Serviço Social, transformações no trabalho e  
desafios ético-políticos: uma análise  
comparativa Brasil-Itália  
Social Work, transformations in work and ethical-political challenges:  
a comparative analysis between Brazil and Italy  
Salyanna de Souza Silva*  
Gisele Caroline Ribeiro Anselmo**  
Francesca Cubeddu***  
Resumo:  
O
presente artigo analisa as  
Abstract: This article analyses recent  
transformations in the labour market of social  
workers, highlighting the differences between  
Brazil and Italy with regard to the processes of  
precarisation and flexibilisation of labour  
relations under the aegis of neoliberalism. The  
objective is to present preliminary reflections  
identified during a comparative research project  
resulting from exchanges between social  
workers, lecturers, and students of Social Work  
from Brazilian and Italian universities. To this  
end, field research was conducted in both  
contexts, including the administration of  
questionnaires and interviews with social  
workers and “privileged observers”. By  
examining the impact of changes in the world of  
work and their repercussions on the practice of  
social workers within the field of social  
assistance policy, we observed the expansion of  
a process of “outsourcing of social services” on  
a global scale. In this dynamic, although  
professionals are formally hired by the State,  
their employment relations and responsibilities  
are increasingly subordinated to social  
organisations, revealing the tensions between  
market logic and the ethical-political project of  
the profession.  
transformações recentes no mercado de trabalho  
das assistentes sociais, destacando as diferenças  
entre Brasil e Itália no que se refere aos  
processos de precarização e flexibilização das  
relações laborais sob a égide do neoliberalismo.  
O objetivo é apresentar reflexões preliminares  
identificadas no percurso de uma pesquisa  
comparativa fruto do intercâmbio entre  
assistentes sociais, docentes, estudantes de  
Serviço Social de universidades brasileiras e  
italianas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa  
de campo em ambas as realidades, incluindo  
aplicação de questionários e realização de  
entrevistas com assistentes sociais  
e
“observadores privilegiados”. Ao examinar o  
impacto das mudanças no mundo do trabalho e  
suas reverberações na atuação das/os assistentes  
sociais no âmbito da política de assistência  
social, notamos o crescimento de um processo  
de “externalização dos serviços sociais” a nível  
mundial.  
Nessa dinâmica, embora os/as  
profissionais sejam contratados/as pelo Estado,  
os vínculos e atribuições estão cada vez mais  
subordinados  
evidenciando o tensionamento entre a lógica  
mercantil e o projeto ético-político da profissão.  
caracteres); resumo português.  
às  
organizações  
sociais,  
* Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: salyanna.silva@ufes.br  
** Universidade Federal da Paraíba. E-mail: gisele.anselmo@academico.ufpb.br  
*** Università degli Studi di Salerno. E-mail: francesca.cubeddu@irpps.cnr.it  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.49437  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 24/07/2025  
Aprovado em: 12/12/2025  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
Palavras-chaves: Trabalho; Transformações  
societárias; Trabalho do/a assistente social;  
Política Social; Projeto ético-político.  
Keywords: Labour; Societal transformations;  
Social worker’s labour; Social policy; Ethical-  
political project.  
Introdução  
Nas últimas décadas, o mundo do trabalho tem passado por profundas transformações  
estruturais, marcadas pela ofensiva do capital sobre os direitos historicamente conquistados  
pela classe trabalhadora. O avanço do projeto neoliberal em escala global tem promovido  
reconfigurações nas formas de contratação, nas relações entre Estado e sociedade civil e na  
organização dos serviços públicos, impactando diretamente a atuação profissional em distintas  
áreas. A intensificação da lógica de mercadorização da vida social e a crescente externalização  
das políticas públicas resultam na precarização dos vínculos laborais e no enfraquecimento do  
papel do Estado como garantidor de direitos. Nesse cenário, profissões que atuam diretamente  
na mediação das expressões da questão social, como o Serviço Social, são desafiadas a  
responder às contradições de um contexto em que o próprio sentido do trabalho e da intervenção  
pública é colocado em disputa.  
O presente artigo tem como objetivo apresentar reflexões preliminares identificadas no  
percurso da pesquisa “Trabalho profissional, precarização e Projeto Ético-Político: uma análise  
entre as/os assistentes sociais de Vitória e Roma” (2022-2025)1. Iniciada em setembro de 2021,  
e concluída em setembro de 2025, a investigação resulta do intercâmbio entre assistentes  
sociais, docentes, bolsistas de Iniciação Científica e estudantes de Serviço Social vinculados/as  
a universidades brasileiras e italianas.2  
655  
A pesquisa realizou um estudo comparativo entre Brasil e Itália sobre as transformações  
contemporâneas no trabalho profissional, com ênfase nos processos de precarização,  
intensificados no contexto de aprofundamento das ofensivas do neoliberalismo. Buscou-se,  
com isso, analisar as repercussões ético-políticas dessas transformações na atuação de  
assistentes sociais nos dois países.  
Adota-se como fundamento teórico-metodológico o materialismo histórico-dialético,  
buscando realizar o estudo comparativo do desenvolvimento da profissão em contextos  
1 Além das bolsas de Iniciação Científica (IC) concedidas pelo Programa Institucional de Iniciação Científica  
(PIIC) da UFES, a referida pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do  
Espírito Santo (FAPES) e da Pro- Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação para realização de visita técnico-científica  
na Itália no primeiro semestre de novembro de 2022.  
2 O presente artigo retoma considerações e elementos apresentados no trabalho “Serviço Social e a precarização  
do trabalho: um estudo do contexto brasileiro e italiano” publicado no XVII CBAS, do qual fizeram parte além  
das autoras deste artigo, as autoras Larisse Nunes e Rosinei Ferreira de Jesus.  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
socioeconômicos e históricos distintos. Parte-se da compreensão de que “tal metodologia não  
se limita a identificar as semelhanças e diferenças entre os fenômenos, mas abrange a  
explicação do porquê de elas ocorrerem ou o que faz com que o comportamento da parte seja  
diverso (Carvalho, 2014, p. 139).  
A pesquisa adotou uma abordagem de métodos mistos, incorporando elementos das  
abordagens quantitativa e qualitativas. Em acordo com John W. Creswell e J. David Creswell  
(2021) essa integração entre as duas diferentes abordagens “gera uma compreensão que vai  
além das informações fornecidas pelos dados quantitativos ou qualitativos isoladamente” (p.  
4), não se restringindo, portanto, a um plano metodológico rigidamente prescrito.  
A partir do objetivo geral, foram realizadas pesquisa bibliográfica e de campo junto aos  
profissionais de Serviço Social, com o intuito de analisar as atuais transformações relacionadas  
à precarização do trabalho e suas implicações ético-políticas na atuação de assistentes sociais  
que trabalham nas políticas de assistência social da cidade de Vitória (Brasil) e Roma (Itália).  
A pesquisa empírica foi conduzida em duas etapas, a saber: 1) aplicação de um questionário  
composto por questões abertas e fechadas; 2) realização de reuniões para socialização dos dados  
brutos coletados, bem como escuta das demandas e sugestões apresentadas por as/os assistentes  
sociais que atuam nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), em Vitória, e nos  
Segretariato Sociale em Roma.  
656  
Destacamos que os procedimentos éticos referentes a pesquisa com seres humanos  
foram seguidos em todas as fases do presente estudo, atendendo assim as normativas éticas  
vigentes nos países envolvidos. A coleta de dados em Vitória foi iniciada somente após  
aprovação junto à Comissão de Pesquisa da Secretaria Municipal de Assistência Social  
(SEMAS) da Prefeitura de Vitória e do Comitê de Ética em Pesquisa da UFES (CAAE  
52697421.9.0000.5542). Essa etapa ocorreu entre os meses de fevereiro a abril de 2022. Ao  
todo, foram obtidos 25 questionários, o que corresponde a um total de 69,5% do universo de  
profissionais convidados/as. Vale sinalizar que obtivemos a resposta de representantes dos 12  
CRAS do sinalizado município mencionado.  
Além da coleta por meio de questionários, foram obtidos dados qualitativos por meio  
do contato direto com as profissionais durante a realização de um curso de extensão, no qual  
foram apresentados os dados preliminares da pesquisa e registradas falas das participantes.3  
3 O curso de extensão intitulado “Dimensões éticas e pedagógicas do Serviço Social: contribuições para um debate  
internacional” foi realizado entre abril e junho de 2023 com carga horária de 40 horas, teve como objetivo  
apresentar os dados de Vitória obtidos na pesquisa bem como fomentar o debate crítico sobre as condições de  
trabalho e atuação profissional das/os assistentes sociais.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 654-671, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
No caso da cidade de Roma (Itália), a coleta de dados foi precedida por solicitação  
formal de autorização. Inicialmente, o link do questionário foi enviado via Posta Elettronica  
Certificata (PEC) a cada coordenador/a dos Segretariati Sociali dos 15 municípios romanos.  
No entanto, não houve retorno substancial4: apenas cinco assistentes sociais responderam ao  
instrumento, sendo duas do Município I e uma de cada um dos Municípios VI, IX e XV. Diante  
da baixa adesão, optou-se por organizar um grupo focal de discussão com assistentes sociais  
dos Segretariati Sociali dos municípios de Roma. O encontro foi realizado em novembro de  
2022, no Istituto per gli Studi sui Servizi Sociali (ISTSSS), ocasião em que foram discutidos os  
processos de precarização do trabalho profissional nos dois países, a partir da apresentação dos  
dados obtidos em Vitória/ES. Nessa ocasião, também foi possível obter informações mais  
detalhadas sobre a realidade do trabalho das/dos profissionais em Roma.  
Adicionalmente, foi realizada uma entrevista em profundidade com um “observador  
privilegiado”: o professor universitário Marco Burgalassi, docente da Università degli Studi  
Roma Tre, diretor do Curso de Graduação em Serviço Social e membro do Conselho de  
Assistentes Sociais de Roma. Reconhecido estudioso do trabalho profissional e do sistema de  
Welfare italiano, o docente contribuiu com importantes reflexões acerca da atuação profissional  
no contexto de precarização e das respostas institucionais às transformações do mundo do  
trabalho. Foi possível investigar as dimensões do trabalho dos assistentes sociais e o impacto  
da emergência de saúde da Covid-19.  
657  
O presente artigo organiza-se em três partes. Na primeira, são analisados os elementos  
históricos, políticos e econômicos que conformam as características do mercado de trabalho  
nos contextos brasileiro e italiano, com ênfase nas transformações decorrentes do avanço do  
neoliberalismo e seus efeitos nas condições de trabalho das/dos assistentes sociais. A segunda  
parte dedica-se à análise dos impactos dessas transformações para o Serviço Social nos dois  
países, considerando os efeitos sobre as práticas profissionais, os discursos institucionais e os  
desafios cotidianos enfrentados pelas/os assistentes sociais, evidenciando tanto as semelhanças  
quanto as especificidades de cada realidade nacional. Por fim, na terceira parte, são  
apresentadas as considerações finais, com reflexões sobre os principais pontos discutidos ao  
longo do texto, à luz do projeto ético-político da profissão.  
4 Acreditamos que um dos elementos que explica a dificuldade aos Secretariados romanos seja a vastidão do  
território e o número de municípios (15 municípios) em Roma, que são tão grandes quanto uma cidade. Roma, de  
fato, tem uma população de 2.813.544 habitantes distribuídos em 15 municípios. Para obter dados, consulte:  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
Precarização do trabalho e neoliberalismo no Brasil e na Itália  
Nas últimas décadas, tem-se observado um intenso processo de reestruturação no  
âmbito do Estado e da economia, inserido em um movimento de alcance mundial orientado pela  
lógica neoliberal. Tal dinâmica tem se expressado por meio da privatização de bens e serviços  
públicos, da negação de direitos sociais e trabalhistas, da retração das políticas sociais e da  
crescente desregulamentação e flexibilização das relações de trabalho.  
Enquanto projeto econômico e político, o neoliberalismo visa potencializar a “liberdade  
individual”, entendendo esta como incompatível com a justiça social. Logo, as políticas  
keynesianas que se baseiam no estimulo à intervenção do Estado na economia, são satanizadas.  
O centro da perspectiva neoliberal passa a ser o estado de liberdade individual, ou seja, o  
indivíduo na sua procura unicamente singular está concomitantemente contribuindo para o  
interesse de toda a sociedade, trata-se aqui da defesa da perspectiva de mão invisível de Adam  
Smith. (Mustafá; Silva; Anselmo, 2018).  
Ao serem generalizadas e impulsionadas por órgão supranacionais, com destaque para  
Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização para a Cooperação e  
Desenvolvimento Econômico (OCDE), as medidas neoliberais promoveram uma verdadeira  
destruição econômica e social principalmente nos países ex-União Soviética e do Sul Global.5  
Associado a tal processo temos também o movimento de flexibilização. Para Ricardo  
Antunes (2013), a partir da década de 1970, emerge a era da acumulação flexível, com base no  
Toyotismo, como resposta à crise estrutural do capital. Inicia-se, assim, um intenso processo  
de reestruturação da produção e do trabalho em escala mundial. A terceirização, a  
informalidade e a flexibilização passam a compor a dinâmica predominante das relações de  
trabalho no capitalismo contemporâneo.  
658  
Ainda segundo Antunes (2013), a lógica desse modelo reside na redução do proletariado  
estável e na ampliação, no interior das plantas produtivas modernas, de formas de trabalho  
precarizado, como jornadas parciais (part-time), contratos temporários, terceirizações e  
vínculos marcados pela instabilidade. Soma-se a isso o crescimento do desemprego estrutural.  
Exige-se dessas(es) trabalhadoras(es) níveis cada vez mais elevados de qualificação  
profissional para executar múltiplas funções cada vez mais complexas, frequentemente  
mediadas pelas novas máquinas informatizadas de maior incremento tecnológico.  
Para Claudia Nogueira (2013), no período pós-1970, observa-se também um processo  
de feminização do trabalho, com uma intensificação da inserção das mulheres no mercado de  
5 Para maiores aprofundamentos sobre a trajetória histórica do neoliberalismo sugerimos Mustafá, Silva e Anselmo  
(2018).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 654-671, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
trabalho. No entanto essa inserção ocorre majoritariamente por meio de ocupações precárias,  
marcadas por acentuada exploração. A autora destaca a existência de uma divisão sociossexual  
do trabalho, um fenômeno histórico que se transforma de acordo com determinado período e é  
diferenciado a depender da sociedade a qual faz parte. Na sociedade capitalista, o trabalho  
doméstico fica sob responsabilidade das mulheres, tanto quando exercido de forma remunerada  
ou não.  
Ainda segundo Nogueira (2013), a divisão sociossexual do trabalho expressa uma  
hierarquia de gênero que contribui para a desqualificação e desvalorização do trabalho  
feminino, tanto no âmbito produtivo quanto no reprodutivo  
Ao compreendermos esse movimento geral do capital, buscamos, neste artigo,  
aproximar-nos de determinadas expressões da particularidade brasileira e italiana. Partimos do  
pressuposto de que, para realizar um estudo comparativo sobre as características do trabalho  
assalariado, é fundamental analisar os elementos históricos, políticos, econômicos e sociais que  
repercutem no movimento histórico-dialético da realidade em cada realidade nacional.  
Nosso objetivo não é meramente compor um “quadro comparativo” entre as condições  
de trabalho do Serviço Social no Brasil e na Itália, mas compreender os fatores estruturais e  
conjunturais que influenciaram o desenvolvimento dessas particularidades.  
Neste sentido, Edneia Alves Oliveira (2017) sinaliza que embora Brasil e Itália ocupem  
posições diferentes na divisão internacional do trabalho, é possível identificar algumas  
características comuns em seus processos históricos. No âmbito da formação no Estado, ambos  
os países compartilham a ausência de uma revolução burguesa clássica, a persistência de  
disparidades regionais marcantes e a presença de um forte fisiologismo na condução das  
políticas sociais. Oliveira (2017, p. 2) destaca ainda a “implementação do ideário neoliberal e  
as mudanças em curso orquestradas para adequar a legislação trabalhista ao novo processo  
organizativo”  
659  
Segundo a referida autora, o mercado de trabalho italiano sempre apresentou como  
característica histórica a proteção ao/à trabalhador(a), resultado do pacto keynesiano/fordista  
pós-Segunda Guerra e da luta do movimento sindical operário6. Um exemplo emblemático é a  
Caixa Integração de Ganhos Ordinária (Cassa Integrazione Guadagni Ordinaria - CIGo),  
criada na década de 1980, considerada como uma política social mais difundida e generosa na  
Europa.  
6 Cabe evidenciar a importante influência do Partido Comunista Italiano (PCI) para o movimento operário, dentre  
as ações mais conhecidas podemos destacar os Conselhos de Fábrica que nascem em Turim no ano de 1919 sob  
liderança de Antônio Gramsci.  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
No caso brasileiro, Josiane Soares Santos (2012) enfatiza o caráter periférico e  
retardatário do capitalismo nacional, acentuado pelo imperialismo e pelos processos de  
concentração e centralização de capital próprios do capitalismo em seu estágio monopolista.  
Destarte, as relações sociais e de trabalho no país conformaram-se de maneira “não clássica”,  
com uma burguesia nacional que recorre constantemente à lógica da “revolução passiva”.  
Assim, o mercado de trabalho no Brasil se constituiu a partir de elementos particulares  
da sua formação social. Santos (2012) afirma que o capitalismo brasileiro não se desenvolveu  
um modelo clássico de padrão "fordistas/keynesianista”, o que resultou na prevalência da  
“flexibilidade estrutural e a precarização das ocupações como características históricas do  
regime de trabalho” (Santos, 2012, p. 232).  
A autora também destaca que o passado colonial-escravista e a ausência de uma  
“ruptura” real entre a burguesia nacional e os setores aristocráticos e elitistas, contribuíram para  
a conformação de uma sociedade que tem o racismo como um elemento estrutural. Mesmo após  
a abolição da escravidão, a população negra não foi imediatamente transformada em  
trabalhadores(as) assalariados(as). Ao contrário, o Estado nacional priorizou à imigração  
europeia, promovendo um projeto de branqueamento da população brasileira e a consequente  
marginalização dos/as trabalhadores/as negros/as, elementos presentes até os dias de hoje, seja  
na sociedade que na constituição do mercado de trabalho nacional (Santos, 2012, p. 138).  
Ao trazer elementos históricos e econômicos da formação das classes sociais no Brasil,  
Clóvis Moura (2019) analisa o racismo como componente estruturante e segregador da  
sociedade brasileira. Segundo o autor, a população negra ex-escravizada, mesmo após a  
abolição da escravidão, não foi incorporada ao trabalho assalariado automaticamente, mas foi  
relegada às formas mais aviltantes de trabalho e às piores condições de moradias. Como destaca  
Moura (2019, p. 103):  
660  
Assim como a sociedade brasileira não se democratizou em suas relações  
sociais fundamentais, também não se democratizou em suas relações raciais.  
Por essa razão, aquela herança negativa que vem da forma como a sociedade  
escravista teve início e se desenvolveu, ainda tem presença no bojo da  
estrutura altamente competitiva do capitalismo dependente que se formou em  
seguida (Moura, 2019, p. 103).  
Nesse sentido, enquanto Oliveira (2017, p. 21) observa que, na Itália, o mercado de  
trabalho historicamente contou com certa proteção social, no Brasil, ao contrário, os processos  
de precarização e flexibilização sempre foram elementos estruturais. Conforme suas palavras:  
Na Itália há uma tendência de precarização contínua, mas ainda com  
determinada proteção social, o que considero uma precarização protegida,  
enquanto no Brasil o que assistimos é uma ausência de direitos sociais e  
trabalhistas revelando uma precarização desprotegida (Oliveira, p. 252).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 654-671, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
Mais recentemente com a adoção do neoliberalismo a nível mundial, observa-se o  
acirramento dos processos de exploração e de perda de direitos nos dois contextos nacionais  
analisados. A partir do final dos anos de 1980, a Itália começa a adotar medidas de flexibilização  
e precarização das relações de trabalho, com o objetivo de atender às exigências do Tratado de  
Maastricht (1992)7 e garantir sua inserção no bloco da União Europeia. Segundo Oliveira  
(2017), o neoliberalismo italiano apresentou contornos mais suaves, em comparação àquele  
brasileiro, mas foi igualmente caracterizado pela liberalização do mercado financeiro, pela  
adoção de diversas contrarreformas nas políticas sociais e pela flexibilização da legislação  
trabalhista. Destaca-se ainda que tais medidas aconteceram principalmente durante os governos  
de Silvio Berlusconi, sob a influência de grupos e partidos de extrema-direita, como a Lega  
Nord.  
Dentre os marcos legais desse processo, destaca-se o chamado “Pacote Treu”, de 1997,  
que representou uma inflexão normativa no sentido da flexibilização do mercado de trabalho  
italiano. Em 2003, a Lei nº 30 aprofundou esse caminho, ao instituir novas tipologias contratuais  
e multiplicar as formas de trabalho parcial e precarizado.  
No Brasil, o movimento não foi diferente. Desde a promulgação da Constituição Federal  
de 1988, observa-se um processo de mudanças constitucionais “pelo alto”, principalmente via  
aprovação de Emendas Constitucionais e Medidas Provisórias. Nos anos 1990, durante o  
governo de Fernando Henrique Cardoso, consolidou-se a implementação do receituário  
neoliberal definidos desde o Consenso de Washington (1989). Como destaca Netto (2012, p.  
417), o projeto neoliberal fundamentava-se em três eixos principais: a “flexibilização” da  
produção e das relações de trabalho; a "desregulamentação" das relações comerciais e dos  
circuitos financeiros; e, da "privatização" do patrimônio estatal, que seguiram as orientações do  
Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mesmo nos governos de  
esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT), durante as gestões dos governos de Luiz Inácio  
Lula da Silva e Dilma Rousseff, assistimos a uma continuação da implementação de políticas  
que refletiam o ideário neoliberal, embora com características diferenciadas em comparação  
aos governos anteriores.  
661  
No contexto do governo ilegítimo de Temer, foi aprovada a Lei nº 13.429/2017,  
conhecida como contrarreforma trabalhista. Seus efeitos sobre a classe trabalhadora têm se  
mostrado as mais nefastas possíveis, aprofundando a precarização das relações de trabalho. Para  
7
O Tratado de Maastricht estabeleceu medidas a serem adotadas pelos países europeus em consonância com o  
Consenso de Washington (1989), a adoção do Euro subordina a economia nacional dos países europeus aos ajustes  
propostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) (Oliveira, 2017, p. 78).  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
Martins, Feres e Beluzzi (2017), essa normativa se estrutura a partir de quatro diretrizes  
principais: (1) a supremacia das negociações diretas entre empregados e empregadores sobre as  
normas trabalhistas, ou seja, a primazia do negociado sobre o legislado; (2) a ampliação a  
ampliação das possibilidades de terceirização, incluindo atividades-fim e atividades-meio; (3)  
a flexibilização dos contratos e das jornadas de trabalho, com modalidades ajustáveis; e (4) a  
imposição de limites ao acesso e à atuação da Justiça do Trabalho.  
Em pouco tempo após a entrada em vigor da referida legislação, observaram-se  
aumentos dos indicadores de desemprego e subemprego, bem como o crescimento da  
informalidade nas contratações e a supressão de direitos historicamente conquistados. Dados  
do IBGE (2020) sinalizam que, entre os anos de 2012 e 2014, houve um aumento de 7,3% nas  
ocupações formais. Contudo, no período de 2017 a 2019, tal aumento ocorreu nas ocupações  
informais, com variação de 6,1%. Para Passos e Lupatini (2020), o avanço da informalidade  
não apenas compromete a estabilidade das relações de trabalho, como também reduz o acesso  
da classe trabalhadora aos direitos assegurados pela seguridade social, especialmente no que se  
refere às políticas públicas de saúde e previdência social8.  
Dilemas da profissão em tempos de generalização da precarização do trabalho.  
O surgimento do Serviço Social enquanto profissão está diretamente associado ao  
momento histórico em que as multifacetadas refrações da “questão social” passaram a ser objeto  
de intervenção por parte de legislações e políticas sociais. Conforme analisa Netto (2001), esse  
processo ocorre no marco do desenvolvimento do Estado monopolista.  
662  
Enquanto trabalhadoras(es) assalariadas(os), mediadas(os) pelo mercado de trabalho,  
assistentes sociais têm a compra e venda de sua força de trabalho intermediada pela relação  
dinheiro/salário. Nesse sentido, segundo Raichelis (2020), as/os assistentes sociais, na condição  
de integrantes da classe trabalhadora, estão igualmente submetidas(os) aos processos de  
degradação das relações laborais e de violação de direitos que atingem o conjunto da classe  
trabalhadora. Iamamoto (2008) destaca entre esses processos a alienação, a precarização dos  
vínculos de trabalho e a degradação do próprio local institucional de atuação, principalmente,  
no âmbito do setor público.  
8Sobre as demais políticas sociais destacamos duas outras grandes contrarreformas, são a Emenda Constitucional  
(EC) 95/2016, que instituiu um novo regime fiscal com limite para os gastos da União para as próximas duas  
décadas, e a EC nº 103/2019 logo no primeiro ano do (des)governo de Jair Bolsonaro, que expressou uma  
verdadeira perda de direitos previdenciários.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 654-671, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
Outro elemento que reverbera no desenvolvimento da profissão em cada país são  
aqueles relacionados a seu objeto e principal lócus de atuação: as respostas historicamente  
construídas às multifacetadas expressões da “questão social”.  
No tocante ao Serviço Social brasileiro, Raichelis (2020) evidencia que novas formas  
de trabalho e contratação tendem a tornar-se cada vez mais frequentes. Assistentes Sociais  
passam a ser recrutadas por meio de realização de pregões, por intermédio de “cooperativas de  
trabalhadores, trabalho temporário, empresas de prestação de serviços internos e externos, e  
principalmente as chamadas PJs (personalidade jurídicas)” (Raichelis, 2020, p. 25).  
A autora sublinha que as transformações do “mundo do trabalho” deixaram de ter  
caráter residual para assumir um papel central e generalizado, alcançando diferentes campos de  
atuação. Essas mudanças ocorrem não apenas no âmbito empresarial, mas também no interior  
das organizações estatais, com repercussões diretas para o significado da profissão, suas  
atribuições, competências, respostas profissionais e implicações éticas.  
As repercussões da reestruturação produtiva e da generalização da precarização no  
trabalho da/o assistente social podem se expressar na intensificação do tempo de trabalho, na  
rotinização das atividades, na padronização dos processos de intervenção, no fortalecimento de  
mecanismos de controle dos serviços e benefícios, bem como na crescente burocratização das  
atividades desempenhadas. (Raichelis, 2020, p. 33).  
663  
Assim como no Brasil, na Itália o Serviço Social também é reconhecido com uma  
profissão regulamentada, respaldada pela Lei nº 84, de 23 de março de 1993. Possui caráter  
autônomo e está estruturado em torno de conselhos profissionais em nível nacional e regional.  
O atual Código Deontológico do Serviço Social italiano foi lançado em 20209.  
Os/as assistentes sociais italianos/as são organizados/as em dois registros; Seção A e  
Seção B. A Seção A abrange os/as profissionais que cursaram o mestrado profissional em  
Serviço Social e Políticas Sociais10, enquanto a Seção B corresponde àqueles/as com formação  
trienal em Serviço Social (três anos)11. O exercício legal da profissão exige aprovação no  
Exame de Ordem e inscrição no respectivo Conselho Regional. De modo geral, os/as  
profissionais da Seção A tendem a ocupar cargos de gestão e administração, além de  
9 Sobre o debate dos fundamentos do Serviço Social brasileiro e italiano vide o artigo de Silva (2020) e Anselmo  
e Silva (2021).  
10Curso de pós-graduação com a duração de dois anos, assim como os mestrados acadêmicos brasileiros (classe  
LM-87 — Laurea Magistrale in Servizio Sociale e Politiche Sociali).  
11Curso de graduação que após a reforma universitária de unificação do sistema de ensino superior europeu  
(Declaração de Bolonha, 1999) passou a ter a duração de três anos, assim como todos os demais cursos de  
graduação na União Europeia (classe: L-39 — Laurea triennale in Servizio Sociale).  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
apresentarem, frequentemente, maior tempo de atuação e experiência laboral em comparação  
àqueles/as da Seção B.  
Uma pesquisa realizada em 2010 sobre o trabalho das assistentes sociais da Região de  
Lácio evidenciou que os vínculos laborais da Seção B são significativamente mais precarizados  
em relação aos/as profissionais da Seção A. Como destaca Burgalassi (2012, p. 37):  
A seção A, se diferencia pela presença muito consistente de trabalhadores a  
tempo indeterminado (78,6%), sobretudo na faixa etária de 50 a 59 anos  
(50%), e uma porcentagem modesta, 8,9%, de precarizados (assistentes  
sociais com contrato a tempo determinado) (...). Na seção B, pelo contrário, a  
análise associada das duas características evidencia uma situação  
completamente diferente a respeito da seção A, evidenciando as dificuldades  
dos jovens assistentes sociais a entrarem no mundo do trabalho e/ou de ter  
condições trabalhistas mais estáveis (Burgalassi, 2012, p. 37, tradução nossa).  
Conforme observado no item anterior, notamos que tal dado dialoga com a realidade  
nacional italiana, na qual as recentes contrarreformas neoliberais realizadas foram no sentido  
de generalizar os vínculos de trabalho precarizados, impactando principalmente entre mulheres  
e jovens.  
Ao analisar o exercício profissional frente à crise do chamado “Welfare italiano”,  
Burgalassi (2012, tradução nossa) afirma que o Serviço Social é uma profissão particularmente  
sensível à crise societária vivenciada atualmente. Diante uma fase de graves dificuldades  
socioeconômicas, a/o assistente social enfrenta uma dupla dificuldade: de uma parte, se depara  
com o aumento de demandas consideradas já tradicionais da realidade italiana, somadas a novas  
formas e situações de vulnerabilidades específicas do atual cenário; de outra parte, deve atuar  
em um quadro caracterizado pela redução dos recursos e serviços públicos.  
664  
Na Itália, assim, os assistentes sociais se encontram atualmente de frente a um  
desafio. Por definição, o mandato do Serviço Social é aquele de promover o  
bem-estar das pessoas e da comunidade e nos últimos anos a eficácia das suas  
ações foi fortalecida (...). Porém, em um cenário no qual começam a delinear-  
se os efeitos de uma inversão de tendências, o trabalho dos profissionais se  
confronta com carências, dificuldades e obstáculos que podem condicionar e  
comprometer suas orientações e operacionalizações (Burgalassi, 2012, p. 20,  
tradução nossa).  
Nesse sentido, durante a entrevista com o observador privilegiado, foi destacado que,  
embora nas últimas duas décadas tenha havido um avanço na valorização do Serviço Social e  
no reconhecimento da profissão dentro da rede de proteção social, (devido aos avanços no  
âmbito de legislação e normatização como vimos no item anterior12), tal processo não implicou,  
necessariamente, um aumento efetivo do número de profissionais no sistema público.  
12 Vale sinalizar para Lei 178/2020 (Lei Orçamentária para 2021), que em seu artigo 1º, parágrafo 797 e seguintes,  
previa um número definido de assistentes sociais por número de habitantes, especificamente um trabalhador para  
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Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
(..) isto é, o número de assistentes sociais que trabalham dentro do sistema  
público não cresceu muito, enquanto a componente de assistentes sociais que  
trabalham no terceiro setor por sua vez cresceu muito, porque os atores  
institucionais, o sistema público, o Estado, as Regiões, as Comune13 cada vez  
mais delegam ao terceiro setor a realização dos serviços. Dessa forma, os  
serviços são ainda financiados pelos Comune e pelos sujeitos públicos, mas  
são cada vez mais realizados dos sujeitos externos, pelas organizações  
externas. Logo, tivemos um crescimento complexivo no sistema dos serviços,  
um crescimento da componente dos assistentes sociais e do reconhecimento  
da importância de seu trabalho, que, contudo, é um pouco realizado na rede  
pública e muito realizada no setor privado, no profit (Burgalassi, 2022,  
tradução nossa)14.  
O professor Marco Burgalassi, nosso observador privilegiado, afirma em entrevista  
concedida a uma das autoras que o movimento de delegação de responsabilidades do Estado ao  
terceiro setor, frequentemente identificado como processo de “externalização dos serviços  
sociais”, tem se intensificado nos últimos anos. Segundo ele, tal dinâmica resultou em um  
expressivo crescimento no número de assistentes sociais atuando no terceiro setor na Itália.  
Essa realidade também foi apontada no grupo focal realizado em novembro de 2022,  
em Roma. Na ocasião, as/os participantes destacaram a carência de profissionais nas estruturas  
municipais, em decorrência de cortes no Fundo Nacional de Políticas Sociais e da fragilidade  
do marco regulatório regional.15  
A administração pública tende a externalizar os serviços sociais (...) Estes  
continuam serviços públicos, cujo o Comune decide a finalidade, o  
financiamento, as regras, porém a realização concreta é atribuída à sujeitos  
externos, assim o Comune evita todos os problemas ligados (...) às admissões,  
às substituições, logo a tendência é aquela de ter um núcleo cada vez mais  
reduzido de profissionais do setor público e do outro lado ter uma parte cada  
vez maior de profissionais no setor privado (Burgalassi, 2022, tradução  
nossa)16.  
665  
No Brasil, essa lógica também se evidencia. Dados da pesquisa nacional do CFESS  
(2022) sobre o perfil de assistentes sociais no Brasil destacam um momento de realização de  
“parcerias” entre o setor público e privado para oferta de serviços, o que se expressa na  
contratação de profissionais via instituições sociais. Assim, “essa situação explosiva alimenta  
cada 5.000 habitantes / 4.000 habitantes.  
13 O Comune é uma autoridade local territorial autônoma de acordo com o artigo 114 da Constituição da República  
Italiana. Ele pode ser subdividido em frações (partes muito pequenas do território ligado ao Comune), que, por sua  
vez, podem ter poder limitado graças a assembleias eletivas especiais. Um município também pode ter o título de  
cidade.  
14 Entrevista concedida a Salyanna de S. Silva em novembro de 2022.  
15  
As funcionárias contratadas por meio de cooperativas, mas que atuam na Comune de Roma, possuem um  
endereço de e-mail distinto, utilizado especificamente para indicar que estão colaborando com a administração  
municipal, embora não integrem a equipe interna da Prefeitura.  
16 Entrevista concedida a Salyanna de S. Silva em novembro de 2022.  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
a dinâmica de privatização do bem público e de contratação indiscriminada de trabalhadores/as  
temporários/as, terceirizados/as e/ou comissionados/as” (CFESS, 2022, p. 99).  
Particularmente, na cidade de Vitória (ES), esse fenômeno se expressa de forma  
concreta. Segundo Girelli (2023), em 2021 a Secretaria Municipal de Assistência Social  
(SEMAS) mantinha 15 Termos de Colaboração com cinco Organizações da Sociedade Civil  
(OSCs). Nesse mesmo ano, o número de trabalhadoras(es) era de 978 pessoas, sendo que 809  
possuía vínculo indireto, via Termos de Parceria, e apenas cerca de 10% eram servidoras(es)  
efetivas(os).  
Os dados da pesquisa de campo indicam que o 84% (21) das(os) assistentes sociais que  
responderam ao questionário tinham vínculo celetista via convênio/termo de colaboração com  
entidades, particularmente com a Organização da Sociedade Civil (OSC) Agência Adventista  
de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), entidade vinculada à Igreja Adventista  
do Sétimo Dia. Apenas 16% (04) assistentes sociais afirmaram que seu vínculo é via  
contratação direta com a Prefeitura (Designação Temporária - DT)17. A forma de ingresso nesse  
caso se dá via seleção simplificada, a verba para contratação de tais profissional é via Edital  
público do Governo de Estado.  
Embora a SEMAS conte com servidoras(es) concursadas(os)18, entre as/os assistentes  
sociais que atuam diretamente nos CRAS, se evidencia a prevalência de vínculos de trabalho  
via Termo de Colaboração e Designação Temporária. As diferentes formas de contratação  
das/os profissionais implicam não apenas em cargas horárias diversas, mas em diferenciações  
no acesso à direitos trabalhistas no interior de uma mesma equipe. Por exemplo, entre as(os)  
profissionais concursadas(os) e que ingressam via DT a carga de trabalho semanal é de 40  
horas; enquanto as(os) profissionais contratadas(os) via ADRA tem uma carga horária de 30  
horas, com acesso a plano de saúde e odontológico, além do vale transporte não ser descontado.  
Tanto na realidade italiana quando na brasileira, observa-se um processo de negação do  
papel do setor público com garantidor de direitos, com crescente substituição por uma lógica  
empresarial voltada à eficiência e à competitividade.  
666  
Nesse sentido, Dardot e Laval (2016) destacam a reconfiguração da ação pública sob o  
neoliberalismo, marcada por uma mercadorização da instituição pública obrigada a funcionar  
17 A SEMAS firmou um Termo de Colaboração com ADRA (Termo nº 121/2019 – Processo nº 1890554/2019 que  
foi prorrogado até 31 de julho de 2023), através de tal mecanismo a ADRA disponibiliza profissionais que atuam  
diretamente nos serviços da proteção social básica do município, dentre esses os CRAS, o parâmetro para tal  
atuação é Plano de Trabalho presente no Termo.  
18 O último concurso público para SEMAS foi realizado em 2008. Em 2012 a Prefeitura realizou ainda um concurso  
para Secretaria de Saúde.  
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Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
de acordo com as regras empresariais” (Dardot; Laval, p. 275). Os autores observam que o  
Estado foi reestruturado em duas direções:  
[...] de fora, com privatizações maciças de empresas públicas (...), mas  
também por dentro, com a instauração de um Estado avaliador e regulador,  
que mobiliza novos instrumentos de poder e, com eles, estrutura novas  
relações entre governo e sujeitos sociais (Dardot; Laval, 2016, p. 273).  
Na entrevista, o professor Burgalassi sinalizou que em torno de dez mil assistentes  
sociais atuam atualmente no terceiro setor em toda a Itália. Em geral, os contratos duram de três  
a cinco anos. Tal situação cria uma precariedade, as/os profissionais nessa condição trabalham  
sabendo que um dia o contrato acaba.  
Essa dinâmica comporta precariedade, porque se uma pessoa tem a certeza de  
estar em seu posto de trabalho também nos próximos anos, trabalha com o  
espírito sereno, quem sabe não satisfeito, mas sereno, sobretudo porque pode  
fazer projetos futuros, com a certeza de poder comprometer-se, comprar uma  
casa, criar uma família (Burgalassi, 2022, tradução nossa)19.  
Na primeira década dos anos 2000 a Itália apresentou um crescimento nos níveis da  
pobreza e miséria. Tal processo não foi seguido do crescimento no âmbito das políticas sociais,  
o que reverbera no trabalho das/os assistentes sociais.  
As necessidades crescem, entretanto, depois de uma fase favorável, entre  
2013-2014 os serviços sociais desaceleram e também o trabalho dos  
assistentes sociais se transforma complexo e cansativo, porque passa a existir  
cada vez mais emergências e situações complexas (...) os próprios assistentes  
sociais tiveram que assumir problemas cada vez mais complexos,  
especialmente na frente da pobreza e marginalização onde tivemos um  
crescimento exponencial. Na Itália, em poucos anos, o número de pobres  
estimado em cerca de dois milhões e meio passou para cerca de cinco milhões  
em situação de pobreza absoluta, abaixo do limiar de subsistência. Assim  
grandes problemas, grandes necessidades, com recursos muito modestos  
(Burgalassi, 2022, tradução nossa)20.  
667  
O referido professor Burgalassi chama atenção para os riscos futuros ao Serviço Social  
que tange a seus fundamentos ético-políticos. As transformações nas diretrizes do Welfare, tais  
como o enfraquecimento da universalização, a redução da socialização das necessidades e  
riscos ligados à desigualdade de natureza socioeconômica, o declínio da solidariedade  
distributiva e o crescimento do papel do chamado terceiro setor21 podem implicar em tensões  
éticas relevantes nos fundamentos da profissão (Burgalassi, 2012, tradução nossa).  
19 Entrevista concedida a Salyanna de S. Silva em novembro de 2022.  
20 Entrevista concedida a Salyanna de S. Silva em novembro de 2022.  
21  
A Itália historicamente apresenta uma forte tradição em relação à atuação e oferta de serviços de caráter  
assistencialistas e caritativos principalmente através de organizações religiosas, com destaque para a Caritas e a  
Comunidade Sant’Egídio.  
Salyanna de Souza Silva; Gisele Caroline Ribeiro Anselmo; Francesca Cubeddu  
Dessa forma, observa-se que o avanço das contrarreformas neoliberais e a ampliação da  
lógica de externalização dos serviços sociais, tanto no Brasil quanto na Itália, têm repercutido  
diretamente nas condições de trabalho das/os assistentes sociais e nos fundamentos que  
orientam sua prática. As diferentes formas de precarização, a fragmentação dos vínculos e o  
reordenamento das responsabilidades públicas colocam em xeque não apenas os direitos sociais  
conquistados, mas também os princípios ético-políticos que sustentam o projeto profissional do  
Serviço Social.  
Embora no âmbito do Serviço Social brasileiro possamos falar de um Projeto  
Profissional Ético-Político, que se constituiu historicamente, ancorado nos diferentes fóruns  
coletivos das entidades representativas do Serviço Social, nos Conselhos Federal e Estaduais  
(Conjunto CFESS/CRESS), na Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social  
(ABEPSS) e no Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS), nas Diretrizes Curriculares  
de 1996 da ABEPSS e no Código de Ética Profissional de 1993, não podemos esquecer que a  
conjuntura internacional em que vivemos se apresenta com um intenso acirramento das bases  
histórico-político sob as quais tal projeto foi construído. Seguindo as palavras de Santos (2007),  
é imprescindível não superdimensionamos tal direção e fazermos uma leitura realista de tais  
desafios conjunturais. Concordamos com Silva (2023) ao afirmar que:  
Em tempos de ataques constantes à democracia, ultraneoliberalismo e  
conservadorismo, as/os assistentes sociais, por atuarem diretamente nas  
políticas sociais junto às parcelas da população mais subalternizada, precisam  
ter com imperativo de seu fazer profissional o conhecimento crítico da  
realidade, da política social em qual atua, mas principalmente o domínio dos  
elementos que envolvem a direção e posicionamento ético-político (Silva,  
2023, p. 233).  
668  
É nesse cenário de intensas transformações que se impõe a necessidade de resistência,  
análise crítica e reafirmação do compromisso com a universalização dos direitos e com a justiça  
social. Trata-se dessa forma de um desafio ético-político que vai além da boa e eficaz execução  
da política social, mas orienta-se na direção de uma emancipação humana.  
Considerações finais  
Ao longo deste artigo, procuramos apresentar alguns dados preliminares de uma  
pesquisa comparativa que tem como objetivo geral analisar quais as atuais transformações no  
âmbito da precarização do trabalho e suas possíveis implicações ético-políticas para a atuação  
das/os assistentes sociais inseridas na política de assistência social no Brasil e na Itália.  
A partir de um levantamento bibliográfico sobre aspectos estruturantes da formação  
social de cada país, foi possível evidenciar a existência de algumas particularidades nacionais  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 654-671, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Serviço Social, transformações no trabalho e desafios ético-políticos: uma análise comparativa Brasil-Itália  
relevantes. Se na Itália, graças à adoção de pacto fordista- keynesiano e da força do movimento  
sindical operário, o mercado de trabalho contou com maior proteção social; no Brasil, ao  
contrário, a precarização, a informalidade e a flexibilização sempre estiveram presentes nos  
elementos estruturantes da relação capital–trabalho. Com a adoção de medidas neoliberais, a  
precarização/flexibilização do trabalho passou a ser adotada como uma exigência condicionante  
ao “apoio” financeiro de organismos internacionais (Oliveira, 2017).  
Tanto na realidade brasileira quanto italiana, observou-se um movimento de  
“externalização dos serviços sociais”, evidenciando uma tendência mundial de transformação  
e mercadorização da ação pública (Dardot; Laval, 2016). O que por sua vez reverbera no acesso  
ou não à estabilidade e aos direitos trabalhistas para a/o assistente social que atuam nas políticas  
sociais. Temos dentro de um mesmo serviço profissionais que atuam com cargas horárias e  
acesso a direitos trabalhista diferentes, pois muitas vezes seu vínculo trabalhista e suas  
atribuições é atrelado às organizações sociais.  
Diante das transformações em curso no mundo do trabalho, torna-se necessário que as  
reafirmando o compromisso com o projeto ético-político profissional, pautado na defesa dos  
direitos sociais, na ampliação da cidadania e na luta coletiva pelos interesses da classe  
trabalhadora.  
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