Tradução  
Considerações sobre o conceito gramsciano de  
“classes subalternas”*  
Massimo Modonesi**  
Por certo, a filosofia da práxis se realiza no estudo concreto da história  
passada e na atividade atual de criação de uma nova história. Mas é possível  
elaborar a teoria da história e da política, já que, se os fatos são sempre  
individuais e mutáveis, no fluxo do movimento histórico, os conceitos  
podem ser teorizados (Antonio Gramsci).  
A partir dos anos 1980, como reflexo da queda dos movimentos anticapitalistas e do  
triunfo do neoliberalismo, os conceitos de classe e de luta de classes os mais originais,  
críticos e radicais do marxismo tornaram-se particularmente incômodos, produzindo um  
movimento em que, consequentemente, os pós-marxistas rejeitaram tais conceitos; os mais  
ortodoxos os retomaram mecanicamente; outros marxistas, os contornaram ou os evitaram, de  
modo que apenas alguns marxistas empreenderam a árdua tarefa de atualizar o debate sobre  
classe e luta de classe na contemporaneidade. Independentemente de uma resolução  
conceitual, nas sociedades capitalistas contemporâneas o problema das classes continua a  
emergir e a se impor no âmbito da produção e circulação de mercadorias e ideologias, da  
organização e da hierarquia social que lhes correspondem, assim como atravessa as dinâmicas  
dos alinhamentos subjetivos políticos e culturais que as habitam.  
Na busca por chaves de leitura que tornem inteligíveis esses processos, consideramos  
possível e imprescindível sustentar e, ao mesmo tempo, afirmar na contemporaneidade uma  
abordagem classista que responda ao princípio da totalidade, ou seja, que articule a análise  
das dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais. Para dar consistência a essa busca,  
*
“Considerazioni sul concetto gramsciano di ‘classi subalterne’”. Texto publicado originalmente na revista  
Critica Marxista (2019, nº 2). Reproduzido com a permissão do autor, concedida em junho de 2025. Traduzido  
por: Ana Lívia Adriano e Emilie Faedo Della Giustina – docentes da Universidade Federal Fluminense (UFF).  
** Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Faculdade de Ciências Políticas e Sociais.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.49057  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 09/06/2025  
Aprovado em:23/06/2025  
Considerações sobre o conceito gramsciano de “classes subalternas”  
contamos com um patrimônio de conhecimento histórico e com uma série de projetos teóricos  
elaborados por diversos autores e por distintas correntes do marxismo crítico1.  
Partindo desses pressupostos, dedicaremos as próximas páginas ao conceito de classes  
subalternas desenvolvido por Antonio Gramsci em seus escritos carcerários. Comportando  
grande atualidade e relevância tanto sociológica quanto política a noção de classes  
subalternas não foi devidamente estudada e analisada por Gramsci, apesar de ocupar um lugar  
fundamental na estrutura do seu pensamento. Nesse sentido, apresentaremos duas  
considerações: a primeira está relacionada ao adjetivo qualificativo de subalterno, no qual  
denominaremos da sequência subalternidade-autonomia-hegemonia. E, a segunda, associa-se  
ao substantivo classe e ao que denominamos fórmula classes subalternas.  
A sequência subalternidade-autonomia-hegemonia  
A origem e evolução do conceito de subalterno na obra de Gramsci foi reconstruída e  
analisada por vários autores2. Acrescemos a esse levantamento as contribuições dos Subaltern  
Studies3 que, embora tenham colaborado para a difusão do conceito, geraram mais equívocos  
do que esclarecimento em relação à sua consistência e alcance4. Denominamos de  
“subalternismo” esse uso indefinido do conceito, dado que culmina em uma abordagem  
essencialista de uma subjetividade reclusa na subalternidade e na exaltação de um subalterno  
autônomo, ativo, consciente e rebelde, ou seja, um subalterno não subalterno5.  
545  
Para sair desse impasse teórico, amplamente difuso no mundo acadêmico anglo-saxão,  
mas também através dos estudos culturais e pós-coloniais na América Latina, é oportuno  
retornar ao texto de Gramsci para reconhecer e destacar que o lugar e o papel que o conceito  
de subalternidade ocupa no seu pensamento gira em torno da sequência subalternidade-  
1 Um percurso descritivo de alguns dos autores mais influentes pode ser encontrado em Modonesi; Vela; Mingau.  
El concepto de clase social en la teoría marxista contemporanea, Cidade do México, Unam-Buap, 2017.  
2
BARATTA, G. Antonio Gramsci em contraponto. São Paulo: Unesp, 2011; J.A. Buttigieg, Sulla categoria  
gramsciana di “subalterno”, in G. Baratta, G. Liguori (a cura di), Gramsci da un secolo all’altro, Roma, Editori  
Riuniti, 1999; Id., Subalterno, subalterni, in G. Liguori, P. Voza (a cura di), Dizionario gramsciano 1926-1937,  
Roma, Carocci, 2009; M.E. Green, Sul concetto gramsciano di “subalterno” [2002], in G. Vacca, G. Schirru (a  
cura di), Studi gramsciani nel mondo 2000-2005, Bologna, Il Mulino, 2007; M. Modonesi, Subalternità  
antagonismo autonomia, Roma, Editori Riuniti, 2015. Guido Liguori, em dois artigos distintos, classificou de  
modo claro e bem documentado as diversas acepções que aparecem nos Cadernos: G. Liguori, Tre accezioni di  
“subalterno” in Gramsci, In Critica Marxista, 2011, n. 6, e Id., “Classi subalterne” marginali e “classi  
subalterne” fondamentali in Gramsci, In Critica Marxista, 2015, n. 4.  
3
Corrente historiográfica e interdisciplinar surgida na década de 1980 na Índia, de grande significado para os  
estudos dos subalternos. Contribuições e limitações desta corrente podem ser encontradas em MODONESI, M.  
Da subalternidade ao subalternismo: uma crítica gramsciana aos Subaltern Studies. In: DEL ROIO, M. (ed.).  
Gramsci: periferia e subalternidade. Edusp: São Paulo, 2017. [Nota das Tradutoras]  
4
Como já indicado por Buttigieg, Green, Modonesi, e da D. Arnold, Gramsci e la subalternità contadina in  
India, In G. Vacca, P. Capuzzo e G. Schirru, Studi gramsciani nel mondo. Gli studi culturali, Bologna, il Mulino,  
2008, e V. Chibber, Postcolonial theory and the specter of capital, London, Verso, 2013.  
5 M. Modonesi, Subalternità antagonismo autonomia, cit., pp. 38-52.  
Massimo Modonesi  
autonomia-hegemonia. Considero importante insistir nesse ponto e desenvolvê-lo até as  
últimas consequências6 porque há implicações teóricas essenciais não somente em relação à  
interpretação do pensamento de Gramsci, mas também às teorizações marxistas relacionadas  
aos processos de subjetivação política. Porque, dito de maneira mais simples, Gramsci não é  
um teórico da subalternidade, mas da sua superação, da saída da subalternidade, da construção  
histórica de um indivíduo social e político autônomo capaz de disputar a hegemonia. O desejo  
de compreender os subalternos fomenta o “espírito de cisão”7 próprio da vida e obra do autor,  
tendo como fio condutor a iniciativa autônoma das classes subalternas, sem, contudo, tomá-la  
como garantida e/ou essencializá-la.  
Nesse sentido, nos seus escritos carcerários, Gramsci dá a impressão de que  
intencionalmente recua um passo para poder avançar dois: apresenta a necessidade de retornar  
à história das classes subalternas e colocar em questão o terreno historiográfico para refletir  
sobre as etapas e processos que contribuem para a formação da autonomia e à consciência de  
classe8 enquanto condição para iniciar e manter a luta pela hegemonia (temática que deriva,  
em certo sentido, de Lenin, mas que é desenvolvida por Gramsci de modo original). Em um  
desenvolvimento lógico, seria possível argumentar que a noção de classes subalternas é a  
condição sine qua non para pensar e desenvolver a noção de hegemonia e que a autonomia  
constitui a mediação, o caminho indispensável ou - em termos dialéticos, a antítese da  
subalternidade, a parte integrante da síntese hegemônica que permite superar a contradição e  
que desfaz e refaz de maneira diversa o conflito de classe9.  
546  
Mas, independentemente das conjecturas teóricas ou metateóricas, inclusive no plano  
genealógico, na elaboração diacrônica e ramificada dos Cadernos, é fato que a formulação  
acerca dos subalternos precede a plena realização do conceito de hegemonia. Ao mesmo  
tempo, não se pode negar que também aconteça, se remontarmos a outros escritos e às origens  
6 Como já foi tratado em cfr. ivi, pp. 36-37 e, em geral, em todo o cap. 1.  
7 Gramsci descreve o “espírito de cisão” como a "aquisição progressiva da consciência da própria personalidade  
histórica" que deve se estender da classe protagonista às classes aliadas, surgindo como condição fundamental  
para disputar o campo ideológico da classe dominante (Q3, §49). Cf. DEL ROIO, M. Os prismas de Gramsci: a  
fórmula política da frente única (1919-1926). São Paulo, Boitempo: 2019. [Nota das Tradutoras]  
8
Que, além de serem argumentos inevitáveis no pensamento marxista, estavam no centro de suas reflexões à  
época do Ordine Nuovo e dos Conselhos de fábrica, assim como na sua posterior formação leninista em Moscou  
(cfr. ivi, pp. 24-26).  
9
Nas notas sobre classes subalternas no Caderno 3, de 1930, é formulado e apresentado pela primeira vez, de  
modo embrionário, uma das principais abordagens originais de Gramsci ao marxismo: a realização “orgânica”  
entre Estado e sociedade civil como realização da hegemonia das classes dominantes, a qual o portará, na  
sequência, a elaborar a noção de Estado ampliado, “sociedade política + sociedade civil”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 544-554, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Considerações sobre o conceito gramsciano de “classes subalternas”  
leninistas da questão, a hegemonia da classe operária em relação à classe camponesa10. Para  
dizer de outro modo, se encontra antes e depois.  
Para Gramsci, é somente a partir da gradual conquista da própria autonomia que a  
trajetória política dos subalternos pode atravessar a sociedade civil, disputar a hegemonia e  
eventualmente conseguir tornar-se Estado, rompendo definitivamente a relação e a estrutura  
de dominação existente.  
§2 Critérios metodológicos. A história dos grupos subalternos  
é
necessariamente desagregada e episódica. É indubitável que, nas atividades  
histórica destes grupos, existe tendência à unificação, ainda que em termos  
provisórios, mas esta tendência é continuamente rompida pela iniciativa dos  
grupos dominante e, portanto, só pode demonstrada com o ciclo histórico  
encerrado, se este se encerra com sucesso. Os grupos subalternos sofrem  
sempre a iniciativa dos grupos dominantes, memo quando se rebelam e  
insurgem: só a vitória “permanente” rompe, e não imediatamente, a  
subordinação. Na realidade, mesmo quando parecem vitoriosos, os grupos  
subalternos estão apenas em estado de defesa, sob alerta11.  
Nesse sentido, o conceito de classes subalternas deve relacionar-se com o de classes  
hegemônicas, ao invés de simplesmente contrapor-se ao de classes dominantes. Nota-se,  
assim, a sequência de um hipotético processo de subjetivação: subalternidade (classes  
subalternas hegemonizadas), autonomia e consciência de classe, disputa hegemônica (contra-  
hegemonia), hegemonia (hegemonia alternativa). Uma trajetória abstrata no interior da qual  
aparecem e intervém, em uma teia de relações de força, atores e personagens concretos de  
diversas constituições: classes, grupos, massas, intelectuais, partidos, personalidades  
cesaristas12 e enfim um “príncipe” que poderia organizar e guiar o processo rumo a um  
desfecho revolucionário.  
547  
Sob esse ponto de vista, faz-se necessário observar que o conceito de subalterno é  
ambivalente, pela sua ancoragem na dominação e sua tendência em direção à autonomia,  
indica o caminho do assujeitamento à subjetivação. Essa ambivalência é sintetizada na frase  
em que Gramsci afirma que as classes subalternas estão sempre na defensiva, “também  
quando se rebelam”, mas deixam raros e preciosos traços de “iniciativa autônoma”, de espírito  
10  
Fresu, G. Stato, società civile e subalterni, in A.M. Baldussi, e P. Manduchi, Gramsci in Asia e in Africa,  
Cagliari, Aipsa Edizioni, 2010; A. Di Biagio, Egemonia leninista, egemonia gramsciana, in F. Giasi, (a cura di),  
Gramsci nel suo tempo, Roma, Carocci, 2008.  
11  
As referências aos Cadernos, inclusive as diretamente no texto, são de A. Gramsci, Quaderni del carcere,  
edizione critica dell’Istituto Gramsci, a cura di V. Gerratana, Torino, Einaudi, 1975; são efetuadas indicando a  
letra Q seguida dos números do caderno, parágrafo e página (nesse caso, Q 25, 5, 2283-2284).  
12  
Na elaboração gramsciana, o cesarismo é definido como um regime em que forças beligerantes  
(“progressivas” e “regressivas”) se esgotam mutuamente, abrindo espaço para uma “grande personalidade” que  
assume arbitrariamente o poder (Q9, XIV, §ꢀ133). [Nota das tradutoras]  
Massimo Modonesi  
de cisão, de consciência ou, em outras palavras, de independência e de autodeterminação de  
classe.  
Um trecho dos Cadernos em que Gramsci fala do “trabalhador coletivo” é exemplar  
em relação à tensão entre condição subalterna e tendência à autonomia, dado que nosso autor  
se refere à classe “ainda subalterna” e que “não é mais subalterna”, em termos de “cisão” e de  
“consciência” (Q9, 67, 1138). Sendo assim, de um lado, os subalternos aparecem como  
passivos ou apáticos, sofrem a iniciativa hegemônica, fundamentalmente a imposição não  
violenta e a assimilação da subordinação, ou seja, a internalização dos valores propostos, a  
partir dos quais as classes dominantes de fato dominam ou conduzem moralmente e  
intelectualmente o processo histórico.  
Gramsci assinala que também na rebelião ocorre esse dispositivo relacional, a partir do  
qual refuta implicitamente qualquer dualismo maniqueísta que pretenda cindir os indivíduos  
reais a partir da separação entre resistência, desobediência e submissão como momentos  
separados assim como refuta o dualismo espontaneidade-direção consciente.  
Com efeito, ao mesmo tempo em que são assujeitadas, as classes subalternas se  
subjetivizam porque são ativas. Gramsci estabelece as etapas e as formas de ação destas em  
uma tipologia processual, que parte da existência material dos subalternos e passa por  
diversas possibilidades e modalidades de afirmação da consciência por meio de progressos na  
sua autonomia social e política. Em síntese: “1) o formar-se objetivo (...) no mundo da  
produção (...) a sua origem como grupos sociais preexistentes”; “2) sua adesão ativa ou  
passiva às formações políticas dominantes” que buscam influenciar; 3) “o nascimento de  
novos partidos dos grupos dominantes para manter o consenso e controle dos grupos  
subalternos; 4) as formações próprias dos grupos subalternos com reivindicações de caráter  
restrito e parcial; 5) as novas formações que afirmam a autonomia dos grupos subalternos mas  
em velhos moldes; 6) as formações que afirmam a autonomia integral etc.” (Q25, 5, 2288).  
Giorgio Baratta habilmente destaca que o “etc” que segue o ponto 6 da famosa nota  
abre outras fases e níveis13, sendo a autonomia o caminho intermediário entre a subalternidade  
e uma nova hegemonia, que corresponde à tese na qual a autonomia (para Gramsci, encarnada  
no príncipe moderno, o Partido Comunista14) é a condição e o ponto de partida para  
empreender a luta pela hegemonia.  
548  
13 G. Baratta, op. cit., pp. 130-132.  
14 Gramsci, na esteira de Lenin, não confia em uma simples gestação espontânea e de baixo da autonomia e, por  
isso, não pode confundir-se com uma posição autonomista.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 544-554, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Considerações sobre o conceito gramsciano de “classes subalternas”  
O contraponto ou, se quisermos, a antinomia entre subalternidade e autonomia  
aparece, explicitamente ou implicitamente, em distintas passagens dos Cadernos. Um vínculo  
estreito que poderia parecer óbvio, mas não destacado suficientemente e negado  
implicitamente quando foi se separou o estudo e a análise da resistência (ou desobediência)  
das classes subalternas marginalizadas pela luta pela hegemonia das classes fundamentais: de  
um lado, a subalternidade como política autônoma que exalta as rebeliões e seus impactos  
ainda parciais, ainda circunscritos à consolidação cultural de comunidades em resistência; de  
outro, a subalternidade como expressão da eficácia da dominação que propicia uma história  
de impossibilidade de sucesso e de permanente fracasso dos projetos e dos desejos encarnados  
nos movimentos desde baixo.  
O conceito que Gramsci propõe, inclui e explica as ambiguidades e os aspectos  
contraditórios desse processo, as oscilações e as combinações entre aceitação relativa da  
dominação - como resultado da hegemonia - e sua recusa, ainda que relativa, por meio da  
resistência e da rebelião, como entre a espontaneidade e a consciência. Em outras palavras,  
evidencia o vínculo da subordinação (subservismo, desorganização, desagregação,  
espontaneísmo, etc.) e, simultaneamente, faz da base por uma teoria da conformação  
autônoma do indivíduo em um contexto de dominação e hegemonia, acentuando o processo  
de conquista e exercício das margens de autodeterminação através dos quais os subalternos  
iniciam a deixar de o ser.  
549  
“Classes subalternas” e “grupos sociais subalternos”  
Outra questão de grande importância diz respeito à fórmula “classes subalternas” –  
que utilizei, não por acaso, no lugar de “grupos sociais subalternos”.  
Prefiro usar a expressão gramsciana de “classes subalternas” por considerar que esta  
postula e combina elementos ou fundamentos indispensáveis para pensar os processos de  
subjetivação política: a condição classista, com suas determinações materiais no terreno  
socioeconómico e a subalternidade, como situação sociopolítica. O x e o y da genética  
marxista da práxis e da subjetivação, que aparecem claramente no interior dos Cadernos, na  
intenção e no esforço de Gramsci de qualificar e revisar a relação entre estrutura e  
superestrutura para além da metáfora marxiana, a fim de poder avaliar o lugar e o tempo da  
dimensão política, sem dissociar da dimensão econômica. Um exemplo representativo desta  
intersecção analítica se encontra na já mencionada passagem em que Gramsci fala da  
constituição do “trabalhador coletivo” como uma tendência para deixar de ser classe  
subalterna (Q9, 67, 1137-1138).  
Massimo Modonesi  
Neste quadro geral que entrelaça agency e estrutura, bem como a política e a  
economia, assinalarei brevemente duas questões problemáticas e ao mesmo tempo profícuas,  
para delinear o conceito de classes subalternas como instrumento de uma herança categorial  
da sociologia política marxista. A primeira localiza-se no uso dos substantivos classes e/ou  
grupos subalternos. A segunda relaciona-se com a distinção entre classes fundamentais e  
classes marginais, e a hierarquia entre estas.  
Classes e grupos subalternos. Nos Cadernos não se encontra um significado único de  
classe, à medida em que esta aparece como um conceito constantemente adjetivado15. Nos  
dois primeiros Cadernos, Gramsci utiliza os conceitos de “classes produtivas”, “populares” ou  
“classes trabalhadoras”, e somente no Q3 (14, 299), de 1930, introduz o conceito de “classes  
subalternas” sem, no entanto, deixar de usar com frequência o conceito de “classes populares”  
e, esporadicamente, “classes instrumentais”, “inferiores”, “produtoras”, “fundamentais”,  
“subalternas”, “trabalhadoras”, “pobres”, “operárias” e até “atrasadas e politicamente  
incapazes” (Q 19, 5, 1980)16.  
Parece então que, dentre os vários usos, o de “classes subalternas” não implica uma  
definição exclusiva ou excludente, e que, mesmo assim, é uma acepção que é evidenciada e  
adquire centralidade nas reflexões de Gramsci, no âmago da relação político-ideológica entre  
dominantes e dominados. Além disso, é preciso acrescentar que, em duas ocasiões, Gramsci  
aceita como sinônimas as expressões “classes subalternas” e “massas populares” (Q 14, 10,  
1664) ou “classes populares” (Q 15, 74, 1833). Gramsci insere-as nas suas notas sobre  
“classes subalternas”, ainda que estas não tenham o mesmo destaque. Desse modo, “classes  
subalternas” é e não é um sinónimo de “classes populares”, uma vez que este último  
significado parece ser mais descritivo do que analítico ou, se quisermos, de segunda ordem.  
É sabido que no Caderno 25, de 1934, na transcrição da nota de seis pontos, redigida  
em primeira instância em 1930, Gramsci substitui o substantivo “classe” por “grupo”.  
Importante assinalar porque tal questão não é mencionada pelos estudiosos de Gramsci –  
que essa substituição é apenas parcial, uma vez que o termo “classe” se mantém em uma  
passagem dessa mesma nota, na formulação mais geral. Posteriormente, na enumeração dos  
parágrafos do referido Caderno, introduz o termo “grupos subalternos”. A noção de “classe”  
550  
15  
Conceito operativo, segundo Raúl Mordenti (Classe, classi, in G. Liguori, P. Voza (a cura di), Dizionario  
gramsciano, cit., p. 132); por outro lado, Mordenti considera que a autocensura, devido à condição do cárcere,  
contribuiu para que não o utilizasse sistematicamente.  
16  
Por outro lado, como equivalente de “classe dirigente”, Gramsci utiliza também as fórmulas de “classes  
dirigentes”, “superior”, “classe hegemônica”, “classe burguesa”, e, esporadicamente, expressões como “classe  
intelectual”, “classe culta”, “classe política” e “classe revolucionária”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 544-554, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Considerações sobre o conceito gramsciano de “classes subalternas”  
é, por um lado, utilizada por Gramsci nas notas posteriores ao Caderno 2517, enquanto a de  
“grupos” já havia aparecido anteriormente18. Green argumenta que se trata de “expressões  
intercambiáveis” e que não representam conceitos distintos para Gramsci19. Embora acabe por  
ser essencialmente verdadeira a um certo nível descritivo20, tal afirmação não explica a  
variação nem resolve o problema de nomenclatura envolvido, muito menos esclarece o  
estatuto do conceito de “classe” no pensamento de Gramsci.  
Seguindo o percurso do conceito de “classes subalternas”, não se pode argumentar que  
Gramsci abandona uma leitura classista dos processos políticos e, sendo esta uma fronteira  
entre marxismo e pós-marxismo, que sai do perímetro da tradição marxista. De todo modo,  
mesmo aceitando um eventual deslize semântico, reflexo da insatisfação com a precisão do  
conceito de classe, este não afetaria substancialmente o alcance teórico da tradição marxista  
dos Cadernos, uma vez que a perspectiva classista o estrutura de modo fundamental, do  
princípio ao fim. O resto pertence, de acordo com algumas polêmicas recentes, ao gênero dos  
romances policiais21.  
A introdução da noção de “grupo” é interna à análise classista e estabelece uma  
distinção qualitativa que não pode ser subestimada e que se presta a duas interpretações  
possíveis. A primeira é que Gramsci atribuiu um caráter mais preciso no uso da noção de  
classe, sem estendê-la levianamente às múltiplas formas de subalternidade para atribuir o  
conceito de classe a situações com maior densidade política, consciência, a classe em si ou,  
em alternativa, sublinhar o seu estatuto produtivo e estritamente operário de “classes  
instrumentais”. A segunda, mais importante e de natureza quantitativa, garantiria que os  
grupos possam e devam ser entendidos como frações de classe. Esta compreensão parece ser  
a mais apropriada aos termos do léxico marxista e se expressa como a hipótese mais provável,  
uma vez que - como assinalado - a noção de “classe” se mantém no plano mais geral,  
enquanto que na distribuição particular dos parágrafos a noção de “grupo” é introduzida.  
551  
17  
Como por exemplo no Caderno 27 (de 1935, Q 27, 1, 2312), em que em uma importante reflexão sobre o  
folclore, define o povo como “o conjunto das classes subalternas e instrumentais”, ou no Q29, 2, 2343.  
18  
No Caderno 8 de 1931-1932 (Q8, 153, 1033), depois no Caderno 14, miscelâneo, escrito entre 1932 a 1935  
(Q14, 34, 1691) e, no Caderno 15, de 1933 (Q 5, 66, 1830).  
19 Green, M. op. cit., p. 211.  
20  
De fato, no Caderno 10 (Q10 II, 41.XII) Gramsci refere-se a “grupos dominantes” e “classe superior” em  
conjunto com “classes subalternas” e, no Caderno 13 (Q13, 17), utiliza “grupos” para se referir às classes sociais.  
21  
Por exemplo, as que surgiram em torno dos Cadernos “desaparecidos”, a alegada “traição” de Togliatti, ou a  
“benevolência” de Mussolini ou a suposta conversão de Gramsci ao catolicismo durante a sua agonia. Sobre o  
assunto, ver A. D’Orsi (a cura di), Inchiesta su Gramsci. Quaderni scomparsi, abiure, conversioni, tradimenti:  
leggende o verità?, Milano, Accademia University Press, 2014.  
Massimo Modonesi  
Classes subalternas fundamentais e classes subalternas marginais  
A quais classes e grupos Gramsci se refere? Giorgio Baratta propôs a ideia de uma  
duplicidade interna na categoria de subalterno, que incluiria tanto os subalternos-proletários  
("classes instrumentais” em Gramsci) quanto os subalternos-subproletários (os  
marginalizados, às “margens da história”). Ao perguntar em quem Gramsci estava  
fundamentalmente pensando quando forjou esta categoria, Baratta responde fazendo  
referência à formulação de Gramsci no Caderno 27, no qual o “povo” é definido como “o  
conjunto de classes subalternas e instrumentais”. A partir desta definição, Baratta considerou  
duas hipóteses: na primeira, os subalternos se distinguem das classes produtivas e, na  
segunda, hipotetizou que o conceito de “subalterno” é mais amplo e inclui as “classes  
instrumentais”. Para eliminar a alternativa, ele se referiu à passagem do Caderno 3 no qual  
Gramsci menciona os “elementos mais marginais e periféricos dessas classes, que não  
alcançaram a consciência de classe em si”. Essencialmente, para Baratta, o conceito de  
“subalternos” inclui tanto os proletários como os subproletários 22.  
Liguori23 chega a uma conclusão semelhante, distinguindo “classes subalternas  
fundamentais” de “classes subalternas marginais”, demonstrando que Gramsci trabalha com  
vários significados da noção de “subalterno” sem tentar resolver o enigma de sua possível  
articulação ou a proeminência de um destes. Todavia, é evidente que a abertura conceitual  
implica que Gramsci considerou a condição de subalternidade como transversal a todo o  
espectro das classes exploradas e oprimidas e, ao mesmo tempo, um denominador comum  
para poder discernir tanto a diversidade da sua condição socioeconómica quanto sociopolítica  
(na linha espontaneidade-consciência) e a hierarquia que a compõe. Hierarquia que se sustenta  
por dois parâmetros, interno e externo: primeiro, sobre quem exercerá a hegemonia entre os  
subalternos e, segundo, sobre quem será capaz de sustentar a “autonomia na luta com os  
inimigos”24, a “classe subalterna mais avançada” que pode chegar mesmo a tomar o poder.25  
552  
22  
Giorgio Baratta, op. cit., pp. 120-123, também argumenta que a classe camponesa ocupa um lugar  
intermediário em uma estratificação interna dos subalternos.  
23 G. Liguori, “Classi subalterne” marginali e “classi subalterne” fondamentali in Gramsci, in Critica marxista,  
2015, n. 4.  
24  
“O estudo do desenvolvimento das forças inovadoras de grupos subalternos a grupos dirigentes e dominantes  
deve, portanto, procurar e identificar os processos através dos quais adquiriram autonomia face aos inimigos e a  
adesão dos grupos que os ajudaram ativa ou passivamente, uma vez que todo este processo foi historicamente  
necessário para se unificarem num Estado. O grau de consciência histórico-política a que estas forças inovadoras  
tinham progressivamente chegado nas várias etapas mede-se precisamente por estes dois critérios e não apenas  
pelo seu afastamento das forças anteriormente dominantes” (Q 25, 5, 2289).  
25  
“Outros exemplos podem ser extraídos de todas as revoluções passadas em que as classes subalternas eram  
numerosas e hierarquizadas por posição econômica e por uma homogeneidade. Os movimentos ‘espontâneos’  
das camadas populares mais amplas tornam possível a chegada ao poder da classe subalterna mais avançada  
através do enfraquecimento objetivo do Estado” (Q 3, 48, 331-332).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 544-554, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Considerações sobre o conceito gramsciano de “classes subalternas”  
Distinção e articulação como critérios metodológicos para incursionar-se no campo  
subalterno ou, como afirma Gramsci, na “área dos grupos subalternos”, que se apresenta  
como um conjunto de grupos que prospectam a dimensão de classe não como ponto de  
partida, mas como resultado de processos sociais e políticos de convergência (Gramsci utiliza  
um termo forte: “unificação”), em sintonia com as abordagens histórico-políticas de Marx e  
daqueles que se inspiraram em sua obra: a classe como relação e como um processo e não  
como um fato estatístico ou como um ator político pré-constituído em virtude das suas  
condições materiais de existência26.  
É surpreendente que uma contribuição tão importante e tão aberta isto é, suscetível  
de usos e desenvolvimentos seja tão pouco explorada no debate marxista27, salvo aparições  
esporádicas nos discursos políticos, progressivamente diluído ao passar pelo crivo dos estudos  
dos subalternos, dos estudos culturais e do pós-marxismo. Nesse percurso, apresentamos de  
modo particular as elaborações de Laclau, que retira de Gramsci o fundamento de classe  
esvaziando, assim, o conteúdo classista do conceito de hegemonia, sem considerar que o  
comunista sardo afirma que a hegemonia “nasce da fábrica” (Q 22, 2, 2146); o que, por sua  
vez, não significa que tenha nesta se encerrado, mas que não se pode ignorar as determinações  
materiais para compreender o seu surgimento28.  
Nesse sentido, a delimitação do conceito de “classes subalternas” pode se configurar  
como um instrumento analítico para o estudo dos processos e fenômenos sociopolíticos  
contemporâneos. Em nosso tempo, assim como no tempo de Gramsci, a questão subalterna  
não pode ser vista apenas retrospectivamente historiograficamente sob o prisma da  
história das classes subalternas. Essa compreensão implica em assumir a condição de  
subalternidade como um problema sociológico e político do presente, na qual envolve o  
trabalho fino e intenso de atualizar o significado das distintas condições de classe e dos traços  
subalternos que as atravessam.  
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26 Destaque das Tradutoras.  
27  
Ainda que encontrem ecos indiretos nas concepções de classe de Thompson e possíveis contatos com a de  
Poulantzas, aparece nas elaborações contemporâneas que procuram combinar a dependência económica da  
hierarquia na tomada de decisões como, por exemplo, a questão dos quadros - que tem precedentes nos debates  
dos anos 1960-1970 na França - desenvolvida pelo marxismo analítico, por E.O. Wright (M. Modonesi, A. Vela,  
M. Vignau, El concepto de clase social en la teoría marxista contemporánea, cit., pp. 87-106) ou a proposta de  
Jacques Bidet e Gérard Duménil, Altermarxisme. Un autre marxisme pour un autre monde, Paris, Puf, 2007, pp.  
97-156. Para uma abordagem das implicações teóricas do conceito de classe no debate sociológico atual, ver a  
obra de Marcelo Gómez, El regreso de las clases. Clase, acción colectiva y movimientos sociales, Buenos Aires,  
Biblos, 2014.  
28  
Entre outras coisas, é surpreendente que o debate sobre o marxismo/pós-marxismo de Gramsci se concentre  
em múltiplos aspectos, mas não considere imprescindível a variável crucial do classismo, exceto a posição de  
Laclau e Mouffe que a eliminam completamente na viragem teórica pós-marxista que operam sobre o conceito  
de hegemonia. Cf. E. Laclau, C. Mouffe, Egemonia e strategia socialista [1985], Genova, il Melangolo, 2011.  
Massimo Modonesi  
Se os traços que caracterizam as classes subalternas são aqueles assinalados por  
Gramsci desagregação, desorganização, espontaneísmo, subversivismo episódico e  
esporádico, estar sempre na defensiva é importante reconhecer que classes subalternas é um  
conceito que nos interpela diretamente e parece descrever o tempo presente. A involução  
subjetiva, em termos classistas, apresenta-se como a nossa questão meridional, o limite de  
nossa época e o nosso ponto cego teórico-político.  
Consequentemente, o desafio simultaneamente analítico e político-estratégico —  
consiste, no esforço de recuperar a centralidade da análise classista para compreender as  
sociedades capitalistas contemporâneas, em assumir a questão das classes subalternas como  
expressão que sintetiza tanto os limites quanto os horizontes de possibilidades teórico-  
práticas: a atividade de conhecer e de transformar, para que os subalternos deixem de ser  
subalternos.  
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Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 544-554, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518