Atualidade do pensamento educacional de  
Florestan Fernandes  
The relevance of Florestan Fernandes' educational thought  
Raí Vieira Soares*  
Resumo: O Brasil é permeado por históricos  
dilemas educacionais que se particularizam na  
dinâmica do capitalismo dependente. Assim, o  
presente artigo trata da atualidade do  
pensamento educacional do intelectual-  
militante Florestan Fernandes. Tem como  
Abstract: Brazil is permeated by historical  
educational dilemmas that are particularized in  
the dynamics of dependent capitalism. Thus,  
this article deals with the current relevance of  
the educational thought of the intellectual-  
activist Florestan Fernandes. Its objective is to  
reflect on the current relevance of this  
intellectual's educational thought in order to  
think about the challenges of public education  
in contemporary times. Guided by the  
historical-dialectical method, the qualitative  
research was based on bibliographical research  
on Florestan Fernandes' educational thought  
and articles published in educational journals  
based on Florestan's thought. With this, the  
current relevance of the author's educational  
thought and the multiple possibilities of  
dialogue with his work were demonstrated in  
order to think about contemporary educational  
challenges in the context of basic and higher  
education, teaching work, the concepts of  
education and the conformation of education in  
the dynamics of Brazilian dependent capitalism.  
objetivo refletir sobre  
a
atualidade do  
pensamento educacional deste intelectual para  
pensar os desafios da educação pública na  
contemporaneidade. Orientado pelo método  
histórico-dialético, a pesquisa de natureza  
qualitativa se baseou em pesquisa bibliográfica  
sobre o pensamento educacional de Florestan  
Fernandes  
e
de artigos publicados nos  
periódicos da área de educação fundamentados  
no pensamento florestiano. Com isso,  
demonstrou-se a atualidade do pensamento  
educacional do autor  
possibilidades de diálogo com sua obra para  
pensar os desafios educacionais  
e
as múltiplas  
contemporâneos no âmbito da educação básica  
e superior, o trabalho docente, as concepções de  
educação e a conformação da educação na  
dinâmica do capitalismo dependente brasileiro.  
Palavras-chaves:  
Capitalismo dependente; Realidade brasileira;  
Pensamento educacional.  
Florestan  
Fernandes;  
Keywords: Florestan Fernandes; Dependent  
capitalismo; Brazilian reality; Educational  
thinking.  
* Universidade de Brasília. E-mail: rai.soares@unb.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.47841  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 15/03/2025  
Aprovado em: 02/06/2025  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
Introdução  
Historicamente a educação pública brasileira é permeada “problemas” e dilemas  
profundos como a desvalorização do trabalho docente, o privatismo educacional, o desafio da  
democratização do acesso ao ensino público, o desfinanciamento e a precarização da política  
de educação pública. Esses são alguns dos muitos exemplos. Algumas destas questões podem  
ser observadas nos Relatórios do Censo Escolar da Educação Básica publicados pelo Ministério  
da Educação (MEC). Segundo o Censo Escolar de 2023 (Brasil, 2023) são desafios  
educacionais: a garantia e ampliação da educação infantil, principalmente de creches públicas;  
o crescimento de taxas de evasão nos últimos anos do ensino fundamental e ensino médio na  
rede pública; a reduzida cobertura e matrículas em escolas de tempo integral; as desigualdades  
regionais no acesso a recursos tecnológicos nas escolas de ensino fundamental, como por  
exemplo, as regiões Norte e Nordeste são as que têm as menores taxas de acesso a internet para  
alunos, internet para ensino e aprendizagem e acesso a tablets ou computador portátil para os  
estudantes; a redução das taxas de distorção idade-série; dentre outros desafios.  
Tais desafios não podem ser vistos isoladamente, devem ser apreendidos numa  
abordagem crítica que considere a dinâmica da vida social em seus aspectos históricos,  
econômicos e políticos. Quando se reivindica uma perspectiva crítica de análise da realidade  
social, é necessário observar tais dilemas educacionais numa perspectiva de totalidade, ou seja,  
partir da realidade fenomênica e buscar seus fundamentos estruturantes, assim como, situá-los  
na dinâmica mais ampla do modo de produção capitalista e suas particularidades na formação  
econômico-social da sociedade brasileira no capitalismo dependente, permeada ainda por  
históricas desigualdades regionais, de gênero e étnico-raciais. É nessa perspectiva que se  
localiza o pensamento de Florestan Fernandes, sociólogo, professor, intelectual-militante e  
marxista, conhecido como um dos “intérpretes do Brasil” e representante da sociologia crítica  
brasileira.  
339  
Como um sociólogo preocupado com uma sociologia que partisse da realidade concreta  
da sociedade brasileira, as obras de Florestan Fernandes deram origem à uma sociologia  
tipicamente brasileira de vertente marxista, suas obras versam sobre as particularidades do  
nosso desenvolvimento capitalista, a formação e dinâmica das classes sociais, o papel do  
Estado, a democracia, o capitalismo dependente, a questão racial, a questão educacional e a  
universidade. É importante destacar que Florestan Fernandes não elaborou uma teoria  
pedagógica específica, pois o seu estilo ensaísta e por ser um sociólogo preocupado em refletir  
sobre a realidade brasileira, o autor problematizou os dilemas educacionais, as relações entre  
Raí Vieira Soares  
educação e desenvolvimento bem como a importância da defesa da educação pública na  
sociedade brasileira.  
Florestan Fernandes tem uma perspectiva de análise que considera os dilemas  
educacionais no contexto da realidade social, a partir da articulação entre elementos estruturais  
e dinâmicos da sociedade brasileira, ou seja, na relação dialética entre aspectos “novos” e  
“velhos”, permanências e rupturas, continuidades e mudanças. Ademais, o autor parte da  
compreensão de que os dilemas educacionais na sociedade brasileira devem ser situados no  
contexto do capitalismo dependente latino-americano e sua inserção na dinâmica do capitalismo  
mundial. Ou seja, a particularidade de um país localizado na dinâmica do capitalismo  
dependente vai oferecer determinados contornos específicos à sociedade brasileira, inclusive  
aos seus dilemas educacionais. Este é um dos seus principais pressupostos e seu “fio” condutor  
de análise.  
Diante dessas considerações iniciais sobre a questão educacional no pensamento  
florestiano, o presente artigo se originou da seguinte questão de partida: qual a atualidade do  
pensamento educacional de Florestan Fernandes para pensar os desafios da educação pública  
na contemporaneidade? Para isso, realizou-se um levantamento bibliográfico e análise dos  
artigos publicados nos períodos da área de educação que tratam sobre os dilemas educacionais  
contemporâneos fundamentados no pensamento do referido autor.  
340  
Justifica-se esta temática a partir de dois aspectos. Um primeiro aspecto relaciona-se à  
aproximação com as ideias de Florestan Fernandes por meio da participação em grupos de  
pesquisas e estudos sobre a questão educacional no capitalismo dependente. Ademais, o autor  
do presente artigo compartilha com Florestan Fernandes, mesmo vivendo em épocas distintas,  
experiências de uma trajetória de vida familiar marcada pelas desigualdades de classe típicas  
da sociedade brasileira, repercutindo também nas desigualdades educacionais. Dessa forma, a  
escrita do presente texto se apoia na defesa da educação pública e de qualidade na qual assume  
uma importância estratégica para o enfretamento das históricas desigualdades sociais no Brasil.  
Entretanto, tal defesa não pode cair no messianismo de atribuir unicamente à educação o papel  
de transformação social, mas no entendimento dialético das suas contradições, limites e  
possibilidades.  
Do ponto de vista acadêmico-social, a reivindicação da temática soma-se ao esforço  
coletivo de pesquisadores da área de Educação e do Serviço Social de contribuir com a  
compreensão dos fundamentos históricos e estruturantes dos dilemas educacionais brasileiros,  
pois essa tarefa é imprescindível para a formulação de políticas educacionais que respondam às  
reais necessidades do povo brasileiro e ao desenvolvimento social tão almejado.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
Também neste âmbito é importante destacar que o tema da educação vem ganhando  
destaque no Serviço Social brasileiro nos últimos anos pois, embora não seja um tema “novo”,  
tem cada vez sido um objeto de investigação e intervenção profissional. Este movimento é  
resultante de um processo de um acúmulo teórico-metodológico no interior na profissão com  
hegemonia da perspectiva marxista que contribuiu para a consolidação da pesquisa no Serviço  
Social, com estudos e contribuições também no debate educacional. Além disso, no plano  
externo, foi marcante ainda a reconfiguração e ampliação dos espaços de inserção profissional  
nas políticas públicas sociais, o que contribuiu para a inserção profissional de assistentes sociais  
na educação.  
Esta relação entre Serviço Social e educação tem sido evidenciada por meio de alguns  
determinantes. O primeiro se refere ao entendimento de que a profissão historicamente possui  
uma dimensão pedagógica que é constitutiva da intervenção do Serviço Social, seja orientada  
por pedagogias conservadoras ou pedagogias críticas (Moraes, 2020). Outro aspecto que  
demandou a aproximação do Serviço Social com a educação, foi a inserção profissional no  
âmbito educacional, seja pela expansão das universidades e institutos federais o que requisitou  
a formulação de políticas de assistência estudantil para garantia do acesso e permanência de  
estudantes, mas também a inserção de assistentes sociais nas escolas, na gestão das redes  
públicas de educação básica e nas instituições escolares privadas ou filantrópicas. A inserção  
profissional na educação básica ganhou destaque principalmente com a aprovação da Lei nº  
13.935 de 11 de dezembro de 2019 (Brasil, 2019) que prevê a prestação de serviços de  
Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de educação básica.  
341  
Diante disso, o artigo ora apresentado tem como objetivo geral refletir sobre a atualidade  
do pensamento educacional de Florestan Fernandes para pensar os desafios da educação pública  
na contemporaneidade. Assim, foram delimitados como objetivos específicos: a) Apontar a  
relação entre educação pública e os principais aspectos da trajetória pessoal, intelectual e  
militante de Florestan Fernandes; b) Problematizar as particularidades da educação no âmbito  
do capitalismo dependente no pensamento florestiano; c) Indicar as tendências contemporâneas  
do debate educacional com base no pensamento de Florestan Fernandes.  
Com base nestes objetivos, o artigo se orientou no método histórico-dialético, por  
entender que tal perspectiva de análise possibilita ao pesquisador ultrapassar as questões  
fenomênicas e buscar os fundamentos e determinantes histórico-estruturantes dos processos  
sociais. Destaca-se as contribuições desse método para as pesquisas sobre políticas e projetos  
de educação. Para Gomide e Jacomeli (2016), o referido método contribui para a apreensão dos  
projetos e políticas educacionais no âmbito da totalidade social, isto é, a educação não pode ser  
Raí Vieira Soares  
tratada isoladamente. Ultrapassa-se assim, as perspectivas teórico-metodológicas que tratam as  
políticas educacionais com foco na descrição ou na mera observação dos fatos. Ou seja, o  
método marxista não se limita ao senso comum, aos elementos da aparência no estudo da  
educação, mas busca compreender a sua essência, natureza e estrutura da educação numa  
sociedade de classes.  
Como projeto e política pública, a educação é permeada por interesses políticos,  
ideológicos e econômicos. Consequentemente, não é possível compreender os fundamentos da  
educação sem o entendimento da lógica de funcionamento do modo de produção capitalista e  
suas particularidades em cada realidade nacional. Contradição, mediação e totalidade são  
princípios metodológicos fundamentais nas pesquisas sobre educação. A contradição possibilita  
entender que a educação conserva, ao mesmo tempo, elementos de permanência e superação.  
A mediação pressupõe a inserção da educação na dinâmica das relações sociais e em que o ser  
social tem papel ativo e transformador. Já totalidade indica a necessidade da articulação entre  
as particularidades da educação com o contexto político, econômico e social mais amplo do  
capitalismo (Gomide; Jacomeli, 2016).  
Nesse sentido, o artigo se baseou numa pesquisa qualitativa de base bibliográfica sobre  
o pensamento educacional de Florestan Fernandes. Além da consulta das obras clássicas do  
referido autor, fez-se um levamento bibliográfico de artigos publicados nos periódicos  
científicos da área de educação com fundamentos no pensamento florestiano. O levantamento  
nos periódicos considerou apenas o período de 2022, por pressupor que ano foi o último ano do  
governo Bolsonaro (2019-2022), período de muitos desafios nas políticas educacionais com o  
aprofundamento do conservadorismo na sociedade brasileira com incidências nas políticas  
públicas e sociais. Além disso, a ampliação do marco temporal de seleção resultaria em grande  
quantidade de artigos, o que seria inviável para análise em um artigo.  
342  
A pesquisa foi realizada no Google Acadêmico no qual foram utilizados os operadores  
booleanos1 como estratégia de busca. A busca dos artigos utilizou as seguintes palavras-chaves:  
(educacao OR “educacao basica” OR “educacao superior” OR "desafios educacionais" OR  
“dilemas educacionais”) AND ("capitalismo dependente" OR “Florestan Fernandes” OR  
“padrao educacional dependente” OR “questão educacional em Florestan Fernandes” OR  
1 Os operadores booleanos são uma estratégia de pesquisa com a utilização de caracteres especiais com a utilização  
e combinação de palavras-chaves definidas pelo/a pesquisador/a. Segundo a lógica booleana, as palavras-chaves  
são conectadas pelo uso de “e” e “ou”, sendo que a utilização do “ou” pode ampliar a pesquisa e o uso do “e” pode  
restringir (Treinta et al., 2014).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
“pensamento educacional de Florestan Fernandes”)2. Assim, houve a busca e seleção dos  
artigos, categorização dos principais eixos temática e análise dos achados.  
É importante destacar que não se tem a pretensão de esgotar as possibilidades da  
reflexão nos limites do presente artigo, mas, sobretudo, provocar inquietações, curiosidade e  
debates. Com base no método de análise adotado na pesquisa realizada, toda investigação da  
realidade é um processo de aproximações sucessivas, em que esta realidade sempre será mais  
rica e complexa de determinações e mediações, ou seja, que ultrapassam o presente texto. Nesse  
sentido, o artigo foi estruturado da seguinte forma: introdução; seção dois apresentando os  
principais aspectos da vida de Florestan Fernandes que demonstram os vínculos com a  
educação; seção três, que particulariza a educação no capitalismo dependente brasileiro; e a  
seção quatro, na busca de sintetizar as tendências do debate educacional contemporâneo que se  
fundamentam no pensamento de Florestan Fernandes.  
Florestan Fernandes: trajetória em defesa da educação pública  
Antes de qualquer discussão, é importante apresentar o autor em questão, pois sua  
trajetória pessoal foi determinante para problematizar a educação numa perspectiva sociológica  
crítica e assumir a luta em defesa da educação pública. Além disso, essa trajetória contribuiu  
para sua postura teórica e militante de compromisso com os “de baixo”, segundo suas próprias  
palavras. A apresentação do referido intelectual evidencia ainda que a produção intelectual não  
é desvinculada de compromisso político-social, pondo assim em “xeque” a ideia de neutralidade  
acadêmico-científica, tão defendida por perspectivas conservadoras.  
343  
Oriundo de uma família pobre e filho de uma empregada doméstica não-alfabetizada,  
Florestan Fernandes teve uma trajetória pessoal, principalmente na infância e adolescência,  
marcada pelas desigualdades sociais de classe da cidade de São Paulo nos anos 1920-1930. Por  
tal razão, foi obrigado a trabalhar desde cedo, passando por várias ocupações informais. Isso  
fez com que, naquele período, não tivesse acesso à educação de forma permanente e regular.  
Posteriormente, a partir dos 17 anos, teve acesso à uma formação regular, o que contribuiu para  
o seu ingresso em 1944 na universidade pública, no curso de graduação em Ciências Sociais,  
no qual seguiu com sua carreira acadêmica no mestrado e doutorado também na área, ambos na  
2 A busca foi realizada no dia 07 de maio de 2024 com 380 resultados. Para chegar a um número de artigos que  
fosse possível a análise, foram elaborados outros critérios de seleção, a saber: artigo científico publicado em  
revista; textos em português; textos com citações de Florestan Fernandes e com temas transversais à educação.  
Assim foram excluídos: trabalhos de conclusão de curso, capítulo de livro, dissertações, teses, livros, citações,  
revistas internacionais, artigos em língua estrangeira e os anais de eventos. A partir de tais critérios, chegou-se ao  
número de 14 artigos.  
Raí Vieira Soares  
Universidade de São Paulo (USP), onde logo em seguida se tornou professor (Ianni, 2004). Foi  
afastado compulsoriamente da universidade durante o auge da ditadura. Isso, contudo, não  
impediu que continuasse com as críticas à ditadura e seu apoio ao movimento estudantil e a  
outros grupos de resistência na universidade e na sociedade de forma geral.  
Sua trajetória é marcada por uma postura intelectual-militante em defesa da educação  
pública. Entre fins da década de 1950 e na década de 1960, participou dos debates sobre a  
elaboração da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação, bem como do movimento nacional  
da Campanha em defesa da escola pública. Nos anos 1960, contribuiu com as reflexões sobre a  
reforma universitária, ademais, fez críticas à “reforma universitária” implementada em 1968  
pela ditadura empresarial-militar e seu projeto autocrático-burguês. Em fins dos anos 1970 e na  
década de 1980, foi um dos intelectuais comprometidos com a pauta da educação pública no  
processo da constituinte, reivindicando o financiamento público-estatal exclusivo para  
educação pública (Leher, 2012; Saviani, 1996) assim como uma concepção de universidade  
autônoma assentada no tripé ensino, pesquisa e extensão na Constituição Federal de 1988. Este  
aspecto também é destacado por Brzezinski (2010), em particular, no processo de tramitação e  
nas disputas em torno da LDB de 1996, com as tensões com os representantes dos setores  
privados e confessionais da educação.  
Do ponto de vista dos marcos regulatórios da educação no Brasil, a Constituição Federal  
de 1988 (Brasil, 1988) é um dos principais marcos, ao estabelecer a educação como direito de  
todos e dever do Estado e da família no artigo nº 205. Porém, a garantia desse direito  
constitucional enfrenta vários desafios para a sua plena efetivação na realidade brasileira,  
considerando que ela é permeada por históricas desigualdades sociais, regionais, raciais e  
culturais, o que implica na existência de desigualdades educacionais, como citado  
anteriormente. Mas tal constatação não desconsidera a importância do preceito constitucional  
da educação como direito na sociedade brasileira. Entretanto, no campo da educação superior,  
a Carta Magna de 1988 no seu artigo nº 208 relativiza o direito à educação, pois afirma que o  
acesso aos níveis mais elevados de ensino e pesquisa depende da “capacidade” de cada pessoa.  
Expressa assim uma concepção de educação superior permeada pelo elitismo e desvinculada da  
noção de direito e da responsabilidade do Estado.  
344  
Florestan Fernandes foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores  
(PT) em 1986 e se dedicou de forma particular ao tema da educação no processo da  
Constituinte. Porém, antes disso, o debate educacional já ocupava lugar de destaque na sua  
produção acadêmico-intelectual numa perspectiva crítica de apreensão dos dilemas  
educacionais vinculados às determinações econômicas, políticas e sociais presentes na  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
sociedade brasileira. Segundo a perspectiva do autor, a Constituição de 1988 foi expressão de  
uma “transição democrática” negociada entre as elites, considerando o contexto de  
efervescência política e organização popular. Deste processo, resultou uma chamada “Nova  
República” que conservou traços autocráticos e antidemocráticos.  
Durante o processo da Constituinte, Florestan Fernandes defendeu: a legitimidade da  
participação de professores nos debates de educação; o ensino laico; a garantia da igualdade  
das oportunidades educacionais; e a exclusividade de recursos públicos para a educação  
pública, mas perdeu a disputa com os setores conservadores e de direita. Além disso, o deputado  
pautou a necessidade de o texto constitucional incorporar reformas estruturais para redução das  
desigualdades sociais na realidade brasileira, a exemplo da reforma educacional e agrária  
(Okumura; Novaes, 2023).  
Em síntese, as principais questões abordadas por Florestan Fernandes durante a  
Assembleia Nacional Constituinte em matéria educacional não foram efetivadas na  
Constituição Federal de 1988, em particular, sobre a exclusividade de recursos públicos para a  
educação pública, com a vitória dos representantes dos interesses dos setores privado e  
confessional da educação no Brasil. Portanto, a Carta Magna, mesmo reconhecendo alguns  
avanços no âmbito do reconhecimento dos direitos sociais, da seguridade social e, em particular,  
do direito à educação, ainda manteve os históricos limites à democratização efetiva da educação  
pública e da sociedade brasileira. Estes limites são expressões de uma democracia restrita típica  
do capitalismo dependente brasileiro e do Estado autocrático-burguês que restringe a  
universalização dos direitos.  
345  
No campo da produção teórica, Florestan Fernandes tem uma vasta obra que ultrapassa  
os limites do presente texto. Para pensar a realidade brasileira e o capitalismo dependente,  
destacam-se: Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (Fernandes, 1973),  
Sociedade de classes e subdesenvolvimento (Fernandes, 2008a), A Revolução Burguesa no  
Brasil: ensaio de interpretação sociológica (Fernandes, 1976), A integração do negro na  
sociedade de classes (Fernandes, 2008b). E no âmbito do pensamento educacional: Educação  
e sociedade no Brasil (Fernandes, 1966), Universidade brasileira: reforma ou revolução?  
(Fernandes, 2020a), O desafio educacional (Fernandes, 2020b), A formação política e o  
trabalho do professor (Fernandes, 2019) dentre outras obras, artigos e matérias em jornais, mas  
aqui cita-se apenas as principais obras.  
Essa produção do autor deve ser vista como resultado de uma trajetória político-pessoal  
e de um processo de amadurecimento teórico-intelectual, em articulação crítica com os  
momentos históricos da realidade brasileira. Diante do exposto, percebe-se como a trajetória  
Raí Vieira Soares  
pessoal de Florestan Fernandes foi determinante para fincar-se como um intelectual-militante  
marxista comprometido com os “de baixo” e com a defesa da educação pública na sociedade  
brasileira. Consolidou-se também como um sociólogo crítico e um dos principais nomes do  
pensamento social brasileiro, com referência não apenas na área da Sociologia, mas também  
para várias outras áreas de conhecimento. Por esta razão, destaca-se a seguir algumas de suas  
contribuições e reflexões sobre os dilemas educacionais na realidade brasileira, considerando a  
particularidade e dinâmica do capitalismo dependente brasileiro em seus aspectos dinâmicos e  
estruturais.  
Capitalismo dependente e a questão educacional em Florestan Fernandes  
Para compreender a questão educacional em Florestan Fernandes, é necessário entender  
a sua concepção de capitalismo dependente, o “fio” condutor e base de sua análise. Todavia,  
esse conceito não se encontra de forma fechada apenas em uma obra do referido intelectual,  
mas aparece em um conjunto de obras, acrescentando novos elementos de análise para se  
entender as especificidades e dinâmica do capitalismo dependente. As principais obras em que  
esse tema aparece são: Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (Fernandes,  
1973), Sociedade de classes e subdesenvolvimento (Fernandes, 2008a) e A Revolução Burguesa  
no Brasil: ensaio de interpretação sociológica (Fernandes, 1976).  
346  
Nesse sentido, considera-se que o pensamento educacional e sociológico de Florestan  
Fernandes se articula com a tradição das teorias pedagógicas críticas, particularmente da  
pedagogia histórico-crítica, pois apresenta as mediações e contradições da educação na  
realidade brasileira. Segundo Saviani (2008), as teorias pedagógicas críticas compreendem que  
a educação é permeada pelas incidências da dinâmica das classes sociais, as disputas, os  
conflitos e tensionamentos da sociabilidade burguesa, ou seja, só se compreende a educação a  
partir da análise dos seus condicionantes sociais e do contexto histórico. Tal perspectiva  
analítica encontra-se nas problematizações do pensamento florestiano, como será apresentado  
a seguir.  
O autor parte do entendimento de que o modo de produção capitalista não é homogêneo,  
ou seja, produz distintos níveis de desenvolvimento assim como não pode ser resumido apenas  
a uma dimensão econômica, mas apreendido como uma complexa realidade sociocultural. Na  
divisão internacional do trabalho e do mundo se estabelecem distintas padrões de exploração e  
dominação entre países, consequentemente se estabelecem relações de centro e periferia. Diante  
disso, o capitalismo dependente pode ser definido como uma forma específica de  
desenvolvimento econômico-social. Essa forma específica e típica da periferia do capitalismo,  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
reproduz um padrão dual de expropriação e espoliação do excedente econômico, de um lado,  
para garantir os interesses das elites locais e, de outro lado, das elites internacionais. Por esta  
razão, reproduz um padrão articulado de dominação burguesa pois garante, ao mesmo tempo,  
a dominação interna e externa (Fernandes, 1973; 1976; 2008a). Nas palavras do autor:  
[...] a estrutura e o destino histórico de sociedades desse tipo se vinculam a  
um capitalismo dependente, elas encarnam uma situação específica, que só  
pode ser caracterizada através de uma economia de mercado duplamente  
polarizada, destituída de auto-suficiência e possuidora, no máximo, de uma  
economia limitada. [...] Trata-se de uma economia de mercado capitalista  
constituída para operar, estrutural e dinamicamente: como uma entidade  
especializada, no nível da integração do mercado capitalista mundial; como  
uma entidade subsidiária e dependente, no nível das explicações reprodutivas  
do excedente econômico das sociedades desenvolvidas; e como uma entidade  
tributária, no nível do ciclo de apropriação capitalista internacional, no qual  
ela aparece como uma fonte de incrementação ou de multiplicação do  
excedente econômico das economias capitalistas hegemônicas (Fernandes,  
2008a, p. 36-37).  
Cabe ressaltar que o referido autor não secundariza o papel das burguesias locais na  
dinâmica do capitalismo dependente. Pelo contrário, embora ocupem o lugar de “sócias  
menores” na divisão internacional do trabalho, estas desempenham uma função importante na  
articulação com os grandes centros econômicos internacionais para a condução da  
superexploração e expropriação do excedente econômico “para dentro” e “para fora”. Portanto,  
para o desenvolvimento e acumulação das grandes nações internacionais do capitalismo central  
necessita-se de burguesias locais fortes nos países de capitalismo dependente na América Latina  
(Fernandes, 1976).  
347  
Segundo Fernandes (1973; 1976; 2008a), os países de capitalismo dependente são  
historicamente marcados por um colonialismo permanente que se reproduz por distintos  
padrões de dominação externa. Tais países são impossibilitados de ter um desenvolvimento  
autônomo ou um projeto autônomo de nação. Do ponto de vista das relações e processos sociais,  
tem-se a modernização do arcaico e a arcaização do moderno (Fernandes, 1973), ou seja, um  
desenvolvimento capitalista que contém uma dialética entre o moderno e o atrasado. Pode-se  
citar como exemplo, a existência ainda presente de trabalhos análogos à escravidão, resquícios  
de um Brasil colonial-escravocrata, ou ainda, o autoritarismo e a violência exacerbada na  
sociedade brasileira.  
Em outras palavras, deve-se entender que o desenvolvimento dos países do centro do  
capitalismo só é sustentado pelo subdesenvolvimento dos países da periferia capitalista,  
considerando que faz parte da dinâmica capitalista um desenvolvimento desigual e combinado.  
A contraface do imperialismo é o subdesenvolvimento, o empobrecimento e a superexploração  
Raí Vieira Soares  
de outros países. Isso significa que o subdesenvolvimento não é uma “fase” ou uma “etapa”,  
mas é historicamente condicionado pela dinâmica do desenvolvimento capitalista (Fernandes,  
1976). O capitalismo dependente é uma expressão da divisão internacional do trabalho, a qual  
atribui determinados papéis para países do “centro” e da “periferia” do capitalismo mundial.  
Um exemplo disso é o histórico caráter agroexportador do Brasil e o peso do agronegócio na  
economia brasileira. Nessa dinâmica, o Brasil cumpre apenas a função de fornecimento de  
alimentos e bens primários para o mundo.  
A postura teórico-analítica do autor rompe com uma leitura “endógena” da realidade  
brasileira e latino-americana, pois situa as particularidades do desenvolvimento capitalista no  
contexto do capitalismo mundial. Além disso, chama atenção para a particularidade brasileira  
que contém um desenvolvimento capitalista distinto das experiências de revoluções burguesas  
clássicas. Segundo Fernandes (1976), a revolução burguesa na periferia é atrasada e assume  
traços autocráticos com ações reacionárias das frações burguesas, considerando que nunca  
assumiu a defesa de direitos ou um conjunto de reformas sociais na realidade brasileira. A  
chamada modernização da sociedade brasileira ocorreu com a manutenção de determinadas  
estruturas de poder típicas do período colonial, úteis não apenas às elites locais, mas também  
às requisições do mercado mundial, responsável por reservar à economia brasileira um lugar  
especializado, de natureza heteronômica e com a reprodução de uma “condição colonial  
permanente, embora instável e mutável” (Fernandes, 2008a, p. 27).  
348  
Para Fernandes (1976), a dominação burguesa na dinâmica do capitalismo dependente  
brasileiro ocorre por meio de uma violência institucionalizada e coercitiva para a garantia de  
interesses materiais privados e particularistas, com exclusão dos setores e camadas populares,  
isto é, uma prática característica de uma democracia restrita. Na dinâmica do capitalismo  
dependente, a apropriação privada do Estado pelas frações burguesas é estratégica para a  
garantia da dominação burguesa interna e externa. Isto é, a disputa das frações burguesas pela  
hegemonia do Estado é funcional à garantia da autoproteção e autoprivilegiamento das elites  
econômico-sociais. Disso resulta um Estado autocrático-burguês que se realiza como Estado  
antinacional e antipopular por meio de uma democracia restrita, na qual só participam dela os  
que detêm o poder econômico e prestígio social. O Estado autocrático-burguês típico do  
capitalismo dependente convive com as diversas manifestações de autoritarismo e violência  
assim como é incapaz de universalizar direitos humanos (Fernandes, 1973; 1976; 2018). Tal  
configuração de Estado contribui e reproduz sistematicamente uma cultura autocrática na  
sociedade brasileira.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
Todavia, o autor não tem uma visão engessada do Estado, mesmo reconhecendo que a  
direção do Estado é dada por tais elites, não descarta a leitura de que é também um espaço de  
disputa, contradições, tensionamentos e conflitos, sendo possível avançar, em determinadas  
conjunturas em algumas conquistas sociais, mesmo que nos limites do capitalismo, como na  
conquista de direitos e políticas sociais, como o direito à educação e às políticas educacionais,  
estas também atravessadas por contradições e limites.  
É nesse cenário que se localiza a questão educacional em Florestan Fernandes, pois a  
educação também vai reproduzir os limites e contradições da dinâmica do capitalismo  
dependente. Nesse sentido, o autor aponta na obra Universidade brasileira: reforma ou  
revolução? a existência de um padrão educacional dependente na realidade brasileira  
(Fernandes, 2020a) que se evidencia em várias dimensões: a precarização que marca a gênese  
e o desenvolvimento das universidades brasileiras; a dificuldade da democratização da  
educação pública e de qualidade; o lugar secundário atribuído à educação na sociedade  
brasileira; o desfinanciamento ou reduzido orçamento destinado à educação; o histórico  
privatismo educacional; e nos controles externos sobre as universidades públicas, os  
professores e estudantes, ferindo os princípios de autonomia universitária-docente-intelectual e  
de organização.  
Na obra Universidade Brasileira: reforma ou revolução?, com sua primeira edição  
publicada em 1968, Florestan Fernandes assinala que, naquele contexto de regime ditatorial, a  
universidade estava submetida em “[...] nova e perniciosa modalidade de controle – o controle  
ideológico” (Fernandes, 2020a, p. 67), o que interferia na sua composição, estrutura, dinâmica  
e funcionamento. Diante dessa reflexão do autor, pressupõe-se que, historicamente, a  
universidade brasileira é submetida a múltiplas formas de controle, inclusive de controle  
ideológico, que assume novas feições na contemporaneidade em tempos de aprofundamento e  
avanço do conservadorismo. Além disso, esta obra foi uma resposta intelectual crítica do autor  
à reforma universitária de 1968 implementada pelo regime empresarial-militar.  
349  
Segundo Fernandes (2020a), os resultados dessa Reforma de 1968 foram: o não  
rompimento com os modelos tradicionais de educação superior; manutenção de históricos de  
privilégios do antigo modelo educacional; organização de atividades acadêmicas segundo  
critérios de produtividade, “eficiência” e “eficácia”; o monopólio do poder e a centralização  
das decisões na gestão da universidade; uma reforma burocrática e tecnocrática; continuidade  
do privatismo educacional, ainda que sob novas configurações, por meio da organização das  
universidades em fundações; o incentivo às parcerias público-privadas com a realização de  
consultorias e assessorias; a privatização da pesquisa científica; interferência na nomeação de  
Raí Vieira Soares  
reitores e vice-reitores; cobrança de taxas na universidade; fragilização da autonomia didático-  
pedagógica, administrativa e científica da universidade; e submissão e controles externos sobre  
a universidade, reproduzindo dessa forma um padrão dependente de educação.  
Diante desse padrão dependente educacional, Florestan Fernandes faz crítica ao que ele  
chama de colonialismo educacional, que seria a mera transplantação de determinados modelos  
educacionais do exterior para a realidade brasileira, sem estabelecer mediações com as nossas  
particularidades histórico-sociais e reais necessidades do povo brasileiro. Ele assume uma  
postura de defesa intransigente da autonomia universitária e docente assim como da  
organização coletiva e política do movimento estudantil (Fernandes, 2020a). Além disso, se  
opunha ao privatismo educacional ao defender que o orçamento público fosse exclusivamente  
para a educação pública. Defendia a democratização da educação pública e de qualidade, a  
partir de igualdade das condições de acesso e permanência, assim como a laicidade do ensino  
(Fernandes, 1966).  
A referência à reforma universitária de 1968 ajuda a pensar as configurações e  
tendências da política de educação superior após o regime empresarial-militar. Em particular,  
a reforma de 1968 lançou as bases para o processo de mercantilização e privatização da  
educação superior que permanecem nos governos posteriores, ainda que com diferenças e  
contradições. É importante ressaltar que o privatismo educacional não é restrito à política de  
educação superior no Brasil, mas é um traço constitutivo das políticas educacionais brasileiras,  
contemplando também a gênese e o desenvolvimento da educação básica, conformando  
históricas desigualdades educacionais.  
350  
Outro ponto de destaque nos escritos de Florestan Fernandes sobre a questão  
educacional refere-se à relação entre a formação política e o trabalho do professor. Nesse  
aspecto, o autor nega o discurso da suposta neutralidade no âmbito do trabalho docente. Tal  
discurso promove a separação entre cidadão e professor ou do cientista. Na sua leitura, é  
impossível o professor ser “neutro” nos debates em sala de aula e nas pesquisas que desenvolve.  
Isto é, o trabalho do professor impõe uma responsabilidade intelectual e ética com os dilemas  
e problemas da sociedade, portanto, não se separa o cidadão do professor (Fernandes, 2019).  
Nessa direção, uma das tarefas do professor no processo político-pedagógico é a formação para  
o exercício da cidadania com inserção crítica e ativa na sociedade. Tal questão nos coloca o  
desafio de garantir uma formação pedagógica de professores com formação política alinhada  
às reais necessidades da classe trabalhadora.  
O autor reconhecia e destacava a importância da pesquisa e do conhecimento científico  
no desenvolvimento da sociedade brasileira (Fernandes, 2020a). Por isso, a necessidade de mais  
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Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
financiamento público destinado à pesquisa pública que responda às necessidades da classe  
trabalhadora e setores populares, ou seja, qualquer projeto de desenvolvimento nacional  
autônomo deve considerar a educação e pesquisa científica como elementos estratégicos.  
Inclusive, o compromisso da escola, universidade, pesquisa e a produção de conhecimentos  
com as lutas da classe trabalhadora aparece nos escritos de Florestan Fernandes, ao mesmo  
tempo, o autor reconhece que este é mais um dos desafios educacionais da realidade brasileira  
(Fernandes, 2020b).  
Diante dos eixos de análise do pensamento educacional de Florestan Fernandes, pode-  
se identificar várias questões que se referem a dilemas educacionais ainda presentes na  
contemporaneidade. Dessa forma, não são questões do passado, mas que se reatualizam na  
dinâmica do capitalismo dependente brasileiro contemporâneo, incidindo no debate  
educacional e na produção de conhecimentos. Apontando, dessa forma, a atualidade do  
pensamento de Florestan Fernandes como será exposto a seguir.  
As tendências do debate educacional contemporâneo: incidências do pensamento  
de Florestan Fernandes  
Para fins de exposição mais didática, em um primeiro momento, apresenta-se uma  
caracterização dos artigos selecionados nos periódicos a partir da pesquisa bibliográfica. Já no  
segundo momento, apresenta-se os principais eixos de análise do debate educacional  
contemporâneo a partir de Florestan Fernandes, sem pretender esgotar o tema e as  
possibilidades de reflexão. É importante ressaltar que o presente artigo não tem como objetivo  
elaborar um Estado da Arte do tema em questão, apenas apresentar algumas tendências do  
debate educacional na cena contemporânea que dialogam com o pensamento educacional  
florestiano.  
351  
Caracterização geral dos artigos selecionados nos periódicos  
Conforme já informado anteriormente, foram selecionados 14 artigos publicados em  
periódicos no ano de 2022, a escolha deste ano justificou-se pelo fato de ter sido o último ano  
do governo Bolsonaro (2019-2022), período de aprofundamento dos históricos desafios  
educacionais na realidade brasileira. Dito isso, a maioria dos artigos é de autores/as  
vinculados/as à universidade pública brasileira, seja universidades federais, universidades  
estaduais ou institutos federais, sendo apenas um artigo com autores/as vinculados/as à  
faculdade privada. Tal fato pode parecer algo insignificativo, mas é essencial destacar que a  
universidade pública é ainda uma das principais instituições de produção de ciência na  
Raí Vieira Soares  
sociedade brasileira, mesmo com todos os desafios. São autores/as que atuam como docentes  
ou estão como estudantes em programas de pós-graduação, produzindo conhecimento crítico  
como resultado de projetos de pesquisa ou de extensão.  
A origem dos autores/as dos artigos selecionados evidencia que estão vinculados/as a  
instituições educacionais das regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Na  
amostra selecionada, não foram identificados autores/as da região Norte. Ainda que de forma  
inicial, considerando o reduzido número da amostragem, tal fato pode indicar que a produção  
acadêmico-científica ainda está concentrada em determinadas regiões do Brasil, considerando  
que nelas estão as universidades históricas e com vários programas de pós-graduação de  
excelência, apontando a necessidade de debater também as desigualdades regionais no acesso  
à universidade pública e nas condições de produção científica. Mesmo as regiões Norte e  
Nordeste tendo sido contempladas com as políticas de expansão das instituições federais de  
ensino, tal processo ainda carrega as marcas da precarização das condições de trabalho, de  
pesquisa e assistência estudantil.  
Destes 14 artigos selecionados, a maioria está em revistas que possuem avaliação Qualis  
considerando as classificações de periódicos quadriênio 2017-2020 da área de Educação da  
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Além disso, a  
maioria destes artigos estão no estrato Qualis A, sendo: Pro-Posições, Argumentum e Diálogo  
Educacional (Qualis A1); Germinal, Teias e Roteiro (Qualis A2); Educacíon, Política y  
Sociedad, Trabalho Necessário (Qualis A3); e, Diversidade e Educação (Qualis A4). Já no  
estrato Qualis B são: Humanidades & Inovação e Extendere (Qualis B1); Novos Olhares Sociais  
(Qualis B2); e, a Revista Fim do Mundo (Qualis B4). Dessa forma, apenas o artigo publicado  
na Revista Desenvolvimento e Civilização que não foi identificado Qualis. Em síntese, cabe  
destacar que a maioria dos artigos selecionados estão em periódicos de qualidade reconhecidos  
pelas avaliações da CAPES, demonstrando que as questões apresentadas em cada artigo  
possuem relevância e seriedade acadêmica.  
352  
Para ajudar na visualização dos temas e questões dos artigos selecionados, apresenta-se  
a seguir uma figura com uma nuvem de palavras-chaves dos textos. Essa figura foi feita com a  
utilização do Aplicativo Mentimeter que produz a nuvem de acordo com a frequência da  
recorrência das palavras ou expressões citadas. Mas, de forma geral, é possível já afirmar a  
atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes para análise dos dilemas  
educacionais contemporâneos e são múltiplas as possibilidades de reflexão, diálogos e  
articulação com outras temáticas tão importantes para a sociedade brasileira, como: formação  
política, movimentos sociais, questão racial, juventudes, mulheres, migração. tecnologia e  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
políticas públicas de forma geral. Porém, de forma mais recorrente, aparecem palavras-chaves  
vinculadas às políticas educacionais, educação superior e, em menor escala, mas também  
articulado, o tema da educação pública e educação básica.  
Figura 1: Nuvem de palavras-chaves dos artigos.  
353  
Fonte: Elaboração própria com o uso do Aplicativo Mentimeter.  
Especificamente sobre o tema da educação, chama a atenção a referência à educação  
domiciliar, pesquisa, permanência estudantil, formação e trabalho docente, BNCC, ações  
afirmativas, práticas de ensino e extensão. Não menos importante, destaca-se ainda a relação  
entre educação e desenvolvimento, contemplada nas palavras-chaves: capitalismo dependente,  
neodesenvolvimentismo e teoria marxista da dependência. Isso expressa que os artigos tratam  
de temas diversos e atuais da realidade brasileira em seus aspectos estruturais e dinâmicos, sem  
abrir mão de uma perspectiva teórica crítica com referência no pensamento educacional de  
Florestan Fernandes. É desse material que, a seguir, se apresentam algumas questões e eixos de  
análise desse debate educacional.  
Tendências e eixos de análise dos artigos: incidências do pensamento educacional  
florestiano  
Com base no levantamento bibliográfico, apresenta-se a seguir os principais eixos de  
análise da produção acadêmica no campo educacional que dialogam com o pensamento  
educacional de Florestan Fernandes. É importante ressaltar que tais eixos apresentam conexões  
Raí Vieira Soares  
entre si, considerando a sua apreensão numa perspectiva de totalidade da realidade social  
brasileira.  
a) Desenvolvimento e educação  
Como apresentado anteriormente, a questão do desenvolvimento é um dos eixos centrais  
da obra de Florestan Fernandes, o autor considera que na dinâmica do capitalismo há diferentes  
ritmos de desenvolvimento, ainda que interdependentes entre si, a partir de uma relação entre  
“centro” e “periferia”, “desenvolvimento” e “subdesenvolvimento”. Dessa forma, o  
desenvolvimento capitalista apresenta diferentes conformações em cada realidade nacional e,  
ao mesmo tempo, está inserido na dinâmica do capitalismo mundial (Fernandes, 1973; 1976).  
Por esta razão, o capitalismo dependente é o “fio condutor” de análise do autor para análise da  
realidade brasileira, do contexto latino-americano e seus históricos dilemas, inclusive no campo  
educacional.  
Partindo desse pressuposto de análise, no artigo de Shiroma e Zanardini (2022)  
encontra-se uma exposição sobre as principais concepções de desenvolvimento presentes no  
Brasil e as implicações sobre a concepção de educação sob a orientação da teoria marxista da  
dependência. Nesse sentido, as autoras destacam que o neodesenvolvimentismo e o  
desenvolvimento sustentável, como concepções de desenvolvimento do século XXI, não são  
alternativas concretas ao neoliberalismo, assim como não contribuem para a superação dos  
históricos dilemas educacionais do Brasil. Na verdade, são concepções de desenvolvimento que  
expressam uma ideologia do falseamento da realidade social, com intervenções que se  
restringem a ideia de mitigar a extrema pobreza sem questionar a dependência e o capitalismo  
contemporâneo na sua face financeirizada. Sobre o pensamento de Florestan Fernandes, as  
autoras dialogam com a obra Sociedade de classes e subdesenvolvimento (Fernandes, 2008a)  
ao tratar sobre as especificidades da economia capitalista dependente.  
354  
Outro artigo que parte da concepção de capitalismo dependente é de autoria de Silva,  
Santos e Santos (2022). Os autores tratam sobre a reprodução da dependência no capitalismo  
contemporâneo e a histórica subordinação do Brasil às potências mundiais e aos representantes  
do capital internacional, como as “recomendações” dos organismos internacionais. Para isso,  
dialogam com a obra Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (Fernandes,  
1973). As implicações de tais “recomendações” que funcionam mais como imposições,  
resultam em processos de mercantilização da educação superior e fomento a uma mentalidade  
privatista no âmbito educacional, impactando diretamente na concepção da educação como  
direito e favorecendo os representantes dos setores privatistas de educação, os conglomerados  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
educacionais que encontraram nessa área um valoroso nicho de lucratividade, inclusive com  
apoio do Estado. Tal reflexão está na mesma direção do artigo de Andrade e Motta (2022), no  
qual as autoras tratam sobre o processo de empresariamento da educação, um campo de  
negócios permeado pelo dualismo privatismo x precariedade.  
Esses artigos demostram a atualidade do debate sobre capitalismo dependente e as  
implicações sobre a educação, pois mesmo com as transformações do capitalismo  
contemporâneo em tempos de crise não se rompeu a dependência que, como fenômeno  
estrutural, se dinamiza permanentemente no interior da dinâmica do capitalismo. É importante  
destacar que o tema do capitalismo dependente não tem implicações apenas para o campo da  
educação, mas também várias áreas como: questão urbana e agrária, saúde, direitos humanos,  
democracia, racismo, dentre outras.  
b) Educação básica e educação superior  
Nos artigos selecionados surgiram algumas questões que tratam sobre educação básica  
e seus dilemas contemporâneos. No âmbito da educação básica, destacam-se os artigos de:  
Viana (2022), Alencar e Yannoulas (2022), e, Azevedo e Amaral (2022). No primeiro artigo,  
Viana (2022) trata sobre do processo de contrarreforma do ensino médio, entendido como um  
retrocesso nas políticas educacionais. Segundo a autora, o chamado “novo ensino médio”  
atendeu às requisições dos organismos internacionais e expressa uma concepção de educação  
utilitarista e dualista, na medida em que reproduz uma visão de mundo burguesa e, ao mesmo  
tempo, oferece diferentes formas de educação para diferentes classes sociais, com implicações  
para o trabalho docente, com a lógica das competências incidindo inclusive sobre a Base  
Nacional Comum Curricular (BNCC), precarizando o trabalho e a formação docente,  
fragilizando a autonomia docente e submetendo-a às avaliações externas (Viana, 2022). Para  
tratar de tais questões, a autora dialoga com Florestan Fernandes com o livro Capitalismo  
dependente e classes sociais na América Latina (Fernandes, 1973) para apreender a  
particularidade do Estado e as frações burguesas na economia capitalista dependente.  
Já o artigo de Alencar e Yannoulas (2022) trata sobre o tema da educação domiciliar na  
agenda da nova direita, resultado da fusão entre neoliberalismo e neoconservadorismo. Segundo  
as autoras, as propostas neodireitistas de defesa da educação domiciliar, ao reforçar uma  
concepção educacional privatista e individualista, configuram-se como um ataque ao direito à  
educação, ao seu sentido social e seu caráter democrático. Além disso, as autoras chamam a  
atenção para o fato de que os projetos de lei que pautam a regulamentação da educação  
domiciliar ferem o princípio constitucional de responsabilidade e dever do Estado com a  
355  
Raí Vieira Soares  
educação básica. Ademais, as autoras ressaltam que o não acesso à escolarização é um dos  
traços constitutivos da particularidade da formação social brasileira. Dessa forma, a  
reivindicação de setores pela educação domiciliar se contrapõe à noção de educação como  
direito na Constituição Federal de 1988. Para tratar dessa dificuldade do reconhecimento e da  
garantia da educação como direito, as autoras lançam mão das reflexões de Florestan Fernandes  
em Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (1973) e Sociedade de classes  
e subdesenvolvimento (2008a), no que tange à dialética entre “moderno” e “arcaico” e a  
conformação da dominação burguesa no capitalismo dependente.  
Por fim, o artigo de Azevedo e Amaral (2022) trata de um tema não muito recorrente: o  
direito à educação para crianças migrantes, apátridas e/ou refugiadas. Os autores enfatizam que  
o direito à educação básica não se resume apenas à matrícula, mas também envolve o processo  
de ensino com apoio, acolhida e orientação. Ao buscar compreender os fundamentos dos  
desafios da escola pública e da educação básica, os autores buscam subsídios em Florestan  
Fernandes nas obras Educação e Sociedade no Brasil (Fernandes, 1966) e O desafio  
educacional (Fernandes, 2020b). Com isso, os autores defendem a indissociabilidade entre  
matrícula e ensino para garantia do direito à educação básica e a necessidade da formação para  
docentes e para a equipe gestora das escolas com vistas ao atendimento às crianças que se  
encontram nas situações mencionadas acima.  
356  
No que tange à educação superior, o artigo de Duarte e Lima (2022) caracteriza um  
processo de fascistização da educação superior a partir da reestruturação das universidades  
federais no período de 2016-2021. Para as autoras, essa reestruturação foi uma ofensiva  
burguesa conservadora às universidades conduzida pelos governos de Michel Temer e Jair  
Bolsonaro que teve como impactos: redução do orçamento destinado à educação; mudanças  
nos projetos pedagógicos e de gestão administrativa; a nomeação de interventores nas  
instituições federais de ensino; e o Programa Future-se, projeto de avanço do privatismo  
educacional no interior da universidade pública. Tal período foi marcado pelo aprofundamento  
dos traços fascistoides constitutivos da natureza das frações burguesas no Brasil. Para  
fundamentar estas reflexões, as autoras se fundamentam em Florestan Fernandes para tratar dos  
dilemas educacionais e da natureza da burguesa no capitalismo dependente, assim são citadas  
as obras: A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica (Fernandes,  
1976); Poder e Contrapoder na América Latina (Fernandes, 1981); Brasil: em compasso de  
espera (Fernandes, 1980); Circuito Fechado: quatro ensaios sobre o “poder institucional”  
(1979a); e, Apontamentos sobre a “teoria do autoritarismo” (1979b).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
O artigo de Oliveira e Santos (2022) discorre sobre o processo de expansão da educação  
superior no Brasil na primeira década do século XXI, em particular, durante os governos  
petistas e as implicações para o trabalho docente, como: a precarização das condições de  
trabalho; o distanciamento dos espaços de organização política de classe; a responsabilização  
individual sobre o docente pelas práticas de ensino e pesquisa; bem como o fortalecimento do  
individualismo e a competitividade na dinâmica universitária. Tais processos são, na  
perspectiva dos autores, expressões da contrarreforma da educação superior brasileira que  
reatualizam traços e dilemas históricos da universidade na realidade brasileira. Para isso,  
dialogam com o pensamento de Florestan Fernandes nas obras Universidade Brasileira:  
reforma ou revolução? (Fernandes, 2020a), A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de  
interpretação sociológica (Fernandes, 1976), Pensamento e ação: o PT e os rumos do  
socialismo (Fernandes, 1989); Florestan Fernandes na Constituinte: leituras para a reforma  
(Fernandes, 2014).  
Ainda sobre educação superior, são pertinentes os artigos de Silva, Santos e Santos  
(2022), já citado anteriormente, que se debruça sobre o processo de mercantilização da  
educação superior no capitalismo dependente e a subordinação às requisições dos organismos  
internacionais. Além deste, cita-se ainda o artigo de Lages e Macêdo (2022) que discute a  
formação política no âmbito da educação superior de mulheres vinculadas à Marcha Mundial  
de Mulheres. Os autores refletem sobre a formação política na educação superior e, em  
particular, no trabalho de professores/as, assim como, a importância da aproximação com os  
movimentos sociais. Sobre formação política, os autores dialogam com A formação política e  
o trabalho do professor de Florestan Fernandes (2019), texto em que o autor apreende o  
trabalho docente necessariamente compromissado com uma formação crítica para a cidadania.  
Como é possível observar, o pensamento educacional de Florestan Fernandes contribui com  
várias questões atuais no campo da educação básica e educação superior.  
357  
c) Direito à educação, questão racial e ações afirmativas  
O reconhecimento e garantida do direito à educação são um dos históricos dilemas  
educacionais da realidade brasileira. Nessa perspectiva, o artigo de Rodrigues (2022) aborda a  
atuação de Florestan Fernandes como deputado constituinte e sua luta pelo direito à educação.  
Nesse processo, ele denunciou os limites da “transição democrática” brasileira e defendeu a  
necessidade de o texto constitucional incorporar reformas estruturais necessárias à  
democratização efetiva e à garantia da justiça social. No campo educacional, defendeu a  
participação popular e de professores nos debates, além da destinação do orçamento público  
Raí Vieira Soares  
exclusivamente para a educação pública. O artigo de Rodrigues (2022), baseado numa análise  
de discursos, textos e documentos, evidencia a participação ativa de Florestan Fernandes na  
Constituinte, reafirmando o seu compromisso histórico com a defesa do direito à educação, com  
a escola pública, com os/as trabalhadores/as da educação e com a democracia ampla e efetiva  
da sociedade brasileira.  
Também nessa direção, o artigo de Cláudia Monteiro Fernandes (2022) recupera o  
pensamento educacional de Florestan Fernandes, como Universidade Brasileira: reforma ou  
revolução? (Fernandes, 2020a) e A formação política e o trabalho do professor (Fernandes,  
2019) para discutir a importância das políticas de ações afirmativas como estratégias de redução  
das desigualdades raciais e de gênero na educação superior. A autora apresenta os impactos da  
política de cotas na universidade na graduação e pós-graduação, com uma mudança no perfil  
de estudantes, a exemplo do aumento do número de estudantes negros/as, mulheres negras, de  
baixa renda e oriundos/as da escola pública. Todavia, tal processo é permeado de contradições  
e variações, conforme as regiões do Brasil e as diferentes áreas de conhecimento. Mesmo com  
desafios, as ações afirmativas na universidade podem contribuir por meio do diálogo entre  
saberes, o fomento da organização estudantil para a redução das desigualdades educacionais.  
Cabe lembrar que a questão racial ocupa um lugar de atenção no pensamento de Florestan  
Fernandes, a exemplo de A integração do negro na sociedade de classes (Fernandes, 2008b),  
dentre outros textos, no qual o autor já problematiza o mito da democracia racial na sociedade  
brasileira.  
358  
Também numa perspectiva de democratização do acesso à educação superior, o artigo  
de Rebouças, Chaves e Marinho (2022) apresenta a experiência de um projeto de extensão de  
uma universidade estadual e suas contribuições para o processo de formação profissional,  
sobretudo para a afirmação de uma concepção de universidade e extensão populares alinhada  
às necessidades sociais. Nessa direção, os autores dialogam com Universidade Brasileira:  
reforma ou revolução? (Fernandes, 2020a) para afirmar a importância de defender uma  
concepção de universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada,  
assim como uma extensão articulada à pesquisa e com uma formação humana integral e crítica.  
Também dialogando com estas questões, o artigo de Gomes Vicente (2022) trata da  
experiência dos cursinhos populares no Brasil, destacando que são iniciativas que buscam  
reduzir as desigualdades no acesso ao ensino superior no Brasil. Para isso, a autora chama  
atenção para o fato de que na formação social brasileira e de capitalismo dependente as  
trajetórias juvenis de acesso à universidade são profundamente desiguais e a experiência dos  
cursinhos populares pode contribuir na redução das desigualdades sociais. Porém, segundo a  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 338-362, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Atualidade do pensamento educacional de Florestan Fernandes  
autora, os cursinhos são permeados por diferentes concepções pedagógicas, uma de caráter mais  
utilitarista com função apenas voltada à aprovação no vestibular e, outra, de caráter crítico e de  
compromisso com a formação humana integral.  
Por último, o artigo de Cassol, Canan e Vani (2022) também discute a questão da  
formação, mas articulada ao debate sobre tecnologias e políticas públicas. Para isso, os autores  
defendem a necessidade de uma formação tecnológica voltada para a coletividade humana e  
não para o mercado capitalista e consumista. Para tratar de tal tema, os autores fazem uma  
crítica ao Estado no capitalismo contemporâneo e resgatam as contribuições de Florestan  
Fernandes com sua obra Capitalismo dependente e classes socais na América Latina (1973). A  
exposição de tais questões e eixos de análise aponta a importância da obra de Florestan  
Fernandes tanto no debate sociológico como no debate educacional, abrindo múltiplas  
possibilidades de diálogo e articulação com questões do tempo presente.  
Considerações finais  
Diante das questões e apontamentos levantados acima, compreende-se que os dilemas  
educacionais contemporâneos devem ser apreendidos na dinâmica do capitalismo dependente  
brasileiro e o pensamento educacional florestiano apresenta muitas contribuições críticas nessa  
direção. Florestan Fernandes como um sociólogo, intelectual-militante preocupado com as  
desigualdades sociais, assumiu a defesa da educação pública o que fez com que a questão  
educacional ocupasse um lugar de relevo em suas problematizações, mesmo não sendo um  
pedagogo. Mesmo assim, “pode-se dizer que as preocupações educacionais acompanham toda  
a trajetória de Florestan Fernandes manifestando-se em todas as facetas de sua rica existência”  
(Saviani, 1996, p. 71). Ademais, o levantamento bibliográfico demonstrou as múltiplas  
possibilidades de diálogo com o pensamento do autor. Portanto, sua obra é fundamental para  
pensar a realidade brasileira e seus históricos desafios educacionais, assim como dialoga  
diretamente com a proposta de formação do Serviço Social brasileiro, no qual é central o  
entendimento dos processos sócio-históricos, o rigoroso trato teórico-metodológico da  
realidade social e as particularidades da formação sócio-histórica da sociedade brasileira,  
conforme aponta as diretrizes curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em  
Serviço Social (Abepss, 1996).  
359  
No contexto contemporâneo de crise estrutural do capital, de avanço do neoliberalismo  
e neoconservadorismo o que implica em reconfigurações na intervenção do Estado e no  
conteúdo e direção das políticas sociais, é fundamental a luta estratégica em defesa da educação  
pública como fez Florestan Fernandes. Além disso, em tempos de negacionismo é fundamental  
Raí Vieira Soares  
a defesa da autonomia do trabalho docente, a importância da pesquisa científica e a produção  
de conhecimentos numa perspectiva crítica que contribua para a leitura da realidade social e  
atenda a um projeto de desenvolvimento compromissado com os interesses coletivos e  
populares.  
Como se pode observar, a obra de Florestan Fernandes é atual, vasta e densa o que  
ultrapassando os limites deste texto. Porém, como mais um exercício de “aproximações  
sucessivas”, como nos ensina a perspectiva materialista histórica e dialética de pesquisa, espera-  
se que o tema tenha despertado o interesse na leitura deste sociólogo. Espera-se, também, que  
as reflexões expostas possam contribuir com os debates coletivos na perspectiva de luta em  
defesa da educação pública gratuita e de qualidade e vinculada às necessidades dos “de baixo”.  
Mesmo com muitos desafios, é imprescindível o fortalecimento das lutas sociais, das  
resistências coletivas e da organização popular nesta trajetória.  
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