A questão ambiental e destrutividade capitalista: o desastre ambiental no Rio Grande do Sul
Considerando o exposto, Araújo e Silva (2021, p. 159) destacam que os desgastes
ambientais causados pelo sistema mercantil nas colônias foram, sobretudo, a “destruição da
flora e da fauna para o monocultivo, a dizimação dos povos originários, a escravização negra e
indígena, a erosão do solo e poluição das fontes hídricas, dentre outros”. Tais questões,
“constituíram tão somente a antessala de um longo e destrutivo processo que a sociedade
capitalista madura e plenamente desenvolvida trata de reproduzir e sistematicamente
complexificar” (Araújo; Silva, 2021, p. 160).
Partindo desse pressuposto, com o avanço do capitalismo, especialmente a partir da
Revolução Industrial, a destrutividade ambiental e a exploração do trabalhador seguiram se
intensificando. Ao abordar os desdobramentos provocados pela indústria na agricultura e
destacando que o desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo levava ao esgotamento
da terra e do trabalhador, Marx (1996, p. 133) afirmava que:
Com a preponderância sempre crescente da população urbana que amontoa
em grandes centros, a produção capitalista acumula, por um lado, a força
motriz histórica da sociedade, mas perturba, por outro lado, o metabolismo
entre homem e terra, isto é, o retorno dos componentes da terra consumidos
pelo homem, sob forma de alimentos e vestuário, à terra, portanto, a eterna
condição natural de fertilidade permanente do solo. Com isso, ela destrói
simultaneamente a saúde física dos trabalhadores urbanos e a vida espiritual
dos trabalhadores rurais. [...] A dispersão dos trabalhadores rurais em áreas
cada vez maiores quebra, ao mesmo tempo, sua capacidade de resistência,
enquanto a concentração aumenta a dos trabalhadores urbanos. E cada
progresso da agricultura capitalista não é só um progresso na arte de saquear
o trabalhador, mas ao mesmo tempo na arte de saquear o solo, pois cada
progresso no aumento da fertilidade por certo período é simultaneamente um
progresso na ruína das fontes permanentes dessa fertilidade. Quanto mais um
país, como, por exemplo, os Estados Unidos da América do Norte, se inicia
com a grande indústria como fundamento de seu desenvolvimento, tanto mais
rápido esse processo de destruição. Por isso, a produção capitalista só
desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social ao minar
simultaneamente as fontes de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.
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Na citação apresentada, observa-se que Marx (1996), ao destacar a possibilidade de
redução da fertilidade do solo – acompanhada de efeitos como o aumento de doenças e pragas
–, e com base no conceito de fratura metabólica entre homem e natureza, dirige críticas ao
processo de separação entre campo e cidade, bem como à industrialização da agricultura. Com
isso, evidencia a dimensão destrutiva do capitalismo e antecipa diversos problemas que se
agravaram com o avanço das sociedades sob domínio do capital, a exemplo de que os elementos
apropriados pelo homem passaram a ser devolvidos para a natureza em enormes quantidades
de lixo e poluição – questão amplamente discutida atualmente nos debates sobre a
obsolescência programada e suas desastrosas consequências.