Lorena Ferreira Portes; Melissa Ferreira Portes; Evelyn Secco Faquin
como assistente social, não se resume a um caráter tecnicista, desprovido de conhecimentos
teórico-analíticos e de um posicionamento ético-político2.
Por óbvio, o teor de “intelectual” não se restringe ao assistente social que atua na
formação profissional, no âmbito da produção de conhecimentos e da pesquisa, embora essa
intelectualidade tenha suas particularidades. Os apontamentos de Portes et al. (2024) marcam
essa preocupação em não criar falácias sobre o perfil técnico e intelectual dos/as assistentes
sociais, não recaindo no traço intelectualista e teoricista. Argumentam as autoras que é preciso
combater a proposição de que
há os iluminados, os críticos e detentores do saber científico e estariam na
academia desenvolvendo suas pesquisas e contribuindo com a produção do
conhecimento; por sua vez, encontram-se os “profissionais da prática”, que
atuam na gestão, no planejamento e execução dos serviços sociais, sobretudo
no atendimento direito às demandas das/os usuárias/os. Esses, de forma
leviana, são denominados de “tradicionais e conservadores”, ausentes de
intelectualidade. O traço intelectualista deve ser constantemente enfrentado
no debate do Serviço Social (Portes et al., 2024, p. 18).
Continuam a exposição apontando que, para buscar superar alguns estereótipos da
natureza interventiva da profissão, reduzindo-a a uma formação tecnicista e instrumental, ou
seja, um profissional que está “preocupado unilateralmente em dominar um único aspecto
específico da realidade, que constituiu seu âmbito de ação imediata” ou de combater uma
concepção de “técnico com verniz intelectual” (Iamamoto, 2007, p. 180), poderemos recair no
teoricismo e intelectualismo, segregando dimensões que estão imbricadas: os/as assistentes
sociais são técnicos e intelectuais; não é “isso ou aquilo”, pois conjugam-se esses dois aspectos.
Desta forma, na recusa do intelectualismo, é preciso alargar a análise sobre o trabalho
profissional e sobre o perfil de um profissional crítico e atento às questões do seu tempo, que
não se coloca como um profissional que, unilateralmente, “responde e reage” reproduzindo
traços subalternos do exercício profissional, mas que constrói respostas pensadas, planejadas
para longo alcance, com direcionamento político e análise teórica. Guerra e Montano (2024, p.
288) reforçam que um dos desafios centrais ao profissional crítico, enquanto intelectual, remete
à capacidade de enfrentar e superar, sem sucumbir ao que caracterizam como os “cantos de
Sereia”. Quais seriam esses cantos?
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Primeiramente, o intelectual crítico tem de superar as visões fragmentadas da
realidade, pois a fragmentação da realidade, transformada em estudos
“disciplinares”, leva a um conhecimento fragmentário da mesma, antagônico
à necessária perspectiva dialética e de totalidade, fundamental para uma
compreensão da complexidade, das diversas determinações do real, chegando
à essência, aos fundamentos, à raiz da realidade que se pretende conhecer
2 Há um imenso debate e produção da área sobre as dimensões profissionais, com destaque para as construções de
Yolanda Guerra, Cláudia Mônica dos Santos e Rosa Lúcia Prédes Trindade.
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 573-594, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518