Samuel Francisco Rabelo; Adriana Lohanna dos Santos
sido em vão e que nossa presença na política, assim como em todas as áreas da sociedade, seja
definitiva. Para isso, as novas gerações precisam se engajar, se organizar politicamente e ocupar
os espaços de poder, construindo um caminho que permita a visibilidade e o respeito pelas
nossas identidades.
Samuel Rabelo: Pergunta Chave: Como existir quanto a vida está em constante
suspensão?
Adriana Lohanna: Existir resistindo. Para mim, a autenticidade vem quando somos
verdadeiras conosco mesmas, quando nossas ações, nossos sentimentos, refletem exatamente
quem somos, e não o que os outros esperam de nós. A autenticidade, na minha perspectiva, não
é algo que vem de agradar os outros ou de viver a partir das expectativas alheias. É sobre ser
fiel ao que sonhamos, ao que almejamos, ao que temos certeza de que somos. Só assim,
podemos realmente viver, sem mascarar nossa essência.
A resistência, para mim, não é apenas uma luta externa contra o preconceito ou a
violência. A resistência é interna também, é a coragem de levantar todos os dias e olhar para o
que podemos fazer para avançar. A resistência é o reconhecimento de que o que fazemos hoje,
por mais simples que pareça, pode ser o passo que abre portas para outra pessoa amanhã, alguém
que vai olhar para nossa caminhada e ver que existe a possibilidade de resistir. Que, apesar de
tudo, a vida pode ser vivida plenamente, com dignidade. Nunca desisti, porque resistir não é
desistir. Não é deixar que o peso do mundo nos derrube, é encontrar forças onde parece não
haver mais, é seguir em frente, um passo de cada vez, sempre com a consciência de que nossa
luta é coletiva.
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E, nesse viver, a vida também é política. Tudo o que fazemos, tudo o que somos, se
reflete em nossa luta pela transformação. Desde a convivência com o vizinho até o colega da
faculdade ou o colega de trabalho, cada pequeno gesto conta. Através de nossas ações, estamos
ensinando o mundo sobre quem somos. Eu sempre tento mostrar, a cada pessoa com quem me
cruzo, que, como trans, sou humana, sou um ser como qualquer outro. Tenho direito de existir,
de ser amada, de trabalhar, de viver sem ser questionada pela minha identidade. Essa é uma luta
constante, que não é apenas sobre estar presente, mas sobre estar plenamente visível, sobre
conquistar o direito de ser vista como qualquer outra pessoa.
Somos trans, mas antes de qualquer coisa, somos pessoas. Pessoas com direitos, com
deveres, com sentimentos, com sonhos. Somos humanos. O maior desafio é mostrar para a
sociedade que, como qualquer outra pessoa, também temos o direito de existir sem ser
marginalizadas, sem ser invisibilizadas. E isso é um processo contínuo, de mostrar para cada
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 528-543, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518