Particularidades do capitalismo no Brasil:  
superexploração da força de trabalho, racismo e  
mito da democracia racial no capitalismo  
dependente  
Particularities of capitalism in Brazil: overexploitation of the labour-force,  
racism and the myth of racial democracy in dependent capitalismo  
Lívia Cintra Berdu*  
Flávia Saragiotto Magalhães do Valle**  
Resumo: Este trabalho tem como objetivo  
apresentar algumas reflexões a respeito das  
particularidades do capitalismo brasileiro,  
dialogando, primeiramente, com categorias  
clássicas utilizadas nas elaborações sobre o  
tema, como via prussiana e via colonial,  
capitalismo tardio e hipertadio e, num segundo  
momento, capitalismo periférico e dependente,  
além da noção de superexploração da força de  
trabalho. Posteriormente, buscamos articular  
tais reflexões com algumas contribuições  
provindas da história social do trabalho acerca  
da conformação da classe trabalhadora  
brasileira, enfatizando o racismo e o mito da  
Abstract: This paper aims to present some  
reflections on the particularities of Brazilian  
capitalism, firstly dialoguing with classical  
categories used in elaborations on the subject,  
such as the prussian way and colonial way, late  
capitalism and hyper-late capitalism and,  
secondly, peripheral and dependent capitalism,  
in addition to the notion of overexploitation of  
the labor force. Subsequently, we pursue to  
articulate these reflections with some  
contributions from the social history of labor  
regarding the formation of the Brazilian  
working class, emphasizing racism and the  
myth of racial democracy as structural elements  
in the consolidation and reproduction of the  
capitalist mode of production.  
democracia racial  
enquanto elementos  
estruturais na consolidação e reprodução do  
modo de produção capitalista.  
Palavras-chaves:  
dependente; Racismo; Mito da democracia  
racial; Questão racial.  
Brasil;  
Capitalismo  
Keywords: Brazil; Dependent capitalism;  
Racism; Myth of racial democracy; Racial  
question.  
* Universidade Estadual Paulista. E-mail: liviaberdu@gmail.com  
** Universidade Estadual Paulista. E-mail: flavia.valle@unesp.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.47727  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 09/03/2025  
Aprovado em: 23/06/2025  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
Introdução  
Inicialmente, partimos da compreensão de que, para intervirmos na realidade concreta,  
é necessário compreendê-la em sua complexidade, de forma a considerar seus movimentos e  
contradições, assim como as nuances capazes de imprimir contornos singulares que atravessam  
o cotidiano dos sujeitos. Nesse processo de análise e mediação, é necessária uma perspectiva  
ampla, totalizante e não fragmentadora, buscando abarcar elementos históricos, econômicos e  
sociais que, através de aproximações sucessivas e a conexão dos aspectos universais aos  
particulares, permitam compreender suas múltiplas determinações de forma mais eficaz e  
menos turva, ou seja, mais cristalina (Guerra; Montaño, 2024, p. 274-290).  
Em se tratando da realidade brasileira, muito já se produziu acerca de suas  
especificidades no processo de consolidação do modo de produção capitalista, de modo a  
relacionar a escravização dos negros e negras sob a ordem colonial e os elementos de  
continuidade e permanência na subsequente combinação entre a exploração capitalista e o  
racismo. No entanto, ao nos debruçarmos sobre os estudos nessa temática, verificamos que  
ainda são escassas as reflexões que partem das categorias clássicas do marxismo utilizadas no  
campo das ciências sociais para a caracterização do capitalismo brasileiro - como via prussiana  
e via colonial, e capitalismo tardio e hipertardio -, de forma a articulá-las com as contribuições  
e aperfeiçoamentos advindos posteriormente com a chamada Teoria Marxista da Dependência  
(TMD) - através de diversos autores como Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotônio dos  
Santos e outros -, a qual vem ganhando força na área do serviço social nos últimos anos.  
Ademais, existe um determinado hiato nas produções mais recentes desta área de  
conhecimento que busquem uma interlocução com a história social do trabalho e com as  
análises acerca do processo de formação da classe trabalhadora brasileira, de modo a destacar  
a virada teórico-política ocorrida nas últimas décadas que possibilitou a superação da  
historiografia tradicional do trabalho, a qual secundarizou a questão étnico-racial e a  
composição deveras heterogênea dos/das trabalhadores/as do país ao longo dos séculos XIX e  
XX.  
116  
Assim, tendo em vista tal lacuna, por um lado, e a necessidade de estabelecer conexões  
e diálogos entre diferentes autores, por outro, procuramos conectar o debate acerca das  
particularidades do capitalismo no Brasil a determinados aspectos da história social do trabalho  
e da classe trabalhadora brasileira, ressaltando o racismo, a lógica colonial e o mito da  
democracia racial como elementos fundantes na constituição e consolidação do capitalismo  
dependente no país. Partindo de uma perspectiva marxista, efetuamos alguns apontamentos  
relativos a diferentes autores que se debruçaram sobre o tema da questão racial na América  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
Latina e no Brasil, como José Carlos Mariátegui, Florestan Fernandes, Clóvis Moura e, de um  
ponto de vista mais geral acerca do colonialismo, o filósofo político e psiquiatra martinicano,  
Frantz Fanon. Dessa forma, salientamos como o racismo e o mito da democracia racial se aliam  
de forma profunda à superexploração da força de trabalho no país como dispositivo de maior  
extração de mais-valor e, além disso, operam numa ofensiva ideológica de inferiorização e  
desumanização dos negros e negras perante o conjunto da classe trabalhadora.  
O capitalismo brasileiro e suas particularidades  
Analisar os aspectos singulares do capitalismo brasileiro e da classe trabalhadora no  
país implica em se debruçar sobre as características principais em seu processo de constituição,  
além de considerar alguns elementos conjunturais existentes naquele período histórico, os quais  
possibilitaram sua caracterização enquanto um país de capitalismo tardio (ou hipertardio) em  
grande parte dos estudos no campo das ciências sociais, incluindo o serviço social.  
O sociólogo Ricardo Antunes aponta em sua obra publicada em 1982, Classe Operária,  
Sindicatos e Partido no Brasil: um estudo sobre a consciência de classe, da Revolução de 1930  
até a Aliança Nacional Libertadora, que tal debate está diretamente ligado a duas vertentes  
deformadas de assimilação das particularidades do capitalismo brasileiro, sendo a primeira  
delas, a busca pelo entendimento de sua natureza a partir de seu enquadramento nos casos de  
capitalismo clássico, o que provocou, em certa medida, a perda de vista de seus sentidos  
singulares. Por outro lado, teria havido, posteriormente, uma tendência à procura pelas suas  
especificidades, fazendo com que os contornos universais se ofuscassem na análise (Antunes,  
1982, p. 39-40).  
117  
Em diálogo com algumas obras clássicas no campo do pensamento econômico e social  
brasileiro como os escritos de Caio Prado Jr., Celso Furtado e Nelson Werneck Sodré a  
respeito da formação capitalista no país , Antunes observa as relações entre a agricultura e a  
indústria no Brasil e destaca a predominância da noção de um caráter contraditório e antagônico  
acerca desta combinação entre agrarismo e industrialismo, a qual não estabeleceu uma conexão  
ou mediação entre seus elementos peculiares. Uma vez que o contexto agrário era considerado  
a expressão do mundo feudal assim como nos países europeus como França e Inglaterra e,  
por outro lado, o elemento industrial significava o surgimento do capitalismo enquanto modo  
de produção, desenvolveu-se, em certa medida, uma prática de contínuas comparações entre  
realidades bastante distintas. Ou seja, como destaca o autor, um país detentor de um passado  
colonial e de capitalismo dependente dos centros imperialistas como o Brasil, foi por muitas  
vezes enquadrado nos mesmos moldes que países de características divergentes, tendo a  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
realidade europeia como uma espécie de modelo a ser seguido. Como forma de resposta a esta  
tendência, outra lógica procurava uma identificação absoluta entre campo e cidade, e entre  
agricultura e indústria, desprezando as contradições e fissuras existentes entre os interesses de  
ambos os setores (Antunes, 1982, p. 40).  
Assim, ao analisar a fase de gestação do capital industrial, a qual teve como matriz  
básica a economia cafeeira, sublinha que o capital provindo desta mesma economia engendrou  
a indústria de bens de consumo assalariado, como a têxtil, ao invés da indústria de bens de  
produção, cujos custos de investimento e tecnologia eram muito maiores e não se encontravam  
disponíveis no mercado internacional naquele período de disputas imperialistas (Antunes, 1982,  
p. 40). Contudo, como afirma o sociólogo,“O capital cafeeiro, ao mesmo tempo em que gerou  
as condições para o advento do capital industrial, criou limites concretos para a sua expansão,  
o que objetivamente bloqueou uma expansão mais dinâmica do núcleo produtivo industrial”  
(Antunes, 1982, p. 41). Nota-se que o autor aponta, desta forma, a existência de um elemento  
de unidade e, por outro lado, um aspecto de contradição nesta ligação, uma vez que o  
desenvolvimento capitalista por via da indústria é forjado pela expansão da produção do café  
e, no entanto, o mesmo é restringido pela posição dominante desta economia na acumulação de  
capital (Antunes, 1982, p. 41-42).  
Como forma de contribuição ao debate, salientamos um elemento destacado pelo  
economista Francisco de Oliveira, que afirma que o ponto central de tal relação consiste na  
polarização entre a burguesia industrial e os latifundiários no processo de constituição do  
capitalismo industrial brasileiro, já que a luta de classes nesse contexto se dava em uma dupla  
perspectiva: por um lado, havia o conflito entre os proprietários e os não proprietários dos meios  
de produção incluindo a terra - e, em segundo plano, desenvolviam-se as fissuras entre as  
diferentes frações da classe dominante e exploradora (Oliveira, 1977, p. 29).  
118  
A partir de tais elementos, pode-se dizer, portanto, que as particularidades concernentes  
ao capitalismo industrial brasileiro apresentam um desenvolvimento lento e gradual das forças  
produtivas, imbuído de uma dinâmica conciliatória e reacionária, com leve similitude com a  
transição alemã, e não com os moldes clássicos de transição revolucionária para o capitalismo  
como a Inglaterra ou a França, caso se queira efetuar alguma aproximação de cunho inicial.  
Desse modo, a via prussiana1 como modo específico de constituição do capitalismo na  
1 Ricardo Antunes aponta que o filósofo político Carlos Nelson Coutinho introduziu a categoria criada por Lênin  
de via prussiana em seus estudos estéticos como referência para os estudos acerca do capitalismo no Brasil.  
Posteriormente, Luiz Werneck Vianna e José Chasin a retomaram em suas respectivas obras: VIANNA, Luiz  
Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970 e CHASIN, José. O integralismo  
de Plínio Salgado: Forma de regressividade no capitalismo hipertadio, São Paulo, Ed. Ciências Humanas, 1978.  
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Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
Alemanha pode servir como referencial teórico para a interpretação acerca de algumas  
características do caso brasileiro, como a ausência de um processo revolucionário provindo das  
camadas trabalhadoras e subalternizadas que rompesse de forma violenta e definitiva com os  
traços feudais ou coloniais, respectivamente. Vale ressaltar, no entanto, que tal aproximação  
deve ser feita na perspectiva de identificação de seus aspectos comuns, mas também aqueles se  
diferem, tendo em vista a superação desta comparação (Antunes, 1982, p. 42-43).  
Assim, utilizando-se dos aportes teóricos de Marx2 e Lênin3 a respeito da formação do  
capitalismo nos principais países europeus e as diferentes formas de transição via  
revolucionária e via reformista do feudalismo para este modo de produção através do avanço  
das forças produtivas, Antunes sintetiza:  
Esta via não-clássica de transição, forma concreta de constituição do  
capitalismo nos países de desenvolvimento tardio, apresenta, portanto, um  
caminho lento, reacionário, conciliando o progresso com o atraso, através da  
fusão entre as velhas classes dominantes e as velhas formações econômicas -  
que no caso alemão eram feudais - com as novas classes e as novas formações  
econômicas de talhe capitalista, num quadro onde inexiste a ruptura abrupta e  
radical (Antunes, 1982, p. 45-46).  
Assim, podemos afirmar que a grande propriedade e o latifúndio tiveram um papel  
crucial no processo de constituição do capitalismo brasileiro, impossibilitando, dessa forma,  
que um campesinato ativo pudesse dirigir o desenvolvimento agrário por uma via de ruptura  
brusca. Na esteira desse movimento de modernização, consolidou-se um “reformismo pelo  
alto”, o qual extinguiu qualquer chance de envolvimento dos setores populares nesse percurso.  
Assim como a Alemanha, o Brasil dispôs, nesse processo, de um Estado fortalecido e  
“hipertrofiado”, fato que o permitiu dirigir o movimento transicional para o capitalismo  
industrial no país (Chasin, 1978, p. 627 apud Antunes, 1982, p. 55). Sob este prisma, o filósofo  
José Chasin descreve alguns aspectos acerca deste contraditório desenvolvimento, o qual  
prescindiu de uma interrupção ou dissolução entre o novo que emergia e o velho que sucumbia.  
119  
Sinteticamente, a via prussiana do desenvolvimento capitalista aponta para  
uma modalidade particular desse processo, que se põe de forma retardada e  
retardatária, tendo por eixo a conciliação entre o novo emergente e o modo de  
existência social em fase de perecimento. Inexistindo, portanto, a ruptura  
superadora que de forma difundida abrange, interessa e modifica todas as  
demais categorias sociais subalternas. Implica um desenvolvimento mais lento  
das forças produtivas, expressamente tolhe e refreia a industrialização, que só  
paulatinamente vai extraindo do seio da conciliação as condições de sua  
existência e progressão. Nesta transformação “pelo alto”, o universo político  
e social contrasta com os casos clássicos, negando-se de igual modo ao  
2
É importante salientar que Marx já havia sinalizado acerca da singularidade da formação capitalista alemã em  
seu artigo “Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel”, publicado em 1843.  
3
Esta discussão pode ser encontrada no texto de Lênin, “Duas táticas da social-democracia na revolução  
democrática”, publicado no ano de 1905.  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
progresso, gestando, assim, formas híbridas de dominação, onde se “reúnem  
os pecados de todas as formas de estado” (Chasin, 2000, p. 42).  
Isto posto, cabe aqui, no entanto, um necessário adendo em relação a uma fundamental  
distinção entre as transições capitalistas no Brasil e na Alemanha que deve ser demarcada.  
Enquanto as grandes propriedades e o latifúndio na Alemanha provêm do feudalismo, o  
latifúndio no Brasil tem raízes coloniais, e desde a invasão do país pelos portugueses durante o  
século XVI, este serviu como instrumento para a extração e acumulação primitiva de capitais  
realizada pela metrópole. Assim, apesar do movimento de industrialização nos dois países ter  
sido lento e retardatário, ao passo que na Alemanha tal processo tenha se dado de forma tardia,  
o capitalismo no Brasil pode ser chamado de hipertardio, uma vez que nunca rompeu com sua  
condição de país subordinado aos pólos centrais da economia internacional. É nesse prisma,  
portanto, que Chasin utiliza a designação de via colonial a partir de Lênin como forma de  
caracterização para o caso brasileiro, uma vez que demarca esse traço bastante específico, ou  
seja, singular. Antunes desenvolve esta caracterização:  
Entendida como tal, a industrialização brasileira, na particularidade da via  
colonial, além de hipertardia, retardatária e subordinada ao capitalismo na sua  
fase monopolista, tem outras especificidades que a distinguem dos casos  
clássicos de transição e que são fundamentais para o entendimento da  
constituição e da inserção da classe operária no capitalismo brasileiro.  
Enquanto nas formações centrais o processo de constituição do capitalismo  
passa pelas formas clássicas de produção - como o artesanato, a manufatura e  
a grande indústria - , no Brasil o processo de industrialização nasce dentro de  
um contexto onde predomina a grande indústria, entendida aqui como “o  
organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra  
pronto e acabado como condição material de produção”, e onde a mecanização  
e a coletivização do trabalho substituem o trabalho manual, individualizado  
ou parcelar das formas anteriores. Em outros termos, da acumulação mercantil  
fundada na economia agro-exportadora cafeeira transita-se lentamente para  
um processo de acumulação centrado na grande indústria, com relativo grau  
de mecanização, onde a máquina foi introduzida antes mesmo que o trabalho  
120  
artesanal individual, aqui praticamente inexistente,  
e
o
trabalho  
manufatureiro, efetivando a subordinação real do trabalho ao capital (Antunes,  
1982, p. 49-50).  
Assim, na esteira da subordinação do trabalho ao capital sob o manto da via colonial,  
Antunes afirma que, por conta do processo de industrialização tardio, também o processo de  
formação da classe trabalhadora brasileira carregaria traços bastante diversos, uma vez que  
os/as trabalhadores/as teriam se constituído majoritariamente dentro de um contexto onde  
sobressaía a grande indústria. Isso nos permite concluir, segundo o sociólogo, a respeito da  
contradição vivida pela classe operária no seu processo de conformação no país, já que:  
(...) por um lado ela é uma classe que já nasce, objetivamente, dentro daquelas  
condições que caracterizam a última fase do trabalhador europeu clássico (a  
grande indústria); por outro lado, e dialeticamente, essa grande indústria existe  
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Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
em algumas manchas do país, manchas estas submersas a um mundo ainda  
predominantemente agrário. Ou seja, a nossa classe operária reflete, na  
verdade, a contradição que caracteriza o nosso processo de industrialização:  
apesar de, em seu nascimento, não ter percorrido as formas de produção  
anteriores, ela não pôde crescer normalmente, limitada que foi por uma  
industrialização que pagou alto preço ao latifúndio para poder desenvolver-se,  
ao mesmo tempo em que se encontrava nas condições de uma industrialização  
subordinada (Antunes, 1982, p. 58).  
Assim, embora a classe trabalhadora brasileira tenha se gestado nas condições  
favoráveis para o seu desenvolvimento, esta teve um processo de formação distinto do  
proletariado europeu, pois teria se apresentado de certa forma, incompleto, no que tange à sua  
consciência de classe, ou, nas palavras do autor, “sua incapacidade de transitar do em si ao para  
si(Antunes, 1982, p. 58-59).  
Contudo, é necessário delimitar, neste ponto, sobre a ocorrência de uma reformulação  
das interpretações feitas até então acerca das particularidades do capitalismo brasileiro, da  
classe trabalhadora no país e, de uma forma mais ampla, deste modo de produção no continente  
latino-americano, uma vez que o esquema por vezes mecanicista adotado pelas ideias provindas  
da concepção dogmática e etapista do chamado “marxismo oficial” de intelectuais brasileiros  
na primeira metade do século XX4, esbarravam na equivocada ideia de que só após a plena  
constituição do capitalismo na região seria possível conceber uma revolução socialista  
(Carcanholo, 2023, p. 03).  
121  
Assim, no intuito de aperfeiçoar as inúmeras contribuições feitas pela tradição anterior,  
surgiram as reflexões provindas da chamada Teoria Marxista da Dependência, fundada durante  
a década de 1960 durante o contexto de crise estrutural do capital e que trazia profundos  
desdobramentos às economias dependentes dos grandes centros como o Brasil e demais países  
da América Latina, os quais enfrentavam golpes e ditaduras militares acompanhadas da  
aplicação das primeiras medidas neoliberais da história. As elaborações de Ruy Mauro Marini,  
Vânia Bambirra e Theotônio dos Santos, junto a outros teóricos influenciados pelos debates  
acerca do imperialismo naquele contexto, trouxeram grandes contribuições para a tradição  
marxista no sentido de investigar as especificidades da manifestação da lei do valor em países  
de capitalismo periférico, assim como suas implicações na chamada “questão social”  
(Carcanholo, 2023, p. 02-04).  
4
Nos referimos aqui especificamente aos intelectuais pertencentes ao PCB - Partido Comunista Brasileiro do  
período. No entanto, vale enfatizar que a Teoria Marxista da Dependência também tinha como objetivo a superação  
das elaborações da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe –, a qual teve como principal  
expoente o economista Celso Furtado.  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
Dessa forma, partindo da articulação entre as categorias e componentes centrais como a  
superexploração da força de trabalho, a transferência de valor no plano do comércio  
internacional de mercadorias e por outros mecanismos ligados à conta de capital e serviços,  
além da elevada concentração de renda e riqueza e o recrudescimento dos problemas sociais  
decorrentes do desenvolvimento do próprio capital, esses autores propuseram uma nova forma  
de analisar os países latino-americanos, de modo a se debruçar sobre suas singularidades  
(Carcanholo, 2023, p. 06).  
Desse modo, a TMD afirma que o Brasil enquanto país dependente se caracteriza  
enquanto permanentemente subordinado a instrumentos de superexploração da força de  
trabalho como forma de garantir a acumulação de capital interna e, por outro lado, a apropriação  
de parte considerável do lucro (mais-valor) produzido e demandado pelo capital imperialista,  
condição esta que interfere diretamente nas condições de vida e trabalho dos trabalhadores e  
trabalhadoras do país. Tal processo de transferência de mais-valor ficou conhecido como troca  
desigual, e implica que a categoria chave de análise é o capital, e não a “nação”, de modo que  
a condição de dependência é consequência de um desenvolvimento desigual e combinado5 das  
leis de funcionamento do mesmo, em distintas partes do mundo (Carcanholo, 2013, p. 194).  
Nesse sentido, a especificidade que define tal condição de dependência de países como  
o Brasil consiste justamente nos mecanismos estruturais de transferência de valor produzidos  
nessas economias, mas que, na verdade, são realizados e acumulados no ciclo do capital das  
economias centrais (Carcanholo, 2013, p. 198). Desse modo, é necessário evidenciar que,  
apesar de todas as economias capitalistas se utilizarem de distintos dispositivos de elevação da  
taxa de exploração, a superexploração da força de trabalho consiste num instrumento de  
compensação utilizada e requerida especificamente pelo desenvolvimento capitalista  
dependente, em função dessa mesma transferência estrutural de valor. Marini escreve a esse  
respeito:  
122  
O que aparece claramente, portanto, é que as nações desfavorecidas pela troca  
desigual não buscam tanto corrigir o desequilíbrio entre os preços e o valor de  
suas mercadorias exportadas (o que implicaria um esforço redobrado para  
aumentar a capacidade produtiva do trabalho), mas procuram compensar a  
perda de renda gerada pelo comércio internacional por meio do recurso de  
uma maior exploração do trabalhador (Marini, 2005a, p. 153).  
5 É importante sinalizar que a noção de desenvolvimento desigual e combinado é aperfeiçoada por Leon Trotsky  
a partir das elaborações iniciais marxianas sobre os diferentes ritmos e intensidades da dinâmica do capital e do  
desenvolvimento das forças produtivas em distintos países e sua combinação entre si. Posteriormente, o  
economista belga Ernest Mandel elaborou análises a partir deste conceito.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
Partindo então da centralidade da categoria de superexploração da força de trabalho,  
Marini observou que esta se definiria por uma elevação da taxa de exploração que não passa  
por elevação da produtividade, justamente por esta estar barrada para as economias dependentes  
e, além disso, pelo fato da superexploração ser um mecanismo necessário para elevar a taxa de  
acumulação do capitalismo dependente em razão dos condicionantes estruturais de dependência  
(Carcanholo, 2013, p. 200). Por outro lado, esta se daria no pagamento da força de trabalho  
num valor abaixo do seu valor real, ou seja, na sub-remuneração dos salários dos trabalhadores  
localizados nas economias periféricas. Nas palavras de Marini:  
(...) a superexploração é melhor definida pela maior exploração da força física  
do trabalhador, em contraposição à exploração resultante do aumento da  
produtividade e tende normalmente a se expressar no fato de que a força de  
trabalho se remunera abaixo do seu valor real (Marini, 2005b, p. 189).  
No trecho acima, Marini aborda o elemento específico que nos permite caracterizar o  
modo de funcionamento do capital nas economias dependentes como o Brasil, o qual se baseia  
na sub-remuneração de grande parte da classe trabalhadora e que se interrelaciona com outros  
aspectos estruturais que delineiam a história do país e de toda a América Latina, isto é, o  
racismo. Como já sinalizado anteriormente, o modo de produção capitalista é capaz de se  
combinar e se entrelaçar às raízes coloniais e escravistas aqui existentes, permitindo assim sua  
reprodução, por um lado, e a legitimação da ideia de inferioridade de parte da classe  
trabalhadora, por outro. Portanto, a partir de tais elaborações feitas pelos teóricos da TMD e  
seu aprimoramento e atualização feitos nos últimos anos, é possível efetuarmos uma análise  
mais rigorosa a respeito das particularidades do capitalismo brasileiro, assim como as  
especificidades da classe trabalhadora no país e, por conseguinte, da chamada “questão social”  
neste território.  
123  
Nesta perspectiva, é necessário sinalizar, por fim, que a historiografia tradicional do  
trabalho e muitos dos principais intérpretes do movimento operário brasileiro que se  
debruçaram sobre o estudo da classe trabalhadora e suas diferentes formas de organização nas  
primeiras décadas do século XX no Brasil6, secundarizaram, por muito tempo, a densa tradição  
de greves e “paredes” protagonizadas pelos trabalhadores escravizados e libertos ao longo do  
século XIX em território nacional, as quais influenciaram as lutas operárias posteriores e,  
muitas vezes, simultâneas a estes mesmos embates. Isso significa dizer que atribuir a suposta  
frágil consciência de classe dos trabalhadores do país - inseridos naquele período histórico - à  
6 Nos referimos às obras de Boris Fausto, Trabalho urbano e conflito social, publicado pela primeira vez em 1976;  
Sheldon Maram, Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro: 1890-1920, de 1979; Paulo Sérgio  
Pinheiro e Michael Hall, A classe operária no Brasil: Documentos (1889-1930). Vol. 01: O movimento operário,  
publicado no ano de 1981, dentre outros.  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
sua origem rural ou escrava como muitos o fizeram , demonstra uma evidente necessidade  
de se efetuar uma série de mediações acerca da composição social e étnico-racial dos mesmos  
ao longo do processo de formação da classe trabalhadora no país e, principalmente, de recuperar  
o denso histórico de lutas efetuadas pelos trabalhadores escravizados seja em conjunto aos  
trabalhadores “livres” ou não – nas plantações, fábricas, grandes indústrias e portos de diversas  
cidades do Brasil (Mattos, 2008).  
Em vista de ilustrarmos a questão aqui levantada, recorremos ao exemplo existente no  
setor de serviços, composto pelos portos e ferrovias, e considerado como um dos mais  
estrategicamente significativos do país naquele período, uma vez que concentrava um grande  
contingente de trabalhadores e, por outro lado, tinha o funcionamento básico da economia  
agroexportadora como sua dependente. Segundo Boris Fausto, tal determinação estrutural  
tenderia a se impor durante a década de 1920 e sobretudo na primeira metade da década de  
1930, quando as categorias de ferroviários e portuários - os quais eram fortemente influenciados  
pela tradição de trabalho e organização política provinda dos trabalhadores escravizados e  
libertos, e possuíam uma composição étnico-racial majoritariamente negra se tornaram o  
núcleo mais permanente do sindicalismo brasileiro naquele cenário (Arantes, 2010; Berdu,  
2018).  
Como ressalta o próprio autor, os portos possibilitaram também os primeiros contatos  
de trabalhadores brasileiros com o movimento operário organizado de outros países latino-  
americanos - bem como de outros continentes do globo -, em especial a Argentina, quando  
depois de uma greve dos trabalhadores da companhia Lloyd Brasileiro7, dois delegados da  
Federación Obrera Regional Argentina chegaram ao Rio de Janeiro em novembro de 1904  
visando uma articulação política entre eles. Tal encontro resultou num acordo entre a Sociedad  
de Resistencia Obreros del Puerto de Buenos Aires e a União dos Operários Estivadores, criada  
a partir da grande greve de 1903 na ex-capital federal (Fausto, 2016, p. 145-150).  
Nesse sentido, podemos destacar um importante aspecto provindo desta articulação de  
distintos setores de trabalhadores, o qual consiste em sua concepção internacionalista de luta e  
que se expressava, por um lado, na troca de experiências de organização e resistência política a  
partir de contribuições provenientes de diferentes lugares do mundo trazidas por via do  
Atlântico, além de sua composição social e étnico-racial bastante heterogênea, por outro.  
124  
7 O Lloyd Brasileiro foi uma grande empresa privada destinada à exploração dos serviços de navegação no país, e  
foi criada através do decreto n.208, de 19 de fevereiro de 1890. Após diversas transformações internas e risco de  
falência, teve apoio concedido pelo governo federal durante a década de 1930. Em 1937, dentro do contexto de  
aplicação do projeto nacional de industrialização, o governo Vargas incorporou a companhia à esfera federal, assim  
como havia ocorrido com diversas ferrovias do país (Camargo, 2021).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
Colonialismo, racismo e o mito da democracia racial como elementos estruturantes  
do capitalismo brasileiro  
Historicamente, a teoria marxista foi uma importante ferramenta utilizada no intuito de  
compreender as particularidades do capitalismo na América Latina e, embora esta tenha tido  
alguns percalços ao longo de sua trajetória no continente, diversas contribuições foram feitas  
por autores marxistas que se preocuparam em dar a ênfase necessária à relação entre as  
categorias de raça e classe ao se debruçarem sobre a realidade específica deste território. Com  
o intuito de superar uma lógica em certa medida eurocêntrica - provinda da concepção marxista  
até então hegemônica, e não das elaborações dos próprios Marx8 e Engels -, a qual partia de um  
esboço por vezes evolucionista baseado em uma progressão linear dos modos de produção e  
que supostamente representaria um modelo universal a ser adotado, o marxista peruano José  
Carlos Mariátegui traçou elaborações acerca do tema de forma precursora durante a década de  
1920. Tanto na obra Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, escrita em 1928,  
quanto no documento O problema das raças na América Latina9 - elaborado principalmente  
pelo historiador, sociólogo e jornalista -, este faz um importante exercício teórico de sublinhar  
elementos fundamentais no contexto latino-americano e peruano, em especial, como o papel  
desempenhado pelo colonialismo europeu e a importância de se pensar a realidade dos negros  
e indígenas, os quais representavam grande parte dos/das trabalhadores/as na região.  
Nesse movimento de articulação entre o particular e o universal, Mariátegui foi capaz  
de vincular a questão indígena à questão da terra - objeto de grande relevância para  
compreender a formação sócio-histórica do Peru e de diversos países da América Latina, como  
o Brasil -, identificando uma espécie de amálgama entre estruturas vistas como “arcaicas” e  
outras tidas como “modernas”, isto é, pré-capitalistas e capitalistas. Nesta linha de raciocínio,  
o autor verificou que, no processo de independência e na posterior formação da burguesia  
peruana, não houve a superação dos moldes coloniais nas esferas econômica e social, o que  
evidencia o caráter de subordinação das burguesias locais ao capital financeiro e à burguesia  
imperialista (Barros, 2023, p. 08).  
125  
8 Durante toda a guerra civil dos Estados Unidos (1861 - 1865), Marx e Engels elaboraram dezenas de artigos e  
trocaram inúmeras cartas discutindo a respeito do conflito entre a União (que defendia, em certa medida, a abolição  
dos afroamericanos escravizados) e o Sul escravista. Em artigo do historiador Kevin Anderson, este analisa uma  
carta de Marx a um amigo russo, Pável V. Ánnienkov, na qual Marx mencionava o Brasil, o Suriname e o sul dos  
EUA em alguns escritos sobre a escravização dos negros, se posicionando abertamente contra a mesma (cf.  
Anderson, 2019; Engels; Marx, 2022). Sobre as elaborações críticas de Marx a respeito do colonialismo, cf.  
Herrera (2019).  
9
Este documento foi escrito principalmente por Mariátegui e apresentado pelos representantes do Partido  
Socialista Peruano Hugo Pesce e Julio Portocarrero na I Conferência Comunista Latino-Americana, sediada em  
Buenos Aires, em 1929. O evento foi realizado em um contexto de calorosos debates a respeito do tema no âmbito  
da III Internacional Comunista.  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
A partir de tais reflexões, Mariátegui pôde realçar, há quase um século, a condição de  
protagonistas aos negros e indígenas num processo de transformação social radical no  
continente latino-americano, uma vez que tais sujeitos estavam - e ainda estão - localizados em  
um ponto estratégico da luta de classes, ou seja, no elo de profundo entrelaçamento entre a  
exploração capitalista e o racismo, o qual é legitimado e potencializado por este modo de  
produção como mecanismo de superexploração da força de trabalho desses setores, por um  
lado, e o rebaixamento dos salários do conjunto da classe trabalhadora, por outro.  
Nesse sentido, tendo diversos pontos em comum com Mariátegui, podemos apontar as  
análises de Florestan Fernandes a respeito da formação social brasileira e a questão negra a  
partir do imediato período pós-abolição no país, no qual tais sujeitos estavam submetidos às  
piores condições de trabalho e vida em comparação aos trabalhadores imigrantes aqui  
instalados (Fernandes, 2008). Tal condição de subalternidade, a qual persiste até os dias atuais,  
provocou estudos do sociólogo no sentido de investigar as relações raciais no país e sua  
profunda conexão com as especificidades do capitalismo no Brasil, caracterizando-o pela  
primeira vez como dependente dos grandes centros do capital. Vale ressaltar ainda, que  
Florestan foi o primeiro grande propulsor da obra de Mariátegui no país, quando em plena  
ditadura empresarial militar, no ano de 1975, concentrou esforços para a publicação do livro já  
mencionado Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana pela editora Alfa Ômega  
(Mariátegui, 1975).  
126  
O fato é que o autor soube identificar, a partir dos lastros teóricos marxistas clássicos,  
que o modo de produção capitalista latino-americano se constituiu através da “modernização  
do arcaico” e da “arcaização do moderno”, ou seja, do processo de desenvolvimento das forças  
produtivas que, embora permitissem a consolidação da extração de mais-valor nos padrões mais  
avançados, não pôde romper com a estrutura colonial anteriormente imposta, a qual, na  
realidade, adquiriu novos contornos e contradições, configurando assim numa descolonização  
incompleta com elementos de ruptura, mas também de conciliação (Fernandes, 1973, apud  
Barros, 2023, p. 15).  
Vale destacar, além disso, que em sua obra do ano de 1989, O Significado do Protesto  
Negro, na qual apresenta elaborações mais sofisticadas a respeito da questão racial em relação  
à obra de 1964, o autor tece sobre a importância da articulação entre as categorias de raça e  
classe para uma análise mais acurada acerca da realidade de grande parte dos/as  
trabalhadores/as brasileiros/as e, ademais, aborda sobre a necessidade de os/as negros/as terem  
incorporadas suas demandas específicas nas reivindicações mais gerais da classe trabalhadora,  
visando sua unificação.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
(...) existem trabalhadores que possuem exigências diferenciais, e é imperativo  
que encontrem espaço dentro das reivindicações de classe e das lutas de  
classes (...) em uma sociedade multirracial, na qual a morfologia da sociedade  
de classes ainda não fundiu todas as diferenças existentes entre trabalhadores,  
a raça também é um fator revolucionário específico. Por isso, existem duas  
polaridades, que não se contrapõem mas se interpenetram como elementos  
explosivos - a classe e a raça. Se a classe tem de ser forçosamente o  
componente hegemônico, nem por isso a raça atua como um dinamismo  
secundário. A lógica política que resulta de tal solo histórico é complexa. A  
fórmula “proletários de todo o mundo, uni-vos” não exclui ninguém, nem em  
termos de nacionalidades nem em termos de etnias ou de raça (...) Classe e  
raça se fortalecem reciprocamente e combinam forças centrífugas à ordem  
existente (...) (Fernandes, 2017, p. 84-85).  
Assim, o que pretende-se demarcar neste breve artigo, consiste no caráter estrutural e  
determinante da escravização negra africana como elemento fundante do capitalismo brasileiro,  
a qual foi forjada através de uma lógica pautada na inferiorização dos negros e negras como  
mecanismo de extração e acumulação de capital por parte dos colonizadores europeus e, como  
sinalizado anteriormente, que teve como uma de suas finalidades o rebaixamento dos salários  
do conjunto dos trabalhadores incluindo os imigrantes e europeus - no período final da  
escravização no país.  
Nesse sentido, é essencial ressaltar, portanto, que os estudos acerca da resistência  
escrava no país têm reformulado a história do movimento operário brasileiro nas últimas  
décadas, contribuindo assim para superar a lacuna historiográfica deixada por alguns dos  
clássicos do pensamento social brasileiro acerca da composição social e étnico-racial da classe  
trabalhadora que se gestava ao longo do século XIX. Na esteira dessas elaborações, é possível  
identificar uma outra visão acerca desses trabalhadores que, para além de representarem um  
componente essencial na formação cultural do país com sua valiosa tradição africana expressa  
nas músicas, religiões, culinária e costumes em geral, também ultrapassa a limitada noção  
baseada em uma suposta passividade e indulgência por parte desses sujeitos em relação aos  
seus senhores e patrões. Os historiadores João José Reis e Flávio Gomes reiteram:  
127  
(...) o incremento da importação de africanos a partir do início do século XIX  
favoreceu as revoltas no Brasil. Uma alta proporção de escravos da população  
e de africanos natos entre os escravizados reforçou a identidade coletiva e a  
percepção de força diante das camadas livres, mormente quando os cativos  
tinham perfis étnicos comuns. As revoltas e conspirações escravas na Bahia  
na primeira metade do século XIX, em número superior a três dezenas, foram  
promovidas por cativos de origem africana, em especial haussás e nagôs, que  
formavam grandes colônias étnicas na região, chamadas no Brasil de  
“nações”, como o eram em toda a América: nación, nation, natie, etc. Da  
mesma forma que no Caribe setecentista, o vínculo entre concentração étnica  
- africanos de igual nação - e revolta se verificou na Bahia, embora não fosse  
o único fator a concorrer para a rebeldia. Entre outros, contaram também a  
experiência guerreira dos envolvidos, sua filiação religiosa (os muçulmanos  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
podiam ser particularmente militantes) e as condições da escravidão local  
(Gomes, Reis, 2021, p. 13-14).  
Como é evidenciado pelos autores, os trabalhadores escravizados concentrados no  
estado da Bahia desenvolveram um papel crucial na luta por sua emancipação, chegando a  
organizar cerca de trinta greves e revoltas somente na primeira metade do século XIX - como  
a conhecida Revolta dos Malês, ocorrida em 1835 -, as quais foram articuladas a partir de  
elementos que os unificava. O estudo dessas mobilizações e conflitos auxiliam ainda na  
desconstrução da difundida ideia de que os trabalhadores imigrantes - sobretudo europeus e  
anarquistas - foram os únicos responsáveis pela densa tradição de luta e consciência política  
trazida para o país durante a transição do século XIX para o início do século XX, destacando o  
protagonismo negro nesse longo percurso.  
Nesse mesmo prisma, Clóvis Moura, importante teórico marxista e militante comunista  
e do movimento negro nas décadas de 1970 e 1980, afirmava em 1995 sobre a necessidade de  
que a história do trabalho no Brasil fosse reescrita, de modo a incluir os trabalhadores  
escravizados e libertos no processo de formação da classe trabalhadora brasileira, ressaltando  
também suas ferramentas e mecanismos de reivindicação:  
(...) Aprática dos senhores de escravos, que era quem fazia a política da época.  
Então, por isso não temos uma história escrita pelos que foram os seus agentes  
históricos. Não temos uma história que conte como o povo brasileiro criou a  
história trabalhando. Criando o trabalho, querendo trabalho. Como ele lutou  
para melhorar o trabalho no Brasil. Temos a história das ideologias, a história  
das religiões… Mas não como o trabalhador se organizou, se compôs. Como  
ele lutou contra os níveis de exploração sucessivos que apareceram. (...) Como  
capitalista dependente, a sociedade brasileira soube manipular um mito: a  
inferioridade do negro, a incapacidade do trabalho negro - para justificar a  
passagem da escravidão e do tráfico negreiro para o tráfico branco, que era  
exatamente o tráfico de imigrantes. Em tudo isso entra um componente étnico,  
porque o problema da imigração tem dois aspectos: primeiro, o  
branqueamento da sociedade brasileira; segundo, o grande comércio que  
foram as empresas de imigração no Brasil, controladas pelas grandes famílias  
(Moura, 1995, p. 51-57).  
128  
Esse seu trecho expressa de forma lúcida tanto a necessidade da centralidade do trabalho  
e dos trabalhadores escravizados e livres para uma análise mais precisa acerca da realidade no  
país, quanto a estreita relação entre a exploração capitalista e a opressão étnico-racial que, no  
caso do Brasil, perpassou por toda sua história desde sua invasão pelos portugueses e a violenta  
colonização dos indígenas e povos originários aqui instalados. Assim como destaca em outras  
obras, sinaliza que, em se tratando especificamente deste modo de produção, possui incontáveis  
mecanismos para se reformular e potencializar a condição de inferiorização e subalternização  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
dos trabalhadores negros e negras, lógica esta assaz lucrativa e funcional à superexploração  
desta camada da população (Moura, 2019; 2020).  
Ademais, Moura complexifica a questão ao pontuar acerca da exploração dos  
trabalhadores imigrantes que, apesar de terem sido sobretudo europeus trazidos para o Brasil  
com o objetivo de “diluir” progressivamente o sangue negro da população trabalhadora,  
provinham majoritariamente das camadas mais baixas dos países menos abastados da Europa  
Ocidental, e permitiam, ao mesmo tempo, o enriquecimento das famílias brasileiras tradicionais  
ligadas ao tráfico.  
Assim, nessa linha de análise, é necessário encarar o racismo como um pilar essencial -  
e não apenas acessório - nas relações sociais de produção e reprodução capitalista no Brasil,  
buscando compreender sua articulação estrutural na divisão social do trabalho, nos marcos do  
capitalismo dependente, já que este configura-se como um elemento organizador na produção  
de mais-valor a partir da hierarquização racial e étnica (Souza, 2023, p. 21).  
Nesse prisma, vale ressaltar que, historicamente, são justamente os trabalhadores negros  
e indígenas e, principalmente, as mulheres negras aquelas mais afetadas pela condição  
periférica reservada ao capital brasileiro, uma vez que estão majoritariamente inseridas nas  
categorias mais precárias de trabalho, em grande parte desvinculados de seus direitos  
trabalhistas, sindicais e previdenciários e, além disso, compõem grande parte dos milhões de  
trabalhadores que não conseguem sequer acessar o mercado de trabalho no país. Como destaca  
Martins, tais sujeitos “saíram das relações escravistas e adentraram as relações de trabalho  
capitalistas já na condição de reserva de força de trabalho” (Martins, 2021, p. 32). Ademais, a  
partir de tais marcadores sócio-históricos determinantes aqui destacados, é possível  
compreender de forma mais qualificada a própria conformação da questão social no Brasil e,  
além disso, as causas da presença majoritária das trabalhadoras e trabalhadores negros em suas  
diversas expressões (Martins, 2021, p. 40).  
129  
Nesta perspectiva, cabem aqui breves apontamentos a partir de contribuições feitas pelo  
filósofo, psiquiatra e ativista martinicano Frantz Fanon acerca das múltiplas combinações entre  
o racismo, o processo de colonização europeia e seus reflexos na dinâmica produtiva do capital  
e na esfera ideológica entre os trabalhadores e subalternizados. Em uma interlocução com a  
teoria marxista, com a qual Fanon dialogou ao longo de sua produção intelectual, o autor  
argumenta que esta necessitaria de uma considerável “amplificação” para dar conta dos  
elementos coloniais e também subjetivos dos negros e negras, possibilitando assim, uma  
“tomada de consciência” por parte dos mesmos (Faustino, 2018), conforme assegura no  
seguinte trecho:  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
Quando se percebe na sua imediatez o contexto colonial, é patente de que  
aquilo que fragmenta o mundo é primeiro o fato de pertencer ou não a tal  
espécie, a tal raça. Nas colônias, a infraestrutura econômica é também uma  
superestrutura. A causa é consequência: alguém é rico porque é branco,  
alguém é branco porque é rico. É por isso que as análises marxistas devem ser  
ligeiramente estendidas, a cada vez que se aborda o problema colonial (Fanon,  
2010 apud Faustino, 2018, p. 151-152).  
Fanon analisa, deste modo, que o racismo consistiria - além de um produto desta  
dominação econômica, social e cultural, na qual a violência praticada pelos grupos dominantes  
contra os/as negros/as cumpre um papel determinante - num processo no qual a desarticulação  
das forças dos dominados e sua exploração e subordinação em diferentes dimensões tem um  
poder imbuído de múltiplas determinações e complexificações. E como sinaliza Faustino, os  
aportes trazidos pelas ideias e escritos do autor martinicano vêm no sentido de complementar a  
teoria marxista, e não contrapô-la, uma vez que o próprio racismo tem sido historicamente  
incorporado e reforçado pela exploração capitalista de maneira expressamente funcional à sua  
constituição, desde sua origem no processo de acumulação primitiva de capitais (Marx, 2013,  
p. 821). Faustino explicita tal inter-relação entre os elementos referidos:  
Não se trata aqui de afirmar que o racismo é um epifenômeno das contradições  
de classe e muito menos que este se dissolveria diante de uma solidariedade  
abstrata entre os proletários do mundo, mas, sim, ao contrário, que o racismo  
é apropriado, na sociedade moderna, como elemento que torna possível o  
empreendimento colonial, tão vital, num primeiro momento, à acumulação  
primitiva de capitais e, num segundo momento, à exportação desigual e  
combinada das contradições implícitas ao sistema para a sua periferia global  
(Faustino, 2018, p. 153).  
130  
Considerando o contexto brasileiro e as especificidades do racismo no país, é  
fundamental traçarmos, por fim, alguns elementos em relação à conformação ideológica  
representada pelo chamado mito da democracia racial, engendrado a partir dos anos 1920 e  
1930 no país e que, articulado pelo projeto de governo e de nação delineado durante a era de  
Getúlio Vargas, foi propagado como discurso oficial com o intuito de cristalizar a ideia de que  
no Brasil não havia racismo contra os negros e negras. Ao se comparar o país aos Estados  
Unidos o qual atravessava uma onda brutal de violências contra os/as afro-americanos/as,  
como linchamentos e execuções praticadas pelos grupos supremacistas brancos como a Ku  
Klux Klan , alimentava-se a ideia de que, pelo fato de não haverem leis racistas e  
segregacionistas legitimadas pelo Estado brasileiro, isso significa que no país as relações raciais  
se davam de forma harmônica e pacífica.  
Assim, desenvolvido a partir de obras clássicas como a de Gilberto Freyre, Casa  
Grande e Senzala, o mito da democracia racial tornava-se uma espécie de senso comum,  
cumprindo, ao mesmo tempo, distintos papéis na sociedade brasileira. Se, por um lado, este  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
respondia às necessidades políticas impostas ao pensamento social brasileiro na medida em que  
se acirravam as tensões internacionais em torno da questão racial na Europa e se exigia uma  
ruptura com as ideias explicitamente racistas provindas da eugenia e do nazifascismo naquele  
período, por outro lado, correspondia a uma tentativa de neutralizar as iniciativas de  
contestação, organização e resistência política da população negra frente ao racismo e a  
discriminação racial existente no país. Munanga escreve a respeito:  
O mito da democracia racial, baseado na dupla mestiçagem biológica e  
cultural entre as três raças originárias, tem uma penetração muito profunda na  
sociedade brasileira: exalta a ideia de convivência harmoniosa entre os  
indivíduos de todas as camadas sociais e grupos étnicos, permitindo às elites  
dominantes dissimular as desigualdades e impedindo os membros das  
comunidades não-brancas de terem consciência dos sutis mecanismos de  
exclusão da qual são vítimas na sociedade. Ou seja, encobre os conflitos  
raciais, possibilitando a todos se reconhecerem como brasileiros e afastando  
das comunidades subalternas a tomada de consciência de suas características  
culturais que teriam contribuído para a construção e expressão de uma  
identidade própria. Essas características são “expropriadas”, “dominadas” e  
“convertidas” em símbolos nacionais pelas elites dirigentes (Munanga, 1999,  
p. 80).  
Sendo assim, trata-se de reafirmar que o mito da democracia racial consistiu em parte  
fundamental do processo de consolidação do capitalismo brasileiro, de forma a apagar os  
conflitos existentes entre os trabalhadores negros e seus senhores e patrões que perduravam  
desde o período da escravização e, além disso, como forma de escamotear as tensões raciais  
que também existiam em diferentes espaços de trabalho e sociabilidade ocupados pelo conjunto  
heterogêno da classe trabalhadora. Dessa forma, criou-se uma falsa noção de igualdade racial  
no mercado de trabalho, assim como nas áreas da educação, saúde e demais condições de vida  
desses sujeitos, deslegitimando suas reivindicações. Aliado a este elemento, como exigia o  
projeto de nação varguista, incorporava-se diferentes características provindas da cultura  
africana como forma de fortalecimento de um governo autoritário e reacionário, mas que,  
todavia, se mostrava inclusivo com a figura do negro enquanto integrante real da pátria, num  
evidente intuito de cooptá-los. Podemos afirmar, nesta mesma perspectiva, que vários aspectos  
dessa mesma lógica ainda se mantêm nos dias atuais, uma vez que a ideia de que o Brasil é um  
país destituído de segregação, preconceito e discriminação racial é profundamente propagado  
atualmente.  
131  
Portanto, diante de todo o exposto neste trabalho, fica evidente o papel desenvolvido  
pelo racismo ao longo da história do país enquanto um mecanismo real de fortalecimento e  
legitimação do trabalho escravizado durante o período colonial e, no cenário atual, como  
instrumento para a garantia da superexploração da força de trabalho dos sujeitos  
Lívia Cintra Berdu; Flávia Saragiotto Magalhães do Valle  
subalternizados na esfera produtiva do capital. Concomitantemente, num país de capitalismo  
dependente e periférico como o Brasil, esta forma de opressão, entrelaçada à exploração,  
provoca ainda a exclusão desses mesmos setores do processo de circulação do capital,  
impedindo seu acesso até mesmo como meros consumidores de mercadorias, ou impedindo  
condições dignas de vida, escancarando o abismo social existente para esta imensa parte da  
população brasileira.  
Considerações finais  
Como desenvolvido neste trabalho, verificamos que a tradição marxista foi responsável  
pela elaboração de inúmeras reflexões acerca da conformação do capitalismo em diferentes  
países, incluindo aqueles que se diferenciavam da realidade observada na Europa Ocidental,  
como os situados no continente latino-americano, como o Brasil. Apesar de alguns percalços  
ao longo de todo o percurso teórico-político na região, tais ideias foram capazes de se atualizar  
e se renovar, ajustando assim determinadas imprecisões e abarcando distintas realidades e  
particularidades, partindo de uma perspectiva totalizante que relacionasse os aspectos  
universais aos singulares, num movimento dialético de aproximações e mediações.  
Em se tratando da realidade brasileira, identificamos neste artigo algumas  
especificidades que se entrelaçam na produção e reprodução capitalista desde o período anterior  
à conformação deste modo de produção, ou seja, durante o período colonial e escravista, e a  
acumulação primitiva de capitais. Nesse sentido, com traços de continuidade e permanência, a  
chaga histórica do racismo possui uma condição profundamente estruturada e estruturante na  
superexploração da força de trabalho no país, uma vez que tal combinação é utilizada e  
legitimada como mecanismo de garantia para a acumulação de capital interna e, por outro lado,  
a apropriação de parte considerável do lucro (mais-valor) produzido e demandado pelo capital  
imperialista. Nesse movimento inerente ao capitalismo dependente dos grandes centros,  
tornam-se indissociáveis as péssimas condições de vida e trabalho dos trabalhadores e  
trabalhadoras do país - em especial das mulheres negras, negros e indígenas -, além da elevada  
concentração de renda e riqueza e o recrudescimento das diferentes expressões da “questão  
social”, decorrentes do próprio desenvolvimento do capital.  
132  
Por fim, analisamos neste texto uma especificidade do racismo brasileiro, ou seja, o mito  
histórico de uma suposta democracia racial existente no país, construído ao longo dos últimos  
cem anos e legitimado como discurso oficial pelos governos e as classes dominantes e criado  
em oposição a outros países que receberam trabalhadores africanos escravizados no continente  
americano, como os Estado Unidos. Nesse prisma, o mito de que as relações raciais no Brasil  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 115-134, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Particularidades do capitalismo no Brasil: superexploração da força de trabalho, racismo e mito da  
democracia racial no capitalismo dependente  
se dão de forma harmoniosa e destituída de tensões e conflitos tem como principal intuito  
neutralizar as iniciativas de contestação, organização e resistência política da população negra  
frente ao racismo e a brutal discriminação racial existente no país.  
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