Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi
quantitativas e metas gerenciais. De outro, persiste o compromisso com uma prática
profissional ético-política, orientada pelo acesso a direitos, pela defesa intransigente da
democracia, pela superação de todas as formas de preconceito e opressão e pelo princípio da
liberdade como valor ético central. Assim, o exercício profissional se estrutura como um espaço
de disputa, articulando-se com os movimentos da classe trabalhadora na construção de uma
outra ordem societária, antirracista, anticapacitista e, necessariamente, anticapitalista.
O neoliberalismo impõe às políticas sociais métodos de gestão voltados ao controle
burocrático e à obtenção de resultados quantitativos, desconsiderando a complexidade das
demandas sociais. Esse modelo de funcionamento fragmenta os serviços e dificulta a construção
de vínculos de confiança e apoio entre os/as assistentes sociais e os/as usuários/as. Nos espaços
sócio-ocupacionais, o Serviço Social vê-se pressionado a adequar-se a essa lógica, que reduz a
multiplicidade das expressões da questão social a números e indicadores, fragilizando a
intervenção profissional e desconsiderando as reais necessidades da população atendida.
Além disso, no contexto do capitalismo dependente, o Serviço Social enfrenta o desafio
de atuar em um cenário de profundas desigualdades regionais e sociais, estruturadas pela lógica
da dependência econômica. O Brasil, inserido nessa dinâmica, apresenta um sistema
socioeconômico altamente desigual, no qual os serviços e políticas sociais são distribuídos de
forma desproporcional entre as diferentes regiões e classes sociais, limitando o acesso da
população trabalhadora aos direitos fundamentais e reforçando a lógica seletiva e restritiva do
Estado neoliberal.
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Atualmente, observamos uma crescente exponencial e agravante do
contingente populacional em situação de vulnerabilidade em suas mais
diversas faces. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2022), cerca de 35,9 milhões de pessoas estão em trabalhos informais;
64,6% na margem da pobreza; 28,1 milhões em situação de rua e 33,1 milhões
em insegurança alimentar (Sousa, 2023, p. 41).
Diante desse contexto, amparados pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEP),
pela Lei de Regulamentação da Profissão e pelo Código de Ética Profissional, os/as assistentes
sociais desempenham um papel central na defesa e garantia de acesso aos direitos sociais,
enfrentando as contradições do capitalismo dependente e da exploração de classe. Esse
compromisso ético-político está em sintonia com a perspectiva latino-americana do Serviço
Social, que, conforme a definição adotada na Assembleia Geral da Federação Internacional de
Trabalhadores Sociais (FITS) em 2014, propõe uma atuação crítica e transformadora, voltada à
construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
O Serviço Social/Trabalho Social é uma profissão que se insere no âmbito das
relações entre sujeitos sociais e entre estes o Estado nos diversos contextos
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518