Demandas e desafios no atendimento  
socioassistencial a jovens na Amazônia  
Marajoara  
Demands and challenges in the social assistance services  
for youth in the Marajoara Amazon  
Raquel Correia de Oliveira*  
Roselene de Souza Portela**  
Resumo: Este artigo analisa as demandas das  
juventudes e as dificuldades para sua inserção  
como sujeitos de direito nos programas,  
serviços e projetos desenvolvidos pelos Centros  
de Referência da Assistência Social de Breves,  
no Marajó/PA. A pesquisa, de natureza  
qualitativa, fundamenta-se na teoria social  
crítica, com base na tradição marxista. Para a  
produção dos dados empíricos, utilizou duas  
técnicas: a observação sistemática e oito  
entrevistas semiestruturadas com profissionais e  
jovens usuárias dos CRAS. A análise se deu por  
meio da análise de conteúdo, na modalidade  
temática. Os resultados evidenciam a urgência  
da participação juvenil no planejamento das  
ações - atualmente centralizado na gestão  
municipal - e a necessidade de um trabalho  
intersetorial que amplie o acesso às políticas  
sociais. A identificação dos CRAS como  
espaços de promoção de direitos contribui para  
pesquisas futuras, além de subsidiar o debate  
sobre a demanda pela efetivação de políticas  
públicas para a juventude.  
Abstract: This article examines the needs of  
young people and the challenges they face in  
being recognized as subjects of rights within the  
programs, services, and projects carried out by  
the Social Assistance Reference Centers  
(CRAS) in Breves, located in the Marajó region  
of Pará. The qualitative study is grounded in  
critical social theory, drawing on the Marxist  
tradition. To produce the empirical data, two  
techniques were used: systematic observation  
and eight semi-structured interviews with  
professionals and young female CRAS users.  
The analysis was conducted using thematic  
content analysis. The results highlight the  
urgent need for youth participation in planning  
activities  
-
currently centralized within  
municipal management - and the importance of  
intersectoral work to broaden access to social  
policies. Identifying the CRAS as spaces for the  
promotion of rights contributes to future  
research and supports ongoing debates on the  
need to implement effective public policies for  
youth.  
Palavras-chaves: Juventudes; Proteção social;  
Keywords: Youth; Social protection; Social  
Assistência Social.  
Assistance.  
* Universidade Federal do Pará. E-mail: raquelco@ufpa.br  
** Universidade Federal do Pará. E-mail: roseleneportela@yahoo.com.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.48366  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 21/04/2025  
Aprovado em: 11/12/2025  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Introdução  
O presente trabalho é parte dos resultados de uma dissertação desenvolvida no Programa  
de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Pará (UFPA), em  
que foi realizado um estudo com profissionais que compõem as equipes técnicas dos CRAS e  
com jovens atendidas.  
A partir da constituição da juventude como objeto de estudo, surge pela primeira vez a  
possibilidade de compreender processos que impactam de forma específica a vida dos(as)  
jovens. No entanto, como aponta Weisheimer (2009), o tema nunca se consolidou como campo  
de estudos capaz de mobilizar um grande número de pesquisadores e, por isso, não produziu  
conceitos compartilhados de forma consensual entre aqueles que se dedicaram a esse campo  
como disciplina. Para o autor, esses dois aspectos dificultaram a institucionalização da  
disciplina em larga escala. No entanto, esse cenário se alterou nas últimas décadas, fazendo  
com que a Sociologia da Juventude, como disciplina acadêmica e linha de pesquisa,  
experimentasse um grande impulso iniciado no século XXI (Weisheimer, 2009).  
Nesse sentido, debate sobre as juventudes enquanto categoria social e sua interface com  
as políticas sociais, especialmente nas áreas que lidam com demandas específicas, ganhou  
relevância não apenas no âmbito governamental, mas também na academia, passando a figurar  
como um campo de estudos consolidado (Castro, 2009). Com o aumento dos estudos nos anos  
2000, o(a) jovem como sujeito de direitos tornou-se o paradigma predominante (Castro, 2009).  
No centro deste debate estão as políticas públicas sociais para as juventudes, em que o  
acirramento da (des)proteção social entre jovens da classe trabalhadora é o mote. Para Scherer  
(2015, p. 26), as políticas sociais “[...] devido ao sociometabolismo do capital, sob sua feição  
neodesenvolvimentista, acarretam um processo contínuo de (des)proteção social que,  
dialeticamente, movimenta o fetiche das juventudes como instrumento de desenvolvimento  
social”.  
783  
Sendo assim, as reflexões levantadas neste trabalho possibilitam compreender como a  
dinâmica de reprodução do capital, que impacta a vida de todo o conjunto de trabalhadores,  
potencializa, cada vez mais, a desigualdade social entre as juventudes. Desse modo, tem-se o  
intento de apresentar reflexões a respeito de como esse quadro de (des)proteção social se  
acentuou no contexto do capitalismo contemporâneo, considerando-o como resultado de uma  
sociabilidade que compreende os jovens enquanto segmento que deve ser controlado, de modo  
a cumprir com papéis pré-determinados.  
Decidiu-se, assim, abordar a temática política social e juventudes, considerando a  
importância de adensar os debates que tratam de problemáticas relacionadas ao  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
recrudescimento da pobreza, violência, drogadição, desemprego estrutural, entre outros, que  
atingem o cotidiano dos(as) jovens (Scherer, 2013). Traz-se à baila a realidade marajoara, que  
também apresenta demandas relacionadas às violações de direitos, que são agravadas por  
desafios relacionados à extensão territorial e a estruturação desigual do capital nos territórios  
periféricos (Guimarães, 2021).  
Contudo, por mais que os estudos ressaltem a importância de abordar a diversidade  
(Gershenson; Scherer, 2016), ainda existe um processo de mistificação presente em uma  
dualidade no entendimento do que é ser jovem. Ao mesmo tempo em que há uma exaltação da  
juventude, há também um movimento que atribui a ela uma série de problemas que devem ser  
foco de intervenções (Scherer, 2013).  
As políticas públicas sociais têm dificuldade em promover ações que atendam às  
juventudes em suas particularidades (Costa, 2018). Desse modo, a relevância social deste  
estudo reside na possibilidade de discutir uma realidade que é invisibilizada. Por outro lado,  
oportuniza a produção de conhecimento a respeito do atendimento das juventudes pela Política  
de Assistência Social (PAS) e, a partir disso, contribui para que profissionais que atuam com  
jovens conheçam as demandas e as limitações do atendimento.  
Questiona-se: como a PAS, por meio dos programas, serviços e projetos desenvolvidos  
nos CRAS do município de Breves, efetiva ações para os(as) jovens, que atualmente se  
apresentam enquanto sujeitos de direito com necessidades e anseios próprios das juventudes?  
O objetivo é conhecer as demandas dos(as) jovens e as dificuldades presentes na sua inserção  
enquanto sujeitos de direito nos programas, serviços e projetos desenvolvidos nos CRAS de  
Breves, localizado no Arquipélago do Marajó, estado do Pará.  
784  
Quanto à estrutura do artigo, após esta introdução, apresenta-se o referencial teórico,  
que traz sínteses da literatura sobre juventudes e políticas sociais. Na sequência, apresentam-se  
as seções de método, resultados e discussão. Considerações finais e referências bibliográficas  
encerram o texto.  
Contextualização histórica sobre juventudes  
Para a compreensão das demandas dos(as) jovens e das dificuldades que surgem a partir  
de sua inserção enquanto sujeitos de direito das políticas sociais, é necessário, primeiramente,  
refletir sobre o conceito de juventudes, explicitando a complexidade presente nas construções  
que definem o que é ser jovem, bem como as divergências teóricas que surgem. Tal  
complexidade está relacionada ao fato de que não se trata de um grupo homogêneo de sujeitos,  
mas diverso em suas formas de existência.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Refletindo sobre a abordagem histórica do francês Phillipe Ariès (1981), Weisheimer  
(2009) afirma que, em síntese, a noção de juventude conhecida atualmente resulta de processos  
iniciados pela modernidade, que implicaram no crescimento da racionalização e da  
individualização das práticas sociais, promovendo a distinção entre a esfera privada (família) e  
a esfera pública (escola).  
É nesse contexto que a juventude, enquanto categoria construída social e historicamente,  
se diferencia dos demais grupos etários, inicialmente no âmbito das elites entre os séculos XVII  
e XVIII, expandindo-se como fenômeno social por meio da nuclearização das famílias e da  
universalização do ensino para todas as classes sociais (Weisheimer, 2009).  
Para Barbiani (2007), após a Segunda Guerra Mundial, a juventude passou a ocupar  
lugar de destaque em diversos campos, tais como: ciência, Estado, Igreja, mercado e mídia.  
Consolidou-se, então, um discurso jurídico, um discurso escolar e uma florescente indústria que  
reivindicaram a existência dos(as) jovens como sujeitos de direito e também como sujeitos de  
consumo.  
Ao refletir sobre a juventude como questão social, Aquino (2009) afirma que, na  
contemporaneidade, isso ocorre a partir de duas abordagens. A primeira se dá pela via dos  
“problemas” geralmente associados aos(às) jovens – como a delinquência, comportamentos de  
risco e drogadição, entre outros que demandam medidas de enfrentamento por parte da  
sociedade. Por outro lado, tradicionalmente, a juventude foi tematizada como uma fase  
transitória para a vida adulta, que exigia um esforço coletivo, principalmente da família e da  
escola, para “preparar o jovem” para se tornar um adulto ajustado e produtivo na sociedade  
(Aquino, 2009).  
785  
No entanto, de acordo com Scherer (2013), é necessário considerar as múltiplas  
determinações e expressões da juventude na atualidade e, para isso, é preciso pensá-la e referi-  
la no “plural”. Assim, o uso do termo “juventudes” não tem o objetivo de abranger todas as  
especificidades do segmento, mas identificar a existência de uma ampla gama de possibilidades  
(Pais, 1993 apud Esteves; Abramovay, 2008).  
No interior das diferentes instituições observa-se que há um desconhecimento das  
juventudes enquanto categoria social, identificando-se a figura do(a) adolescente, o que acaba  
contribuindo para um processo de invisibilidade social. Ao refletir sobre isso, Scherer (2013, p.  
25-26) argumenta que “[...] tem-se a necessidade de olhar para a universalidade da categoria  
juventudes e, ao mesmo tempo, olhar para as situações e demandas particulares, pois a realidade  
se mostra de modo diferente [...]”.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Para a construção de um conceito de juventude ancorado na perspectiva da diversidade,  
é preciso, em primeiro lugar, não a prender a critérios rígidos, mas considerá-la como parte de  
um processo de crescimento mais totalizante, que ganha contornos específicos no conjunto das  
experiências vivenciadas no contexto social. A juventude integra um processo amplo de  
constituição de sujeitos, no qual estão presentes especificidades que marcam, de modo distinto,  
a vida de cada um (Dayrell, 2007).  
Há uma tendência de definir juventude principalmente pela faixa etária, mas, conforme  
Esteves e Abramovay (2008), trata-se de uma construção social produzida pelas formas como  
a sociedade percebe os(as) jovens, articulando estereótipos, contextos históricos e diferentes  
condições de classe, gênero, etnia, grupo etc. Adota-se esse entendimento porque pensar as  
juventudes exige ir além do critério etário.  
Políticas sociais e juventudes  
Segundo Scherer (2015), há um contexto de (in)segurança que se apresenta de forma  
fragmentada, mas que tem como raiz comum a relação estrutural de produção e reprodução de  
valor no capitalismo contemporâneo. Para ele, a demanda por proteção social entre os(as)  
jovens é significativa, uma vez que os impactos dessa conjuntura são alarmantes.  
Para Pereira (2016), o termo “proteção social” carrega um ardil ideológico ao sugerir  
um caráter sempre positivo, o que exige superar interpretações lineares sobre o tema. Isso  
porque a proteção social está inserida em uma totalidade contraditória própria da sociabilidade  
capitalista, podendo ao mesmo tempo responder a necessidades sociais e permanecer  
estruturalmente vinculada aos interesses das classes dominantes.  
786  
Nesse sentido, observa-se que ao longo do tempo as políticas sociais, que deveriam atuar  
na garantia de direitos, acabam assumindo um caráter neodesenvolvimentista e “[...] acarretam  
um processo contínuo de (des)proteção social que, dialeticamente, movimenta o fetiche das  
juventudes como instrumento de desenvolvimento social” (Scherer, 2015, p. 26).  
Esse contexto se agrava com o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, em  
curso desde meados da década de 1970. Para Macário, Júnior e Silva (2016), essa crise teve  
origem em três dimensões internas do capitalismo, caracterizando uma tripla fratura: produção,  
consumo e circulação de produtos, o que evidencia limites intransponíveis ao grande capital,  
como o desemprego estrutural e a destruição dos recursos naturais.  
Foi exigida, então, a adoção de novas estratégias para recuperação das taxas de lucro,  
com destaque para a reestruturação produtiva, a mundialização da economia e o ajuste  
neoliberal, os quais impulsionaram uma nova sociabilidade e uma nova política (Yazbek, 2010).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Os processos de “reforma” do Estado, decorrentes dos planos de ajuste estrutural,  
principalmente na década de 1990, são representativos desse período e adotam as determinações  
da agenda neoliberal (Behring, 2003).  
De acordo com Iamamoto (2012), houve um processo de mundialização do capital que  
impulsionou a generalização das relações mercantis, com um redimensionamento das lutas  
sociais, resultando em uma conjuntura de regressão de direitos sociais e políticas públicas  
correspondentes, afetando até mesmo as condições e relações sociais.  
Para Macário, Júnior e Silva (2016), o projeto neoliberal implementado na América  
Latina articulou o capitalismo dependente latino-americano às novas exigências do capital  
imperialista em um cenário de crise estrutural. Esse projeto seguiu um conjunto de orientações  
políticas e macroeconômicas formuladas no âmbito do Consenso de Washington, com ajustes  
no campo econômico, político e ideológico, sob a justificativa de modernizar e dinamizar as  
economias locais para competir no mercado mundial.  
Em tempos de avanço do ultraneoliberalismo, as políticas sociais sofrem os impactos  
dos cortes orçamentários realizados com o objetivo de conter a crise fiscal do Estado, o que  
acaba por precarizar os serviços prestados à população mais vulnerável. Ao analisar os impactos  
dessas ações no campo social, observa-se que “[...] os resultados foram ainda mais desastrosos,  
por causa da vertiginosa concentração de renda nas frações mais ricas das classes dominantes  
locais e forâneas, aumentando a desigualdade, além de ter precipitado índices alarmantes de  
desemprego, pobreza e violência” (Macário; Júnior; Silva, 2016, p. 128).  
787  
Esse contexto de incertezas também afeta as juventudes, pois “[...] a contenção salarial,  
somada ao desemprego e à instabilidade do trabalho, acentua as alterações na composição da  
força de trabalho, com a expansão do contingente de mulheres, jovens, migrantes, minorias  
étnicas e raciais, sujeitos ao trabalho instável e invisível, legalmente clandestino” (Iamamoto,  
2012, p. 119, grifo nosso).  
A questão social assume novas roupagens, destacando-se uma enorme fratura entre o  
desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social e as relações sociais. Nesse contexto,  
os(as) trabalhadores(as) são os principais atingidos, uma vez que “[...] além do segmento  
masculino adulto de trabalhadores urbanos e rurais, penalizam-se os velhos trabalhadores, as  
mulheres e as novas gerações de filhos da classe trabalhadora, jovens e crianças, em especial  
negros e mestiços” (Iamamoto, 2012, p. 145, grifo nosso).  
Partindo dessas reflexões, considera-se a existência de uma conjuntura de (des)proteção  
social para as juventudes brasileiras, uma vez que há um crescimento exponencial no número  
de jovens que têm seus direitos violados, e as políticas sociais que deveriam garantir proteção  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
e acesso às condições materiais para seu pleno desenvolvimento, acabam por reproduzir ações  
focalizadas e de pouca qualidade.  
Nossa compreensão de política social está ancorada em Pereira (2016, p. 79), que a  
define como “processo de desenvolvimento e implementação de medidas geridas pelo Estado  
e demandadas pela sociedade como direitos devidos para suprir necessidades sociais e  
promover o bem-estar dos cidadãos”.  
Percurso metodológico da pesquisa  
Este artigo apresenta um estudo exploratório, cujo objetivo geral consiste em conhecer  
as demandas dos(as) jovens e as dificuldades presentes em sua inserção enquanto sujeitos(as)  
de direito nos programas, serviços e projetos desenvolvidos nos CRAS de Breves/Marajó-PA.  
Para alcançá-lo, recorreu-se a uma estratégia de pesquisa qualitativa, cuja centralidade permite  
a apreensão mais aprofundada do objeto em estudo.  
A adoção da abordagem qualitativa permitiu considerar as trajetórias de vida e as  
experiências sociais dos sujeitos, contemplando, na análise, sua participação (Martinelli, 1999).  
Adotou-se o método dialético, que possui uma perspectiva teleológica e traz para o processo  
investigativo um equilíbrio entre as condições subjetivas e objetivas do objeto, nas quais há um  
movimento de contradição na constituição dos fenômenos sociais, interligados à totalidade  
(Prates, 2016).  
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A pesquisa de campo foi realizada na Secretaria Municipal de Assistência Social  
(SEMTRAS) e em três CRAS da cidade de Breves-PA, município com a maior população de  
todo o Arquipélago do Marajó e com a maior infraestrutura de equipamentos públicos da região.  
Ressalta-se que a pesquisa foi realizada durante a pandemia da COVID-19, o que demandou  
modificações na metodologia do trabalho, principalmente quanto à limitação do número de  
participantes e à redução das observações.  
A pesquisa seguiu todos os princípios éticos recomendados pelas Resoluções do  
Conselho Nacional de Saúde nº 196, de 10/10/96, e nº 251, de 07/08/97, tendo sido aprovada  
pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Quanto aos participantes, foram  
selecionados(as) usuários(as) e profissionais que atuam na Política de Assistência Social. No  
caso dos(as) profissionais, adotou-se como critério de inclusão que os(as) integrantes da Equipe  
de Gestão e das Equipes Técnicas estivessem atuando há pelo menos um ano nesses espaços,  
em razão da alta rotatividade de profissionais existente na SEMTRAS e nos CRAS. Já o critério  
para inclusão dos(as) jovens era que tivessem sido atendidos(as) em pelo menos um programa,  
serviço ou projeto de um dos CRAS pesquisados. A coleta de dados contou com duas técnicas  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
distintas: observação sistemática e entrevistas semiestruturadas, aplicadas de forma simultânea  
durante os três meses de trabalho de campo.  
A observação sistemática foi realizada junto a gestores(as), assistentes sociais,  
pedagogos(as), orientadores(as) sociais e jovens. Compreende-se que “[...] observar não é um  
simples olhar, mas destacar de um conjunto aquilo que é específico, prestando atenção em suas  
características; é abstrair do contexto dimensões singulares” (Prates, 2010, p. 17). A observação  
sistemática foi utilizada na fase exploratória, durante visita a um CRAS, e, posteriormente, no  
momento das entrevistas.  
Além das observações, foram realizadas oito entrevistas semiestruturadas cinco com  
profissionais das equipes técnicas e de gestão, e três com jovens atendidas nos CRAS. Essa  
técnica “[...] parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que  
interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de  
novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante”  
(Triviños, 2011, p. 146).  
Antes da realização das entrevistas, procedeu-se à apresentação do Termo de  
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos(às) participantes. Na ocasião, foram  
informados(as) sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, com ênfase na  
voluntariedade da participação e no sigilo das informações pessoais, acessíveis apenas às  
pesquisadoras. Após a leitura e o esclarecimento de eventuais dúvidas, os(as) participantes  
assinaram o TCLE, recebendo uma via do documento.  
789  
Os dados obtidos foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo temática,  
compreendendo três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados  
(inferência e interpretação) (Bardin, 1977). De acordo com Prates (2010), a análise de conteúdo  
se destaca como a principal técnica para a sistematização dos dados, pois consiste em um  
conjunto de estratégias que facilitam o processo de interpretação da comunicação. Segundo a  
autora, esse tipo de análise volta-se aos produtos resultantes da ação humana, que se explicitam  
por meio das ideias, e não apenas pelas palavras em si.  
O Arquipélago do Marajó  
O Arquipélago do Marajó possui um vasto território situado ao norte do Estado do Pará,  
banhado pelos rios Amazonas e Tocantins, além do Oceano Atlântico. Sua extensão é de  
aproximadamente 50.000 km², com uma população de 591.064 (quinhentos e noventa e um mil  
e sessenta e quatro) habitantes, conforme o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de  
Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. A mesorregião do Marajó está dividida em três  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
microrregiões (MRG): Arari, Furos de Breves e Portel. O arquipélago é composto por 171  
municípios: Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Gurupá,  
Melgaço, Muaná, Oeiras do Pará, Ponta de Pedras, Portel, Salvaterra, Santa Cruz do Arari, São  
Sebastião da Boa Vista e Soure.  
Segundo o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó  
(PDTSAM) do ano de 2007, o Marajó é uma região extremamente rica em recursos hídricos e  
biológicos, sendo a maior ilha flúvio-marítima do mundo. O documento destaca que sua  
realidade está intrinsecamente ligada ao contexto amazônico, tanto pelas características  
ambientais quanto pela história marcada por intensas transformações econômicas e sociais, que  
influenciaram a organização familiar e as estratégias de sobrevivência da população local.  
Destarte, infere-se que o Marajó também tem sua história marcada pelos ciclos de  
desenvolvimento. Nesse sentido, os ciclos de exploração da borracha e da madeira são os  
principais, pois de acordo com Tavares (2008), muitos seringais se localizavam na região do  
Marajó, sendo que até a década de 1870 os municípios de Breves, Anajás e Melgaço se  
destacavam na exploração deste produto. Já a exploração da madeira é praticada há bastante  
tempo como meio de complementar a renda das famílias ribeirinhas. Entretanto, nos anos 2000  
a exploração se intensificou e grandes madeireiras passaram a se fixar na região. Em 2004 a  
produção de madeira chegou a atingir o montante de 11,2 milhões m³, representando 46% do  
total produzido na Amazônia Legal (Veríssimo apud Brasil, 2007).  
790  
Segundo o Relatório Analítico do Marajó (2012) nos municípios marajoaras as  
condições de vida e de reprodução são estruturadas por baixos padrões de qualidade, uma vez  
que a falta de acesso às políticas públicas faz com que o potencial de desenvolvimento  
econômico existente não seja aproveitado. Isso gera dependência dos programas sociais, no  
entanto, é através deles que ainda é possível reduzir as vulnerabilidades sociais enfrentadas  
cotidianamente pelas famílias (UFPA; MDA, 2012).  
Como principais atividades econômicas o PDTSAM (2007) destaca a atividade agrícola,  
que se volta principalmente para a subsistência e tem como principal produto a mandioca; a  
pecuária bovina e bubalina; a suinocultura; a pesca; o extrativismo vegetal, com grande  
destaque para a madeira e o açaí; e o turismo, visto que a região tem nas suas praias, igarapés,  
bem como nas atividades culturais importantes atrativos. Às atividades ligadas à pecuária,  
especialmente à bubalina, estão mais presentes na porção do arquipélago em que os campos  
1 A inclusão do município de Oeiras do Pará foi feita por meio do Decreto nº 2.129, de 20 de janeiro de 2022,  
editado pelo governo estadual.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
naturais são predominantes. Já as atividades relacionadas ao extrativismo concentram-se nas  
áreas de florestas (UFPA; MDA, 2012).  
Analisando as grandes problemáticas educacionais que o Marajó enfrenta, Rodrigues  
(2016) fala que a região possui um histórico de déficit social, onde a economia se assenta no  
setor primário e depende de repasses financeiros do governo federal. Destaca que a população  
marajoara é essencialmente jovem, que cresce exponencialmente e demanda políticas públicas  
que considerem suas particularidades, favorecendo suas potencialidades de modo a produzir  
melhoras em suas condições de vida (Rodrigues, 2016).  
A partir desta contextualização acerca do Arquipélago do Marajó, segue uma  
caracterização do município de Breves, lócus da pesquisa de campo, que se destaca por ser a  
maior cidade do Marajó, tanto em termos populacionais quanto na infraestrutura de serviços.  
Segundo dados do IBGE (2019), o município de Breves tem uma área territorial de  
9.566,572 km² e faz parte da microrregião chamada de Furos de Breves, contando, no ano de  
2022, com uma população total de 106.968 (cento e seis mil novecentos e sessenta e oito)  
habitantes. Está dividida em 4 (quatro) distritos: Antônio Lemos, Breves, Curumú e São Miguel  
dos Macacos. Assim como os demais municípios do Arquipélago do Marajó, o acesso a Breves  
se dá predominantemente por via fluvial, sendo que as viagens de navio que partem diariamente  
de portos localizados em Belém têm duração mínima de 12 horas. A demora desse  
deslocamento configura um dos principais desafios para quem precisa sair ou chegar ao  
município.  
791  
O município de Breves possui uma conformação territorial que além de comportar a  
sede do município, também é marcada pela existência de muitas localidades2 que se  
desenvolveram ao longo dos furos de rios e que concentram grande parte da população do  
município. Como a maioria das cidades amazônicas, Breves também foi construída às margens  
de um rio, que neste caso é o Parauaú.  
Um dos elementos considerados mais importantes para desvendar a realidade desse  
município é a análise do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que, no ano  
de 2010, era de 0,5033. Com esse índice, Breves figura entre o grupo de municípios que  
apresentam desenvolvimento humano baixo (IDHM entre 0,500 e 0,599)4.  
2 Breves (2015 apud Rodrigues, 2016) afirma que no meio rural brevense existem aproximadamente 170 (cento e  
setenta) localidades.  
3 De 1991 a 2010, o IDHM do município passou de 0,284, em 1991, para 0,503, em 2010, enquanto o IDHM da  
Unidade da Federação (UF) passou de 0,493 para 0,727. No município, a dimensão cujo índice mais cresceu em  
termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,233), seguida por Longevidade e por Renda. (PNUD; IPEA;  
FJP, 2013).  
4
Os municípios que compõem o Marajó Ocidental são os seguintes: Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Chaves,  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Nesse cenário, as juventudes correspondem a 29,39% da população brevense (IBGE,  
2022) constituindo o maior segmento populacional, que é um dos mais afetados pelo aumento  
da insegurança, caracterizada por condições de violação de direitos que impedem a garantia de  
cidadania.  
Para Guimarães (2021), os municípios marajoaras apresentam oportunidades limitadas  
para que as juventudes acessem o nível médio e superior, onde a ausência de planos municipais  
de saneamento básico, bem como a ausência de políticas de cultura e lazer contribuem para o  
acirramento das desigualdades.  
No que tange às demandas das juventudes, a temática da inserção no mundo do trabalho  
é uma das que mais se destacam. No entanto, o direito ao trabalho passa longe de ser garantido  
no contexto da realidade brevense uma vez que há um “baixo grau de estruturação dos seus  
mercados de trabalho evidenciado pela maior incidência de trabalho desprotegido” (Silva;  
Lima, 2019, p. 49).  
Perfil das jovens e suas demandas para o atendimento nos CRAS de Breves-  
Marajó/PA  
Conhecer o perfil das jovens entrevistadas promoveu uma aproximação com a realidade  
em que vivem. As entrevistas foram realizadas com três jovens pertencentes ao grupo com  
idades entre 18 e 24 anos que foram atendidas pelos CRAS5. Nesse sentido, a seguir destaca-se  
o perfil dessas jovens:  
792  
Quadro 01: Identificação das jovens entrevistadas  
Idade  
Bairro  
Estado civil  
Número de filhos  
Com quem mora Escolaridade  
22  
Jardim  
Tropical  
Jardim  
Tropical  
Jardim  
Solteira  
1
Filho  
Ensino Médio Incompleto,  
cursando o 1º ano  
20  
21  
Casada  
Casada  
0
0
Marido  
Marido  
Ensino Médio Incompleto,  
cursando o 3º ano  
Ensino Superior Incompleto,  
cursando o 2º semestre de  
Ciências Naturais  
Tropical  
Fonte: Elaboração própria (2021).  
Sobre o estado civil, 1 se declarou solteira e as outras 2 informaram ser casadas. Além  
disso, 1 morava com o filho e as demais moravam com seus maridos em suas próprias casas.  
Curralinho, Gurupá, Melgaço, Portel e São Sebastião da Boa Vista.  
5 A Jovem 1 foi atendida no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), Projeto Construindo  
o Amanhã, Projeto Nascer e recebeu Benefícios Eventuais, principalmente quando necessitava de cesta básica; a  
Jovem 2 foi atendida no programa ACESSUAS Trabalho e cursos profissionalizantes; a Jovem 3 foi atendida no  
Projeto Construindo o Amanhã.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Com relação à escolaridade, 2 estavam cursando o Ensino Médio6 uma no 1º ano e outra no  
3º ano ambas com as atividades escolares suspensas no período em que as entrevistas foram  
realizadas, em razão da pandemia de Covid-197. Apenas 1 entrevistada estava matriculada no  
Ensino Superior, cursando Ciências Naturais.  
As jovens são moradoras do bairro Jardim Tropical, localizado na periferia do referido  
município e no momento da entrevista todas estavam estudando. Oriundas do meio rural  
marajoara, migraram com suas famílias para Breves, em busca de melhores condições de vida.  
Ao chegar à cidade, passaram a morar com suas famílias em ocupações que sofrem com a  
ausência de água potável, postos de saúde, escolas, saneamento básico e condições de  
habitacionais adequadas.  
Apresentam um perfil com destaque para o atraso escolar vivenciado pelas Jovens 1 e 2  
e a precarização do trabalho, cujos baixos salários se destacam. Esta precarização ocorre  
especialmente no âmbito do trabalho em “casas de família”, que foi apontado enquanto  
alternativa frente à impossibilidade de inserção no mercado de trabalho formal, mesmo que o  
salário fosse de, no máximo, R$300,00 (trezentos reais) por mês conforme elas informaram.  
São essas vivências que as levaram a buscar atendimento no CRAS, pois reconhecem  
nesse espaço um lugar onde podem acessar seus direitos. A Jovem 1 frequenta o CRAS desde  
os dez anos de idade, quando foi inscrita por sua mãe nos serviços:  
793  
Desde quando eu era pequena. Eu era, eu estudava desde que eu tinha, desde  
quando eu tinha 10 anos eu comecei no CRAS, aí com 16 a gente saía, né. Aí,  
participei de muitas coisas, fez muita apresentação, aí mudava. O primeiro que  
eu participei foi em frente à câmara, depois quando ainda não tinha aqui o do  
Jardim Tropical, aí nós fomos pro do Santa Cruz (Jovem 1, 2021).  
Na época da pesquisa, essa jovem então com 22 anos de idade vinha sendo atendida  
no CRAS havia 12 anos, com persistência das demandas que a levaram a procurá-lo pela  
primeira vez. Ela listou os diversos cursos que fez no âmbito do CRAS: garçonete, doces e  
salgados natalinos e informática básica.  
Após a identificação do perfil das jovens, indagou-se sobre suas percepções quanto a  
efetivação de ações para jovens, no âmbito dos programas, serviços e projetos desenvolvidos  
nos CRAS. A Jovem 1 refletiu que a cidade tem muitos jovens, pouco aprendizado e que “não  
6 Apesar das jovens não terem concluído a Educação Básica até os 18 anos, ambas não cursavam o ensino médio  
na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).  
7 A pandemia de covid-19 foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11/03/2020, momento  
em que os casos da doença já haviam se espalhado por muitos países, o número de mortos já era de 4.291 (quatro  
mil duzentos e noventa e um) e a preocupação quanto a disseminação da doença era muito grande.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
tem algo ligado pros jovens” (Jovem 1, 2021), destacando a ausência de uma política pública  
para as juventudes.  
Relatam que nunca tiveram dificuldade para conseguir atendimento nos CRAS.  
Entretanto, afirmam que as dificuldades surgiram quando já estavam participando das  
atividades. Sobre a estrutura disponível para atendimento, as entrevistadas avaliaram como  
inadequada, uma vez que se trata de prédios alugados, que não foram construídos para funcionar  
como CRAS e que, por isso, não contam com salas suficientes para atender a população. Outra  
questão levantada é a insuficiência de materiais para o desenvolvimento das atividades, o que  
acaba prejudicando o andamento dos serviços e projetos.  
Destacaram que nunca tinham sido atendidas por outros programas ou serviços voltados  
para as juventudes fora da PAS. Sobre as necessidades diferenciadas que se apresentam para as  
juventudes, refletiram que “[...] Precisa de mais atenção acho, pros jovens brevenses, a gente  
tem pouca oportunidade aqui… em todas as áreas, de todas as maneiras [...]” (Jovem 1, 2021).  
Nas entrevistas, trouxeram a percepção de que existem poucas iniciativas para atender  
às juventudes, pois mesmo as que são desenvolvidas pelos CRAS não conseguem dar conta das  
demandas, principalmente no que diz respeito aos cursos de preparação para o mundo do  
trabalho, que, segundo elas, não proporcionam experiências práticas.  
As jovens 2 e 3 não consideraram de imediato as necessidades específicas, mas tiveram  
outra percepção quando foram indagadas se para jovens era mais difícil conseguir trabalho, por  
exemplo. Segundo a Jovem 2 “[...] com certeza é mais difícil. Tem... eu já fui, tipo aqui na  
Padaria Kauã, eu fui levar um currículo lá [...] só que eles não queriam daquela idade, que eu  
acho que era de dezenove, dezoito anos, entendeu? [...] (Jovem 2, 2021). Observa-se que as  
jovens identificam todas as dificuldades que as juventudes têm que enfrentar. Entretanto, elas  
não haviam refletido sobre as especificidades que fazem as necessidades serem diferenciadas  
ao ponto de demandarem a implementação de uma rede de atendimento.  
794  
A Jovem 2 fez uma abordagem mais ligada às possibilidades de trabalho que os cursos  
podem trazer. Para ela, tais possibilidades, no que condiz ao trabalho, são muito remotas,  
porém, seu cadastro junto ao CRAS lhe dá prioridade para a participação nos cursos ofertados.  
Elas consideram que tiveram suas necessidades atendidas em parte, destacando o  
conhecimento que adquiriram por meio das atividades em que participaram. A Jovem 2 reitera  
que sua maior expectativa ainda não atendida era a inserção no mundo do trabalho. Segundo  
ela, tal expectativa não pôde ser contemplada devido às formações terem como objetivo a  
geração de emprego e renda por meio do empreendedorismo, que para ela não era possível  
devido a ausência de recursos financeiros para investir na abertura do próprio negócio.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
A partir de suas experiências com os atendimentos recebidos, as entrevistadas refletiram  
sobre as limitações nas ações para os(as) jovens. A principal limitação apontada referiu-se ao  
fato de que as ações voltadas à formação para o mundo do trabalho cujo maior representante  
são os cursos de geração de renda não contemplam uma parte prática que segundo elas seria  
essencial para que tivessem mais oportunidades.  
Esse contexto faz aumentar o número de jovens que desejam mudar de cidade em busca  
de melhores oportunidades. A Jovem 1 fala “[...] Indo embora, aqui é uma cidade muito boa de  
se viver, em relação a vida, as coisas de, tipo as coisas que a gente gosta de comer. [...] mas em  
relação a tu ter teu emprego, ter teu trabalho, te sustentar, ter o teu ganho próprio é muito  
dificultoso. [...] (Jovem 1, 2021). A jovem fala que muitas vezes o trabalho existe, mas os(as)  
jovens não estão qualificados. Tal reflexão remete a uma realidade cujo acesso dos(as) jovens  
brevenses ao ensino superior ainda é limitado, quando comparado ao número de jovens que  
concluem o ensino médio todos os anos. Diante disso, postos de trabalho que exigem maior  
qualificação quase sempre são ocupados por pessoas vindas de fora.  
Análise das limitações dos serviços socioassistenciais para jovens nos CRAS  
A categoria “Limitações no atendimento das juventudes” emerge da análise das  
entrevistas com profissionais da gestão e das equipes técnicas dos CRAS, abordando questões  
relacionadas às dificuldades para a realização do trabalho com os(as) jovens dentro dos CRAS.  
No que diz respeito às limitações, seis temas se destacaram em termos de frequência, com  
recursos e infraestrutura sendo o mais mencionado, seguido pela falta de subsídios financeiros,  
ausência de acompanhamento, ausência de formação para trabalhar com jovens, falta de  
planejamento específico e ausência da secretaria de juventude.  
795  
Quadro 02 - Análise de conteúdo: limitações no atendimento das juventudes  
Categorias empíricas  
Registro das expressões classificatórias  
Recursos e  
infraestrutura  
“[...] E... essa infraestrutura também limita né, o trabalho. Aí tem a questão dos  
recursos né, a Assistência a gente sabe que ela é a prima pobre, que a gente fala,  
então já há um recurso é... menor de que das outras políticas né. Comparando,  
então é um recurso básico pra desenvolver os serviços” (Participante 5, 2020).  
“[...] Ora, se as pessoas, o público-alvo são pessoas em vulnerabilidades sociais e  
econômicas, teoricamente essas pessoas, elas não têm um recurso inicial. Então,  
por exemplo, dum público de vinte, cinco vão tentar iniciar por conta própria.  
Outras, vai ficar ali, o diploma, o certificado engavetado, porque não tiveram  
oportunidade, não tiveram o incentivo financeiro inicial” (Participante 1, 2020).  
“[...] E outra coisa, é o acompanhamento e a assistência contínua... da política  
pública, da assistência... entendeu, porque essas famílias, elas precisam ser  
inseridas em acompanhamento, pra vê de que forma ela tá conseguindo trabalhar  
com isso” (Participante 1, 2020).  
Falta de subsídios  
financeiros  
Ausência de  
acompanhamento  
dos(as) jovens  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Ausência de formação  
para trabalhar com  
jovens  
“Acho que também um dos, além desses que eu te falei dos recursos, da estrutura  
é... vamo dizer assim, a falta de... até mesmo pra gente, uma formação pra gente  
trabalhar, entendeu” (Participante 4, 2020).  
Falta de planejamento  
específico  
“Não tem uma autonomia de pensar e aí tu automaticamente poderia incluir  
questões dessa juventude. [...] Então, nós temos que reinventar isso aí e aí eu penso  
que o nosso principal problema são essas limitações impostas pela gestão, que  
acaba não tendo um planejamento específico pra determinadas ações [...]”  
(Participante 3, 2020).  
Ausência da Secretaria  
da Juventude  
“Hoje, nós não temos uma Secretaria da Juventude [...]. E isso já é um grande  
problema, porque por exemplo, se tu tens uma necessidade específica, então o  
governo já tinha que ter mandado um projeto de lei pra Câmara, criando a questão  
da secretaria, estabelecendo políticas pra juventude e criando efetivamente ações  
direcionadas pra esse segmento, pra que os CRAS possam atuar de forma  
verdadeira” (Participante 3, 2020).  
Fonte Elaboração própria (2021).  
Os recursos e infraestrutura limitados foram apontados como um dos principais  
obstáculos existentes na realização do trabalho com jovens. Há um entendimento de que a  
redução de recursos para a PAS, bem como a infraestrutura cada vez mais precarizada, fazem  
com que a qualidade do atendimento caia consideravelmente, o que também leva a uma redução  
no número de serviços implementados e de usuários(as) atendidos(as). Para as juventudes, que  
ainda não tem uma política de atendimento consolidada, isso reflete na redução dos programas,  
serviços e projetos específicos.  
796  
Outra limitação relatada foi a falta de subsídios financeiros para os(as) jovens que  
concluem os cursos de geração de renda, pois, conforme relata o(a) Participante 1, eles(as) não  
têm condições financeiras de iniciar um negócio por conta própria. Assim, muitos(as) concluem  
os cursos, mas não conseguem colocar em prática a qualificação recebida. Observa-se que  
os(as) jovens fazem os cursos com a esperança de que possam ter uma ocupação, mas quando  
se deparam com a realidade de falta de subsídios, percebem que terão apenas mais um  
certificado “engavetado”, e que segundo suas próprias narrativas, nada mudará em suas vidas.  
Compreende-se que a limitação de recursos destinados a PAS contribui para que esses  
subsídios não sejam disponibilizados, pois a realidade demonstra que as ações são cada vez  
mais focalizadas e não contam com o orçamento necessário, o que torna cada vez mais difícil a  
implementação destas ações.  
Junto à falta de subsídios financeiros, está a ausência de acompanhamento dos(as)  
jovens que participam das atividades de qualificação profissional. Segundo o(a) Participante 1,  
existem muitas dificuldades para que esse acompanhamento aconteça, e isso é reflexo da falta  
de recursos adequados, que faz com que as equipes técnicas que trabalham nos CRAS sejam  
reduzidas e não consigam realizar esse acompanhamento.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Outra questão pontuada foi a ausência de formação para trabalhar com jovens,  
considerando que por se tratar de um público específico, existem particularidades que precisam  
ser observadas, até mesmo para que não se corra o risco de reproduzir estigmas. Quando a(o)  
Participante 4 afirma sentir falta de que a gestão promova uma formação para que os(as)  
profissionais possam trabalhar com jovens, está destacando justamente a necessidade de  
conhecer as especificidades desse público.  
A falta de planejamento específico para pensar o atendimento do segmento também é  
um fator que limita o trabalho que vem sendo realizado. Percebe-se que os(as) participantes  
reconhecem limitações na questão do planejamento que são impostas pela gestão, que acaba  
não contemplando as juventudes.  
Uma outra limitação identificada é a inexistência, na prática, de uma secretaria  
específica para a juventude no município. Embora o site da Prefeitura de Breves registre a  
Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer (SEMEL), não há disponibilidade de  
informações básicas de contato. Considerando suas atribuições formais e os dados de campo,  
verifica-se que não ocorre trabalho em rede entre a SEMEL e a assistência social, pois os(as)  
profissionais entrevistados(as) desconhecem ações ou serviços da secretaria voltados ao  
atendimento das juventudes.  
797  
Discussão  
Os achados da análise de conteúdo convergem com a perspectiva crítica apresentada  
por Scherer (2015), cujas reflexões apontam que as políticas sociais de atendimento para as  
juventudes assumem uma feição neodesenvolvimentista que tensiona um processo de  
(des)proteção social. Neste trabalho tal assertiva foi evidenciada pela baixa efetividade no  
atendimento de demandas das jovens usuárias dos CRAS e o acesso limitado às políticas  
setoriais. Nesse sentido, a insuficiência de políticas voltadas à garantia de proteção social  
contribui para um cenário de insegurança, marcado pela ausência de políticas específicas para  
garantia de direitos das juventudes.  
Essa realidade observada dialoga diretamente com a crítica desenvolvida por  
Gershenson e Scherer (2016), para quem as políticas destinadas às juventudes operam sob uma  
“promessa civilizatória perversa". Para os autores, tal promessa está “[...] calcada em um  
constructo ideológico fetichizado que refere que, por meio do acesso ao emprego, as  
manifestações da (des)proteção serão enfrentadas [...]” (Gershenson; Scherer, 2016, p. 167).  
Assim, é como se a qualificação profissional fosse suficiente para assegurar a inserção no  
mundo do trabalho e, consequentemente, garantir segurança e proteção.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Nesse contexto, a assistência social também é atravessada por essa racionalidade,  
operando sob a lógica da promessa civilizatória que privilegia respostas focalizadas e voltadas  
à empregabilidade. É justamente essa dinâmica que se evidencia no atendimento  
socioassistencial às jovens em Breves, pois embora estejam inseridas em uma política que  
deveria assegurar “atendimento às necessidades básicas” (Brasil, 1993), o que acessam são  
ações fragmentadas, cursos precarizados e oportunidades restritas, que não correspondem às  
suas expectativas de formação profissional nem às necessidades concretas de inserção no  
mundo do trabalho.  
Embora as juventudes tenham vivenciado avanços importantes nos mecanismos de  
garantia de proteção social especialmente com a criação da Política Nacional de Juventude  
(2005) e do Estatuto da Juventude (2013) persistem situações de pobreza, violência e  
precariedade no acesso ao trabalho, revelando os limites impostos pela sociabilidade capitalista  
(Gershenson; Scherer, 2016). Para os autores, esses avanços não eliminam a lógica de  
(des)proteção presente nas políticas sociais brasileiras, marcada por ações fragmentadas,  
pontuais e precarizadas que, em vez de assegurar direitos, acabam por reforçar a lógica de  
reprodução do capital.  
Assim, um dos principais desafios para que as políticas sociais de atendimento às  
juventudes sejam efetivadas diz respeito à dificuldade para garantir uma articulação  
intersetorial entre tais políticas (Gershenson; Scherer, 2016). Quanto a isso, os achados da  
pesquisa indicam que no que se refere a PAS, não é realizado um trabalho intersetorial junto às  
demais secretarias, o que contribui para o agravamento das situações de violações de direitos  
humanos. A PAS recebe inúmeras demandas específicas, as quais não consegue atender em  
virtude não só da falta de orçamento, mas também porque as ações não são planejadas de modo  
a compreender as particularidades desse público, tampouco se fala em participação efetiva  
desses sujeitos nos espaços de tomada de decisão.  
798  
Nesse sentido, Pereira (2016) aponta que a acumulação simultânea de riqueza e pobreza,  
própria do capitalismo, obriga o capital a criar estratégias para enfrentar suas crises, seja pela  
legitimação, por meio de medidas socialmente protetivas, seja pela reprodução, convertendo  
tudo em mercadoria. Inserido nessa totalidade contraditória, o campo do bem-estar atende a  
interesses diferenciados, ainda que estruturalmente vinculado às classes dominantes. Assim, a  
proteção social deve ser entendida não como sinônimo dos serviços socioassistenciais da  
proteção básica, mas como um conjunto mais amplo de políticas sociais inscritas nesse contexto  
contraditório.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
Essa contradição apontada por Pereira (2016) abre a possibilidade para que os(as)  
profissionais que atuam nas políticas de proteção social em suas múltiplas áreas (educação,  
saúde, assistência, trabalho) sejam críticos e propositivos, pois as disputas internas tensionam  
se as ações empreendidas irão caminhar para o atendimento das necessidades sociais dos  
sujeitos ou se serão pautadas pela lógica da meritocracia com o implemento de ações  
focalizadas.  
Corroborando essa concepção ampliada e contraditória de proteção social, os achados  
da pesquisa indicam que no interior dessa proteção social, a assistência social materializada  
nos CRAS desempenha um papel estratégico, pois pode ser trabalhada de modo a contribuir  
para o fortalecimento das lutas sociais, uma vez que muitos jovens acessam seus direitos por  
meio deles. Tem-se nos espaços pesquisados uma série de contradições, onde há o entendimento  
de que as lutas e os direitos conquistados pelas juventudes são legítimos, mas ao mesmo tempo  
observa-se a implementação de políticas focalizadas e voltadas quase que em sua totalidade  
para o incentivo ao empreendedorismo, que é alardeado como a principal saída para compensar  
a ausência de uma política de trabalho.  
Os serviços e os projetos do CRAS são percebidos pelas jovens entrevistadas enquanto  
oportunidade de terem acesso a conhecimento, tanto no que se refere à formação cidadã, quanto  
à uma formação voltada para o mundo do trabalho. No entanto, Scherer (2015) destaca que no  
âmbito da PAS enquanto uma das dimensões específicas da proteção social, predominam  
programas e ações voltadas à transferência de renda e à qualificação profissional, por meio de  
cursos voltados para a geração de emprego e renda, conforme os achados desta pesquisa  
também indicam.  
799  
Compreende-se que há necessidade de maiores avanços no que diz respeito ao trabalho  
em rede dentro dos CRAS, articulados à uma política de trabalho implementada em âmbito  
municipal para garantir o direito dos(as) jovens ao trabalho. Estes avanços também perpassam  
pela criação de uma política de atendimento para as juventudes, bem como pelo fortalecimento  
de grupos que trabalham em defesa dos direitos e da participação dos(as) jovens nos diferentes  
espaços.  
No entanto, as ações específicas para as juventudes não contam com o investimento  
necessário, o que torna a experiência limitada, principalmente no que diz respeito à oferta de  
cursos alinhadas às suas expectativas, qual seja uma formação crítica que esteja voltada para o  
mundo do trabalho, e não apenas à geração de renda por meio da venda de doces e salgados,  
crochê etc.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Segundo Costa (2018), apesar de constatar-se que a PAS incorpora várias políticas  
públicas que impulsionam os direitos das juventudes, tais ações demonstram uma aparente  
limitação no que diz respeito à intersetorialidade. Tal afirmação se sustenta no fato de que  
grande parte da demanda da secretaria analisada por ela, concentra-se no gerenciamento dos  
serviços socioassistenciais previstos na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e nas  
suas palavras, ainda existe um distanciamento e pequena participação de outras secretarias  
existentes no município na elaboração e execução das atividades para jovens (Costa, 2018).  
Corroborando tal afirmação, observa-se que de fato ocorre uma secundarização das  
ações para as juventudes. Na realidade marajoara, a secundarização, citada por Costa (2018),  
também está presente quando se verifica que em grande parte dos municípios não há uma  
secretaria de juventude para planejar e implementar ações, conforme também se verificou no  
caso do município de Breves.  
Outro ponto diz respeito a falta de reconhecimento das juventudes, que faz com que o  
segmento não tenha suas demandas contempladas dentro dos serviços socioassistenciais. As  
particularidades de raça, gênero, classe e território são pouco trabalhadas, em um contexto que  
não oportuniza aos(às) jovens condições de acessar os bens de consumo coletivos  
indispensáveis ao seu desenvolvimento humano (Gershenson; Scherer, 2016).  
A ampliação de iniciativas que possam contemplar os grupos identificados como  
“jovem-jovem” e “jovem-adulto” ainda é um desafio, na medida em que há uma reduzida oferta  
de programas e projetos para os(as) jovens de 18 a 29 anos, somado ao fato de que o segmento  
de 15 a 17 anos conta com projetos socioassistenciais que são ofertados no âmbito da PAS, mas  
que são planejados para crianças e adolescentes (Costa, 2018).  
800  
Nesse sentido, a análise do Plano Municipal de Assistência Social 2018-2021 revelou  
apenas uma ação específica voltada às juventudes no eixo da Proteção Social Básica: o  
fortalecimento de iniciativas destinadas a jovens em situação de vulnerabilidade, com foco na  
permanência escolar e na inserção no mercado de trabalho (Breves, 2018). O fato de essa ser a  
única ação direcionada ao segmento evidencia a prioridade dada pela gestão ao entendimento  
de que a educação deve ser reforçada como meio para viabilizar o ingresso dos(as) jovens no  
trabalho. Nesse sentido, o plano estabelece como meta a articulação em rede, prevista por meio  
de parcerias e cooperação intersetorial.  
Segundo Baptista (2008), as abordagens presentes nas políticas sociais destinadas às  
juventudes revelam a própria disputa de interesses no interior do Estado. Historicamente, essas  
políticas reproduzem uma hierarquia de classe ao definir projetos educativos e profissionais  
distintos, nos quais jovens ricos têm acesso a uma formação de qualidade, enquanto os jovens  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
pobres recebem uma formação técnica e aligeirada voltada às demandas do mercado. Nesse  
sentido, torna-se necessário refletir sobre como se estruturam as ações voltadas à inserção  
dos(as) jovens das camadas populares no mundo do trabalho, considerando que tais iniciativas  
esbarram nos limites do próprio modo de produção e, portanto, não podem ser tomadas como  
único critério para assegurar esse direito.  
Nesse ínterim, as ações direcionadas para as juventudes voltam-se para a qualificação  
profissional voltada para uma possível inserção em um mercado de trabalho que a cada dia está  
mais restrito. Nessa conjuntura, mais do que nunca é necessário o desenvolvimento de ações  
específicas para as juventudes, levando em consideração suas particularidades em todos os  
níveis de complexidade (Scherer, 2015).  
No caso do município de Breves, para que a ação proposta no Plano Municipal de  
Assistência Social 20182021 pudesse ser desenvolvida, identificamos duas outras ações que  
estão a ela relacionadas, ambas inseridas na área da Gestão. São elas: “Desvinculação da  
política de Trabalho da SEMTRAS e criação da Secretaria Municipal do Trabalho e Renda”  
(Breves, 2018, p. 44) e “Firmar parcerias com instituições provedoras de oportunidades de  
acesso à qualificação profissional” (Breves, 2018, p. 45).  
Para propor a desvinculação, o plano prevê como atividade principal a tramitação e  
aprovação de uma lei municipal que ordene a PAS e a Política de Trabalho no município.  
Assim, a meta era de que a implementação da política de trabalho no município fosse feita no  
período de 2019 a 2020. Entretanto, verificou-se que a política de trabalho continua a ser  
desenvolvida em conjunto com a assistência social, por meio de uma mesma secretaria.  
Esta vinculação da Política de Trabalho à PAS é uma realidade que está presente até  
mesmo a nível estadual, conforme já observado por Carneiro, Vieira e Araújo (2019), na análise  
da realidade institucional da gestão da PAS no norte e nordeste. Nos três estados pesquisados a  
PAS é associada a outras políticas setoriais. No caso do estado do Pará, o órgão era denominado  
Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, ou seja, agrega as  
políticas de Trabalho e Assistência Social (Carneiro; Vieira; Araújo, 2019).  
801  
As autoras analisam que o fato de as políticas sociais, no caso em questão as políticas  
de trabalho e assistência social, estarem em um único lócus de execução de políticas públicas,  
pode facilitar a integração e a complementaridade das ações entre elas. Entretanto, destacam  
que, conforme explica Boschetti (2016), identifica-se uma tensão inerente entre trabalho e  
assistência social. Essa tensão também está presente no planejamento da SEMTRAS, onde  
existe a percepção de que há a necessidade de criação de uma secretaria de trabalho e renda.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
Outra questão relevante refere-se a formação de parcerias institucionais para a  
implementação de ações para o atendimento das juventudes. Nesse sentido, os achados  
corroboram as reflexões de Cristo (2017), que destaca a existência de uma ênfase na formação  
de parcerias institucionais, que eram vistas enquanto uma oportunidade de fortalecimento de  
projetos e serviços. Entretanto, a autora ressalta que as parcerias institucionais não podem ser  
compreendidas como sinônimo de trabalho intersetorial, uma vez que vai muito além disso,  
pois se relaciona ao fazer juntos as ações que possuem um objetivo em comum, podendo até  
mesmo ser previsto formalmente (Cristo, 2017).  
Assim, compreende-se que firmar parcerias institucionais é importante para o  
desenvolvimento do trabalho nos CRAS pesquisados. Entretanto, o trabalho intersetorial não  
se resume a isso, pois o público com que a PAS trabalha é constituído por sujeitos que sofrem  
os impactos de diversas expressões da questão social. Portanto, necessitam que as políticas  
sociais trabalhem de forma articulada, com o fim de garantir o seu acesso aos serviços de modo  
permanente.  
No que diz respeito à formação de parcerias com as instituições, destaca-se como  
atividade a ser desenvolvida, a criação de convênios de cooperação técnica com instituições  
federais e estaduais de ensino, como o Instituto Federal do Pará, a Universidade Federal do Pará  
e a Escola Tecnológica, com o fim de promover a realização de cursos voltados para a formação  
profissional de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade.  
802  
Importa observar que o fortalecimento das ações para as juventudes mais do que nunca  
esbarra em desafios relacionados à lógica do sistema capitalista, que não busca garantir direitos  
para todos(as). Scherer (2015) afirma que nessa conjuntura o trabalho intersetorial é  
imprescindível e não deve ter como foco o “desenvolvimento econômico”, tampouco a  
“formação de capital social”, mas estar ancorado na perspectiva do desenvolvimento integral,  
de modo a trazer possibilidades para a efetivação do acesso das juventudes aos serviços de que  
necessitam.  
Considerações finais  
O presente trabalho teve como objetivo conhecer as demandas dos(as) jovens e as  
dificuldades que se apresentam na sua inserção enquanto sujeitos de direito dos programas,  
serviços e projetos desenvolvidos nos CRAS do município de Breves/Marajó-PA. Os achados  
da pesquisa revelaram que as ações socioassistenciais para o atendimento das juventudes se dão  
de modo limitado e restrito, pois a realização de um trabalho intersetorial ainda é um desafio.  
Além disso, a análise indica que o atendimento ofertado não parte do reconhecimento das  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 782-805, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Demandas e desafios no atendimento socioassistencial a jovens na Amazônia Marajoara  
especificidades dos(as) jovens, cujas demandas mais desafiadoras estão relacionadas com a  
formação profissional e o ingresso no mundo do trabalho.  
As narrativas de jovens e profissionais indicam que, mesmo em uma conjuntura  
regressiva que fragiliza a garantia de direitos humanos, houve avanços no reconhecimento das  
juventudes como sujeitos de direito no âmbito da PAS. No entanto, no contexto marajoara, as  
dificuldades para implementar serviços que contemplem a integralidade dos territórios são  
ainda mais intensas. Esse quadro se agrava diante do sucateamento das estruturas dos CRAS,  
da interrupção de projetos e do risco de fechamento de equipamentos sociais por falta de  
recursos.  
As demandas que permanecem sem atendimento e as limitações do atendimento  
socioassistencial tensionam um processo de insegurança. O contexto de regressão das garantias  
de direitos evidencia contradições inerentes à implementação das políticas sociais: embora haja  
avanços no reconhecimento dos(as) jovens como sujeitos de direito, a invisibilidade social  
continua se reproduzindo dentro dos próprios equipamentos públicos. Esse processo é reforçado  
pelo desconhecimento das particularidades socioculturais da região e pelas restrições de acesso  
aos programas, serviços e projetos, o que contribui para o acirramento das desigualdades sociais  
no Marajó.  
No que se refere às contribuições deste estudo, espera-se oferecer subsídios para o  
atendimento no âmbito da PAS, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento do  
protagonismo juvenil nos programas, serviços e projetos dos CRAS, considerando a  
importância de que estes possam dialogar e interferir de forma contínua no planejamento.  
Quanto às limitações da pesquisa, decorrem, em parte, da pandemia de Covid-19, que  
reduziu o alcance do trabalho de campo ao interromper os serviços dos CRAS e dificultar o  
contato com os(as) jovens. Soma-se a isso o fato de somente mulheres jovens terem participado  
do estudo, o que, embora não fosse o foco da análise, evidencia como o marcador de gênero  
incide nas trajetórias dessas jovens, influenciando aspectos como o acesso aos cursos ofertados  
e a continuidade dos estudos. Essa constatação demonstra a existência de demandas para que  
pesquisas futuras trabalhem questões relacionadas ao gênero.  
803  
A realização de investigações que tenham a finalidade de elucidar questões pertinentes  
às demandas de proteção das juventudes que vivem na Amazônia apresenta grande relevância,  
uma vez que evidenciam o quanto ainda é necessário caminhar para a garantia do acesso à  
oportunidades para o desenvolvimento integral. Nesse sentido, destaca-se a importância da PAS  
na viabilização de ações socioassistenciais que tenham centralidade nas juventudes, efetivando  
o seu reconhecimento como sujeitos de direito.  
Raquel Correia de Oliveira; Roselene de Souza Portela  
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