Ana Elizabete Mota
trincheiras da dominação de classe.
Sua natureza mundializada e seus traços de unidade, contudo, não eliminam suas
particularidades nos Estados Unidos, Europa, América Latina e Caribe, onde se inclui o Brasil.
Na América Latina, segundo recente artigo, intitulado A onda neoconservadora no cenário
ocidental: revisão histórica, social e política (Vieira; Rebelatto; Almeida, 2024), esse
movimento foi influenciado principalmente pelos EUA, tanto nos setores políticos e sociais
quanto culturais. As ideias e suas manifestações estão ligadas à ascensão das igrejas (tanto
evangélicas como da renovação carismática) a partir de fins dos anos 1970, orientadas pelo
contexto da Guerra Fria (1945-1989): competiram com os movimentos sociais que se formavam
nos países da região em torno de bandeiras neoconservadoras, contrapondo-se à Teologia da
Libertação, surgida no seio da Igreja católica progressista na década de 1960 (El Salvador,
México, Equador, Peru, Brasil e Uruguai), com o apoio da Casa Branca de Reagan. Conforme
explica Carvalho (2023), esses cristãos, através das missões evangélicas, fomentaram a agenda
norte-americana e tentavam desaconselhar as pessoas a entrarem em movimentos sociais.
Acreditavam que seu trabalho na região era uma missão bíblica: conquistar o mundo para o
cristianismo.
Articulada em escala transnacional, desde o final da guerra fria, como brilhantemente
tratou Clara Mattei (2023) no seu livro A ordem do capital: como economistas inventaram a
austeridade e abriram o caminho para o fascismo, publicado pela Boitempo, a direita ganhou
amplitude e novas dimensões com a crise de 2008, criando outros meios de restaurar lucros
capitalistas e avançando na implementação de políticas que operaram novas expropriações
(Mota, 2018; Fontes, 2018), ampliando a pilhagem do fundo público (Behring, 2018),
avançando na “supercapitalização”, segundo a perspectiva mandeliana com a criação de novos
mercados, à custa das privatizações, parcerias público/privadas, entidades de direito privado
e/ou terceiro setor, inclusive através das privatizações atípicas de bens e serviços originalmente
públicos (educação, saúde, previdência, energia, extrativismo, comunicações), transformados
em grandes negócios (Fontes, 2018).
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Essa conjuntura, marcada por iniciativas que atingem as condições de vida e o acesso
aos meios de sobrevivência das classes trabalhadoras e segmentos pauperizados, revela a
ofensiva do capital, levada a efeito pelas classes proprietárias e dominantes, em resposta aos
seus interesses, plenas de apelos ideológicos, culturais e religiosos, utilizando-se de mídias
corporativas, do discurso das igrejas conservadoras, das fake news, das redes sociais, blogs e
youtubers, num verdadeiro espetáculo de mentiras, anti-intelectualismo, reacionarismo e
comunicação popular. Uma espécie de contrarrevolução midiática e reacionária para atingir
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 1-17, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518