Capitalismo dependente e Serviço Social:  
resistência, lutas e construções  
Dependent Capitalism and Social Work:  
resistance, struggles and constructions  
Eduardo Henrique Moraes Santos*  
Mariana Teodoro de Sousa**  
Yve Matayoshi Galvão***  
Lesliane Caputi****  
Resumo: Este artigo oferece reflexões sobre o  
trabalho de assistentes sociais no contexto do  
capitalismo dependente brasileiro, marcado  
Abstract: The work brings reflections on the  
expressions of social workers' work in the  
context of Brazilian dependent capitalism,  
addressing aspects such as precariousness and  
overexploitation, aiming to express in  
professional work the resistance strategies  
adopted by professionals, from a critical-  
dialectic perspective. This is a theoretical essay,  
anchored in the critical approach of the Marxist  
pela precarização  
e
superexploração do  
trabalho. Trata-se de um ensaio teórico  
fundamentado na abordagem crítica da tradição  
marxista, com base em revisão bibliográfica e  
análise documental. Como resultado, observa-  
se que assistentes sociais enfrentam desafios  
significativos e constroem, de maneira coletiva  
e politicamente articulada, estratégias de  
resistência e luta que se alinham ao projeto  
ético-político hegemônico da profissão. Essas  
estratégias, em articulação com as entidades  
representativas da categoria, fortalecem as  
condições cotidianas de trabalho no contexto  
brasileiro bem como a luta em defesa dos  
direitos do conjunto da classe trabalhadora.  
tradition and carried out through  
a
bibliographical review and documentary  
analysis. As a point of arrival, social workers  
face challenges and collectively and politically  
build strategies of resistance and struggles  
aligned with the hegemonic ethical-political  
project of the profession, in confrontation with  
entities in the category, building insights to  
strengthen everyday working conditions. in the  
Brazilian context.  
Palavras-chaves: Serviço Social; Capitalismo  
Keywords: Social Service; Dependent  
dependente; Projeto ético-político.  
capitalism; Ethical-political project.  
* Universidade Federal do ABC. E-mail: santos.hm.eduardo@gmail.com  
** Universidade Estadual Paulista. E-mail: teodoro.sousa@unesp.br  
*** Universidade Federal do Triângulo Mineiro. E-mail: yve.galvao@gmail.com  
**** Universidade Federal do Triângulo Mineiro. E-mail: lesliane.caputi@uftm.edu.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.48350  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 15/04/2025  
Aprovado em: 06/08/2025  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
Introdução  
As profundas raízes da desigualdade no Brasil, marcadas pela dependência econômica  
e política histórica, moldam o cotidiano de milhões de trabalhadoras/es brasileiras/os e desafiam  
as fronteiras do Serviço Social no país. A subordinação da economia brasileira aos interesses  
das economias centrais restringe as possibilidades de desenvolvimento autônomo,  
aprofundando desigualdades e intensificando as expressões da questão social. Nesse cenário, a  
atuação de assistentes sociais se insere em um contexto amplo de refilantropização e  
plaformização das políticas sociais, ampliação da superexploração da força de trabalho e  
crescente limitação ao acesso nos serviços públicos.  
Este artigo, sob luz do referencial marxista acerca do capitalismo dependente, investiga  
as relações que envolvem e moldam o Serviço Social brasileiro frente às ofensivas políticas  
neoliberais considerando, o desenvolvimento histórico e o significado social da profissão na  
perspectiva crítica, logo, marxista, para discutir as possibilidades de lutas e resistência no atual  
cenário marcado pela subordinação econômica, plataformização e neoliberalização da vida.  
A inserção do Brasil no sistema capitalista global é marcada pela dependência estrutural  
e pela subordinação aos interesses dos países centrais. Concebido dentro das abordagens críticas  
da Teoria Marxista da Dependência, o capitalismo dependente brasileiro caracteriza-se pela  
superexploração da força de trabalho, pela subordinação aos fluxos de capital e pela  
desigualdade estrutural, configurando uma economia periférica cujos recursos e riquezas são  
direcionados a fortalecer a acumulação de capital nas economias centrais (Marini, 2005).  
Destarte, as contradições sociais se intensificam, aprofundando desigualdades e  
limitando a capacidade de transformação social do país, tanto em nível nacional quanto  
internacional. Esses aspectos estruturais da dependência também exercem influência sobre as  
políticas sociais e públicas, bem como sobre o exercício de profissões que lidam com as  
expressões da questão social, fruto do conflito entre capital e trabalho, entre as quais se destaca  
o Serviço Social (Netto, 2001).  
556  
Enquanto profissão inserida na divisão de gênero, racial e sociotécnica do trabalho, o  
Serviço Social sofre os rebatimentos estruturais e conjunturais do modo de (re)produção social,  
especialmente das relações de dependência econômica e dos processos de subordinação que  
marcam a economia brasileira. Sua trajetória no país tem origem em um contexto conservador,  
vinculado ao desenvolvimento das políticas sociais estatais na década de 1930. No entanto, foi  
a partir da década de 1970, em meio às lutas e resistências contra a ditadura militar e empresarial  
na América Latina, que a profissão passou a se articular com os movimentos sociais da classe  
trabalhadora, impulsionando a construção de uma perspectiva histórico-crítica (Netto, 2001).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
Esse processo culminou na formulação do Projeto Ético-Político do Serviço Social, consolidado  
a partir do denominado Congresso da Virada (1979).  
Esse projeto profissional está ancorado em uma proposta societária que defende a  
“ruptura com o conservadorismo, travando batalha anticapitalista na direção de uma sociedade  
igualitária e libertária, comum a todos os indivíduos sociais” (Caputi; Tabosa; Paula, 2021, p.  
43). Seu eixo ético fundamental é a liberdade, associada aos princípios de democracia,  
ampliação e consolidação da cidadania e defesa intransigente dos direitos humanos, o que  
implica necessariamente o respeito à diversidade.  
No entanto, as contradições geradas pelo capitalismo dependente e pela ofensiva  
neoliberal impõem desafios constantes ao Serviço Social. “No cenário da complexa dinâmica  
de forças entre Estado e sociedade civil, as políticas públicas e sociais são marcadas por  
negociações, ajustes, lutas e concessões políticas” (Duarte, 2021, p. 28). Alinhado ao seu  
projeto crítico, o Serviço Social não tem se furtado ao debate e à resistência diante dos  
sucessivos ataques às políticas públicas e sociais. Esse processo se intensificou nos últimos  
anos, especialmente no contexto do aprofundamento da agenda neoliberal no Brasil. Entre 2017  
e 2022, sob um governo de extrema direita, houve um ataque frontal à ciência, à natureza  
pública das instituições e aos serviços e políticas sociais como um todo, em um movimento que  
persiste e exige vigilância e resistência contínuas.  
557  
Muitas são as estratégias de resistência, as lutas e as construções promovidas pelo  
Serviço Social no Brasil no contexto do capitalismo dependente, e no compêndio das reflexões  
deste artigo, destacam-se algumas pautadas no sentido da práxis transformadora, conectadas à  
defesa do Projeto Ético-Político da profissão como direção ética para a construção de práticas  
comprometidas com a justiça social e com a emancipação humana.  
O estudo busca compreender as condições concretas de trabalho das/os assistentes  
sociais e as estratégias desenvolvidas para resistir às restrições impostas pela dependência. Para  
isso, fundamenta-se em uma revisão bibliográfica que mobiliza as principais produções sobre  
o capitalismo dependente, bem como sobre a trajetória e o desenvolvimento do Serviço Social  
no Brasil. Além disso, analisa documentos institucionais e normativos da profissão,  
possibilitando uma abordagem crítica sobre os desafios e possibilidades do exercício  
profissional nesse contexto.  
Isto é, este ensaio visa contribuir para o debate sobre o papel do Serviço Social na  
construção de práticas que, ao mesmo tempo em que buscam responder às demandas  
institucionais, reforcem sua formação e visão crítica diante do compromisso com a defesa dos  
direitos sociais e com a promoção de uma cidadania, assumindo um papel relevante na luta  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
contra as desigualdades estruturais produzidas pela lógica do capitalismo dependente.  
Capitalismo dependente e as políticas sociais  
O conceito de capitalismo dependente constitui uma categoria analítica essencial para  
compreender as particularidades do desenvolvimento econômico e social na América Latina,  
com ênfase no contexto brasileiro abordado neste artigo. Trata-se de um sistema de produção e  
acumulação estruturado pela subordinação aos interesses do capital internacional, no qual a  
divisão internacional do trabalho impõe especializações produtivas que limitam a capacidade  
das economias periféricas de promover seu próprio desenvolvimento (Osório, 2017).  
No Brasil, essa dependência se expressa historicamente na estrutura econômica e social  
desde o período colonial, intensificando-se com o processo de industrialização dependente  
iniciado na década de 1930 e consolidado durante o regime militar. Esse modelo econômico se  
organiza em função do mercado externo, priorizando setores voltados à exportação, como a  
agroindústria e a mineração, em detrimento de investimentos em áreas estratégicas para o  
desenvolvimento social e tecnológico interno.  
Nessa lógica, “a produção não depende, para sua realização, da capacidade interna de  
consumo” (Marini, 2005, p. 132), o que significa que o crescimento econômico pode ocorrer  
sem necessariamente resultar em melhorias nas condições de vida da população local. Isso  
ocorre porque o processo de realização do valor se efetiva nas economias centrais, perpetuando  
um desenvolvimento econômico subordinado, em que os recursos e riquezas gerados no país  
são desviados para atender à demanda externa.  
558  
Esse modelo de acumulação no capitalismo dependente dá origem a uma forma  
específica de exploração, identificada por Marini (2005) como superexploração da força de  
trabalho. Esse conceito se refere a um processo no qual a acumulação do capital não se dá  
apenas por meio da exploração convencional da força de trabalho, mas por mecanismos que  
intensificam a extração de mais-valia de maneira particular. Para Luce (2012), essa exploração  
ocorre de três formas principais: i) pelo aumento da intensidade do trabalho, ampliando a  
produção de mais-valia relativa; ii) pela extensão da jornada de trabalho, elevando a produção  
de mais-valia absoluta; e iii) pela remuneração da força de trabalho abaixo de seu valor,  
impossibilitando a reprodução plena do trabalhador.  
É fundamental destacar que a superexploração não se confunde com pobreza absoluta,  
mas sim com a impossibilidade de suprir integralmente tanto as necessidades básicas (como  
alimentação, saúde e educação) quanto às necessidades sociais (como acesso a tecnologias e  
produções culturais de seu próprio tempo histórico). Além disso, a superexploração resulta no  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
desgaste precoce da força de trabalho, decorrente da intensificação da jornada laboral e das  
condições degradantes de trabalho impostas às populações das economias dependentes (Marini,  
2014).  
Embora as regiões dependentes permaneçam econômica e politicamente subordinadas,  
a superexploração da classe trabalhadora garante a manutenção dos privilégios das classes  
dominantes locais e internacionais, perpetuando esse padrão de subordinação. Nesse sentido, a  
superexploração não apenas intensifica a extração de mais-valia, mas também potencializa a  
lucratividade e a acumulação do capital nas economias centrais, consolidando a posição  
periférica da América Latina no sistema-mundo capitalista.  
As consequências desse processo, agravadas pela diluição da proteção social,  
materializam-se em uma profunda desigualdade estrutural e na precarização das condições de  
vida da maioria da população. O acesso restrito a direitos fundamentais, como saúde, educação  
e segurança social, amplia a vulnerabilidade da classe trabalhadora, expondo-a a formas cada  
vez mais intensas de exploração e exclusão social.  
[...] por bilhões de homens e mulheres dependentes de forma exclusiva do  
trabalho para sobreviver e encontrar, cada vez mais, situações instáveis,  
precárias, ou vivenciando diretamente o flagelo do desemprego; [...] aqueles  
que se mantêm empregados presenciam a corrosão dos seus direitos,  
consequência da lógica destrutiva do capital […] novas modalidades de  
trabalho informal, intermitente, precarizado, “flexível”, depauperando ainda  
mais os níveis de remuneração daqueles que se mantêm trabalhando (Antunes,  
2018, p. 26 apud Camargo, 2021, p. 492-493).  
559  
Essa reorganização do trabalho, ancorada na reprimarização das economias latino-  
americanas, impõe impactos profundos sobre as políticas sociais. À medida que o Estado  
enfrenta restrições orçamentárias e crescentes pressões para se adequar às demandas do capital  
internacional, intensifica-se a disputa pelo fundo público e limita as possibilidades de  
investimento em proteção social. A adoção de políticas de austeridade, amplamente incentivada  
e intensificada nas últimas décadas por organismos como o Fundo Monetário Internacional  
(FMI) e Banco Mundial, resulta em cortes sucessivos nos investimentos sociais, agravando a  
precarização das condições de vida da classe trabalhadora e impondo sua subjugação à  
superexploração como condição de sobrevivência (Brettas, 2017).  
Essas dinâmicas têm implicações diretas na luta de classes e, consequentemente, nas  
respostas do Estado às expressões da questão social. A reconfiguração das políticas sociais  
ocorre por meio da implementação de programas e projetos alinhados aos processos de  
reestruturação produtiva, consolidando um modelo de gestão social orientado pela lógica do  
ajuste fiscal permanente (Brettas, 2017). Esse movimento tem como marco a contrarreforma do  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
Estado brasileiro iniciada na década de 1990, que estabeleceu as bases para a retração do papel  
estatal na garantia de direitos e para a intensificação da privatização e mercantilização dos  
serviços públicos.  
Ao gerir as expressões da questão social por meio de políticas sociais moldadas pela  
lógica neoliberal, o capital mantém um discurso moralizante sobre o comportamento da classe  
trabalhadora, instituindo uma relação de controle social1 que combina consenso e coerção. Esse  
controle se materializa nas condicionalidades impostas para o acesso às políticas sociais,  
restringindo a concepção de direitos e submetendo os sujeitos às exigências do capital (Souza,  
2010).  
A questão do controle social na dinâmica do capital torna-se evidente nas concepções  
de subsunção formal e subsunção real do trabalho ao capital (Marx, 1978 apud Souza, 2010).  
Nessa perspectiva, a subordinação do trabalho ao capital se renova continuamente,  
intensificando a extração do trabalho excedente. Esse processo pode se manifestar de diferentes  
formas, desde a configuração de um Estado de Bem-Estar Social até a desregulamentação  
neoliberal, conforme as necessidades do capital e a correlação de forças entre as classes em  
cada conjuntura histórica.  
Entretanto, nos países da periferia do sistema, especialmente na América Latina,  
historicamente marcada por uma inserção subordinada na divisão internacional do trabalho,  
prevalece um padrão de proteção social limitado, seletivo e focalizado, que se constitui como  
expressão das contradições do capitalismo dependente.  
560  
O ciclo do capital latino-americano impõe condicionantes estruturais em todo processo  
produtivo e reprodutivo, neste sentido, a proteção social carrega em sua institucionalização e  
disposição orçamentária as contradições ineretes ao desenvolvimento desigual e combinado,  
acentuadas pelas variáveis do tempo histórico.  
Esta particularidade estrutural evidência a disparidade nos níveis de proteção social e  
degradação da força de trabalho consolidadas entre os trabalhadores do norte e sul global.  
Assim, apesar de o capitalismo central ter experimentado seus anos de ouro através do  
intervencionismo keynesiano, tal realidade não se aplica em Nuestra América.  
1
“Na esfera política o controle social se expressa para regular a relação entre indivíduo e sociedade, ou seja, a  
relação entre as classes. Nessa esfera, o Estado mantém uma relação de complementaridade com a economia, com  
a base material, e exerce o controle sobre a sociedade, em particular, sobre o trabalho para diminuir os efeitos das  
desigualdades sociais, em face do agravamento da questão social no capitalismo dos monopólios e visando evitar  
os conflitos sociais entre as classes. No que se refere aquela relação de complementaridade, o Estado interfere na  
dinâmica da economia tanto na fase reguladora do capitalismo em que prevalece uma política keynesiana, quanto  
como restringe sua intervenção econômica e reduz direitos e benefícios sociais aos cidadãos, no momento em que  
predominam alternativas de desenvolvimento baseados no neoliberalismo” (Souza, 2010, p. 05).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
Nesse contexto, as políticas sociais, ainda que apresentem traços de universalização em  
momentos pontuais, são, em grande medida, determinadas por condicionantes externos e  
restrições fiscais impostas pela lógica de transferência de valor ao capital internacional,  
reproduzindo mecanismos de regulação social compatíveis com as exigências do capital em sua  
fase contemporânea.  
Esta condição impacta diretamente o exercício profissional do Assistente Social, desde  
a constituição da profissão até os desafios cotidianos, como observaremos a seguir.  
Serviço Social no capitalismo dependente  
O Serviço Social se legitima e se desenvolve como profissão no interior da divisão  
social, técnica, racial e de gênero do trabalho, tendo como pano de fundo as contradições e o  
desenvolvimento do capitalismo industrial monopolista (Iamamoto, 2007). Esses processos são  
apreendidos sob a ótica da luta de classes, evidenciando que a profissão atua diretamente nas  
políticas sociais e no enfrentamento das consequências da intensificação da superexploração do  
trabalho. No cotidiano, essa atuação se traduz no aumento da demanda por serviços sociais e  
na escassez de recursos para atender às famílias em situação de vulnerabilidade, colocando  
as/os assistentes sociais em uma posição de mediação entre as exigências do capital e as  
necessidades da classe trabalhadora.  
561  
Portanto, é nessa estrutura de exploração e subordinação que se configuram tanto os  
desafios diários da profissão quanto as estratégias de resistência. Aprofundando a análise da  
superexploração da força de trabalho e da dependência tecnológica e financeira do país, torna-  
se possível compreender as políticas sociais não como conquistas isoladas, mas como parte de  
um processo contraditório de controle e manutenção da ordem social. Ao intervir nas expressões  
da questão social, o Serviço Social é diretamente impactado por essas contradições (Netto,  
2001), encontrando-se na linha de frente das tensões entre a reprodução de um sistema  
dependente e a luta pela garantia de direitos e pela construção de um projeto societário que  
rompa com essa lógica de subordinação estrutural.  
Nesse sentido, o Serviço Social sofre diretamente os impactos do capitalismo  
dependente, como a intensificação da superexploração – resultante da permanente tentativa do  
capital de reduzir o valor da força de trabalho –, das crises urbanas, ambientais e econômicas  
cíclicas.  
Essas crises repercutem diretamente na vida da classe trabalhadora e,  
consequentemente, no Serviço Social, uma vez que a profissão não apenas atende a essa  
população, mas também se insere e se constrói enquanto parte dessa classe, engajada na defesa  
de suas lutas.  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
A/o assistente social é um/a trabalhador/a assalariado/a, com autonomia relativa, e a  
profissão, regulamentada pela Lei Federal nº 8.662/1993, configura-se como uma área de  
conhecimento das ciências sociais aplicadas. No Brasil, o Serviço Social se insere no campo  
das profissões liberais, embora sua prática esteja indissociavelmente vinculada às dinâmicas do  
trabalho assalariado e à reprodução das relações capitalistas. Sendo historicamente situado no  
contexto da complexificação dessas relações, o saber-fazer profissional do Serviço Social  
estrutura-se a partir das mediações entre capital e trabalho, constituindo sua base material e  
teórica. Esse processo se materializa no enfrentamento dos desafios impostos pela  
reestruturação produtiva e pelo aprofundamento da lógica neoliberal, que redefine as condições  
de trabalho e os limites da intervenção profissional (Iamamoto, 2007).  
A institucionalização e a legitimação do Serviço Social no Brasil estão historicamente  
vinculadas à expansão das políticas sociais, inicialmente pautadas por um caráter  
assistencialista e conservador. No entanto, a partir das décadas de 1970 e 1980, a profissão  
passou por uma reorientação crítica impulsionada pelo Movimento de Reconceituação, em um  
cenário marcado pelo processo de redemocratização do país e pelo fortalecimento das bases  
teóricas marxistas no campo do Serviço Social (Netto, 2001). Esse movimento culminou na  
formulação do Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEP), que propõe uma atuação voltada  
para a emancipação e a justiça social, reafirmando o compromisso da profissão com a classe  
trabalhadora e com a transformação das condições estruturais que perpetuam a desigualdade.  
Contudo, a tentativa de consolidar uma atuação crítica encontra barreiras estruturais que  
desafiam a intervenção profissional e exigem estratégias de resistência e enfrentamento. Em  
primeiro lugar, é fundamental considerar a relação de compra e venda da força de trabalho  
dos/as assistentes sociais, mediada pelas determinações do assalariamento. Essa condição  
evidencia as limitações e contradições inerentes ao exercício profissional no contexto do  
capitalismo (Iamamoto, 2007).  
562  
O vínculo contratual e assalariado insere o/a assistente social sob a autoridade  
organizacional, submetendo-o/a às diretrizes institucionais que, muitas vezes, entram em  
conflito com as perspectivas e objetivos críticos do PEP. Além disso, a superexploração do  
trabalho se manifesta por meio de salários rebaixados, ampliação das demandas profissionais,  
intensificação e diversificação das requisições do capital – como a incorporação das  
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e a plataformização das políticas sociais  
(Guerra, 2023) –, além da flexibilização dos vínculos empregatícios, contratos temporários e  
terceirização, todos respaldados pelas contrarreformas trabalhistas que regulamentam a  
informalidade e a precarização do trabalho.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
Essas condições são evidenciadas pelos dados do Conselho Federal de Serviço Social  
(CFESS, 2024), que apontam que 31,16% dos/as assistentes sociais no Brasil recebem até R$  
2 mil e outros 32,21% recebem até R$ 3 mil, valores inferiores à renda média nacional (Pnad,  
2022). Além disso, 45% desses/as profissionais são contratados/as sem concurso público, o que  
reforça a instabilidade e a desproteção trabalhista. Destaca-se ainda que a profissão é  
predominantemente exercida por mulheres, o que insere o Serviço Social em um contexto de  
dupla exploração, na medida em que a precarização do trabalho se articula com as  
desigualdades de gênero (CFESS, 2024).  
O Serviço Social, por ser uma profissão predominantemente composta por  
mulheres negras, assim como seu público atendido, está intrinsecamente  
vinculado a todas as expressões de desigualdade social advindas do sistema  
capitalista, como as violências contra as mulheres, a precarização no mundo  
do trabalho, o desemprego, o trabalho desvalorizado e não remunerado e todas  
as opressões, explorações, desvalorizações e subalternidades conferidas às  
mulheres (CFESS, 2024, n.p.).  
Esse processo acentua a exploração e os adoecimentos da classe trabalhadora,  
compondo a nova morfologia do mundo do trabalho, cujas contradições foram intensificadas e  
tornadas mais visíveis com o aprofundamento da dependência. Como ressaltam Raichelis et al.  
(2022, p. 23), essa "nova-velha morfologia do trabalho" aprofunda os desafios já presentes no  
cotidiano profissional dos/as assistentes sociais, evidenciando a necessidade de fortalecer  
estratégias coletivas de resistência frente às ofensivas neoliberais e à precarização das políticas  
sociais.  
563  
Por outro lado, a presença de legislações trabalhistas e normas organizacionais cria uma  
esfera de regulação e proteção que também oferece condições mínimas de dignidade ao trabalho  
profissional, como limites para a jornada e o direito trabalhistas. No entanto, no contexto do  
capitalismo dependente e das políticas de austeridade, esses direitos são frequentemente  
ameaçados por tentativas de flexibilização trabalhista e precarização das condições de trabalho.  
[...] a precarização do trabalho não é uma fatalidade, como muitos(as) querem  
fazer crer, mas uma estratégia do padrão de acumulação capitalista em tempos  
de mundialização neoliberal, tanto no centro quanto na periferia dependente.  
Trata-se de um poderoso mecanismo de reorganização do trabalho no contexto  
do capitalismo hegemonizado pelas finanças, que combina flexibilização,  
terceirização e informalidade do trabalho como partes inseparáveis do léxico  
e da pragmática da empresa corporativa global (Antunes, 2020, p. 11).  
Essa conjuntura intensifica os desafios cotidianos dos/as assistentes sociais, que  
enfrentam uma dupla pressão em seu exercício profissional. De um lado, há a exigência  
institucional de adaptação à lógica de produtividade e controle, que impõe a adesão a uma  
racionalidade instrumental e mercadológica, subordinando o trabalho social a métricas  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
quantitativas e metas gerenciais. De outro, persiste o compromisso com uma prática  
profissional ético-política, orientada pelo acesso a direitos, pela defesa intransigente da  
democracia, pela superação de todas as formas de preconceito e opressão e pelo princípio da  
liberdade como valor ético central. Assim, o exercício profissional se estrutura como um espaço  
de disputa, articulando-se com os movimentos da classe trabalhadora na construção de uma  
outra ordem societária, antirracista, anticapacitista e, necessariamente, anticapitalista.  
O neoliberalismo impõe às políticas sociais métodos de gestão voltados ao controle  
burocrático e à obtenção de resultados quantitativos, desconsiderando a complexidade das  
demandas sociais. Esse modelo de funcionamento fragmenta os serviços e dificulta a construção  
de vínculos de confiança e apoio entre os/as assistentes sociais e os/as usuários/as. Nos espaços  
sócio-ocupacionais, o Serviço Social vê-se pressionado a adequar-se a essa lógica, que reduz a  
multiplicidade das expressões da questão social a números e indicadores, fragilizando a  
intervenção profissional e desconsiderando as reais necessidades da população atendida.  
Além disso, no contexto do capitalismo dependente, o Serviço Social enfrenta o desafio  
de atuar em um cenário de profundas desigualdades regionais e sociais, estruturadas pela lógica  
da dependência econômica. O Brasil, inserido nessa dinâmica, apresenta um sistema  
socioeconômico altamente desigual, no qual os serviços e políticas sociais são distribuídos de  
forma desproporcional entre as diferentes regiões e classes sociais, limitando o acesso da  
população trabalhadora aos direitos fundamentais e reforçando a lógica seletiva e restritiva do  
Estado neoliberal.  
564  
Atualmente, observamos uma crescente exponencial e agravante do  
contingente populacional em situação de vulnerabilidade em suas mais  
diversas faces. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  
(IBGE, 2022), cerca de 35,9 milhões de pessoas estão em trabalhos informais;  
64,6% na margem da pobreza; 28,1 milhões em situação de rua e 33,1 milhões  
em insegurança alimentar (Sousa, 2023, p. 41).  
Diante desse contexto, amparados pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEP),  
pela Lei de Regulamentação da Profissão e pelo Código de Ética Profissional, os/as assistentes  
sociais desempenham um papel central na defesa e garantia de acesso aos direitos sociais,  
enfrentando as contradições do capitalismo dependente e da exploração de classe. Esse  
compromisso ético-político está em sintonia com a perspectiva latino-americana do Serviço  
Social, que, conforme a definição adotada na Assembleia Geral da Federação Internacional de  
Trabalhadores Sociais (FITS) em 2014, propõe uma atuação crítica e transformadora, voltada à  
construção de uma sociedade mais justa e igualitária.  
O Serviço Social/Trabalho Social é uma profissão que se insere no âmbito das  
relações entre sujeitos sociais e entre estes o Estado nos diversos contextos  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
sócio-históricos de atuação profissional. Desenvolve uma práxis social e um  
conjunto de ações de natureza socioeducativa, que incidem na reprodução  
material e social da vida, em uma perspectiva de transformação social  
comprometida com a democracia e com o enfrentamento das desigualdades  
sociais, fortalecendo a autonomia, a participação e o exercício da cidadania,  
na defesa e na conquista dos direitos humanos e da justiça social (CFESS,  
2012c, n.p.)2.  
Logo, torna-se evidente a vinculação do Serviço Social com os processos sociais que  
atravessam diversas instituições da sociedade e impactam diretamente as condições de vida da  
classe trabalhadora. Os/as assistentes sociais, enquanto trabalhadoras/es, também estão  
inseridos nesse contexto de exploração, submetidos/as à sobrecarga, superexploração e outras  
formas de precarização laboral. O processo de reestruturação produtiva tem provocado  
alterações profundas nas requisições profissionais, tornando-as mais simplificadas, polivalentes  
e destituídas de especificidade, em um movimento de desprofissionalização que reduz a  
necessidade de especialização e amplia a realização de atividades indevidas ou inadequadas  
(Guerra, 2023).  
Estes aspectos, acentuados pelas (contra)reformas trabalhistas  
e
previdenciárias, tendem a prejudicar tanto o acesso a itens básicos como  
também os serviços inerentes à subsistência humana, comprometendo  
continuamente a vida dos trabalhadores. Tais condicionamentos afetam sua  
saúde mental e física e contribuem para o surgimento de doenças consideradas  
contemporâneas, mas que sãaso intrínsecas à superexploração do trabalho no  
contexto do capitalismo dependente (Lira; Gurgel; Amaral, 2020).  
565  
Essa dinâmica se expressa no esgotamento prematuro da força físico-psíquica dos/as  
trabalhadores/as, “associado à remuneração da força de trabalho abaixo de seu valor real,  
sustentando a dependência e a reconfiguração do papel do Estado na reprodução das relações  
capitalistas” (Luce, 2012, p. 122). Nesse cenário de extrema precarização, os/as assistentes  
sociais são impactados/as por um modelo de trabalho que subordina sua autonomia às  
exigências do mercado, limitando sua capacidade de atuação crítica e reforçando uma lógica  
instrumental alinhada aos interesses do capital.  
Dessa forma, a categoria profissional sofre as consequências da nova morfologia do  
mundo do trabalho, que atravessam a totalidade da classe trabalhadora. Enquanto profissionais  
capacitados/as para intervir nas expressões da questão social, os/as assistentes sociais enfrentam  
a diluição de seus meios de trabalho e a intensificação das demandas sociais, sendo  
desafiados/as a operar entre as exigências institucionais que sustentam a superexploração e seu  
compromisso ético-político com a transformação social. Esse contexto de tensões reforça a  
2A escolha pela proposta latino-americana de definição do Serviço Social, em detrimento da versão aprovada pela  
FITS, fundamenta-se na compreensão das especificidades históricas, sociais e econômicas da América Latina, que  
demandam uma perspectiva crítica e transformadora alinhada à realidade regional.  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
necessidade de um exercício profissional que vá além do atendimento imediato e emergencial,  
exigindo uma postura crítica que reconheça as particularidades sócio-históricas brasileiras e  
que questione as raízes estruturais da desigualdade.  
Mesmo diante desse cenário adverso, assistentes sociais constroem e sustentam práticas  
de resistência no cotidiano profissional, reafirmando seu compromisso ético-político com a  
classe trabalhadora.  
Estratégias de resistências e lutas no Serviço Social  
No contexto do capitalismo dependente brasileiro, as estratégias de resistência e luta no  
Serviço Social tornam-se fundamentais para que os/as profissionais enfrentem as pressões  
neoliberais e atuem na defesa dos direitos da população em situação de desproteção social. A  
categoria profissional encontra-se inserida em um ambiente marcado pela precarização das  
políticas sociais e pela redução sistemática de investimentos em áreas essenciais como saúde,  
educação e assistência social. Diante desse cenário, torna-se imperativo que os/as assistentes  
sociais construam uma práxis crítica e transformadora, que tenha um teor transformador da  
realidade e na defesa de uma sociabilidade livre de relações de opressão.  
Essa atuação exige, ainda, a apropriação contínua dos debates mercadológicos e  
institucionais, não como forma de adesão à lógica do capital, mas como estratégia para a  
obstrução de seus mecanismos de dominação e para a construção de alternativas que fortaleçam  
a autonomia e a garantia de direitos da classe trabalhadora.  
566  
Nesse processo, permeado por conflitos inerentes à condição de trabalhadores  
assalariados – como a necessidade de preservação do vínculo empregatício – e ancorado em  
uma bagagem teórico-metodológica e técnico-operativa orientada por perspectivas ético-  
políticas, os/as assistentes sociais buscam construir redes de resistência e defesa dos direitos  
sociais. Para isso, estabelecem conexões com outras categorias profissionais, associações e  
movimentos sociais, promovendo articulações coletivas que fortalecem a luta contra as  
contradições impostas pelas estruturas de exploração e desigualdade características do  
capitalismo dependente.  
A partir desse contexto, delimita-se a apropriação do Projeto Ético-Político (PEP) como  
um eixo fundamental para o fortalecimento da resistência profissional no Serviço Social. Essa  
apropriação se materializa na esfera jurídico-política da profissão e nas formas político-  
organizativas da categoria, manifestando-se na participação ativa nos conselhos e associações  
profissionais, bem como na produção e sistematização coletiva de conhecimento na área. Esses  
pilares são essenciais para consolidar estratégias sólidas e articuladas de resistência,  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
possibilitando uma atuação que transcende o atendimento imediato, promovendo uma  
intervenção crítica e comprometida com a transformação das condições sociais e a defesa dos  
direitos da classe trabalhadora.  
Nesse sentido, destaca-se o papel estratégico dos Núcleos de Assistentes Sociais (NAS),  
vinculados às seccionais dos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). Esses núcleos  
funcionam como espaços de debate, representação e construção coletiva da categoria,  
permitindo que as particularidades locais e regionais sejam consideradas na formulação de  
estratégias de luta. Dessa forma, impulsionam mobilizações específicas, aprofundam o  
engajamento em questões pontuais e ampliam o campo de formação política e profissional  
dos/as assistentes sociais.  
Além disso, os NAS oferecem ambientes de troca e compartilhamento de experiências,  
fortalecendo redes de apoio e consolidando a identidade coletiva da profissão. Esse processo é  
essencial para sustentar a resistência frente aos ataques às políticas sociais e para reafirmar o  
compromisso da categoria com os princípios ético-políticos do Serviço Social, garantindo que  
a luta por direitos e pela emancipação da classe trabalhadora permaneça como um elemento  
central no exercício profissional.  
Entre os inúmeros desafios enfrentados pelo Serviço Social, exige-se a articulação e  
fortalecimento de trincheiras coletivas, especialmente na esfera política, em defesa dos direitos  
da classe trabalhadora. Um exemplo emblemático desse processo de mobilização coletiva é a  
defesa da jornada de 30 horas semanais para assistentes sociais, regulamentada pela Lei nº  
12.317/2010, cuja implementação e manutenção demandam vigilância permanente e esforços  
contínuos.  
567  
Da mesma forma, a articulação com movimentos sociais também se consolida como  
uma estratégia indispensável, permitindo que suas ações ultrapassem o âmbito institucional e  
se conectem a lutas mais amplas, como a reforma urbana e agrária, a defesa da moradia digna,  
a igualdade de gênero e raça, e a proteção dos direitos da população LGBTQIA+. Esse  
engajamento político não apenas fortalece a capacidade de influenciar a formulação e  
implementação de políticas públicas, mas também possibilita a denúncia de violações de  
direitos e a promoção de debates sobre a importância das políticas sociais.  
A resistência cotidiana envolve, ainda, a criação de espaços de escuta e acolhimento que  
respeitem a singularidade das demandas de sujeitos atendidos com base nos valores éticos  
centrais da profissão. Em um contexto em que as políticas sociais são pressionadas por uma  
lógica de mercado e por exigências de produtividade, assistentes sociais encontram na  
construção de vínculos com usuárias/os uma forma de resistência à desumanização dos  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
atendimentos. Por meio de práticas que promovem o acolhimento, a escuta qualificada e o  
fortalecimento da autonomia de sujeitos, as/os assistentes sociais reafirmam o compromisso  
com o valor da vida humana e com outra lógica de sociabilidade.  
Ademais, a formação crítica e a educação permanente constituem elementos centrais na  
estratégia de resistência do Serviço Social, além de representarem um compromisso ético com  
o aprimoramento intelectual e profissional. No contexto do capitalismo imperialista, a educação  
desempenha um papel fundamental na reprodução das relações de dependência econômica e  
tecnológica, moldando a força de trabalho para a estrutura produtiva capitalista. No entanto,  
essa função é multifacetada e contraditória, pois também possibilita a formação crítica e a  
produção de conhecimento pela própria classe trabalhadora, ampliando sua capacidade de  
compreensão e enfrentamento das contradições estruturais (Santos, 2024).  
Ao Serviço Social, o processo de formação e atualização de conhecimentos, ao  
incorporar referenciais teóricos críticos, capacita os/as assistentes sociais a compreenderem o  
papel das estruturas econômicas e políticas na produção e reprodução das desigualdades sociais.  
Essa qualificação possibilita uma atuação mais consciente e fundamentada, que reconhece as  
particularidades do capitalismo dependente e as estratégias necessárias para resistir às ofensivas  
neoliberais, como coloca Iamamoto (2022, p. 179):  
A formação profissional possibilita aos assistentes sociais compreender  
criticamente as tendências do atual estágio da expansão capitalista e suas  
repercussões na alteração das funções tradicionalmente atribuídas à profissão  
e no tipo de capacitação requerida pela "modernização" da produção e pelas  
novas formas de gestão da força de trabalho; que dê conta dos processos que  
estão produzindo alterações nas condições de vida e de trabalho da população  
que é alvo dos serviços profissionais, assim como das novas demandas dos  
empregadores na esfera empresarial.  
568  
Dessa forma, a perspectiva de uma educação ininterrupta não apenas aprofunda os  
parâmetros investigativos da profissão, mas também amplia a compreensão dos processos de  
reestruturação do capital. Ou seja, tal projeto pedagógico fomenta o desenvolvimento de  
análises críticas sobre os campos sócio-ocupacionais e suas respostas às demandas impostas  
pela racionalidade neoliberal.  
Nesse sentido, por meio de cursos, comissões técnicas, políticas de formação  
promovidas pelo conjunto CFESS-CRESS, congressos, seminários, rodas de conversa, o  
Projeto ABEPSS Itinerante e boletins informativos, a categoria constrói espaços permanentes  
de debate e atualização profissional. Essas iniciativas adotam diferentes estratégias pedagógicas  
e didáticas, enriquecendo a formação e promovendo discussões críticas sobre os temas centrais  
da profissão, sempre ancoradas em uma perspectiva de resistência.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 2, p. 555-572, jul./dez. 2025. ISSN 1980-8518  
Capitalismo dependente e Serviço Social: resistência, lutas e construções  
A educação permanente capacita a categoria a desenvolver respostas críticas às  
limitações institucionais e aos processos de precarização, fornecendo ferramentas para que  
os/as assistentes sociais possam atuar com autonomia intelectual diante das ofensivas do capital.  
No entanto, é imprescindível que essa formação crítica permaneça ancorada nas trincheiras de  
luta, cultivando um senso crítico que muitas vezes é negligenciado, inclusive durante a  
formação profissional, precarizada pelo avanço da mercantilização da educação e da vida.  
Mesmo que a pressão por ceder seja constante, é necessário manter uma postura radical e firme  
na busca por uma sociabilidade mais justa e livre de explorações.  
Diante das (re)configurações e da precarização do mundo do trabalho, é fundamental  
desenvolver e manter um olhar crítico e atento às demandas institucionais associadas ao  
capitalismo dependente, especialmente no que concerne a requisições indevidas ou  
inadequadas, que desrespeitam o que estabelece a Lei nº 8.662/1993, de Regulamentação da  
Profissão. Reconhecer esses impactos é essencial para que possamos fortalecer uma prática  
profissional que, além de crítica, esteja ancorada na defesa dos princípios ético-políticos do  
Serviço Social, que forja inclusive o trabalho coletivo e o respeito ao pluralismo de perspectivas  
democráticas, o que não se confunde com ecletismo.  
Aproximações conclusivas  
569  
Desvendar as múltiplas determinações que constituem nossa sociabilidade, marcada  
pelo antagonismo estrutural entre capital e trabalho, permite uma compreensão crítica da  
totalidade social em sua forma mais contraditória. As economias centrais e dependentes, partes  
interdependentes de um mesmo sistema capitalista, expressam conflitos e oposições que, de  
forma dialética, impulsionam processos de mudança e transformação social.  
Dentro das dinâmicas do capital, surge uma antítese que impõe consequências adversas  
aos trabalhadores, como a precarização das condições de vida, o adoecimento e o desgaste  
laboral, sintomas de um sistema baseado na superexploração, amplamente perceptível no  
cenário brasileiro. Essa superexploração opera como um mecanismo de rentabilidade e  
acumulação imperialista, impondo o que, quem e como produzir, desconsiderando as  
necessidades reais da sociedade. Esse modelo perpetua o desenvolvimento do  
subdesenvolvimento das economias dependentes, ampliando as desproteções sociais.  
Essa natureza integra a formação sócio-histórica do Brasil, revelando o caráter primário-  
exportador da economia e o poder político exercido pelos latifundiários na dinâmica de  
cooperação antagônica que sustenta a divisão internacional do trabalho sob o imperialismo.  
Nesse contexto, o capitalismo dependente particulariza o significado da questão social e suas  
Eduardo Henrique Moraes Santos; Mariana Teodoro de Sousa; Yve Matayoshi Galvão; Lesliane Caputi  
expressões na realidade brasileira, requerendo uma análise que ultrapasse compreensões  
genéricas e abstratas desse conceito.  
A questão social, sendo o fundamento básico da existência do Serviço Social e sua razão  
de ser, demanda uma compreensão aprofundada das dinâmicas de dependência para que as/os  
assistentes sociais possam identificar os desafios e explorar as possibilidades de resistência e  
transformação no contexto brasileiro. Essa análise é indispensável para que o exercício  
profissional seja crítico e engajado com a realidade concreta, fundamentando-se em um  
entendimento preciso das contradições e desigualdades que marcam o capitalismo dependente  
no Brasil.  
Dessa forma, o Serviço Social no Brasil encontra-se em uma posição desafiadora, mas  
também estratégica. A profissão, ao mesmo tempo em que enfrenta limitações estruturais, é  
impulsionada pelo compromisso ético-político com a emancipação social, o que lhe confere um  
papel de resistência e de luta por direitos. Em um contexto marcado pela desigualdade, pela  
precarização e pela superexploração da força de trabalho, o Serviço Social, ao atuar de forma  
crítica e comprometida, contribui para questionar e expor as contradições do capitalismo  
dependente e para a construção de alternativas que promovam uma sociedade mais justa e  
equitativa.  
Para enfrentar essas barreiras, o Serviço Social brasileiro deve fortalecer sua formação  
básica e sua educação permanente crítica, bem como intensificar a articulação com movimentos  
sociais e demais lutas populares. É essencial incluir o debate sobre o capitalismo dependente  
nas leituras e no cotidiano profissional de assistentes sociais, ampliando a compreensão das  
expressões da questão social à luz da realidade sócio-histórica brasileira.  
570  
Através dessas estratégias de resistência e enfrentamento, assistentes sociais podem  
aprofundar a análise das relações entre as condições sociais concretas e as determinações  
econômicas e políticas que as sustentam, promovendo uma atuação mais consciente, crítica e  
engajada com as demandas sociais e com as lutas da classe trabalhadora.  
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