para isso, é preciso desvendar  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
o processo histórico e social que deu origem aos fatos que compõem a realidade e explicitar as  
relações entre os processos ocorrentes em cada totalidade constitutiva da sociedade na sua  
pluralidade e diversidade, partindo da totalidade macroscópica que é a sociedade burguesa.  
Como explicou Marx, no texto Introdução, de 1857,  
o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, portanto,  
unidade da diversidade. Por essa razão, o concreto aparece no pensamento  
como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida efetivo  
e, em consequência, também o ponto de partida da intuição e da representação  
(Marx, 2011, p. 54).  
O autor continua reforçando que, “na primeira via, a representação plena foi volatizada  
em uma determinação abstrata; na segunda, as determinações abstratas levam à reprodução do  
concreto por meio do pensamento” (Marx, 2011, p. 54). Portanto, o real não é resultado do  
pensamento, do movimento da abstração em si, pois o “método de ascender do abstrato ao  
concreto é somente o modo do pensamento de apropriar-se do concreto, de reproduzi-lo como  
um concreto mental. Mas de forma alguma é o processo de gênese do próprio concreto”. Nessa  
perspectiva, Marx afirma que  
o todo como um todo de pensamentos, tal como aparece na cabeça, é um  
produto da cabeça pensante que se apropria do mundo do único modo que lhe  
é possível, um modo que é diferente de sua apropriação artística, religiosa e  
prático-mental. O sujeito real, como antes, continua a existir em sua  
autonomia fora da cabeça [...]. Por isso, também no método teórico o sujeito,  
a sociedade, tem de estar continuamente presente como pressuposto da  
representação (Marx, 2011, p. 55).  
578  
Toda essa exposição é para defender o que Marx explicou sobre a totalidade concreta –  
a moderna sociedade burguesa. Diz Marx que, “como em geral em toda ciência histórica e  
social, no curso das categorias econômicas é preciso ter presente que o sujeito, aqui a moderna  
sociedade burguesa, é dado tanto na realidade como na cabeça” (Marx, 2011, p. 59). Afirma,  
ainda, que “as categorias expressam formas de ser, determinações de existência” (Marx, 2011,  
p. 59). Para não falsear a realidade, é preciso considerar que, “em todas as formas de sociedade,  
é uma determinada produção e suas correspondentes relações que estabelecem a posição e a  
influência das demais produções e suas respectivas relações”. Dessa forma, é “uma iluminação  
universal em que todas as demais cores estão imersas e que as modifica em sua particularidade.  
É um éter particular que determina o peso específico de toda existência que nele se manifesta”  
(Marx, 2011, p. 59).  
No movimento de perseguir as múltiplas determinações que incidem sobre o real, é  
preciso compreender que só se atinge tal finalidade – de modo aproximativo – considerando  
que as mediações existem no próprio real. Isso quer dizer que a categoria da mediação é  
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constitutiva do real, não sendo uma criação do sujeito que apreende a realidade. Nesse sentido,  
Netto (2011a, p. 57) explica que, no movimento de “descobrir as relações entre os processos  
ocorrentes nas totalidades constituídas tomadas na sua diversidade e entre elas e a totalidade  
inclusiva que é a sociedade burguesa”, é preciso enfatizar que “tais relações nunca são diretas;  
elas são mediadas não apenas pelos distintos níveis de complexidade, mas, sobretudo, pela  
estrutura peculiar de cada totalidade” (Netto, 2011a, p. 57). Assim, “sem os sistemas de  
mediação (internas e externas) que articulam tais totalidades, a totalidade concreta que é a  
sociedade burguesa seria uma totalidade indiferenciada – e a indiferenciação cancelaria o  
caráter do concreto, já determinado como ‘unidade na diversidade’” (Netto, 2011a, p. 57-58).  
A partir dessas considerações, retomamos o debate sobre o trabalho profissional de  
assistentes sociais. Primeiramente é preciso reforçar que, distante de uma análise corporativista  
e endógena da profissão, o debate sobre o Serviço Social situa-se no campo da produção e da  
reprodução social no modo de produção capitalista. O/A assistente social compõe o trabalho  
coletivo e abstrato, ocupando um determinado lugar na divisão social e técnica do trabalho. O  
estatuto de assalariamento impõe aos profissionais as exigências e requisições do mercado de  
trabalho e do Estado, orientadas pela dinâmica da luta de classes. Os/as assistentes sociais,  
assim como os/as demais trabalhadores/as, estão submetidos às interferências e incidências do  
assalariamento, às consequências da exploração do trabalho, da extração do mais-valor, da  
precarização e intensificação do trabalho, do ataque aos direitos trabalhistas, portanto, das  
condições materiais e objetivas que se interpõem na esfera do trabalho e que se estende às  
demais dimensões da vida social.  
579  
Diante do exposto, ressaltamos a importância da compreensão do trabalho dos/as  
assistentes sociais circunscrito à dinâmica da exploração e opressões capitalistas, enfatizando  
que apreender esse exercício profissional particular exige considerar as condições de trabalho  
dos/as profissionais.  
Ao tomar como problemática as condições de trabalho, ressalta-se que as relações  
sociais capitalistas de produção e reprodução social são condicionadas pela lógica da  
acumulação do capital. Tal lógica impõe determinadas condições e circunstâncias que visam à  
exploração cada vez mais ampliada da força de trabalho, seja pelo prolongamento da jornada  
de trabalho, seja pela intensificação do trabalho. Nos termos marxianos, produzindo mais-valor  
absoluto e mais-valor relativo. Considerando as lutas pela redução da jornada de trabalho e as  
limitações postas para seu aumento, Marx explica que se impõe um “dispêndio aumentado de  
trabalho, uma tensão maior da força de trabalho, um preenchimento mais denso dos poros do  
tempo de trabalho” (Marx, 2011, p. 482). Tem-se a imposição ao trabalhador de “uma  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
condensação do trabalho num grau que só pode ser atingido com uma jornada de trabalho mais  
curta” revelando que essa massa maior de trabalho num dado período de tempo é “uma  
quantidade maior de trabalho” (Marx, 2011, p. 482). Sendo assim, dentro de certos limites, “o  
que se perde em duração ganha-se no grau de esforço realizado” (Marx, 2011, p. 483).  
Enquanto trabalhador/a regido/a pelo estatuto de assalariamento, o/a assistente social  
fica sujeitado/a às modificações das legislações trabalhistas, fazendo com que suas condições e  
relações de trabalho também se alternem. As mudanças nas legislações trabalhistas, com  
destaque para as normativas e legislações que tratam da flexibilização e terceirização  
implementadas no Governo Temer, afetam toda a classe trabalhadora que precisa vender sua  
força de trabalho para sobreviver, mas chama-se a atenção para o fato de que são os/as  
trabalhadores/as que estão menos protegidos/as legalmente, os/as que mais são afetados/as por  
tais mudanças, agravando, ainda mais, a condição de precarização do seu trabalho.  
A/O assistente social trabalha no campo dos serviços e ainda que, majoritariamente,  
conforme pesquisa realizada pelo CFESS em 2022 sobre o perfil dos/as assistente sociais, a  
forma de ingresso desses/as profissionais no mercado de trabalho se dê, prioritariamente, por  
meio de concurso público, já é possível identificar novas formas de contratação, com destaque  
para o crescimento de seleções públicas simplificadas, cargos em comissão, pregão eletrônico,  
edital público, pejotização. Os dados da pesquisa revelam a diminuição da contratação por  
concurso público e o aumento de contratos precários, identificados como intermitentes e  
temporários.  
580  
Mas, afinal, o que pode ser entendido por trabalho precário?  
Alguns pesquisadores têm buscado, principalmente, a partir da década de 1990, apontar  
indicadores para analisar a precarização do trabalho no Brasil. Franco e Druck (2008) têm se  
destacado nesse sentido. Para as autoras, pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia  
(UFBA), o trabalho precário existe quando ele se materializa em condições inseguras, instáveis,  
frágeis, desprotegidas, com características de sazonalidade e temporalidade, fazendo com que  
o/a trabalhador/a tenha sua capacidade de resistência enfraquecida ou anulada.  
Para Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010), a precarização não pode ser entendida  
apenas como ausência de direitos formais ou vínculos empregatícios estáveis, mas como um  
processo multifacetado que envolve a intensificação do trabalho, a instabilidade contratual, a  
insegurança social, a degradação das condições de saúde e segurança no trabalho, além do  
enfraquecimento da identidade profissional e da capacidade de resistência coletiva. Nesse  
sentido, a precarização é vivida cotidianamente nos ambientes laborais e afeta também a  
subjetividade dos trabalhadores, produzindo sentimentos de medo, competição e isolamento.  
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Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
Druck (2011), por sua vez, enfatiza que a precarização é um projeto político articulado  
ao processo de acumulação capitalista, que busca reduzir custos com trabalho, fragmentar os  
vínculos coletivos e enfraquecer as organizações sindicais. A autora denuncia a expansão do  
trabalho terceirizado e das formas atípicas de contratação (como contratos temporários,  
"pejotização" e trabalho por aplicativos) como instrumentos centrais da precarização. Para  
Druck (2011), essas formas de contratação promovem desigualdades no interior da classe  
trabalhadora, criando camadas distintas de trabalhadores com diferentes graus de proteção,  
remuneração e acesso a direitos.  
Ambas as autoras destacam que a precarização não se limita ao setor privado, mas  
também se dissemina no setor público, por meio de políticas de gestão que introduzem lógicas  
empresariais nas instituições estatais, promovem cortes de pessoal, metas de produtividade e  
formas indiretas de contratação. Essa tendência atinge especialmente categorias como  
professores, profissionais da saúde e assistentes sociais, que passam a vivenciar o trabalho sob  
condições adversas, com sobrecarga, perda de autonomia e instabilidade funcional.  
Franco e Druck (2008) também alertam para a naturalização da precarização como algo  
inevitável ou necessário diante das “exigências do mercado”, o que impede o reconhecimento  
dos direitos como conquistas históricas e favorece a aceitação da flexibilização. Ao desvelar os  
impactos da precarização para além dos aspectos econômicos — atingindo as dimensões  
sociais, políticas e subjetivas do trabalho —, ambas as pesquisadoras contribuem para a  
formulação de estratégias de resistência baseadas na solidariedade, na organização coletiva e  
na valorização do trabalho decente.  
581  
É importante advertir que o trabalho precário no Brasil ganha novos entornos com a  
aprovação da Lei da Terceirização sancionada pelo Presidente Michel Temer em março de 2017,  
que agregou à precarização mecanismos de intensificação dessa precarização, exigindo mais  
trabalho, mais exploração, mais produtividade. O terceiro mandato do Governo Lula (2023)  
chegou com a proposta de revisar pontos críticos dessa legislação com o objetivo de ampliar a  
proteção social, fortalecer os sindicatos e combater a precarização das relações de trabalho. No  
entanto, na atualidade, o que se identifica é ausência de um avanço desse debate com decisões  
governamentais que consolidam o perfil neoliberal de sua gestão e o descaso com a melhoria  
das condições de trabalho da classe trabalhadora.  
Dal Rosso (2008), em sua obra “Mais Trabalho”, analisa o conceito de intensidade  
buscando resgatar seu significado ao longo do tempo, distinguindo-o do conceito de  
produtividade. A busca por maior produtividade pode levar à intensificação do trabalho, com  
consequências drásticas, principalmente para a saúde dos/as trabalhadores/as. Para o  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
pesquisador, os estudos sobre produtividade focalizam-se nas transformações tecnológicas, nos  
resultados do trabalho, naquilo que pode ser visto, que é material, mas estudar a intensificação  
exige se debruçar sobre outros aspectos que são imateriais, ou seja, os efeitos/consequências  
sobre o/a trabalhador/a, que não podem ser medidos materialmente porque envolvem  
dimensões como desgaste físico, questões emocionais e de saúde, por exemplo.  
No processo de precarização, a intensificação é situação posta no trabalho dos/as  
assistentes sociais. Nos tempos atuais, o uso das tecnologias de informação e comunicação deve  
ser considerado no debate, assim como as novas formas (cada vez mais perversas) de  
contratação do trabalho dos/as assistentes sociais que enterram os direitos trabalhistas e  
sucumbem perante os discursos de flexibilização e modernização do trabalho na ótica  
gerencialista.  
Se as condições objetivas e materiais colocam-se como determinantes para a análise do  
trabalho, isso não implica em desconsiderar as condições subjetivas que se interpõem na sua  
realização. Longe de um viés economicista e refutando uma apreensão subjetivista,  
recuperamos as contribuições de Netto (2011b) sobre a profissão no espectro da divisão social  
e técnica do trabalho na sociedade burguesa consolidada e madura, quando enfatiza que é  
preciso considerar o primordial, isto é, “o erguimento de uma configuração profissional a partir  
de demandas histórico-sociais macroscópicas” antes de recorrer à sua estrutura como saber  
(Netto, 2011b, p. 87). O autor continua destacando que a afirmação e o desenvolvimento de um  
estatuto profissional se operam mediante um duplo dinamismo: de uma parte, aquele que é  
deflagrado pelas demandas socialmente colocadas; de outra, aquele que é reservado pelas suas  
reservas próprias de forças (teóricas e prático-sociais), aptas ou não para responder às  
requisições extrínsecas.  
582  
O esforço analítico empreendido até aqui neste texto decorre da necessidade de  
pensarmos o trabalho do/a assistente social enquanto produto histórico, circunstanciado pelas  
determinações econômicas, sociais e políticas da dinâmica do capital. Os processos de trabalho,  
que são coletivos, nos quais se insere o/a assistente social, são mediados pelas correlações de  
força, pelas tensões e disputas de projetos societários. É nesses processos, prenhes de  
contradição, que o/a assistente social é requisitado a construir respostas profissionais,  
desempenhando, assim, suas atribuições e competências. Essas respostas expressam a dimensão  
técnico-operativa do exercício profissional desenvolvido pelo/a assistente social, que estabelece  
relação com as demais dimensões, quais sejam, a teórico-metodológica e a ético-política, e que  
se forjam em condições de trabalho cada vez mais precárias. É uma precarização marcada  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
também pela intensificação do trabalho, do adoecimento, do assédio moral individual e coletivo  
dos/as trabalhadores/as, com imposição de índices de metas, de produtividade e de desempenho.  
Reafirmamos a premissa de que a profissão de Serviço Social não se autoexplica nem  
se autodetermina, o que nos leva a apreender o trabalho profissional ancorado radicalmente na  
teoria social crítica de Marx.  
O trabalho profissional de assistentes sociais e a necessária tarefa de enfrentar  
traços de persistência e continuísmos que limitam uma análise pela totalidade  
social  
Considerando a apreensão construída anteriormente, que serviu para sustentar a  
compreensão sobre o trabalho de assistentes sociais, apresentamos, a partir de toda a trajetória  
profissional e acadêmica das autoras, três elementos fulcrais para adensar o debate e trazer  
contributos para fomentar e aprimorar os eixos teóricos analíticos, políticos e operacionais que  
envolvem o trabalho. Um primeiro elemento é retomar a premissa basilar que incide,  
efetivamente, nas respostas a serem apresentadas pela categoria profissional diante das  
demandas sociais postas nos diferentes espaços sócio-ocupacionais: a imbricada relação entre  
profissão e política social.  
As políticas sociais, ainda que não exclusivamente, constituem-se como “base de  
sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social” (Guerra; Montaño, 2024, p. 73). O/a  
assistente social tem sido requisitado/a, historicamente, para a formulação e implementação das  
políticas sociais, construindo respostas interventivas para responder às refrações da “questão  
social”, que resultam das lutas de classe que expressam as tensões, conflitos, contradições da  
apropriação da riqueza pela classe detentora dos meios de produção, mas produzida socialmente  
pela classe que vende sua força de trabalho.  
583  
Tais políticas sociais têm sido desconfiguradas pelo movimento de reestruturação  
produtiva do capital que, sob sua égide neoliberal, tem implementado um conjunto de  
contrarreformas do Estado disparadoras de grandes mudanças no mundo do trabalho que  
traduzem uma nova maneira de governar administrativamente a sociedade. Essa organização  
questiona o tamanho do Estado, sua eficiência, seu modus operandi, seu alcance e sua  
capacidade de proteção social e de financiamento.  
Entre essas mudanças que vêm sendo operadas desde os anos 70 do século passado no  
campo dos direitos sociais no sentido de seu aviltamento, destacam-se as reformas trabalhistas,  
que vêm produzindo alterações nas relações e condições de trabalho. Tais reformas configuram-  
se como respostas às crises econômicas, próprias da dinâmica do capital, que se acirram há mais  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
de quatro décadas no panorama mundial e nacional. Destaca-se, no contexto brasileiro, a  
Reforma Gerencial do Estado Brasileiro implementada por Bresser Pereira, em 1995, no  
governo de Fernando Henrique Cardoso, que aprofundou o processo de precarização das  
condições de trabalho presente até hoje.  
A transição do século XX para o século XXI é marcada por transformações gerenciais  
no campo do trabalho que precisam ser analisadas a partir de uma perspectiva histórico-dialética  
que nos permita entender, sem pressa analítica e conclusões precipitadas, que nos encontramos  
diante de mudanças que, apesar de serem anunciadas como novas e modernas formas de  
trabalho, precisam ser interpretadas, como problematiza Druck (2011), como velhas formas e  
modalidades que se reproduzem e se reconfiguram num nítido processo de metamorfose social.  
A autora, quando trata do trabalho precarizado na contemporaneidade, entende-o como “um  
novo e um velho fenômeno, porque é diferente e igual, porque é passado e presente e porque é  
um fenômeno de caráter macro e microssocial” (Druck, 2011, p. 35). Tal metamorfose não  
significa alteração ou supressão do Estado capitalista, mas estratégias perversas para sua  
manutenção na era da financeirização, às custas da intensificação da exploração da força do/a  
trabalhador/a.  
Problematizar o trabalho de assistentes sociais diante das determinações apontadas traz,  
como exigência, a reflexão acerca dos espaços sócio-ocupacionais, que abarcam o conjunto das  
requisições, demandas e ações profissionais, bem como expressam e operacionalizam as  
finalidades das políticas sociais e das instituições. Podemos observar que há um desafio a ser  
encarado: o de não confundir objetivos da política social e do próprio espaço sócio-ocupacional  
com os objetivos da profissão. Tomando por referência as legislações sociais e consequentes  
normativas, protocolos e resoluções que permeiam as políticas sociais e os serviços sociais,  
nota-se que há uma tendência em incorporar os objetivos das políticas sociais em que se dá a  
atuação profissional como sendo, mecanicamente, os objetivos do trabalho profissional. Aqui,  
despe-se do atributo de mediação que é implícito, mas não desvelado na relação.  
Arealidade tem mostrado que, seja pelo imperativo das condições de trabalho que levam  
os/as assistentes sociais a atuarem de forma muito mais “reativa” e “devolutiva” diante das  
demandas postas; seja pela ausência de um planejamento de trabalho de forma mais coletiva,  
as respostas profissionais demonstram as dificuldades profissionais em pensar sobre o trabalho  
que se realizada, isto é, por meio de descrição dos cargos/vagas para contratação de assistentes  
sociais a partir do conhecimento atestado em legislações e do domínio do “uso” de  
instrumentos, técnicas, procedimentos, estratégias, mas sem terem sido solicitadas a reflexão  
e a análise de processos sociais mais amplos.  
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Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
Autoras como Mioto e Nogueira (2013) insistem em apontar os desafios da relação entre  
Serviço Social e Política Social, destacando as particularidades das ações profissionais no  
âmbito da política social, especialmente a autonomia e a especificidade, relacionadas à inserção  
dos/as assistentes sociais em espaços tradicionais das políticas públicas, vinculados à prestação  
direta de serviços à população. Nesse prisma, por vezes, não tem comparecido de forma  
expressiva no desenvolvimento do trabalho dos/as profissionais o planejamento das ações  
profissionais, para além das demandas pontuais, mais prementes e repetitivas. Aqui, a  
incorporação dos objetivos das políticas sociais acaba tomando a cena, restando pouco manejo  
dos/as assistentes sociais no estabelecimento das finalidades que devem direcionar o seu  
trabalho para pensar, entre outros pontos, em questões tais como: Quais os interesses que  
movem as ações profissionais? Quais são e de onde vêm as demandas? Como estão sendo  
respondidas? Sob quais meios? Em quais circunstâncias e limitações? Quais são as concretas  
possibilidades de intervenção profissional? Quais conhecimentos são necessários mobilizar?  
Que estratégias teóricas, políticas e instrumentais são fundamentais para subsidiar um trabalho  
pensado, refletido e direcionado na perspectiva da defesa e reafirmação dos direitos sociais e  
humanos? O que precisa ser retomado, reavaliado, discutido e pautado com nossos pares, com  
outros profissionais, com a instituição, com a rede de serviços e com os próprios usuários?  
O enfrentamento dessa equivocada apreensão exige reforçar, mesmo que repetidamente,  
o que de fato é a dimensão técnico-operativa para o Serviço Social. Debater a dimensão técnico-  
operativa no Serviço Social se torna um exercício contínuo, uma vez que sua compreensão  
permanece em disputa, persistindo a contradição entre as construções teóricas da categoria  
profissional e como esta é compreendida. Nessa direção, um primeiro aspecto que cabe ser  
reafirmado é que não é possível compreender a dimensão técnico-operativa de forma isolada,  
tendo em vista sua indissociabilidade das dimensões teórico-metodológica e ético-política.  
Embora tenha sido construída, no decorrer das últimas décadas, uma definição para fins  
didáticos, como o conjunto de instrumentos, técnicas, procedimentos, estratégias, atividades,  
recursos, mobilizados por assistentes sociais que agregam materialidade ao trabalho  
profissional, essa definição acaba se tornando inoperante quando não se articula a  
fundamentação teórico-analítica a um direcionamento ético-político.  
585  
Assim, no bojo das construções impetradas hegemonicamente pela profissão, considerar  
a dimensão técnico-operativa “apenas” a aplicação “prática”, ou tomar a definição da profissão  
apenas pela via da utilização de instrumentos e técnicas, é reduzi-la em proporções não  
tangíveis. O uso de instrumentos, técnicas, procedimentos e habilidades necessários é condição  
elementar ao Serviço Social, mas devem estar articulados às ações profissionais necessárias ao  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
cumprimento de objetivos definidos pelos(as) assistentes sociais. Tais objetivos, no entanto,  
precisam ser pensados e projetados pelos profissionais de Serviço Social. O movimento não  
deve ser pensado como ato individual, que depende dos interesses particulares, mas, ao  
contrário, como tarefa inadiável e intransferível dos/as profissionais que atuam nos diferentes  
espaços sócio-ocupacionais. Responder ao para quê é crucial para não sucumbir às requisições  
indevidas, à não definição do que compete ou o que é atribuição profissional, aos equívocos de  
desconsiderar as especificidades profissionais e servir de “profissional polivalente”, que tudo  
faz, mas pouco conhecimento tem sobre as incumbências e finalidades.  
Como um segundo elemento, alinhado às preocupações apontadas anteriormente,  
situamos um traço ainda pertinente no trabalho de assistentes sociais, que reforça uma herança  
praticista e empirista, desembocando na forma de compreender o trabalho e planejar as ações  
profissionais. Como profissão de natureza interventiva, o Serviço Social dá respostas às  
demandas e requisições apresentadas, assentadas nas ações profissionais que são orientadas  
pelos objetivos profissionais, pelas atribuições e competências delimitadas no campo da sua  
legislação profissional, pela direção política que imprime ao seu trabalho e pelos conhecimentos  
que mobiliza para dar concretude às respostas profissionais. Entretanto, vimos, na produção do  
conhecimento e no debate profissional, contextualizando, historicamente, como a profissão foi  
construindo o direcionamento político e o posicionamento teórico-analítico para sustentar sua  
intervenção profissional, o seu fazer profissional, pressupondo a articulação de três dimensões:  
teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.  
586  
Diante dessas considerações, apresentamos dois aspectos presentes no trabalho  
profissional que se aproximam de uma perspectiva/atitude pragmática: a) imediaticidade e  
supervalorização da prática; b) desprezo por uma teoria crítica e tendência anti-intelectual.  
O primeiro aspecto revela-se no fortalecimento da herança conservadora1 presente na  
profissão, que a empurrou para uma perspectiva tecnicista e instrumentalista, esvaziando os  
componentes políticos e teóricos que perpassam o trabalho profissional. Sobre essa discussão  
há vasta bibliografia disponível. O traço praticista das respostas profissionais conduz a uma  
característica, ainda muito forte, que é a exigência por respostas pontuais, imediatas e que se  
prendam a uma lógica operacional que não favoreça pensar, refletir, problematizar, planejar  
coletivamente para além das questões imediatas e de curto prazo.  
1 Sobre a herança conservadora no Serviço Social brasileiro, consultar as produções de Marilda Villela Iamamoto.  
Destaque para os livros “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação teórico-  
metodológica”, escrito em parceria com Raul de Carvalho e “Renovação e Conservadorismo no Serviço Social:  
ensaios críticos”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
Coelho (2013) traz ricas contribuições sobre a imediaticidade no trabalho profissional  
do assistente social. A autora afirma que a imediaticidade impõe-se no cotidiano profissional  
levando a uma compreensão de prática como sinônimo de utilidade, ou seja, o trabalho de  
assistentes sociais centra-se na possibilidade de administrar o caos, tendo por parâmetro a  
aferição da competência e eficácia. Nessa direção, “as respostas profissionais privilegiam a  
utilização dos instrumentos para a manipulação de variáveis empíricas, tendo em vista o  
cumprimento de metas balizadas por critérios de produtividade”, sendo que “a competência  
profissional está diretamente vinculada à capacidade de cumprir, eficazmente, a essas metas”.  
Sendo assim, concebe-se a “prática profissional” como aquela correspondente e necessária ao  
cotidiano, que “não requer o pensar, uma vez que não há perguntas, e as respostas são  
previamente demarcadas por procedimentos, normas e rotinas atribuídas; ou porque não se  
reconhece o pensamento intrínseco às práticas cotidianas, que resulta de largas mediações  
conectadas de forma imediata” (Coelho, 2013, p. 91). O perfil profissional coloca-se como a de  
um técnico bem adestrado (Netto, 1996) que responda, acrítica e mecanicamente, às demandas  
e requisições postas; um profissional “tarefeiro”, habilitado a operacionar manuais e protocolos,  
cumprindo o receituário imposto pelas instituições, sem qualquer nível de resignação, postura  
crítica e atitude propositiva. Iamamoto (2013, p. 215) chama a atenção para esse perfil  
profissional que expressa a “tecnificação pragmatista do Serviço Social” e que leva os/as  
assistentes sociais a refugiarem-se “cada vez mais em uma discussão ‘interna’ sobre elementos  
que, por si, supostamente lhe confeririam um perfil peculiar – objetos, objetivos, métodos e  
procedimentos de intervenção caindo nas amarras do fetiche do metodologismo”. Assim, o  
interesse profissional acaba se reduzindo nas preocupações com o “aperfeiçoamento do  
instrumental técnico-operativo, expresso pela sofisticação dos modelos de diagnóstico e  
planejamento, na busca de uma eficiência que se pretendia asséptica, nos marcos de uma  
crescente burocratização das atividades” (Iamamoto, 2013, p. 215). Longe de traçar uma análise  
endogenista e subjetivista, essas manifestações colocam-se como desdobramentos das  
exigências do mercado de trabalho e das instituições em que os profissionais desenvolvem o  
seu trabalho. No entanto, as condições objetivas, materiais e institucionais – que são  
determinantes em última instância – incidem significativamente nas condições subjetivas e na  
cultura profissional.  
587  
A supervalorização da prática consiste em extirpar qualquer possibilidade analítica,  
reduzindo a “prática profissional” a respostas e ações profissionais imediatas e superficiais, que  
não extrapolem o campo operativo subsumido aos procedimentos técnicos e instrumentais. O  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
importante é “o que fazer e o como fazer” para dar respostas “eficientes” na resolutividade dos  
problemas, no cumprimento das metas e métricas impostas aos profissionais.  
É oportuno reforçar que a imediaticidade é um nível superficial de apreensão do real. O  
modo de aparecer não é, de fato, o modo de ser. A imediaticidade esconde as mediações  
contidas no real, ofuscando suas determinações ontológicas.  
Guerra e Montaño, em obra recente (2024), trazem pontos centrais para pensar a  
superação da razão formal-abstrata na construção e consolidação de uma perspectiva crítica no  
Serviço Social. Destacamos, a seguir, alguns desses pontos.  
Em relação ao “imediatismo e a cotidianização” da prática profissional, os  
autores pontuam que procura-se alcançar respostas imediatas a demandas  
emergenciais, importante assim apenas aquelas ações com impactos e  
resultados diretos e quantificáveis na realidade, em detrimento das ações de  
médio ou longo prazo, não mensuráveis imediatamente. Assim, por exemplo,  
privilegiam-se as ações que respondem diretamente aos problemas pontuais,  
específicos e emergenciais. Em tal sentido, a dinâmica das demandas  
emergentes e imediatas no cotidiano das pessoas parece colocar o assistente  
social num frenesi de respostas pontuais e imediatas no seu cotidiano  
profissional. A reprodução dessa relação demanda-emergencial/resposta-  
imediata leva o profissional (e a profissão como um todo) a uma lógica  
pragmática, movida pela “pré-ocupação” (Guerra; Montaño, 2024, p. 279).  
A postura “reativa” dá o tom do exercício profissional ao reduzi-lo a “dar as respostas  
pontuais e imediatas” livres de análises mais consistentes ou de reflexões críticas mais  
contundentes à dinâmica do cotidiano profissional. O fetiche por modelos e receitas prontas  
para a intervenção também se coloca como tônica, além da atenção às ações repetitivas e  
mecânicas.  
588  
Agregado a isso, coloca-se o segundo aspecto – desprezo por uma teoria crítica e  
tendência anti-intelectual. Considerando que o trabalho de assistentes sociais tende a focar no  
microssocial, na demanda “recortada” que aparece para ser atendida pelos/as profissionais,  
gerando uma falsa ideia de que não possui vinculações com as contradições sociais do modo de  
produção capitalista e que, portanto, não expressam as manifestações das lutas de classes, mas  
como demandas pontuais, individuais e fragmentadas, o teor praticista/pragmatista influencia  
à medida que desvaloriza a necessidade da articulação teórico-prática. Como pontuou Guerra  
(2013, p. 41), “a supressão das mediações teóricas e ideopolíticas, próprias da apreensão da  
realidade na imediaticidade do cotidiano, leva a uma apropriação da realidade como carente de  
mediações”. Dessa forma, “a abstração da das mediações como resultado de uma apreensão da  
realidade na sua imediaticidade é o procedimento da consciência comum, própria do cotidiano,  
que não questiona a gênese e não alcança a apreensão dos fundamentos” (Guerra, 2013, p. 41).  
Descarta-se, por consequência, a teoria como elemento capaz de fomentar uma compreensão  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
mais prenhe de determinações, da totalidade do real, da superação da fragmentação e  
superficialidade do terreno cotidiano. Põe-se a desqualificação da teoria como ferramenta  
analítica fundamental para pautar o trabalho profissional, uma vez que seríamos “os  
profissionais da prática” a dar respostas pontuais no cotidiano, por meio de ações técnicas que  
não exigem uma ação reflexiva de natureza teórico-metodológica.  
Aqui se faz presente uma equivocada apreensão de que só interessa mobilizar  
conhecimentos diretamente ligados à intervenção, reduzindo-os para o campo das legislações  
sociais, dos conhecimentos instrumentais e das orientações para execução das políticas sociais.  
O que extrapola esse universo é considerado “não funcional” ao atendimento das demandas  
profissionais, dada a natureza prático-interventiva da profissão. Pode aparecer, nesta situação,  
ou o desprezo total pela teoria ou, quando mobilizada, reivindica-se que ela seja “aplicável” ao  
que se coloca no imediato. Uma teoria eficiente deve responder eficientemente à prática, caso  
contrário, não teria validade.  
A rejeição ao marxismo comparece na profissão, por vezes, por essa ótica que o  
considera um referencial teórico que não responde às questões da prática e do fazer profissional.  
Espera-se da teoria um guia para ação, reforçando uma concepção pragmática da teoria como  
apontam Guerra e Montaño (2024). A tendência à fragmentação do conhecimento, e sua  
posterior validação prática, reforça o que vimos problematizamos no decorrer do texto. Guerra  
e Montaño (2024) apresentam aspectos dessa expressão: “o curto prazo, o local, o singular e o  
imediato, ou o plano “tático”, hipotecando e deixando em segundo plano qualquer estratégia  
que tenha um horizonte de longo alcance, universal e mediato.  
589  
Esse quadro indica outra tendência historicamente presente na profissão: o anti-  
intelectualismo. Considerados/as como profissionais da prática, numa concepção esvaziada,  
despolitizada e meramente instrumental, os/as assistentes sociais são postos como técnicos e  
não como intelectuais. Cria-se até uma falsa dicotomia: ou ele é um técnico bem adestrado ou  
é um profissional intelectual que pensa criticamente sobre seu trabalho e na realidade social em  
que está inserido. Discordamos de tal apreensão, pois consideramos que o/a assistente social  
não se enquadra como meramente um técnico, embora seja um profissional que mobiliza  
conhecimentos técnicos que o habilitam a desempenhar um determinado ofício, ocupando um  
determinado lugar na divisão social e técnica do trabalho. Se assim não fosse, não haveria  
justificativa para a existência da profissão. Sua formação específica, porém, dotada de  
conhecimentos técnicos especializados, operacionais e instrumentais, que o habilitam a atuar  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
como assistente social, não se resume a um caráter tecnicista, desprovido de conhecimentos  
teórico-analíticos e de um posicionamento ético-político2.  
Por óbvio, o teor de “intelectual” não se restringe ao assistente social que atua na  
formação profissional, no âmbito da produção de conhecimentos e da pesquisa, embora essa  
intelectualidade tenha suas particularidades. Os apontamentos de Portes et al. (2024) marcam  
essa preocupação em não criar falácias sobre o perfil técnico e intelectual dos/as assistentes  
sociais, não recaindo no traço intelectualista e teoricista. Argumentam as autoras que é preciso  
combater a proposição de que  
há os iluminados, os críticos e detentores do saber científico e estariam na  
academia desenvolvendo suas pesquisas e contribuindo com a produção do  
conhecimento; por sua vez, encontram-se os “profissionais da prática”, que  
atuam na gestão, no planejamento e execução dos serviços sociais, sobretudo  
no atendimento direito às demandas das/os usuárias/os. Esses, de forma  
leviana, são denominados de “tradicionais e conservadores”, ausentes de  
intelectualidade. O traço intelectualista deve ser constantemente enfrentado  
no debate do Serviço Social (Portes et al., 2024, p. 18).  
Continuam a exposição apontando que, para buscar superar alguns estereótipos da  
natureza interventiva da profissão, reduzindo-a a uma formação tecnicista e instrumental, ou  
seja, um profissional que está “preocupado unilateralmente em dominar um único aspecto  
específico da realidade, que constituiu seu âmbito de ação imediata” ou de combater uma  
concepção de “técnico com verniz intelectual” (Iamamoto, 2007, p. 180), poderemos recair no  
teoricismo e intelectualismo, segregando dimensões que estão imbricadas: os/as assistentes  
sociais são técnicos e intelectuais; não é “isso ou aquilo”, pois conjugam-se esses dois aspectos.  
Desta forma, na recusa do intelectualismo, é preciso alargar a análise sobre o trabalho  
profissional e sobre o perfil de um profissional crítico e atento às questões do seu tempo, que  
não se coloca como um profissional que, unilateralmente, “responde e reage” reproduzindo  
traços subalternos do exercício profissional, mas que constrói respostas pensadas, planejadas  
para longo alcance, com direcionamento político e análise teórica. Guerra e Montano (2024, p.  
288) reforçam que um dos desafios centrais ao profissional crítico, enquanto intelectual, remete  
à capacidade de enfrentar e superar, sem sucumbir ao que caracterizam como os “cantos de  
Sereia”. Quais seriam esses cantos?  
590  
Primeiramente, o intelectual crítico tem de superar as visões fragmentadas da  
realidade, pois a fragmentação da realidade, transformada em estudos  
“disciplinares”, leva a um conhecimento fragmentário da mesma, antagônico  
à necessária perspectiva dialética e de totalidade, fundamental para uma  
compreensão da complexidade, das diversas determinações do real, chegando  
à essência, aos fundamentos, à raiz da realidade que se pretende conhecer  
2 Há um imenso debate e produção da área sobre as dimensões profissionais, com destaque para as construções de  
Yolanda Guerra, Cláudia Mônica dos Santos e Rosa Lúcia Prédes Trindade.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
(Guerra; Montaño, 2024, p. 288).  
Em segundo lugar, os autores defendem que o profissional crítico tem o desafio de  
“evitar/enfrentar o ‘novo linguajar’ de aparência progressista, mas de (camuflado) conteúdo  
conservador”. Um terceiro desafio ao profissional/intelectual crítico é o de “evitar a cooptação  
e o apassivamento por parte dos setores hegemônicos”, o que leva à adesão e à despolitização.  
Um quarto desafio do intelectual crítico é “evitar enfrentar a sedução do que denominamos de  
os ‘cantos de Sereia’’’ naquilo que chamaram de “ideologia do terceiro setor”, assentado em  
discursos pós-modernos fundados na tríade de autorresponsabilização dos indivíduos,  
desresponsabilização social do Estado e desoneração do capital. Destacam os autores que essa  
ideologia é funcional ao projeto neoliberal e promovida por organismos internacionais. Como  
quinto desafio, está o enfrentamento da armadilha que caracterizam como “cavalo de Troia”.  
Essa é uma armadilha que vem travestida de progressista – promovida pela esquerda  
“possibilista” e pós-moderna –, mas de conteúdo neoliberal, que destrói por dentro as lutas das  
classes trabalhadoras, desviando seu foco para projetos camuflados por novo linguajar  
(empoderamento, responsabilidade social e empresarial, economia solidária, sustentabilidade  
ambiental, o linguajar do politicamente correto, por exemplo) que desarticulam qualquer  
possibilidade de unidade dos trabalhadores.  
Por certo que o campo teórico-analítico pode contribuir para o campo da intervenção no  
sentido de calcar as respostas profissionais. No entanto, não é determinante ou não se coloca  
como momento predominante, mas pode mobilizar os/as profissionais a problematizarem a  
realidade social, institucional e profissional que os/as cercam. É num processo de intensas e  
contínuas mediações e contradições em que o trabalho de assistentes sociais (como qualquer  
outro ofício profissional na ordem do capital) se debruça e se desenvolve. Colocado no patamar  
de ampliação e reafirmação de direitos sociais e humanos, de alargamento da participação  
dos/as usuários/as nas diferentes instâncias da organização política; da desburocratização do  
acesso aos serviços, benefícios, projetos e demais ações que se colocam no campo dos direitos  
(mesmo reconhecendo seus limites burgueses); de enfrentamento de posturas autoritárias,  
policialescas e discriminatórias; de problematização do papel do Estado e de seu atrelamento  
aos interesses do capital; de reivindicação de melhores condições de trabalho e ampliação de  
políticas sociais ( mesmo que saibamos que, em última instância, são funcionais ao capital para  
reprodução da força de trabalho), o trabalho precisa ser pensando teórica e politicamente.  
É preciso não confundir profissão com protopartido, com movimento social ou qualquer  
espécie de organização política. A natureza assalariada do trabalho já se interpõe às limitações  
profissionais diante das determinações macroestruturais. Isso não significa que não há  
591  
Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin  
vinculação política da profissão com a luta mais ampla da classe trabalhadora, ou melhor, com  
seus interesses históricos. Mesmo reconhecendo o vigor limitado das ações profissionais na  
esfera das lutas classistas e revolucionárias, não podemos nos furtar a essa tarefa.  
Consideramos que um referencial teórico crítico que dê condições para que os/as  
profissionais analisem a realidade na perspectiva da totalidade, contrapondo-se a elaborações  
superficiais, subjetivistas, idealistas e conservadoras, não é suficiente, mas é fundamental e  
urgente. O construto teórico-analítico pode favorecer posicionamentos políticos que se  
coloquem no campo dos enfrentamentos das desigualdades e injustiças sociais, de toda forma  
de violência e opressões e de barbárie social endereçadas à classe trabalhadora.  
Netto (2017, p. 328) alerta sobre a hipertrofia que tende a insistir na área do Serviço  
Social: “reduzir a intervenção profissional ao exercício técnico elementar de uma assistência  
refilantropizada e, de outro, a reconduzir o discurso teórico-profissional a âmbitos societais  
microscópicos”. Aponta que a profissão enfrenta, de uma parte, o risco de “perder o estatuto  
acadêmico a que se alçou com a sua consolidação, convertendo-se em profissão mera e  
elementarmente técnica e de segunda linha” (Netto, 2017, p. 328). De outra parte, Netto pontua  
que “os intentos de renovação crítico-teórica tendem a recolocar, mais sofisticadamente, os  
impasses e limites de uma profissão de corte ‘psico-social’ como é verificável em significativos  
e recentes esforços de teorização profissional” (Netto, 2017, p. 328).  
592  
Não é um detalhe a ser menosprezado, pontua Netto (2017), que, “nesses esforços,  
intencionalmente críticos, a categoria teórica da exploração não compareça inclusive em boa  
parte daquelas elaborações que procuram pensar numa perspectiva ‘anti-opressiva’” (Netto,  
2017, p. 329).  
Considerações finais  
A análise do trabalho de assistentes sociais à luz da totalidade social revelou-se  
imprescindível para a apreensão crítica das determinações históricas, políticas, econômicas e  
sociais que configuram a profissão na contemporaneidade. Ao romper com leituras  
fragmentadas, endogenistas e idealistas, o presente estudo reafirma a centralidade do referencial  
teórico-metodológico marxiano nas análises da realidade social, para desvelar as múltiplas  
mediações que condicionam o trabalho profissional.  
Reconhecer o Serviço Social como profissão inserida na divisão social e técnica do  
trabalho, sob a égide do modo de produção capitalista, possibilita identificar, entre outras  
questões, as formas perversas de precarização que se expressam no trabalho e explicitar como  
incidem diretamente sobre as condições materiais e subjetivas de trabalho dos/as assistentes  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Elementos para pensar o trabalho profissional de assistentes sociais pela perspectiva da totalidade social  
sociais, comprometendo sua autonomia profissional — já historicamente relativa —,  
fragilizando sua saúde e afetando, de forma significativa, a qualidade dos serviços prestados à  
população. Esta, por sua vez, é impactada por respostas profissionais formuladas de maneira  
reiterativa, mecanicista e imediatista, voltadas prioritariamente ao atendimento das demandas  
e requisições institucionais que não foram problematizadas com rigor crítico e analítico.  
A análise empreendida neste artigo permitiu aprofundar a reflexão sobre a dimensão  
técnico-operativa no Serviço Social, que não pode ser analisada de forma desarticulada das  
demais dimensões do trabalho profissional — teórico-metodológica e ético-política —,  
tampouco apartada da realidade concreta. Pelo contrário, sua efetivação se dá de maneira  
articulada e processual, mediada pelas determinações da luta de classes e pelas injunções do  
capital sobre as políticas sociais, que conformam os espaços sócio-ocupacionais da profissão.  
Para tanto, é necessária uma postura dialógica, educativa e de formação permanente  
para enfrentar — não na sua totalidade, por óbvio — os traços praticistas e imediatistas e, de  
certo modo, anti-intelectualistas, que ainda permanecem no desenvolvimento do trabalho dos/as  
assistentes sociais. Esse enfrentamento não será obra individual e requer o fortalecimento dos  
debates coletivos, da reorganização política da categoria profissional e de intenso processo de  
qualificação profissional.  
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